terça-feira, 25 de fevereiro de 2014



"Algumas vezes chutam minhas pernas, quebram minha cara, pisam nos meus dedos.eu sobrevivo. Tenho sobrevivido. sou marcada sim, mas faço valer cada uma das minhas cicatrizes"




(Nome Próprio)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Talvez

Chocolates, fumos e músicas já não são o suficiente. Nada me basta, há uma sobra constante em tudo que me falta. O nó da minha garganta se tornou quem sou, eu sou o nó, a complicação, eu sou os pensamentos complicados e os dias turvos em pleno céu azul, em pleno céu estrelado que habita o céu da minha boca.
Você não merece o que eu sinto por você, nem eu. Tudo que dói, tudo que contradiz, tudo que foge da liberdade de poder ir e vir sem dor, sem desespero, sem querer abrir o zíper nas costas e sair de mim, não me cabe. E eu continuo querendo ter as suas medidas. Dói. E eu choro. Dessa vez não grito mais, não soco paredes, não ando de um lado pro outro, só deito na rede e vejo mais um cigarro se desfazendo, só choro baixinho me perguntando porque entre tantas perguntas que existem no mundo a única que não me vem resposta é a que eu mais preciso, a que eu mais desejo. Talvez as minhas lágrimas te encontrem e te digam o que não consigo. Talvez seja só mais uma noite em que dou voltas em volta de mim mesma e não chego a lugar nenhum. Talvez me assusta. Você me assusta. Talvez.

Sobre o amor e a tecla play

O amor ultrapassa a pele, rabisca a alma, tira a mente do eixo. Acalenta o espírito, muda a temperatura dos rins, dá borboleta no estômago, e asas pros pés. Nisso tudo quase esquecemos o primordial do que deve ser amor: liberdade. Sem ser livre pra ser, pensar, agir e querer. Sem transbordar desejos, sensações, frustrações, sem poder ser quem é, o amor não funciona. Como um toca fitas com defeito na tecla play.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Quando eu me declaro agnóstica

Quando eu me declaro agnóstica, eu me dou o direito de ser livre. De acreditar ou não. De formular um deus pra mim ou desacreditar de superioridades. Eu me permito conceber energias, vidas e poderes superiores aos meus ou crer que sou a única raça que existe e que esta é minha única vida. Quando eu me declaro agnóstica, eu me desfaço da moral cristã imposta à mim desde que nasci, eu tiro todos os dedos que me apontam e sigo pra onde meus pés acham correto ir. Minha moral é constituída com base na minha consciência de que sou tão ser humano quanto meu próximo, de que sou tão vida quanto uma árvore, de que sou tão frágil quanto uma pétala de dente de tigre. Quando eu me declaro agnóstica, assumo minha pequenez mediante o mundo, aceito assim que minha opinião é apenas a minha opinião, que a minha verdade é apenas a minha interpretação, única e exclusiva, da realidade, então eu respeito o direito de cada um crer, ser e viver o que bem entender, da maneira que lhe for entendido -sem dedos apontados pra mim, não tenho porquê apontar os meus -. Quando eu me declaro agnóstica, me livro do peso do"ter que", tudo passa a ser escolha, tudo passa a ser leve, nada pesa, a culpa se desfaz como gelo no chão quente, eu me renovo pro mundo. E, acima de tudo, quando me declaro agnóstica, me torno deus de mim mesma, dona de mim e a única responsabilidade que tenho é a de ser leal ao meu coração, ao meu sentir. Quando eu me declaro agnóstica me torno grata, uma gratidão sem tamanho, por todas as vidas, por todos os encontros e desencontros, por todos os erros e acertos, por todos os tropeços e por todos os acasos, sortes, poréns que me trouxeram aqui e que me levam além. Acredito no infinito sem nenhuma limitação, apenas porque me é de direito. Quando eu me declaro agnóstica, eu me dou o direito de ser livre.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Fui atropelada pela saudade. No hospital me disseram que você estava em falta. To aqui na uti pensando quanto tempo um corpo mutilado aguenta de sobrevida até se decompor.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A falta que faz

Eu lembro da vez, bem no comecinho, que você chegou de viagem e veio direto pra cá com pão, queijo, presunto, suco e bolo pra gente tomar café da manhã e a gente estendeu uma toalha de mesa no chão e ficou brincando de piquenique. E aquele outro dia, também que você tinha chegado de viagem, com uma foto sua de quando era criança, dizendo que queria que eu soubesse e fizesse parte de todos os momentos da sua vida. E de quando a gente teve nossa primeira briga séria - que você esqueceu durante o dia enquanto eu me sentia culpada - e quando chegou aqui tinha um jantar à luz de velas te esperando. E daquela vez que você chegou aqui debaixo de um temporal e eu te dei bronca por não ter trazido chocolate pra mim - nossa primeira tpm juntos- e você teve toda calma me abraçando. E daquela outra vez que eu passei mal, tive apagão e você me viu tremer de medo, me trouxe pra casa, me fez massagem e disse que tudo bem se eu nunca visse filme de terror com você na vida: você faria qualquer coisa pra nunca mais me ver daquele jeito. E teve aquele dia, que a gente já namorava, e você, depois de terminar de compôr uma das centenas de músicas que fez pra mim nesse tempo, deitou em cima de mim e me perguntou se eu tinha noção da importância que eu tinha pra você. E do dia que você me disse que eu era a melhor amiga que você já teve na vida e eu disse que você além de melhor amigo, você era o meu melhor amor. Outro dia eu tava arrumando meus livros e achei umas cartas que te escrevi e você esqueceu aqui, sei lá se de propósito, só consegui ler as primeiras linhas, dobrei de volta e guardei bem longe, num livro que nem lembro até saber o que fazer com tudo aquilo escrito ali, com todos os sonhos expostos daquela maneira tão cheia de concretude e que eu não sei mais aonde enfiar. E por mais que eu tenha apagado todas as nossas fotos, você cantando a nossa música e tudo que me faz me lembrar de você do meu celular, vez ou outra eu acordo cantarolando "se você nunca vai prestar, eu também nunca vou prestar", e me vejo ainda me forçando a ir nos lugares que eu não gosto, não porque eu não goste, mas porque em nenhum lugar que eu vá tem nós dois. Nenhum lugar que eu vá tem o seu cheiro, os seus dedos, a sua mania irritante de querer tudo sempre no seu tempo e do seu jeito. E eu choro por saber que nosso tempo passou e que talvez ele nunca mais volte. E choro ainda mais por não querer me desvencilhar de você - você é minha única referência de norte - sabendo que as suas palavras e os meus atos, tudo que nos trouxe até aqui, nos separa sem nenhuma piedade.
Essa noite eu vou dormir de novo sentindo saudade de quando você me dava as costas pedindo pra eu deitar nelas e te abraçar- nossa conchinha inversa -, me dizendo que esse era o momento da sua vida em que você se sentia mais confortável e protegido. E vou chorar baixinho, até o sonho chegar, torcendo pra não sonhar com você, pra essa dor passar logo. E pra eu aprender a viver sem te procurar em todos os cantos quando sinto que o mundo vai desmoronar.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Perigo: estupro a qualquer momento

Pode acontecer comigo, com você, com a vizinha ou com sua priminha de 4 anos. Não importa a hora, claro ou escuro. Numa rua deserta, ou movimentada. À pé, de carro, bicicleta, à cavalo. Em grupo ou sozinha. Quando menos se espera ou quando dá sorte pro azar. Dentro da própria escola, não há lugar pra se sentir segura. Não há lugar pra se sentir segura quando se está encarnada num corpo de uma mulher. Não dá pra prever quando a violação virá. Seja por meio de cantadas, seja por meio de pressão pra sexo do próprio parceiro, seja aquele cara que você nunca viu e que pode adentrar das formas mais violentas a única coisa que você se sente dono: o próprio corpo.
O mais assustador é que os números só crescem. Não só dos estupros, mas das tentativas de fingir que não tem nada acontecendo.
Eu me acho uma mulher de coragem por sair de casa todos os dias. Principalmente morando nesta cidade. Sem saber se meu corpo e minha alma voltarão ilesas ou se carregarei pra sempre o trauma de uma das mais graves violações. Alguém pare o mundo, não pra eu descer, mas pra gente dar um jeito de transformar.

um galo do espelho quebrado

Outro dia eu tava limpando a varanda do meu quarto e deixei cair a armação de metal daquela porta de vidro do meu armário que quebrou em cima de mim num dia que a gente brigou e eu fui relaxar na sacada pra ver se a vontade de te estrangular passava. Eu achei que fosse morrer, mas saí sem nenhum corte, aquele dia eu prometi pra mim mesma que não brigaria mais por besteira e que a vida pode ser uma grande milagre todos os dias. Não segui nenhuma dessas promessas, nem as tantas outras que fizemos.
Nesse dia eu desci pra pegar gelo e enquanto segurava o gelo na minha testa, que criou um galo enorme instantaneamente, eu senti o gelo derreter pelo meu rosto e aos poucos minha fortaleza se derreteu junto com ele. Eu chorei tanto, tanto, gritei até. Chorei por que os amores não deveriam acabar assim. Eu chorei por ter que ser racional e por a gente ter se perdido irremediavelmente. E porque eu sinto tanto a sua falta que parece que tem uma cratera aberta no meu peito. Na maior parte do tempo eu consigo preenchê-la com sorrisos e lugares e pessoas que encontro, mas ela ainda está aqui. E eu choro mais ainda pelos filhos que a gente não vai ter, pelos lugares que a gente não vai conhecer, por tudo que eu gostaria que a gente tivesse sido ou que a gente fosse e nunca foi ou será. Eu chorei de medo de nunca mais te ver. E por saber que ninguém nunca vai cuidar de mim como você cuidou. E por você tá mal e transformar tudo isso numa grosseria, chantagem, desespero que só me afasta mais de tudo que eu sonhei pra mim ou pra gente. Eu chorei tanto que algo dentro de mim secou e quando eu parei de chorar eu decidi olhar pro lado e ver o tanto de mundo que tem me esperando. Não tive forças pra levantar do sofá naquela hora. Nem pra comer ou pedalar até a praia e ver o pôr do sol que eu insistia pra gente ver todos os dias e só consegui te levar 3 vezes. Mas no outro dia eu tive. E sei que sei lá de onde essa força vai vir. E sei que se hoje eu tenho força pra ficar de pé é graças às suas mãos que me puxaram, me carregaram, me empurraram pra frente. E isso me dói mais ainda por não nos termos mais, mas me dá ainda mais força pra continuar seguindo. Eu queria que o tempo voltasse pra um dia qualquer onde eu chegasse cansada do trabalho e te encontrasse deitado na nossa cama tocando "los hermanos" dizendo que o jantar - uma torta cngelada - estava no forno me esperando. E que eu te jogasse na cama e deitasse em cima de você naquele nosso abraço de todos os dias e sentisse ali que o mundo inteiro poderia acabar. Mas isso não é possível, é contra a minha própria lei olhar pra trás e desejar o que não se pode mais.
Hoje eu vou pedalar até o mar com um galo na testa, que é uma cicatriz visível de você em mim. Da falta que você faz. Eu gostava mais quando podia esconder.
“Somos finos como papel. Existimos por acaso entre as porcentagens, temporariamente. E esta é a melhor e a pior parte, o fator temporal. E não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a sí mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado. Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos”

— Charles Bukowski

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

NUNCA

"Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais..."

domingo, 2 de fevereiro de 2014

DEUS SEGUNDO SPINOZA

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre.
Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me!
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora!
Não me acharás.
Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.”

Baruch Spinoza.