sexta-feira, 25 de março de 2016

Terror do Rio, adeus.

Desde criança eu queria morar em Rio das Ostras, de modo que quando esta passou a ser minha cidade, não me soou como surpresa, mas como caminho. Eu vim pra cá disposta a m deixar modificar pela cidade, pela universidade, pelas pessoas. E acredito que eu tenha feito um bom trabalho.
Olhando agora, em retrospecto, vejo a menina de 19 anos que chegou aqui com medo de andar duas quadras sozinhas, com medo de não fazer novos amigos tão bons, com medo de descobrir quem era. Ainda encontro hoje algumas semelhanças àquela menina, mas foi nessa cidade que me permiti transformar mulher e onde descobrir que transformar em mulher é todos os dias da vida e não algo acabado.
Cada rua que andei tinha uma memória, agora misturando infância-adolescência-universitária sinto orgulho e aquela saudade, aquela saudade boa de sentir de quando vivemos tudo, de quando fechamos um ciclo sem deixar nada pendente e não queremos voltar, por maior que seja o sorriso causado pelas lembranças.
Estou num ônibus indo pra um encontro feminista, o último comp graduanda e a vida não poderia ser mais gentil comigo me deixando fechar esse curso com chave de ouro.
Eu não saio daqui só psicóloga. Eu saio daqui feminista, sapatão, maconheira. Eu saio daqui com a mesma vontade de mudar o mundo que eu cheguei. Eu saio leve porque me encher de mim mesma causa leveza. Eu saio deixando a porta aberta, sem data pra voltar.
Eu vim pra cá com medo de me encontrar. Dizem que medo é desejo. Deve ser por isso que eu desenvolvi pânico. E deve ser por isso que me curei dele. Obrigada, Rio das Ostras, por ter me proporcionado os melhores e piores dias da minha vida, quando a gente encontra a gente é assim mesmo.
Estou pronta pra encontrar a nova Amanda que já existe em mim. Pra ser mais uma vez transformada por uma cidade, por uma universidade, por outras pessoas. Sinto que eu só expando por caber tanto em mim e por eu ser tantas. Talvez viver, seja se expandir até explodir (e enfim deixar de existir).

Na primeira semana de aula meu professor me disse que se não entrássemos um e saíssemos outro daqui, senão destruíssemos tudo que acreditávamos ser pra construir de novo, poderíamos voltar e fazer tudo de novo. Deve ser por querer dar a voltar completa na des/reconstrução que demorei tanto aqui. Eu cumpri, enfim, minha primeira e única tarefa que levei à sério: sou outra, o rio e eu nunca mais seremos os mesmos.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Seu ganho secundário é uma ilusão.

Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.
Seu ganho secundário é uma ilusão.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Abusivo

"Eu não sei como a gente não percebia o quanto o relacionamento de vocês era abusivo. Tudo que eu lembro é que você chorava muito, todos os dias saía de dentro do quarto de vocês chorando pelo menos uma vez. Eu ficava pensando que talvez você fosse mais triste do que feliz com ele, mas eu não sabia como te dizer isso.  Desculpa não ter te ajudado a perceber e sair desse buraco".

terça-feira, 22 de março de 2016

Senhora, e agora?

Acordo com o reflexo da luz começando a entrar pela janela e você nem se move. Deitada dentro do meu abraço, linda, fazendo um bico fofo com a boca. Você fica ainda mais rosa pela manhã, eu já te disse?
Lá fora tem um mundo de coisas que eu preciso fazer, mas fecho os olhos e ignoro, só hoje. Fecho os olhos e sinto a sua respiração quente no meu peito, sem deixar de pensar na sorte que eu tenho. Tento dormir e acabo cochilando, até que você acorda, me vê e sorri. Ver você sorrir pra mim toda vez que acorda ao meu lado é meu presente favorito. A gente se abraça e eu te conto que sonhei que a gente esquiava na neve, você ri e a gente combina de viajar pra neve de novo em breve. Você faz menção de voltar a dormir, eu levanto e te digo que to indo preparar nosso café, "fica acordada".
Faço um queijo quente, um copão de café e um suco de laranja com cenoura e volto pro quarto. Você tá de bruços mexendo no celular. Senta na cama, me dá um beijo agradecendo e voltamos pros nossos celulares enquanto comemos.
- preciso estudar. - você diz
- eu também. - eu respondo
Combinamos de tomar banho, ir ao mercado e voltar pra estudar. Então a gente toma banho juntas, vai ao mercado juntas e preparamos juntas um almoço bem verde. Ou melhor, você prepara enquanto eu fico sentada te olhando e auxiliando. Enquanto cozinha, você me conta da sua avó, da sua cidade, do show que você que ir, de como foi o fim de semana passado. A gente ri, a gente ri muito de tudo. E eu te abraço por trás enquanto você ta mexendo a panela no fogão pedindo a qualquer força que tiver me ouvindo pra que você permaneça na minha vida, mesmo que eu saiba que tudo passa. Você parece ouvir meus pensamentos, vira, me abraça e diz que me ama. Me diz que eu sou o seu amorzinho, sua companheira de vida e que você ta muito feliz comigo.
A gente come e senta pra estudar. Eu paro 10 minutos depois pra fazer café. Volto e a gente fica em silêncio, lado a lado, lendo e escrevendo sem parar. É bom olhar pro lado e te ver ali imersa nas suas teorias. É bom estar imersa nas minhas acompanhada de você.
As horas se passam, anoitece, você fecha o notebook dizendo "chega por hoje" e eu digo que to terminando o último parágrafo. Termino e te chamo pra tomar uma cerveja no boteco da esquina. Você topa, mas diz que não pode voltar tarde. A gente toma banho juntas de novo, fazendo dancinha ao som de "I follow" no box. Você me ajuda a escolher a minha roupa e eu te digo pra levar um casaco porque o tempo tá virando.
Chegamos no bar e a sinuca está desocupada. É nosso dia de sorte. Você me ganha quase todas e sorri porque ama me ganhar nos jogos e eu sorrio também porque tudo bem perder pra alguém que sorri assim. A gente fica muito bêbadas, contando casos, gargalhando. Alguém começa a ficar violão e a gente chega perto da rodinha pra cantar junto. Você fuma um cigarro enquanto canta e eu queria fotografar essa cena pra guardar pra sempre. Você me chama pra ir embora e eu te peço pra ficar mais uma cerveja. Claro que você concorda. A gente volta pra nossa mesa. Te pergunto se você quer dormir lá em casa de novo, você topa dizendo que ta meio tarde pra ir pra casa. E eu rio te dizendo pra você parar de inventar desculpa que todo mundo ja sabia que você ia voltar pra dormir comigo. Você faz bico e eu te mordo. A gente paga a conta e volta pra casa. Você me obriga a tomar banho de novo e escovar os dentes ou você não vai me beijar. Eu resmungo, mas a contrapartida é eficiente então eu vou. Eu tiro a roupa e deito na cama, você coloca uma camisa listrada e me abraça.
- você é o amor da minha vida - você me diz.
- olha quem ta bêbada!
- to falando sério, sua idiota!
- você também é o amor da minha vida. Eu te amo muito.
- eu também. Bons sonhos.
- pra você também.
Dormimos.

Acordo dentro de um ônibus e forço a memória a fim de reconhecer a estrada. Estou viajando sozinha. Minha cabeça dói. Te procuro ao meu lado. Eu choro. Foi só um sonho das memórias. Eu choro mais forte. Meu coração dói de uma saudade incontrolável. Tudo que a gente foi e não é mais ainda estraçalha meu coração. Todos os dias.

sábado, 19 de março de 2016

Adeus

Essa casa é pintada de tanta lembrança, desde as paredes ainda no cimento com as cores que escolhi até cada pessoa que aqui morou. Cada vez que as pessoas q moraram nessa casa mudaram, a casa mudou junto.
Hoje: deitada no escuro, o armário vazio, os últimos vestígios de mim que existem aqui se despedem de tudo que aqui fui. E não é fácil dizer adeus pra nada, especialmente pra um eu tão bonito que habitou aqui. Engasgada com os melhores e piores dias. Com a dor e a alegria de voltar pra esse lugar. Com cada transforma-se, essa casa também sou eu. E a eu que fica não perdoa a eu que vai, mas a eu que vai precisar ir mais do que qualquer coisa.
É engraçado pensar que eu nunca estive sozinha aqui, foram tantos amigos, amores que fizeram dessa casa o lar deles também, mas hoje, olhando pro teto escuro da luz apagada, não há ninguém com quem eu possa/queira dividir a nostalgia, pra quem eu possa ligar chorando porque eu sou uma idiota que se apega às despedidas tanto quanto aos dias vividos. O barulho do ventilador embala meu sono, é cedo demais pra dormir, mas essa é a hora certa de partir, eu sinto.
Eu espero que pra onde eu vou, as frases escritas pelas paredes ecoem na minha alma.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Você viu que talvez tenha impeachment?

Eu sempre escrevo é me refiro à você como o pior relacionamento que eu tive, o que me fez mais mal, me afastou/privou de mais pessoas, mais me desgraçou.
Desde que a desgraça última aconteceu, venho tentando me perguntar porquê então, eu fiquei. Tanto tempo.
A resposta começou a aparecer numa noite congelante de terça-feira, eu tinha brigado com minha mãe e tava no ponto de ônibus fazia alguns minutos. Tremendo de frio, chorando sem parar, soluçando na rua: eu só conseguia pensar em te ligar pra te contar. Eu sei que você entenderia porque a gente sempre teve essas brigas em comum.
Talvez seja só eu colorindo o passado, o que é tão comum quando olhamos pra trás.
Hoje foi meu primeiro dia no meu primeiro trabalho, trabalho este que sonho desde sempre e julgava inalcançável. Na saída descobri que o povo tá na rua pedindo - de novo - o impeachment. Dessa vez eles tão usando como prova algo que não prova nada, mas ainda assim é um artifício.
Eu cheguei em casa há poucos minutos, to sozinha rodando pra lá e pra cá inconformada: a esquerda deveria ta na rua. Mas o que a esquerda pediria se ela tbm ta contra a esquerda. Tem chance de voltar a ditadura? Passagem pra qual país minha poupança me permite comprar caso ela role? Se o vice presidente assumir minha sexualidade e eu nunca mais poderemos dar as caras na rua. Onde será que você está que não ta falando disso comigo?
Gostaria de dizer, que você continua sendo a pessoa que me desgraçou, do dedo do pé até o fio de cabelo. E eu sempre vou odiar você por isso. Mas hoje, quando me perguntarem por que eu fiquei, vou saber responder que é porque era dentro do seu abraço e da sua visão política que meus questionamentos cessavam.

quinta-feira, 10 de março de 2016

acalma

Era sábado à noite e, nas ruas do centro, quando eu finalmente consegui parar de chorar, minha amiga de infância olhou nos meus olhos e disse: - eu queria que você conseguisse se ver de fora, como eu vejo, pra você ver o buraco que você ta enfiada.

Então, de repente eu comecei a enxergar. E o choque me fez saltar do limbo.

No final do túnel a luz que eu emito acalma a minha alma.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Rubem Alves

"Rubem Alves (1990) escreveu certa vez que o ser humano possui um ar de despedida em tudo que faz. Como ele escreve, “as pequenas despedidas apenas acordam em nós a consciência de que a vida é uma despedida”. Saber da nossa finitude, bem como da finitude de todas as coisas nos enlaça aquilo que realmente interessa. Flechas de Tânatos e flechas de Eros nos atravessam a todo instante e como também escreve Rubem Alves (1990), ter consciência desses instantes nos possibilita fruir “da beleza única do momento que nunca mais será...” (p.11). "