quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Rivotril

Desde que me tornei agnóstica, parei de acreditar em magia - tenho uma amiga que adora a palavra "mágica", e usa para me designar quando tá muito feliz comigo me dizendo que mereço o termo com melhor significado de todo seu vocabulário e este é o único momento em que eu acreditava, até então, que a magia é infindável e real.- Entretanto, tudo mudou na primeira vez que visitei a casa de paredes amarelas. Ela fica dentro de um labirinto de ilusão de ótica, todas as portas, janelas e paredes são iguais e você tem que ter concentração pra entrar no lugar certo, tem também que ter certeza do que está fazendo, pois o caminho é só de ida.
A casa amarela é pequena(mente) aconchegante e a maior parte do tempo passado dentro dela é sobre uma cama, de onde você pode facilmente ficar observando um singelo mural de ideais pregados na parede de um armário (se você ficar olhando muito tempo pr'aquelas imagens e dizeres pode ser contaminado por eles, o que também te exige certeza do que está fazendo). Pra entrar na casa, é preciso deixar, mesmo sem perceber, toda a armadura e medos do lado de fora, como se ao atravessar o portal, fossem dissipados todos os artifícios usados diariamente pra parecer ser melhor do que realmente se é junto com as roupas do corpo. Lá dentro você não precisa de nada além de tudo que você é. É o lugar mais confortável do mundo, um recanto pra alma. Cada detalhe, cada cheiro, cada objeto guarda uma indicação pra felicidade, guardam um pouco da magia de finalmente ser, de sentir.
E no meu vocabulário, a palavra mais bonita que existe é "sentir".
Com a casa de paredes amarelas eu descobri que pra magia existir é preciso fé, entretanto ela é palpável.
E agora dizer adeus pr'aquela casa é também dizer adeus pra uma parte de mim onde só habita felicidade, é descolar do meu mural de ideais uns sonhos tão lindos que nem parecia possível imaginar. É preciso ter uma força que eu não tenho. Só com mágica eu conseguiria acabar com tudo isso. E toda mágica que eu conheço está presa entre aquelas paredes.

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