sábado, 5 de dezembro de 2020

Sempre tive dificuldade com despedidas. Na infância, trocava o "tchau" por "até logo", temendo até mesmo o poder da palavra do adeus. Hoje não é tão diferente.
Nunca tive medo do novo, o mesmo sempre me excitou e sempre foi o que eu busquei. Isso sim, hoje, tem uma certa diferença.
Comecei a me despedir da cidade antes de voltar pra ela, no momento em que aceitei um emprego em outro lugar. Desde lá a ansiedade me tira  sono.
Desci do ônibus, já aqui: dois cavalos dividindo a calçada comigo, sem conseguir controlar as lágrimas.
Olhei em volta: a Universidade, a ciclovia, o cheiro de maresia, o caminho percorrido todos os dias, um filme. Deixar Rio das Ostras é deixar uma parte de mim que eu não gostaria que deixasse de existir.


10/12/15
Eu preciso escrever até que termine, até que passe.
Eu preciso que esse amor

24/12/15

Feliz ano novo


" - To tão feliz de você e meus amigos estarem no mesmo lugar! Todo mundo que eu amo junto! Obrigada!"

" - O que você acha de passar o ano novo com meus amigos?
- Super animo!
- Sério? Achei que você fosse falar "nossa, nem pensar, nunca!"
- Claro que não! Ano passado você fez o que eu queria, esse ano a gente faz o que você quer! E é super importante pra mim esse convite, essa legitimidade.
- Você é linda! Vai ser incrível! Quando eu fui da última vez só ficou falando um amor comigo e agora eu tenho você!"

"- Você já depositou o $ do ano novo? Por que se depositou preciso te devolver"

"- Eu tava de cabeça quente! Quero muito que você vá comigo, não vai ser a mesma coisa sem você!
- Tem certeza?
- Tenho!
- Vou me programar pra isso então! Você sabe como eu sou com essas datas!"

" - To contando os dias pra ir! Vai ser lindo não pensar em nada com você por dias!"

" - Se você quiser você pode ir, mas se você for eu não vou.
- Eu queria muito ir. Eu me programo pra isso!
- Você nem investiu grana!
- Mesmo assim!
- Vai e eu fico!
- Eu queria ir com você. Como a gente combinou.
- Impossível.
- Eu sei."

24/12/15

Me tirou

Você me tirou a minha autonomia, o meu jeito leve de ver a vida, o direito de acreditar no além. Você tirou minha coragem, minha fé, minha insistência. Me tirou o direito de escolher a maneira de vestir, com quem falar, aonde ir. Me tirou o direito de escrever. Você me tirou as viagens dos meus sonhos, as festas que eu planejava. Você me tirou do convívio do meu melhor amigo em seus últimos anos de vida. Me tirou do meu círculo de amigos online e presencialmente. Me tirou a chance de ser, de querer, assim como a de não ser e a de não querer. Você tirou o meu controle do meu corpo e do meu tesão. Me tirou minha casa, meu quarto, minha privacidade, meu amor próprio, meu gosto musical.
Quando eu achava que você não tinha como me tirar mais nada, você me mostrou, na saída, que meu  só tava começando: você me tirou a única pessoa que trocou amor por amor comigo, em toda a minha vida.


16/02/16

Se eu sofri quando a gente ficou 6 dias sem nos vermos sabendo que quando acabasse estaríamos juntas. Imagina agora que quando acabar não estaremos? E sem contado.
Eu não sabia naquela época.
Eu não sei agora.
Eu to transtornada de bêbada e não quero saber.


16/02/16

Passando

Primeiro eu sofri pelo que eu perderia de feliz em você: as manhãs de domingo acordando atrasada pra ir comer tapioca na feira, os banhos compartilhados, as conversas intermináveis sobre todos os assuntos do mundo, o abraço, o cheiro, o seu sorriso-gargalhada que me iluminava,  as suas receitas deliciosas e saudáveis, o seu trajeto profissional que eu gostaria tanto de continuar a acompanhar (essa parte me deixou sem ar por dias), os cem animais diários, o espaço pra ser plenamente quem somos (fica aqui uma grande reticências). Mas passou.
Depois eu sofri porque morria de preocupação com você. Perdi algumas noites de sono me sentindo culpada por não ser quem acolheria todos os seus tormentos, por não saber como andava sua sanidade, se você tava se alimentando direito, voltando pra casa em segurança, bebendo no limite do seu fígado, por onde começar a procurar caso algo te acontecesse. Eu chorava me sentindo a menor pessoa do mundo porque eu não podia mais cuidar de você e não poder cuidar de você, talvez, seja o pior castigo a que você poderia me submeter. Mas eu estava em pedaços e precisava cuidar de mim, então passou.
Em seguida eu sofri pela sua indiferença, pela frieza. Eu sofri com os pesadelos que eu vivi alguns dias do seu lado. Eu sofri de raiva, de medo, de mágoa. Eu sofri por ter me submetido à tanta coisa que eu discordava pra permanecer onde eu estava e mesmo assim ter falhado, e ainda assim não ter reconhecimento, tampouco receber apenas metade da culpa e não ela inteira. Eu sofri de esquizofrenia. Eu sofri de ódio, algo que eu nunca tinha me permitido sentir até então.
Agora eu sofro pelas coisas que escorrem de você em mim. Das partes ruins, do não acreditar que você me direcionaria o que direciona ou que seria capaz de fazer com que eu me sinta traída mesmo sem estarmos juntas. Agora eu sofro por enxergar o seu lado obscuro, aquele que eu já conhecia pelo tempo e intensidade de convivência, sem saber da potência que é quando direcionado à mim. Porque tudo que se trata de nós ainda é tratado com uma potência muito maior do que eu posso controlar. Porque você ainda - e todos os dias acordo tendo como primeiro pensamento se "hoje já passou" - me atravessa. Eu estou contando os dias pra que você passe de vez.



Hoje, pela primeira vez em mais de um mês, acordei sentindo sua falta.



16/06/16

Eu odiava estar dentro do meu corpo, descobri. Ele representava a extremidade palpável de tudo que eu era, usava-o como contorno.

2017