sexta-feira, 15 de abril de 2016

Eu não vou

Faz muito calor na cidade, nem parece. Dentro de mim, o frio é assustador, desses que nenhum casaco/cachecol/luvas dá conta. De repente voltei a me sentir a peça sobrando num quebra cabeças gigante. Eu não encaixo. Tudo dói e eu ainda sou a menina de 6 anos que chora encostada na porta trancada do próprio quarto, com aquela mesma vergonha de ter medo de deixar a mãe ir estudar e ela nunca mais voltar. Agora quem não volta sou eu, não tenho pra onde. Estou longe demais de qualquer coisa que me dê sensação de lar. Corro de um lado pro outro, ainda não tive tempo de conhecer meu prédio. Nem ânimo. Estou sempre cansada demais, sempre culpada demais, sempre ocupada demais. A cidade tenta entrar em mim de todas as formas, em vão, acaba por me engolir. Ainda assombrada pela sensação de não pertencer, volto pra casa. Tomo um banho demorado, acendo um incenso, ligo o notebook e tento assimilar que aqui é minha casa, que agora eu tenho casa. Tento assimilar que meus amigos estão à um ônibus de distância, que eu to no olho do furacão que tanto pleiteei. Se transformar no que eu quero dói. Todos os dias penso no conceito de solidão e solitude, tento pender mais pra solitude, mas é a solidão quem me alcança, quem me desgraça, quem me rasga. Resolvo encarar, tornar-me amiga dela, mas ela insiste em me ferir. Tudo que não é escolha, dói, porque meu mimo continua me acompanhando. Penso sobre qualquer outro lugar pra estar, escolho permanecer. É só o começo de um relacionamento muito sério, desses que assustam, desses que a gente pensa "putz, to namorando e agora alguém me salva" com uma cidade inteira. A parte boa é enorme, mas aceitar as ruins é doloroso. Não dá pra ter só o bom, então preciso escolher pra onde olhar. Mas olho pra frente e não vejo forma de sair dessa relação séria com essa cidade tão cedo, sempre fui péssima com projeções, mesmo fazendo-as diariamente. Fico angustiada. No fundo, é só saber o que esperar e não há frustração, dizem, porém já estou não esperando nada. Eu grito, grito mais alto. Feliz que não há ninguém pra ouvir minha loucura. Eu grito de novo, fico feliz por estar viva, por ter voz. Ainda sentada no chão do quarto penso no quanto eu sempre amei chãos e estar sentada em um não é um plus no drama, é só minha forma de estar no lugar mais confortável que eu conheço ao sentir dor. Belíssima metáfora que o lugar de maior conforto pra mim seja o chão. Sinto saudades. Todos os sentimentos presos em um nó na garganta. Eu não sou nada. E não ser nada é o que me salva.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Você tocando violão, deitando a cabeça sobre ele enquanto canta de olhos fechados: meu quadro favorito.