quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"

Segunda Nuvem a esquerda!



Moro na rua dos cata ventos. 
Que faz esquina com a rua dos alienados. 
No bairro das utopias. 
Embaixo daquela nuvem com formato estranho. 
Do lado de um gnomo insano. 
Lá tem uma padaria. Padaria dos distraídos. 
Lá passa um vento q tem sempre o mesmo cheiro. 
E as casas tem escadas de caracol. 
Tem sempre pelo ar um suspiro avulso. 
Alguns sorrisos sempre despencam do céu. 
Foi por lá q nasceu a maioria dos sonhadores. 
Por lá passa o neutro do bem e do mal. 
Por lá as pessoas ainda dão gargalhadas sem motivos. 
Por lá ainda se vive. 
Por lá os caducos nos ensinam 
Claro q os mais caducos ensinam mais. 
Agente sente primero por lá, depois pensa! 
Agente ainda vive um dia por dia! 
Agente primeiro vive, depois morre! 
Primeiro ama, só depois sofre, 
e talvez nem sofra, pq o amor por lá eh uma constante! 
Por lá tá tudo certo. 

Como chegar? 

zzZZzzzzZZZzz"

Bateju

Dizer adeus pra você fi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida. Eu sempre achei sem noção gente que fica falando com quem já morreu pela internet através de redes sociais, que fica postando foto e lamentando quando a pessoa nem tá ouvindo ou lendo mais, lembro de sempre te dizer isso e a gente achar engraçado, mas entender que cada um tem um jeito de sofrer e que às vezes a gente precisa falar pro nada o que a gente não teve coragem de dizer olhando no olho. Até hoje.
Eu fico pensando no tanto de coisa que eu queria te dizer sem conseguir formular. Ao mesmo tempo sabendo que você sempre soube tudo sobre mim, eu sempre te disse que você é a pessoa no mundo que mais podia ferrar minha vida e era verdade: você estava presente em 90% dos momentos mais importantes da minha vida desde que a gente tinha 11 anos, não sabia o que era beijo, amor, responsabilidade, dor. Mas, exatamente por saber, você nunca usou nada contra mim, taí uma das milhares de coisas que você me ensinou: jamais usar a fraqueza do outro com ele (a não ser que a fraqueza seja ter medo de ter o nariz roubado), jamais encontrar justificativa pra entregar alguém. Ontem, no seu velório, a cada vez que eu abraçava alguém eu lembrava de uma história sua muito boa "esse é o tio que ele contava das noites de acampamento, com quem aprendeu tudo de camping que me passou", "essa é a menina por quem ele se apaixonou de verdade a primeira vez", "eu já fui pra um cachoeira com esse garoto uma vez junto com ele", "aquele filme que eu vi, foi ela que indicou pra gente", "eu nunca mais vou conseguir ouvir essa música sem ele", "essa menina também aprendeu a fazer pulseirinha com ele", "eu chorei 5 dias abraçadas com você quando esse cara me deu um pé na bunda". Entre tantas coisas que não cabem escrever ou não consigo formular. Ontem, eu e nossos amigos sentamos numa mesa do lado de fora e ficamos contanto todas as histórias suas que lembrávamos e a gente riu muito, porque você é um idiota sem tamanho que só fazia a gente rir o tempo inteiro. E meu coração doeu demais - e ainda dói - porque eu olhei pro lado procurando seu olhar pra rir comigo e não achei, porque eu fiquei procurando algum abraço que me livrasse de tanta tristeza como o seu sempre fez e não encontrei em lugar nenhum. Por que ninguém conseguiu me abraçar e falar "calma, baleia, vai passar e eu to aqui", porque ninguém sabia que você tinha ficado do meu lado quando ninguém tinha ficado, que eu costumava te dizer que você era o que tinha ficado do que não ficou e que eu te amo tanto por ter ficado, eu te amo tanto por você ter me deixado ser sua amiga, eu te amo tanto por você ter dividido sua vida comigo, eu te amo tanto por você ter ido como herói, como alguém que todo mundo amava, mesmo sem entender muito, porque você também nunca entendeu muito as minhas escolhas e também me amava. Eu te amo tanto e na minha cabeça, toda vez que eu te via, inacreditavelmente sem vida dento daquele caixão, eu tinha que me segurar pra não te abraçar e te agradecer por tudo, queria te dizer pra levantar logo dali que o susto já tinha sido o suficiente e eu que eu nunca mais vou implicar com sua barba estranha ou com sua demora pra revisar cachinho por cachinho antes de sair, nunca mais vou zangar com você, por favor, Bateju, levanta, acorda, diz pra mim que eu to dentro de um pesadelo, vem aqui, começa comigo de novo, com a gente com 11 anos correndo pelo pátio da escola e você me derrubando no chão me fazendo ralar o joelho, vem ser pré-adolescente rebelde, vem cantar los hermanos comigo, vem me ensinar a montar uma barraca e me levar pra subir todas as pedras da cidades. Vem ver o pôr do sol no mar e sempre molhar o tênis, vem tomar caixote e dividir uma prancha com mais 8 pessoas que também não sabem surfar, vem me dar bronca porque eu falo palavrão demais,vem dizer que vai ficar tudo bem.
Obrigada. Te dizer adeus foi a coisa mais difícil que já fiz na vida. E agora preciso aproveitar tudo por mim e pela pessoa que me ensinou a amar cada sensação que  natureza pode proporcionar, viver por dois.

domingo, 10 de agosto de 2014

Rivotril - você aqui

Quando você não está aqui eu posso, finalmente, voltar pra minha rotina de seriados, blogs e filmes que está desatualizada desde nem sei quando. Posso terminar aquele livro que você me emprestou e eu nunca tenho tempo de terminar de ler. E marcar mil programas com mil pessoas diferentes sem precisar olhar se já é hora de correr pra você. Quando você não está aqui eu tenho tempo pra dormir, arrumar meu quarto, cozinhar pros meus pais. Saio pra jantar e beber com meus familiares, invento praias, viagens, piqueniques. Quando você não está aqui eu consigo cuidar de mim ao invés de dedicar todo o meu cuidado e preocupação à você, na sua mania de não se alimentar, no casaco que você vive esquecendo, na ruguinha que se aloja na sua testa dando uma pontada no meu coração por saber que você não tá feliz. Quando você não está eu faço o que eu quero sem conciliações, vou aos mesmos lugares chatos e confortáveis sem querer fazer mil coisas diferentes pra experimentar com você. Quando você não está aqui eu junto esse monte de papel que chamam de dinheiro pra um dia fazer uma viagem legal ao invés de querer viajar pra tudo que é canto por perto quase abrindo minha falência.
Mas...qual a graça do meu sorriso quando você não está aqui?
Agora que você está aqui eu vivencio o não precisar dormir tanto, viver com a cara enfurnada numa tela de computador, ter tanto tempo livre, decidir e ser sozinha. Não preciso ter medo de ser eu mesma, tampouco de querer dividir tudo que sou com alguém. Agora que você está aqui eu mudei minha concepção de relacionamento, de futuro, de certeza. Agora eu tenho espaço pra ser o melhor de mim, tenho tempo pra viver os melhores tempos que o mundo pode oferecer. Agora que você está aqui a minha vida é linda, a minha tristeza é passageira, a minha desilusão é ilusão. Agora que você está aqui eu finalmente fecho os olhos e sigo tranquila, porque mesmo quando você vai embora, ainda está aqui.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014



"Era para ser por uma noite apenas. Esse foi o combinado. Passaríamos uma noite juntas e depois cada uma seguiria sua vida. Seria como um experimento para você ver o que sentiria indo para a cama com outra mulher.


Mas um segundo encontro aconteceu, e você então avisou que não conseguiria passar a noite inteira dormindo numa mesma cama. Explicou que estava acostumada a dormir sozinha, que era uma mulher muito grande – coisa que eu já sabia –, que se mexia muito e que, por isso, com todos os namorados e amantes antes de mim havia feito um acordo: acabada a farra, um dos dois deveria sair.

Expliquei que tinha uma enorme capacidade de compartimentar a mim mesma e que facilmente me adaptaria a um pedacinho de cama, qualquer que fosse ele, e argumentei também que ao contrário dos homens com quem você já havia se deitado – uma turma que eu agora odiava – eu era uma pessoa pequena e que poderia acabar com esse seu zigue-zague nortuno. Você foi irredutível, e explicou que não suportaria uma noite maldormida: passaria para o sofá assim que a brincadeira acabasse.

Mas durante pelo menos seis meses não houve tempo para que você saísse da cama porque quando a gente se dava conta já era dia, a brincadeira não havia terminado e ninguém tinha dormido. Só que quando finalmente voltamos a dormir – porque não há organismo que consiga sobreviver a tantas noites em claro, ou emprego que se perpetue nessas condições de abobamento e sono – você ainda assim não saiu da cama.

Você então começou a me falar sobre como tinha dificuldade para se entregar, confiar e aceitar comprometimentos sérios. Tudo ia bem entre a gente, mas não havia da sua parte nenhuma intenção de exclusividade. Você disse que não via o mundo desse jeito careta, nunca tinha sonhado em entrar na igreja vestida de branco para ser entregue por seu pai a um outro homem e, mesmo agora, apaixonada por uma mulher, não via sentido em se fechar em um relacionamento. Havia, você argumentava, muitas outras pessoas com as quais talvez ainda gostaria de se deitar. Tinha apenas 27 anos, você dizia, e não conseguia começar a pensar na possibilidade de terminar comigo suas experimentações. E, afinal, não seria essa uma das grandes vantagens de um relacionamento homossexual?, você ponderava. Justamente a capacidade de quebrar convenções e tradições em nome de liberdade e honestidade e de uma verdade tão cara e rara?

Eu, fingindo ser uma mulher madura e bem resolvida, concordava com tudo. Era isso mesmo, eu dizia: seríamos um casal aberto à vida e ao amor e a novas paixões. Era exatamente isso o que eu buscava e desejava e estava muito feliz por ter encontrado alguém que via a vida e o mundo com a mesma lente revolucionária que eu. Abaixo a caretice, eu bradava. Que grande alegria e sorte, eu dizia, poder viver um relacionamento moderno e transgressor ao seu lado.

Eu, uma mentirosa

Mas a verdade é que não era absolutamente isso o que eu queria. O que eu queria mesmo era baixar um decreto-lei que eliminasse da terra seus ex-amantes, castrasse candidatos futuros – homens ou mulheres – e obrigasse você a passar o resto de seus dias ao meu lado. Era exatamente isso o que o animal que me habitava gostaria de fazer. Acho que se você pudesse ter alguma noção da caretice que me habitava e da falta de lucidez que me inundava teria começado a correr e nunca mais parado.

Mas por sorte consegui me manter sã e continuar a mentir sobre minha maturidade; a diferença de dez anos entre a gente exigia que fosse assim. Era, entretanto, apenas uma questão de tempo até que você sacasse a pessoa inadequada e incapaz com quem estava se deitando. Quando lembrava disso, conseguia até ficar feliz imaginando que muito em breve nosso relacionamento estaria terminado, invadido por outros amantes e desejos.

Pensar assim me deixava de certa forma aliviada; conseguir perpetuar a imagem de mulher forte e bem-sucedida em sua mente não era uma ideia ruim. Porque, se passássemos mais tempo juntas, você inevitavelmente descobriria que eu era uma pessoa que não saía de casa, que detestava aglomerações (exceto aquelas que envolviam o Corinthians), abominava calor, samba, praia, megashows tipo Lollapalooza e dormir tarde. Uma quase quarentona que não sabia fazer pagamento de contas pela internet, lembrar de senhas ou aplicar dinheiro e que, por isso, gastava tudo o que havia, até porque como jornalista essa não era uma tarefa para muitos dias. Alguém que sentia profundo tédio quando escutava as palavras cartório, reconhecimento de firma, autenticação, junta comercial, e que, por isso, fingia que essas coisas não existiam. Um ser humano cujas especialidades se resumiam a fazer baliza, adivinhar a hora e lavar a louça do jantar. Uma esquisita que se sentia feliz entocada em casa durante um fim de semana de sol lendo Eça ou Machado ou Proust ou Doistoiévski, e que preferia dias frios e chuvosos a quentes e de sol. Também não demoraria para que você percebesse que eu era aquela que, numa festa, ficava involuntariamente isolada, aquela que não sabia dançar ou cantar; alguém, portanto, com a ginga social de uma criança de 4 anos. Então, antes que tudo isso viesse à tona, a chegada do novo amante salvaria minha imagem – embora fosse, ao mesmo tempo, me atirar às trevas.

Mas os meses viraram anos e os anos viraram uma década e você nunca mais saiu da minha cama. Desde aquela primeira noite nada mudou na nossa paixão, a não ser a doentia voracidade sexual que nos transformava em vampiros – o que foi bom para que pudéssemos manter empregos e algumas amizades. Aos poucos, minha máscara foi caindo e você não pareceu se importar. Nunca tratamos de exclusividade, mas esse outro amante tampouco surgiu. Construímos algumas casas, arrecadamos duas cachorras, fomos morar fora do país. Pessoas importantes partiram, outras chegaram, e, diante de tanta dor e de tanto prazer, nosso relacionamento ganhou muitos músculos. Até hoje a gente diz que se ama, e faz amor sem hora marcada, e faz nheco antes de se levantar, e se protege do mundo dançando na sala.

Estava pensando em tudo isso na noite passada, quando uma viagem de trabalho afastou você de mim por alguns dias. Que sentido tem a casa sem você? Ou a vida sem você? Ou as flores sem você? Ou eu sem você? E então um troço doido me passou pela cabeça. É que talvez seja hora de mudar algumas coisas, de cruzar uma outra fronteira, de dançar um pouco mais na cara do preconceito. Por isso eu queria perguntar: você quer casar comigo? ' (Milly Lacombe)

Rivotril

Desde que me tornei agnóstica, parei de acreditar em magia - tenho uma amiga que adora a palavra "mágica", e usa para me designar quando tá muito feliz comigo me dizendo que mereço o termo com melhor significado de todo seu vocabulário e este é o único momento em que eu acreditava, até então, que a magia é infindável e real.- Entretanto, tudo mudou na primeira vez que visitei a casa de paredes amarelas. Ela fica dentro de um labirinto de ilusão de ótica, todas as portas, janelas e paredes são iguais e você tem que ter concentração pra entrar no lugar certo, tem também que ter certeza do que está fazendo, pois o caminho é só de ida.
A casa amarela é pequena(mente) aconchegante e a maior parte do tempo passado dentro dela é sobre uma cama, de onde você pode facilmente ficar observando um singelo mural de ideais pregados na parede de um armário (se você ficar olhando muito tempo pr'aquelas imagens e dizeres pode ser contaminado por eles, o que também te exige certeza do que está fazendo). Pra entrar na casa, é preciso deixar, mesmo sem perceber, toda a armadura e medos do lado de fora, como se ao atravessar o portal, fossem dissipados todos os artifícios usados diariamente pra parecer ser melhor do que realmente se é junto com as roupas do corpo. Lá dentro você não precisa de nada além de tudo que você é. É o lugar mais confortável do mundo, um recanto pra alma. Cada detalhe, cada cheiro, cada objeto guarda uma indicação pra felicidade, guardam um pouco da magia de finalmente ser, de sentir.
E no meu vocabulário, a palavra mais bonita que existe é "sentir".
Com a casa de paredes amarelas eu descobri que pra magia existir é preciso fé, entretanto ela é palpável.
E agora dizer adeus pr'aquela casa é também dizer adeus pra uma parte de mim onde só habita felicidade, é descolar do meu mural de ideais uns sonhos tão lindos que nem parecia possível imaginar. É preciso ter uma força que eu não tenho. Só com mágica eu conseguiria acabar com tudo isso. E toda mágica que eu conheço está presa entre aquelas paredes.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Ainda não encontrei incompetência maior do que a de não ser o que a pessoa que você ama esperava.
Visualizar suas redes sociais todos os dias buscando saber de você e dar com a cara na porta. Sinto saudade de quando a porta era física e não virtual. De você me fazendo acreditar que eu poderia mudar o mundo inteiro sorrindo. Da sua voz no meu ouvido dizendo que tudo vai ficar bem - e eu acreditava, apenas porque o timbre da sua voz fazia escudo na frente do meu pavor da vida. Eu espero que longe de mim, você siga de forma tão tranquila quanto a sua voz.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Eu poderia chorar ao dizer de todos os lugares que faltam você. Ao invés disso, sorrio por todos os cantos que transbordam eu.