quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Disse Clarice:

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos".

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Toda vez que dói eu grito. (Não sei com funciona esse maldito condicionamento de associar o grito à resolução da dor). Hoje lateja e eu silencio. Olho pra dentro, pro fogo destruindo tudo em mim calada. A fumaça do incêndio prejudica minha respiração, meu corpo já começa a virar carvão de dentro pra fora como numa miragem: eu não me movo. Estou assistindo a destruição em silêncio.

No fim o silêncio foi tudo que restou.

sábado, 26 de dezembro de 2015

É a primeira vez que escrevo

2015 foi o ano que descobri ter sido violada sexualmente por pessoas que deveriam me proteger, antes de completar 3 ano de idade.

Isso é tudo que eu consigo pronunciar, por enquanto.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Repetições 2

Ano novo de 2013: tudo pronto pra passar o réveillon com os amigos dele. Um lugar calmo, aconchegante, pessoas queridas. Duas semanas antes há uma briga. Ele lhe avisa por facebook que ela não é bem vinda, que acabou. Ela fica atônita, em silêncio por dias, porque é infantil a ponto de ser muito apegada à datas como essa. E por conhecer bem a sensação de exclusão e não esperar que viesse de alguém que jurava amor até uma semana antes.
Ano novo de 2015: a história se repete. Exatamente igual, como crtl+c e crtl+v.
Só eu enxergo a falta de empatia? Só eu seria incapaz de deixar alguém se sentindo assim? Só eu percebo as repetições?

24/12/15

Repetições

2010: fazia menos de uma semana que eles tinham terminado. O telefone dela toca, um amigo lhe contando que o vira de mãos dadas com outra menina num bloco de pré-carnaval no dia anterior. Notícia que a deixou de cama por 3 dias, em que ela o esperou ligar dizendo que sabia que tinham sido vistos, que sentia muito que o amigo os visse -não era a  intenção, se a ex estava bem. Nada.
2015: a história se repete exatamente igual.
Vocês ainda me perguntam sobre repetições inconsistentes. Sobre falta de empatia.

24/12/15

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Primeiro dia 21.

Eu chego na cidade e sinto o cheiro do pneu da sua moto no asfalto misturado com o perfume que saía do seu perfume. Vejo a gente na fila do sorvete do mac Donalds, em frente ao apt da sua amiga, na loja de morango com chocolate, na casa da minha tia. Eu vejo você em mim, no meu corpo, na falta, na saudade, no espaço em branco dentro do meu peito. Eu vejo você em tudo que falta e na exaustão de nós q tanto procurávamos. Eu vejo você e cadê.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Mateus

(Você me ensinou a viver).
Quando você morreu.
Você me ensinou que eu posso (sobre)viver no escuro, no limbo, sozinha, sem ninguém. Você me ensinou que eu posso viver com a solidão, com o abandono, com o desamparo. Que eu posso continuar vivendo mesmo sem certeza alguma, sem lugar pra voltar. Mesmo que eu não suporte estar em nenhum lugar ao muito tempo por medo de amar o lugar e as pessoas como eu te amei (amo) e tudo simplesmente acabar enquanto eu to distraída numa lanchonete ajudando alguém a comprar uma passagem de ônibus pelo celular.
Eu aprendi a viver sem você e agora me sinto apta a viver sem qualquer coisa. Eu vou sobreviver, eu vou continuar vivendo.
Obrigada por mais um ensinamento, meu melhor amigo.
Sinto sua falta. Todos os dias.

A tortura de andar de ônibus.

sábado, 19 de dezembro de 2015


Eu queria não ter que me despedir de você.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

"- Mas mãe, eu a amo muito.
- Vai continuar amando. Só que agora, sem posse".

domingo, 13 de dezembro de 2015

Mateus

Quero que você saiba que eu te odeio.


Você bem sabe que nunca me permiti não gostar de ninguém, tampouco sentir ódio. Lembro de você me dizendo que as pessoas tinham sido babacas comigo e eu te dizendo "ódio só faz mal pra quem sente". Você ficava inconformado porque achava que eu queria sempre ser a bozinha, eu ria, eu sempre ria de tudo quando eu tava com você.
Eu não sei o que aconteceu nessa última semana, não sei explicar. Eu simplesmente comecei a sentir muito ódio, de tudo, de todo mundo. Inclusive de quem não tem nada a ver com isso. E aí eu comecei a odiar você também, chorar de tanto ódio, me desculpa.
Foda-se o quanto isso é infantil: você não tinha o direito de ter me deixado, não tinha!
Lembro da gente combinar de nos casar aos 40 por sabermos que não aguentaríamos ninguém tanto tempo - ou ninguém nos aguentaria - e viajar o mundo com uma barraca nas costas porque a gente decidiu que essa era a melhor idade pra isso. Lembro daquela sala do grêmio da escola depois da festa junina, você bêbado dizendo que eu era seu ar, seu alimento, seu chão e que a gente só precisava um do outro pra existir. Lembro de você me dizer que nunca me deixaria sozinha, que eu nunca sentiria solidão. Que você sempre me amaria do jeito que eu sou, por mais chata que eu fosse e que isso era eterno. E olha em volta agora! Olha em volta!
Tem um buraco em mim desde que você morreu naquele maldito acidente. E eu te odeio por não ter se atrasado cinco minutos pra olhar a paisagem e evitado ele. Eu te odeio por não ter me dito que tava aqui pra eu te ver uma última vez. Eu te odeio por nunca poder me despedir de você.
Eu te odeio porque é dezembro. De novo é dezembro e me fala que porra eu faço da minha vida se você não tá aqui. Me diz como posso planejar um ano novo, mais uma vez, que não tenha você. Como eu posso imaginar aniversário ano que vem. Me diz por que você não tá aqui, quem te deu esse direito?
Por que você me fez acreditar que eu poderia ser quem eu quisesse, que você aguentaria o tranco, se você vai embora e me deixa aqui sendo mimada insuportável sem ninguém pra fazer todas as vontades que só você fazia. Só-vo-cê-fa-zi-a.
É domingo, eu saí do trabalho e sentei na praia pra ver o pôr do sol e tomar um cerveja. EU vim pedalando pra casa com um buraco enorme no peito. Quando me olhei no espelho, já pronta pra tomar banho, eu só consegui ver um buraco enorme dentro dos meus olhos, uma saudade tão grande, um aglomerado de coisas que só seu abraço entenderia, uma vontade incontrolável de te ligar e te contar tudo, como eu fazia quando me mudei pra cá e você ainda não tinha vindo e eu ficava horas gastando todo meu crédito sentada no anfiteatro da faculdade te contando tudo sobre todo mundo e de como ninguém chegava nem perto de você.
Eu não acredito que você foi embora. Faz mais de um ano e eu não acredito.
Eu sonhei a noite inteira com você e parecia que você tava do meu lado, eu tinha certeza que eu ia acordar, te contar meu sonho, rir da sua cara e te abraçar de conchinha pra dormir só mais cinco minutinhos.
Eu não consigo não odiar você, eu não consigo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O que aprendi com Jessica Jones


Jessica Jones é uma investigadora, que, após um acidente que matou sua família, tem dificuldade de confiar nas pessoas. Além disso, após o acidente, ela adquiriu os super poderes (que só no final da série é mostrado que graças à um laboratório de testes em humanos): de saltar tão alto e com tanta distância que parece poder voar e uma força descomunal. Jessica Jones, foi adotada por uma moça que abusava física e psicologicamente da filha e ela se sente na obrigação de protegê-la da mãe, talvez Trish, sua irmã adotiva, seja a única pessoa que Jessica de fato ame durante a vida.

Já na idade adulta, Jessica é dominada por um homem que tem o super poder (também modificado a partir de uma testagem em humanos, mas dessa vez por seus pais) de controlar as pessoas. Simples assim, ele fala e a pessoa faz o que ele quiser, qualquer coisa, inclusive cometer homicídio ou suicídio. A trama se dá na tentativa de deter este homem, Kilvagre, visto que Jessica é a única que consegue se livrar da sua dominação de vontade, após matar uma mulher por ordem do mesmo.

Ok, Marvel é boa em produção de série de super heróis (é o que dizem, não sou ligada à isso) e já era de se esperar que a série seria boa. Entretanto, há algo além.

Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é perder a autonomia à ponto de parecer ter sido dominado Kilvagre: você faz e fala coisas que não tem vontade de falar e fazer, você simplesmente faz, à despeito de ter uma voz no fundo da sua cabeça dizendo que você não deve ou não precisa fazer aquilo. Você tem medo, você tem medo 24 horas por dia: do outro, do mundo, de você. E o medo, acredite, faz você não pensar, faz com que você tenha atitudes que você precisa se desculpar pelo resto da vida. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é ser violentada, sabe o que é não ter mais vontade de fazer sexo e achar que há um problema com você. Sabe o que é não poder se vestir como deseja, se portar como deseja, ir onde deseja e, pra mim uma das piores partes, não falar o que deseja. Quando alguém controla o que você fala, te faz ter medo da fala, quando alguém controla a sua voz, ele te controla completamente. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é as outras pessoas em volta terem pena do abusador, o acharem uma pessoa bacana, não entenderem o porquê de você tê-lo deixado, ouvir a história absurda e chantagista dele e achar que a culpa dela é sua. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é, mesmo quando ele acaba, sentir medo de se expressar, de se portar, de se impôr. De frequentar alguns lugares, de vestir determinadas roupas, de existir. Sabe o que é ser apagada, sabe o que é ser silenciada.

O super poder daquele homem no seriado, pra mim, é o poder de se aproveitar do amor e da confiança de uma relação. É a justificativa de “eu te amo, me perdoe” “estou agindo assim porque eu te amo e você não pode me deixar”. O super poder dele é o de destruir, de mutilar, de explodir tudo que Jessica acha que poder ser.



Mas aí, sabe o que, de mais importante, eu aprendi com Jessica Jones? Quando você perde o medo, o seu abusador some. Quando ela perde o medo dele, ele começa a fugir dela e tentar chantageá-la de mil formas, sem sucesso algum. Ela não cede, ela não ouve. Quando ela entende que não é ele que manda, ela começa a voltar a conseguir mandar em si mesma. E destruí-lo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

#meuamigosecreto

#meuamigosecreto vive de baixo do mesmo teto que eu desde sempre. E sempre me fez ter medo. Desde criança eu durmo com a porta trancada porque sou assombrada por pesadelos em que ele me mata. Não sei quantas noites passei insone por isso. O meu amigo secreto é um chantagista, que maltrata as pessoas que eu amo. Que pede arma aos meus amigos, que se droga pra ter desculpas pela falta de consideração. Meu amigo secreto sabe das minhas fraquezas e dos meus incômodos. Sabe que uma caixa de som com música bem alta em um lugar fechado desencadeia em mim uma crise de ansiedade sem tamanho, sabe que sou totalmente ligada à energia que as pessoas me direcionam. Meu amigo secreto sempre me tratou aos berros, sempre mediu força comigo - física e psicológica. Em brigas bobas, como quando era minha vez de usar o computador e ele nunca saía ou era a vez dele e ao invés de pedir pra eu sair, desligava o computador na tomada, ou o relógio de luz da casa e me tirava à sacos da cadeira. Ou em brigas sérias como nas vezes em que eu tive que tirá-lo de cima de sua namorada, em quem ele batia sem dó. Meu amigo secreto é vitimizado desde sempre, a culpa que é dele sempre foi atribuída à mim - sempre. Sempre me cobraram que o entendesse, ninguém nunca quis tentar fazer o mesmo por mim, porque eu sou mais velha, porque eu sou mulher e devo ser mais madura, porque tenho mais poder de compreensão. Meu amigo secreto foi um dos responsáveis pela minha saída de casa pra um lugar bem longe dali. Não importava pra onde e nem fazer o que, só queria ficar longe dele e do meu outro amigo secreto. A distância fez a raiva passar, mas ele nunca desistiu de me atormentar sempre que possível. Fosse vindo à minha casa pra dar festinhas quando eu precisava estudar, fosse pra trazer amigos deles pra cá e expulsar os meus, fosse pra sujar tudo que há aqui.
Faz quase dois anos que meu amigo secreto se mudou pra mesma casa que eu. E quase 6 meses que vivo só com ele, dentro da mesma casa. A minha casa é suja à ponto de dar ratos, porque é isso ou limpar a sujeira que ele faz por todos os cantos como se fosse a empregada que ele diz que eu sou. Meu amigo secreto inventa histórias sobre mim, ouve som o mais alto que pode mesmo eu implorando o contrário, traz homens desconhecidos pra cá com quem tem conversar - que faz questão que eu ouça - do quando eu sou desprezível e ele vai acabar com a minha vida. Meu amigo secreto me faz ter medo a ponto de, mais uma vez, deixar minha casa pra ir pra qualquer lugar fazer qualquer coisa, desde que seja longe dele. Eu durmo mal porque minha porta não tranca e eu sei que ele é capaz de pular no meu quarto - como já pulou inúmeras vezes pra furtar minhas coisas. Eu tenho medo de entrar aqui, de estar aqui. De estar no mesmo cômodo que ele, de olhar pra ele. Toda vez que eu o ouço andando pela casa penso que é meu último momento de vida, eu fecho os olhos e espero o tiro, a facada, o golpe que vai matar meu corpo finalmente. Meu amigo secreto me faz viver num ambiente inóspito. Mas ele é gente boa com o resto das pessoas e por isso todos acham que a errada sou eu. E por isso a única pessoa que eu tenho com quem contar no mundo sente culpa ao pensar em tirá-lo daqui e acabar com a tormenta desses longos anos, mas não tem em me fazer, mais uma vez, ir pra outra cidade apenas pra fugir, sem fazer ideia de como farei pra sobreviver nela. Quando eu começo a falar do meu amigo secreto, os conselhos que ouço são algo entre "você tá exagerando, você é dramática" e "já tá mais que na hora de você sair de casa e ir viver sua vida, se bancar, casa é só tijolo". E aí, hoje, 25 anos depois eu finalmente me dou conta de que é tão comum que os amigos secretos invisibilizem suas vítimas, que as façam passar por loucas. É tão comum que as pessoas que você queria que te acolhessem te digam que você tá sendo precipitada e infantil e dramática. É tão comum.
Hoje, mais uma vez desde que me entendo por gente, eu só consigo ficar deitada em posição fetal desejando com toda força que há em mim que eu possa não existir, que por um passe de mágica eu possa sumir sem deixar rastros. Eu me peguei com a unha na minha pele, comum canivete na mão tamanha vontade de rasgar meu corpo pra ver se a dor psicológica passa e se transforma em uma dor física que eu consiga lidar.
Hoje, mais uma vez, eu só queria que alguém me ouvisse sem me julgar. Que viesse pra cá e ficasse abraçada comigo em silêncio sem questionar meus sentimentos. Eu só queria que alguém me visse.
Eu queria que fosse um arquivo no meu computador que eu pudesse apertar shift+delete

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"Você não ta se relacionando, ta se masturbando"

Você percebe que está falhando na vida quando: lembra que decidiu apostar num relacionamento livre pra tentar exterminar o ciúme.

sábado, 5 de dezembro de 2015

A casa que fede

Todos os cômodos da casa exalam um cheiro ruim. Há poeira mesmo quando os móveis estão lustrados. Em cada parede há uma camada de lembrança insuportável. Tijolo e telha que mudam minha energia e meu aspecto. "Mas você tem uma casa só pra você, pra que vai sair daí pra tentar a vida incerta?". Quando me perguntam isso, quando me dizem que preciso esperar, quando me questionam sobre maturidade, ao invés da raiva que me tomava, eu me questiono se há no mundo lugares habitáveis. Se há no mundo um lugar onde as pessoas morem e vivam felizes. Procuro um lugar assim na memória. Encontro vários: um quarto numa casa que não era minha e sem acesso à internet decente, uma república com quartos divididos e pouco dinheiro, outra república com cama de casal dividida com uma conhecida, outra com um quarto pra mim e a casa separada por gostos totalmente diferentes, e assim sucessivamente até perceber que o espaço físico - desde que haja um - não é o primordial. O que importa são as histórias, são as pessoas, são as sensações. O que importa é deitar, mesmo que num colchão no chão, e se sentir amparada, se sentir num lugar seu. Eu não entendo o carnaval que as pessoas fazem - e nunca entendi - em volta de uma casa. Especialmente de uma casa onde tem mofo até na sanduicheira: quando não o físico, o mental.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Rivotril

Outro dia você reclamou de dor no corpo e eu te fiz uma massagem. Você não sabe, mas enquanto eu te massageava, eu rezava. É engraçado porque eu não sou mais o tipo de pessoa que reza, mas toda vez que te vejo sentindo dor, me pego fazendo isso.
Parece que as preces tem funcionado. Elas ou alguma força estranha que nos faz ainda estar aqui. Elas ou esse algo inexplicável que existe no Universo e me faz amar passar a semana te vendo em processo de criação enquanto eu cuido do resto da casa e do que resta da sua paz nesses momentos.
Teve uma vez que você reclamou que eu só escrevo quando as coisas vão mal, explico: estou deitada na sua cama pensando no que fazer pro almoço, te olhando se descabelar na frente do computador e me olhar dando um sorrisinho vez ou outra. Não existe angústia entre a gente e eu prefiro respirar esse momento e guardá-lo na memória ao invés de nas palavras.
Tem um ano e seis meses que você é minha paisagem favorita.

domingo, 22 de novembro de 2015

Diálogo?

- Oi.
- Oin.
- Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Também.
(...)
- Por que você ta quietinha assim?
- Você ta estranha tem dias, to te dando seu tempo.
- Todo dia você fala que to estranha. Que saco!
- Também acho! Queria não precisar falar isso.
- Eu também queria.
- Você vai me falar o que ta havendo?
- Ta tudo estranho. Não ta sendo o que eu esperei.
- Hum.
(...)
- Você já entendeu que eu não sou a mesma? Eu finalmente entendi que você não é a pessoa que vai me buscar aqui em casa na sexta e só me devolver na segunda, à contragosto. Que não é quem vai me convidar pra andar pela rua aos domingos depois de um processo difícil de sair da cama. Que não é quem vai rodar pra lá e pra cá atrás de café numa quarta 11 da noite porque não quer se despedir de mim. Eu entendi que você não vai vir correndo no meu primeiro chamado. Que não vai recorrer à mim quando doer, quanto tiver difícil, quando houver dúvidas. Eu entendi que não sou mais a sua melhor companhia ou a pessoa com quem você quer passar a maior quantidade de tempo fazendo tudo ou nada, por querer me viver até a última gota. E você? Você já entendeu que eu também sou outra?
- Você pega pesado.
- Você também.
- Acho que a gente precisa se reapaixonar.
- Acho que já tem paixão demais nessa relação.
- Sim, mas a gente é apaixonada pelo que? Pela nossa história? Por quem a gente era? Pelo que somos agora? Pelas possibilidades que temos?
- Por você?
- Por qual eu?
- A gente não ta sabendo se ler. Se ouvir. A gente só sabe falar. Olha que improvável.
- Eu sinto muita falta de ser ouvida. E de ouvir também.
- Eu também.
- Eu to exausta desse esforço que eu to fazendo. Eu só quero relaxar.
- E o que te impede?
- Medo de como você vai agir.
- Eu preciso dizer de novo que você não precisa ter medo? Que eu não vou embora agora. Que eu to aqui por escolha?
- Se não for te cansar muito, pode dizer.
- Já disse! Eu te amo, cara. Vamos tirar esse muro que ta entre a gente de novo.
- Como?
- Você pode começar me contando seu dia, não o que você fez, não quero que você fique batendo cartão me contando seus passos como se eu fosse sua chefe. Me conta as coisas que você viu, me conta o que você tem sentido, do que te deixou triste, o que te fez feliz! Deixa eu conhecer você, deixa eu me apaixonar mais e de novo.
- Eu não sei se eu consigo. Parece simples na teoria. Mas meus psicológico ta muito abalado.
- Então ta bem. Seja feita a vossa vontade.
- Sem drama, por favor! E sem me responsabilizar por tudo!
- Lembra que eu tava te dando um tempo pra respirar? Vou aproveitar pra respirar também. Quando parar de sufocar, me procura.
- Não era pra ser assim. Mas me procura também.
- Okay.

Proust

“O hábito enfraquece todas as coisas; mas as coisas que melhor nos lembram uma pessoa são aquelas que, por serem insignificantes, nós as esquecemos e que, por estarem esquecidas, não perderam nada de sua força. Por isso, a melhor parte de nossa memória existe fora de nós mesmos, numa brisa de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, coisas através das quais podemos recuperar qualquer parte de nós mesmos que a razão, não tendo nenhum uso para elas, desdenhou; o último vestígio do passado, o melhor dele, a parte na qual, depois de todas as nossas lágrimas terem secado, pode nos fazer chorar outra vez.”

sábado, 21 de novembro de 2015

Elaborar

Descobri recentemente que ouvir é ainda mais difícil que falar. E que nem sempre eu falo do que realmente importa.
Essa semana aconteceu algo muito marcante na minha vida e, como sempre faço, eu poderia recusar me expor, recusar escrever sobre isso porque é sempre mais fácil ignorar do que ter que lidar.
Saí de órbita e me diverti de uma das maneiras que mais gosto. Era pra ter sido incrível, não fosse a bad que bateu durante. Durante um processo que era pra ter sido incrível, eu só conseguia pensar em empatia. Eu só conseguia visualizar meu pior pesadelo, aquele escondido até de mim, passando diante dos meus olhos. Eu sentia culpa por ser quem eu estava sendo.
A onda passou, eu dormi bastante, acordei algumas vezes com o coração disparado. Eu me dei conta de que deixei muita coisa pra trás. E não digo isso como lamento. Eu mudei muito e preciso aceitar isso, aquela que eu era, aquele tipo de diversão, não faz mais parte de quem eu sou. Talvez eu esteja ficando velha e chata, talvez seja só o auto-amor invadindo mais uma parte de mim. Sei que quando acordei eu me libertei. Sinto como se eu tivesse levantado de uma forma de gesso que me envolvia. Como se eu tivesse me livrado da necessidade de me encaixar, de me enquadrar. Agora, eu só preciso ser eu, acreditar em mim, encontrar comigo.
Agora eu só preciso ser fiel à mim e ao que eu realmente quero. Eu estou em silêncio faz dias e todos vem me perguntar sobre a minha ausência de comunicação: eu só estou me comunicando comigo tão profundamente que estou sem capacidade de proferir palavras sobre outra vida.
Estou me sentindo muito dentro de mim. Estou me sentindo eu. Eu estou livre.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Eu encaretei, preciso admitir. Dizem que é coisa da idade, eu não sei. Tudo que eu mais gostava de fazer parou de fazer sentido.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

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Você não costuma fazer o que é mais fácil, você não se rende. E você não faz ideia do quanto eu te admiro por não se render. Do quanto eu te admiro por comprar todas as brigas e colocar teu peito na reta das nossas diferenças.
Eu me vi vestindo o dilema da psicanálise, ao seu lado. Quando estamos em um relacionamento, achamos que somos dois que vão se fazer um, e isso é extremamente frustrante porque são sempre duas pessoas vivendo as próprias vidas e se desencontrando. Agora, vendo de tão perto e de tão longe tudo que a gente é, deixo que sejamos quem somos. Sem me ater ao que eu gostaria que você fosse, sem me ater aos nossos defeitos, deixo que a gente flua, que o nosso encontro seja fluido e se dê de sua melhor forma. Não sou mais assombrada pelo medo de nos perdermos, mas ainda há tanto que me assombra, ainda há a auto-cobrança e o drama da insuficiência. Ainda há aqui, dentro da minha vida, tudo que havia de errado e que antes eu achava que estar ao seu lado resolveria. Fico feliz por ter me enganado, por nosso relacionamento não resolver, de fato, nada além do que está entre nós, por mais difícil que isso seja.
Eu espero que você continue não se rendendo e me ensinando, deste jeito tão torto e tão nosso, que amor não tem nada a ver com ser o que a outra pessoa espera.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Não sei se é o tempo que eu demoro. Os meus trejeitos. Os fantasmas da infância. Meu medo. Sei que em algum momento seu olhar se perde, o corpo esquiva, a pressa se torna repulsa. Em algum momento eu fico sem saber como agir e perturbada com todos os atos. Não há nada que eu possa fazer. Eu sei da paz de quando você faz, mas ela some, some bem de baixo dos meus olhos e eu não vejo como aconteceu, pra onde foi. Hoje, como outrora, meu coração amanheceu batendo ao contrário.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

"Aprendi a aceitar essa estranha noção de que não estamos respirando, mas sim sendo respirados, e de que essa respiração que o universo nos impõe tem seu próprio ritmo, e que tentar mudar esse ritmo é como tentar mudar a órbita dos planetas, ou interromper o pôr do sol com as mãos, o que talvez só um deus consiga fazer, mas certamente não eu, a mais ordinária de todas as pessoas ordinárias.

Perder o contato diário com você me fez entrar num quarto escuro e entender que de dentro dele a gente só sai quando aprende a ficar com os olhos abertos porque é apenas com os olhos bem abertos que a escuridão perde a cara feia. É apenas com os olhos bem abertos que é possível começar a ver mesmo dentro do mais escuro dos quartos e, assim, começar a perceber o que existe ao redor. Dá medo ficar de olhos abertos na escuridão, mas dá mais medo ficar sem você, então, na escala dos medos, esse deixou de ser grande.

Perder contato diário com você, ser capaz de aceitar sua morte, embora escrever isso ainda não faça muito sentido, me fez acreditar que viver talvez seja mais difícil do que morrer. Viver requer atenção constante, exige que aprendamos a pensar, e a agir muitas vezes contra nossos instintos, e desejos".

(Milly Lacombe)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

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Se a pessoa vai embora quando as coisas ficam difíceis, essa pessoa não merecia ter ficado quando estava fácil.
Desistir no caos não é amor.
25 anos pra conseguir aprender.

sábado, 24 de outubro de 2015

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Ninguém nunca me amou como ela. Nunca me quis como ela. Nunca me fez sentir tão potente.
E longe dela, parece que a minha força ficou pesada de carregar.

Eu nunca tinha me sentido amada na vida. Acho normal ficar assombrada de medo de perder o q eu sempre sonhei ter e nunca tinha tido.

Eu não soube lidar.
Com o amor.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O caminho do fim

Acordo com o coração esmagado todos os dias. E a taquicardia o esmaga ainda mais conforme o dia vai passando, uma bomba relógio presa na minha garganta. Eu ainda não acredito que você se foi. Eu sabia que esse dia chegaria, desde o nosso primeiro dia, me preparo para este que agora chegou, sem acreditar que ele chegaria, sem nunca querer que ele chegasse. Daqui de onde escrevo, consigo ver você em tudo: na parte de cima do meu armário vazio, no balcão comendo tapioca de café da manhã, na minha cama, na parede do meu quarto, almoçando no sofá da sala, dançando e se olhando no reflexo do espelho do banheiro durante o banho. Daqui de onde te escrevo, tudo ainda é você, porque, embora minha mente finalmente tenha entendido, meu coração ainda não te libertou.
Não tenho dúvidas de que você é o melhor amor que já senti, a melhor relação que já tive. Não tenho dúvidas de que juntas fomos o mundo e ganhamos dele, que juntas conseguimos ir além do conceito de cumplicidade, de lealdade, de doação mútua. As minhas dúvidas, agora, se resumem, ao que fazer com tudo isso que ainda sinto.
Ontem, enquanto eu tomava banho, me olhando no espelho e te vendo no reflexo, eu entendi que preciso te deixar ir. Que não posso mais te prender em mim e fazer tudo que eu posso pra tentar nos reconstruir. Ontem, eu aceitei a imagem de alguma outra pessoa que consiga te fazer feliz - como eu fracassei - ao seu lado, que alguém te faça rir como eu fiz, te amar como eu amei, olhar como eu olhei. Ontem eu finalmente consegui abrir mão do meu lugar na sua vida, mas ainda dói tanto, meu amor, dói tanto não ser mais o que éramos, dói tanto que tenhamos desistido, que a gente tenha errado a mão.
Eu sei que essa dor vai passar, que a gente vai seguir, o que me dói, na maior parte do tempo, é isso: saber que você vai passar.
Lembra uma vez em que a gente tava na sua casa antiga, você tava fazendo charme por algum motivo que eu não lembro, me apressando. Eu te pedi pra me dar uma braço. Eu estava deitada na sua cama, você deitou em cima de mim, cheirando meu pescoço e eu te pedi pra casar comigo. Você disse que ia pensar no meu caso, rindo da minha cara, como se eu estivesse te contando uma piada. Hoje, agora que acabou, quero que você saiba que todas aquelas vezes eu falei sério. E que eu queria encontrar uma forma das coisas se darem de forma diferente.
Eu não queria que você passasse.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Elaborar

Amar sem posse, amar é libertar. Eu repito isso pra mim todos os dias, tem dias que não ouço. Muitos dias não tenho ouvido, não tenho ouvido à mim mesma. Muitos dias o medo paira em cima da minha mente, forma uma nuvem de trovões e gotas grossas de chuva, me rendo à ele, esqueço quem sou. Muitos dias eu me apego aos outros e esqueço do meu próprio apego, esqueço de me amar, esqueço que não preciso de ninguém. Minha memória, muitos dias, funciona à base de uma saudade que esmaga meu coração e, a invés da leveza que a saudade deveria ser, eu grito de horror pra dentro de mim mesma. Eu esperneio e não creio nas burradas que faço. Muitos dias os dias não tem fim, fico pensando sem conclusão ao que me trouxe até aqui, em como eu pude erra tanto na conclusão, se a meta era totalmente diferente. Muitos dias eu só não queria existir.

domingo, 18 de outubro de 2015

Elaborar

Não sou de ter ciúme do passado. Gosto de te ouvir contando sobre todas as pessoas que passaram pela sua vida imaginando o caminho que te trouxe até aqui. Agora não, agora o meu não lugar me faz invejar o lugar de todo mundo que passou. Me faz querer alcançar um degrau do qual eu despenquei. Agora eu odeio as pessoas que eu amava.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Castelo rá tim bum!

Quando eu era criança me perguntava quase todos os dias porque eu tinha nascido. Lembro de uma vez, quando eu tinha no máximo 8 anos, ter pedido desculpas à minha mãe por ter vindo ao mundo. Eu sentia uma culpa do tamanho do mundo.
E não era só culpa, era pavor. Hoje, quase 20 anos e muita análise e regressão depois, começo a entender o motivo de tanto desespero, mas naquela época tudo que eu queria era não ter que acordar, não ter que morar naquela casa, daquele jeito. Eu não dormia a noite, comia muito, vivia dentro da minha imaginação por julgar que lá era o único lugar do mundo que me cabia, que eu era bem vinda e o mundo era feliz.
Aí comecei a assistir castelo rá tim bum! E então descobri um mundo mágico, tão diferente do meu e por isso me parecia tão acessível. A minha vida era assistir e sonhar com o castelo, com as fadas no lustre, com uma tia bruxa que me contava histórias, um laboratório pra eu descobrir minhas coisas, uma biblioteca com um gato pra me falar sobre todos os livros do mundo - porque quando eu era criança eu achava que leria todos -, alguém que tivesse paciência pra me explicar o que todo mundo resumia à "porquê sim", amigos que visitavam a minha casa, um et que vinha me dizer de outros planetas, uma caipora que bagunçaria minha casa e eu culparia pela zona, uma entrevistadora toda rosa, um amigo entregador de pizza, um lavador de pratos que me parecia um aquário. Naquele castelo não existia problemas, eu não era um problema. Mas uma hora ou outra o programa acabava, eu desligava a tevê e voltava pro mundo onde eu não gostaria de estar, onde eu chorava dizendo que não gostava de mim diariamente.
Essa semana, no dia das crianças, fui à exposição do castelo no CCBB, do Rio de Janeiro. Numa época em que, novamente, eu esqueci o que é sonhar. E agora, choro lembrando de tudo que eu vi. De novo, eu era uma criança num castelo onde não existia problemas, dores, medos, onde eu gostava de quem eu sou. De novo eu tinha espaço pra sonhar, tinha memórias, tinha esperança. De novo eu era alguém. Ali só existia o Nino e eu desbravando o castelo, só existia um espaço no mundo pra mim.
Escrevo pra que eu nunca esqueça do dia em que eu descobri o lugar daquela criança amargurada no mundo, por 40 minutos ela tinha o mundo dela, como toda criança deveria ter, um lugar feliz. Por 40 minutos ela não era uma criança massacrada e rejeitada. Por 40 minutos aquele era o meu castelo  rá tim bum!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

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Eu era uma pessoa que prezava o próprio sono antes de te conhecer. Nos dias em que eu tinha que trabalhar às 7h, dez da noite do dia anterior eu já decretara silêncio absoluto no meu quarto, luzes apagadas e música relaxante. Nada dessas noites viradas em claro, fazendo sexo madrugada adentro, perdida em um bar na esquina entre a sua casa e a minha, conversas intermináveis até raiar o dia. Você chegou e mudou tudo.
Eu era uma pessoa que não curtia declaração pública de afeto, mais preocupada em viver do que lembrar, mais preocupada em estar sozinha do que em ter companhia. Você chegou e mudou tudo.
E agora na minha mente vem tantas coisas que você mudou na minha vida sem ao menos pretender ou perceber e, ao invés de agradecer, hoje eu sinto um buraco atravessando minha garganta.
Eu deixei de ser a pessoa com quem você fazia qualquer coisa pra passar a maior quantidade de tempo possível, pra me tornar aquela que você, mesmo passando o dia com o celular na mão, acha inconveniente mandar uma mensagem perguntando como ta sendo meu dia. Me tornei a pessoa que se sente culpada toda vez que te liga, que não tem coragem de te ligar dizendo que tá com o fim de semana livre e gostaria de passar com você. Eu me tornei a pessoa que também não tem o que te dizer.
E eu ria de quem era isso na sua vida, não de sarcasmo, mas porque eu tinha a errada certeza de que nunca cairíamos neste lugar.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O amor é sempre diferente quando inicia e sempre igual quando acaba.

sábado, 3 de outubro de 2015

Todos os dias

Todos os dias pessoas que não são você me invadem de mensagens de bom dia, de convites irrecusáveis, de carinho e colo.
Todos os dias eu pulo a cada toque de notificação do meu celular.
Todos os dias eu recuso o mundo e espero, com os olhos e ouvidos atentos, que seja você. Tem vezes que eu converso com você, mesmo sabendo que você não me ouve, mesmo sem obter respostas, te conto meu dia, te declaro amor e saudade, te peço que volte.
Todos os dias eu tenho a esperança de estar presa em um pesadelo, de que eu vou abrir os olhos e você vai estar deitada ao meu lado sorrindo e pedindo pra eu preparar teu café da manhã.
Todos os dias eu vou até a avenida principal da cidade e fico os olhando os ônibus que vão na sua direção me segurando pra não pegar o próximo, pra não bater na porta da sua casa e te perguntar o que a gente acha que ta fazendo, se o amor que a gente sente ainda ganha do mundo.
Todos os dias eu me sinto ridícula por sentir tudo isso sem conseguir te dizer, me sinto ridícula por achar ridículo pensar em te falar que toda vez que eu penso no que significa amor, eu defino com o que eu sinto por você.
Assim, se não for pedir demais, me dá um sinal de que eu ainda também sou o que você quer.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Um silêncio ensurdercedor

Nunca tive problema com o silêncio. Ele sempre me veio como uma dádiva perto de quem fala demais. Como elaboração e reflexão. Nem sempre saudável, porém sempre fonte de conhecimento.
Lembro de na nossa segunda semana, do nosso encontro, te ter deitada no meu colo, te fazendo cafuné na face completamente mudas, você dizia que eu tava quieta demais e eu te dizia que tava treinando seu silêncio. 
Hoje, o silêncio que te ensinei, aquele que vem quando a gente se sente tão à vontade que não precisa de palavras, aquele em que os olhares falam mais que qualquer junção de letras, aquele que me fazia passar mais tempo olhando seu rosto tentando entender como a sua pele é o melhor lugar que já encostei minhas digitais: se tornou um muro. Um silêncio sepulcral nos invade. Dos tantos assuntos e histórias que eu poderia te contar, sobra a anestesia. 
O silêncio comeu minha energia, comeu a minha coragem de atravessar meu medo e te atravessar ao mesmo tempo em que sou atravessada por você. O silêncio comeu a minha paz, o sossego das batidas do meu coração quando ao seu lado, o ritmo desgovernado que as minhas idéias surgem perto/dentro das suas. 
O silêncio me devora. Logo ele, o meu fiel companheiro, hoje se torna meu pior inimigo. Logo eu que sempre fiz questão de apontar os seus benefícios, não vejo a hora de quebrá-lo. Só pra te trazer pra perto.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

"Depois de tanto pranto, de tanta raiva, de tanta revolta, de tanta letargia, me parece que tudo o que eu tinha que aceitar não era bem a morte, mas a vida. Talvez este seja o segredo: aceitar a vida. Porque ela te bate, te nocauteia, te assola, mas saber aceitar seu ritmo, e toda a dor que vem com ele é também abrir uma portinha para conseguir sentir em cores mais fortes. Esperar menos, amar mais. Isto apenas: esperar menos e amar mais. Amar a ponto de conseguir lidar com a distância, com a falta de notícias, com o absurdo, com o desconhecido, com a morte – e com a vida." (Milly Lacombe)

sábado, 26 de setembro de 2015

Quando você não está

Você desfila por aí a sua alegria exacerbada, um dos meus quadros favoritos por estas ruas tão novas, tão cheias de cores e possibilidades. Por estes lugares que nunca fui, tão esvaziados de mim.
Eu, do lado de cá, tento refazer as lembranças, destes lugares, todos eles, embebedados do seu cheiro, da sua voz, das nossas histórias, de nós. Tão cheios da gente sorrindo, das tardes sem rumo, do abraço, o seu abraço, o melhor lugar do mundo, o meu lugar no mundo.
Sorrio por você, com medo do que sentir por nós no presente que hoje se faz ausente daquilo que fomos, daquilo que somos nós, dos nossos nós.
A angústia do nosso amor me persegue. A paz do nosso amor me move. A imensidão do que somos, ainda me deixa perplexa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"O ato de demonstrar amor, a coragem de dizer que ama, e a coragem ainda maior de expor nossas vulnerabilidades são lições (...) aprendi que o ser humano é mais bonito quando permite se mostrar vulnerável; e que a perfeição não é sedutora porque é irreal. (...) entendi que é justamente quando a gente consegue exibir fraquezas que podemos nos conectar com o outro de forma sincera e profunda, nos permitimos ser verdadeiramente amados e entendemos como estamos todos tão intensamente ligados."
(Milly Lacombe)

Os nossos problemas sumiram do meu peito no momento em que eu senti, e sentir nem sempre é compreender, que o em volta não é necessariamente a gente. No momento em que eu vi que temos tantos motivos pra brigar quanto pra nos potencializar e somos nós quem vamos escolher quais motivos usar como engrenagem dessa relação. Hoje conhecemos nosso melhor e nosso pior lado, e quando eu olho pra você eu só consigo pensar que você me faz sentir tanta coisa linda, que o único papel que o nosso lado ruim precisa ter é nos lembrar que somos humanas, que nosso caminho é torto como a gente, que é isso que nos faz ser quem somos de bom também.
Hoje eu acordei querendo tomar um porre com você, desses do nosso começo e vi que sim, tudo em mim finamente e novamente é só amor por você

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

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Primeiro passo para sair da depressão: troque a energia. Energia parada é feito água parada, atrai doença. Se você acordou triste, converse com um amigo, abrace, veja o mar de perto com o vento refrescando cada poro. Quanto mais você se move, mais rápido se move o que te paralisa.

A efusividade e a paz, na mesma proporção, da primeira vez que você ouve "eu te amo".

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Quão saudável é estar num lugar que você tem vergonha de ser quem você é all the time.
Que você precisa ficar provando seu valor e sente medo de ser substituída 24h por dia.
Quão doentio.

Quando o fim se anuncia

De repente você já não acha necessário pronunciar o ciúme que sentiu daquela situação e do quanto com este questionamento as coisas poderiam ficar resolvidamente claras,
Você já não se importa de perder a viagem de fim de ano que estão programando faz meses,
Não liga de nunca mais voltar a conviver com aquelas pessoas, naqueles lugares,
Não dói imaginar o mundo sem aquele abraço que cabia - há nem sei quanto tempo - o seu mundo,
Não problematiza as coisas erradas que você julga estar sofrendo, simplesmente porque não vale à pena discutir,
Não faz e nem quer fazer ideia se aquele ex amor ainda enche suas caixas de mensagens privadas em tantas redes sociais.
De repente você não sente mais o cheiro da pessoa perdido no seu corpo,
Não dá mais ouvidos pros berros do seu corpo que só querem aquele encaixe,
Não faz questão de sentir aquela textura na sua pele, de ouvir aquela voz, de gastar seu dinheiro buscando aquela presença.
Chega uma hora em que o adeus se torna iminente, que não resta sequer um motivo para ficar, que você ainda não entende porque não está no caminho do fim pra casa.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

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A dor precisa ser sentida, sem essa ideia estúpida de que a solução é fugir dela.
Está doendo. Cada articulação, cada pedacinho do que eu sou está latejando. É uma luta diária pra não me rasgar inteira. Insisto. Não por vontade, apenas pela mania de ganhar sempre. E travei essa batalha contra todo esse sofrimento sim.
Me enxergar está sendo meu pior castigo.

domingo, 20 de setembro de 2015

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Feliz saber que, afinal, tem o mesmo número de pessoas me buscando que os que me deixaram à margem.

Eu preciso que você me dê espaço de vida.
Eu
Preciso
Que
Você
Me

Espaço
De
Vida.
Eu preciso que você me dê espaço de vida.

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"Eu não sofro pq eu sempre me preparo pra perder. Vivo td intensamente pq tvz eu perca amanhã, tvz eu perca hj, mas vai acontecer".

sábado, 19 de setembro de 2015

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Eu ia cometer o mesmo erro.
Eu ia pra rua buscar.
Resolvi vir pra casa encontrar. Comigo, com a minha solidão, com a falta própria.
Eu vim lidar com o vazio, com a frustração, com a dor pulsante.
Eu vim pra casa lidar com a perda, com o medo, com o pavor, com a realidade de que a vida de todo mundo é medo, perda e pavor.
Eu vim pra engolir o meu egoísmo.
Pra deixar o desejo de morte escorrer pelo ralo enquanto me enxáguo no banho.
Eu vim buscar o que vem depois que eu acabo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A gente tem essa ideia idiota, essa monogamia escrota de que fomos encontrados e que a busca do outro acabou, que a nossa também teve fim. Deixa cada um buscar o que quiser. Não é confortável saber da busca alheia, não é confortável saber que quem tá com você está procurando pessoas melhores que você e que superem o que você desperta o tempo inteiro, não é confortável sentir que a outra pessoa está no mesmo patamar que antes da sua chegada.
Aí você para, olha pra si.
(Parei).
E percebe que todos estão se embebedando do mesmo veneno.
A monogamia é o caminho mais fácil, não ceda.
Prefiro a liberdade. De escolher, de ser escolhida. De ser abandonada, de abandonar.
Pra que as coisas mudem, a gente precisa deixar que elas acabem.
Um sentimento ruim só acaba se você o deixa ir e se embebeda de algo melhor.
Uma pessoa que já não te faz bem só vai embora, se você aceita que a função dela na sua vida acabou.
Você só sai de um lugar ruim quando entende que o ciclo da sua vida nele se fechou,
Deixa o fim chegar, vai, deixa. Pra recomeçar melhor depois.
Porque até onde eu sei, o recomeço é sempre a melhor parte.

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Estou aqui, calmamente me livrando de toda influência que não me convém. De toda a dor e dasamor.
Estou aqui a me encontrar.
Estou aqui, nunca antes tão só, nunca tão solitária.
Lembro do quanto a solidão me agradava, do quanto a desejava e meu coração se enche de angústia. Aonde foi que eu me perdi? Por que minha própria companhia dói tanto, por que tão dilacerada?
Reli hoje um texto sobre dor, que dizia, nas conclusões, que o caminho pra evitar o sofrimento é o autoconhecimento, é o conhecimento da própria dor. Era um texto acadêmico,era um texto sobre mim.
Estou dentro do meu próprio corpo, como cachorro correndo atrás do rabo sem chegar a lugar algum.
A vontade e dar fim à minha vida são cada vez mais frequentes e cada vez menos dolorosas. Não o faço por teimosia. A morte já não me assusta, a minha, pelo menos. Tudo tem fim, que bom que eu também. Se há uma coisa que me assusta, ela se chama ideia de eternidade, ideia de ter que me aturar sem data pra acabar.
Fecho os olhos, olho pra dentro. Ignoro a taquicardia que é meu estado comum tem tantos meses. Vejo o caos, me familiarizo, ele já não me agrada. Começo a limpar o chão e um pote de óleo despende do teto sobre ele. É em vão começar pela consequência, preciso encontrar a causa. É em vão tentar dizer que tudo está bem.
O amor como cura é tudo que tenho.
Preciso aplicá-lo à mim.
Escrevi mais cedo que só o amor cura. Agora completo: só o auto-amor cura.
Aproveita que ainda não é totalmente tarde.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Rivotril

"Se você pode amar, então você já é livre. Sendo assim: seja", você escreveu na minha parede numa manhã quente há pares de meses. Não é só o meu quarto que me lembra você, a cidade inteira tem o seu cheiro. Sim, posso sentir o perfume que vinha do seu pescoço em direção ao meu nariz, da garupa da sua moto, em cada canto que vou. À vezes sinto angústia, outras saudade, na maior parte das vezes é só um alívio de tudo que vivemos, um alívio por poder viver você. 
Hoje saí rapidamente para ir ao mercado, na volta, sentei no sofá e senti orgulho de você, queria que você soubesse. Orgulho de quem você é, de como chegou até aqui, de todo o percurso que fez. Tenho orgulho dos seus pensamentos, dos seus sentimentos, do amor que você sene por mim. O seu amor é tangível, quase palpável e isso não é um delírio. Eu posso sentí-lo aonde eu estiver, eu posso encontrá-lo em todas as suas faces e facetas. 
E eu queria registrar aqui o tamanho da minha gratidão por poder acordar todos os dias e saber que nos temos e que o nosso amor nos muda tanto, todos os dias. E que ao seu lado eu posso tudo, o mundo, mesmo quando eu teimo em ser egoísta e dizer que não.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Desengano

Nosso encontro foi a minha sensação de, finalmente, poder ser eu mesma e não estar sozinha no mundo.

Eterno equívoco.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Quando o amor acaba

Estávamos num deserto, na Bolívia. Fazia três dias que atravessávamos paisagens numa 4x4, de modo que eu não faço ideia de onde foi, exatamente. Enquanto o guia do passeio parou pra tirar uma dúvida com a guarda do parque, eu lia meu novo livro preferido, que eu havia comprado na Virgen de loa Deseos, em La Paz, lugar que não havia como voltar naquele momento, nem tão cedo. Então, alguém me chama e resolvo descer do carro e deixo a porta aberta.
No segundo seguinte, ouço um barulho de rasgo. Olho pra trás e meu livro está despedaçando, voando naquele vento incontrolável, uma página pra cada lado. Grito. Saio correndo atrás das páginas, uma pra cada lado. Um rapaz me ajuda a correr pra pegar as folhas, em vão. Eu consigo recuperar umas poucas. Outras, daquela matéria linda que eu queria guardar e reler a vida inteira, foi pega por um estrangeiro, que fala uma língua diferente da minha e ri daqueles dizeres arrancando com o próprio carro, sem que eu conseguisse me comunicar a fim de impedir. Eu choro. O guia avisa que não dá mais pra procurar pelas páginas, precisamos ir embora. Eu tento negociar, ele diz que não adianta, tudo voou pra muito longe e não tem como buscar. Eu não acredito.
Volto pro carro e sigo chorando. As pessoas me dizem que é só um livro. Não há colo que me console. O que nos corta o coração quando perdemos, nunca parece  tão significante segundo outros olhares. Só eu sabia o que aquele livro significava e só eu sabia o quanto estava doendo que, mesmo com sua carcaça e poucas páginas, ele nunca mais voltasse a ser o mesmo.
É mais ou menos o que acontece quando o relacionamento acaba.

domingo, 13 de setembro de 2015

Pra quando você me deixar

Gosto de te ver assim: contando histórias e cantando pela casa enquanto cozinha. Essa talvez seja a minha segunda cena preferida no mundo (a primeira, sabemos qual é). Te ofereço ajuda e você aceita, pra dois minutos depois estar me expulsando dizendo que prefere fazer, à me ensinar. E eu gargalho, te deixando aí da mais brava, pensando que realmente você é a rainha das coisas que se propõe à fazer e que, assim sendo, não há argumento que te convença a me deixar permanecer na sua cozinha.
Era pra você ser só uma vírgula, sempre penso nisso. Era pra gente ser a efemeridade encorporada, como combinamos. Não somos muito boas em cumprir combinados, aliás, nunca vi duas capricornianas tão passionais quanto nós duas.
No alto da sabedoria dos nossos vinte e poucos anos, aprendemos que tudo tem prazo de validade e que não adianta projetar, nada é pra sempre, tudo é mutável. E talvez eu só tenha ficado porque sabíamos disso.
Eu espero que quando você me deixar você esteja sorrindo, como no dia em que te conheci. Espero que nossa história dê uma volta inteira em  volta dela mesma, pra que a gente não deixe nada por viver e não sejamos um empecilho no meio de outras relações. Eu espero que a dor que eu sentir, não importa a minha idade: por dois dias eu vou pensar que estou falecendo, vire aquela saudade gostosa, como a que eu sinto da nossa primeira viagem de moto pra serra. Eu espero que você esteja inteira, pra que seus futuros amores possam desfrutar do melhor que você é, assim como eu. Eu não faço a menor ideia de qual foi a força que nos uniu e nem do porquê dela, mas saiba, porque eu repito todos os dias: você é a melhor história que eu vivo.

sábado, 5 de setembro de 2015

Eu não entendo a lógica da morte

Não entendo porque as pessoas boas continuam morrendo enquanto eu continuo viva. Não sei como imaginar a próxima a ir embora. Ou quando eu vou. Ou do que ter medo. Ou como agir pra que eu não desenvolva um câncer tenebroso descoberto em fase terminal. Ou, pior, de tantos "boa noite", nunca saber qual, se o cheio de amor ou imerso na raiva, será o último.
O que você faria se soubesse que hoje é seu último dia de vida?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Ontem fez um ano que meu pesadelo começou. Um dos tantos. Um dos mais pesados. A melhor parte de acordar é perceber onde estou. Que passou.

domingo, 30 de agosto de 2015

Porque eu te amo, tu não precisas de mim

"Porque eu te amo, tu não precisas de mim". 

Eu te amo e você não precisa de mim. Eu preciso, porque não há como amar realmente o impalpável, o intangível. Pra que eu te ame é preciso que você exista, é preciso que você viva, tenha sonhos, gostos, traumas, é preciso. Nada de novo sob o sol.
A grande sacada, só agora, depois de mais de um ano lendo essa frase percebo: VOCÊ NÃO PRECISA DE MIM PORQUE EU TE AMO. Eu não quero que você seja uma pessoa insegura, eu não quero que você co-dependa, que você se desacredite, que quero que você saiba do meu amor e que exista nele independente de que ele continue existindo. Porque eu te amo, te quero autônomo, independente, livre. Não dessa forma desumana que andamos vendo por aí, do viva sua vida, foda-se a empatia, o amor próprio, o amor ao outro, viva as ideologias e o meu ideal. Não. Que você seja livre pra dizer, sentir, pensar, gritar, dar vexame. Que seja livre pra e contradizer, pra erra, pra despertar meu pior lado e o melhor ao mesmo tempo. Que você não dependa de mim pra existir de tão livre que a sua existência é. Que você seja potência. E que fique, um pouco mais, talvez, porque quer e não porque precisa.

Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Tu não precisas de mim porque eu te amo, mas porque minha companhia te potencializa. Tu não precisas de mim porque eu te amo, porque, à despeito de ter entendido que ninguém se basta sozinho, que tudo é impermanência, você é livre como poucos são: respeita a sua liberdade e a minha.


Obrigada, Roberto Freire, por mais uma catarse no meio do nada. Por mais uma reformulação de teoria no meio da vida.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Bateju

Há um ano atrás eu achava engraçado gente que postava foto de pessoas que jpá faleceram, lembro de inclusive comentar isso com você e a gente ficar analisando isso por horas (analisar coisas que nada nos diziam respeito e não mudariam em nada nossa vida era uma coisa que fazíamos muito bem). Aí chegou a sua vez e eu passei a endereçar à você fotos, textos e confissões que não tem como ser entregues. É que a sua ida mudou tanta coisa em mim - e ainda muda todos os dias - que só você entenderia. Eu quero que hoje seja um dia feliz, não quero que a dor que eu sinto da  ausência do seu abraço tome conta do meu dia como tomou do meu ano, gostaria de passar o dia lembrando de algum dos nossos dias, quando a gente não fazia ideia de que o fim viria.Gostaria que hoje eu conseguisse voltar ao dia anterior ao da sua morte, aonde eu não ficava o tempo todo pensando nos perigos que eu e todas pessoas que eu amo tem de morrer e que eu deveria estar aproveitando ao máximo nem sei o que. Hoje, pra colocar em prática tudo que eu desejo de bom pra ser lembrado no dia da sua morte, só mesmo a força de um abraço teu.
Eu nunca quis competir.
Engraçado me dar conta disso hoje em dia, visto que sempre achei que eu fosse muito competitiva. Lembro da minha tia, depois de toda apresentação na escola, falar mal de todas as outras meninas dizendo que eu era a mais bonita. Eu não ficava feliz com aquele elogio nunca. Primeiro porque, venhamos e convenhamos, que criança/adolescente esquisita eu fui, Segundo que eu não queria ser mais bonita que alguém, eu queria ser tão bonita quanto.
Vi agora um comentário numa foto de uma amiga, ela posando com várias outras amigas e a mãe comentou "filha, você é a mais bonita" qual a relvância disso.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Rivotril

Ela acorda sorrindo, todos os dias, irrevogavelmente. E me prepara cafés da manhã esquisitos que eu nunca pensaria em comer (pão com queijo e rúcula foi a última que aprontou). E perde horas me contando histórias de pessoas que eu nunca vi - e talvez nunca veja - como se fossem meus amigos íntimos com os mesmo brilho no olhar que acordou. Ela mudou todos os meus hábitos alimentares sem falar qualquer coisa além de "esse espinafre tá uma delícia, quer provar?". E me ajuda a depender só de mim. Ela manda eu parar de me desesperar e enumerar as coisas que preciso fazer pra resolver quando to fazendo drama. E me abraça de um jeito que cabe o meu mundo inteiro. Ela entende meus surtos, minha memória ruim, meu falar impensado. Ela ri da minha falta de atenção. Ela me obriga a passar fio dental e escovar os dentes  antes de dormir mesmo quando eu durmo antes dela. Ela pede um abracinho quando sabe que eu to chateada e pede desculpa com uma facilidade admirável. Ela cuida de mim mesmo quando está em outro estado. Divide o mundo, o peso das dores e toda felicidade. Ela é o meu céu, a minha paz, o meu lar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Transformar ódio em oportunidade de crescimento.

Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento.
Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento(...)

Auto-amor energético

Parando pra pensar o Universo como força e energética em tudo. Talvez seja viagem, talvez seja coerente: sei do aspirador se pó de energia que se instala na minha pineal toda vez que sinto medo ou lido com pessoas tóxicas, sei dos encontros por afinidades não ditas, sei da manutenção do pensamento que faz com que nada atravesse meu campo vibratório, sei do mal estar que paira no meu dia quando gasto 10 minutos dele desejando o mal de alguém.
Aconteceu quando eu lembrei que ta todo mundo morrendo, por fatalidades ou pelo tempo, a gente ta se despedindo e isso me deu uma enorme sede de vida. Não quero mais perder tempo me odiando ou odiando alguém porque não há tempo pra isso dentro do pouco tempo pra ser o que eu quero. Primeiro comecei a cantar uma música bonita quando começava a sentir ódio - porque o que é a vida senão um grande teste de paciência -, depois parei de visitar a página social ou a casa de quem me desequilibra, em seguida, e talvez tenha sido o passo principal, troquei o "eu odeio a vida e que isso esteja acontecendo, isso tudo não tem jeito quero morrer" para "o que isso tudo que ta acontecendo tem pra me ensinar? Aonde nisso tem espaço pra que eu possa crescer?".  Então, quando eu estava pronta pra ver - já que certamente antes eu preferiria a cegueira permanente - eu pude me ver, me re-ver. Durante um show um filme se colocou dentro dos meus olhos. Os lugares que eu fui, os amigos que eu fiz, as pessoas por quem me apaixonei e o desenrolar de cada história, a sensação de ter passada  no vestibular, as novas casas, a saudade da cidade natal que foi sumindo com o amor pela cidade nova, voltar pra cá depois de tanto tempo odiando aqui, as noites esparramadas na cama, dormindo no ônibus ou no avião chegando ao próximo destino, matar aula de matemática sentada no meio fio da calçada conversando com meus melhores amigos porque sabíamos que aquilo passaria rápido e não voltaria, uma torta dividida com uma amiga num dia que falamos sobre efemeridade, tomar banho de chuva andando de bicicleta com minha prima quando ela levou o primeiro fora, o primeiro beijo que ganhei da minha namorada, o abraço da minha mãe ao chegar de uma viagem em que fiquei passando mal com medo de morrer, a sensação de deitar na grama e sentir o sol da manhã entrando na minha pele, o fórum social, a primeira vez que vi minha banda favorita, o último encontro com a turma de colégio, a onda do último jazz e blues, contar moedas pra consertar o carro pra acampar escondido... Eu me vi tão linda, tão grande, tão forte, tão amada, tão Amanda.
E foi através dessa energia que eu comecei a entender o que é auto-amor.

sábado, 18 de julho de 2015

Bateju

Eu demorei a entender - e ainda não sei se entendi - que a morte não necessariamente mata alguém. O que mata é a necessidade de esquecimento, o que mata é ter que fazer alguém sumir de você.
Você não sumiu de mim nem por um minuto. Tem 14 anos que algo me lembra a sua existência todos os dias.  Você ta vivo em todo lugar que eu vou, em tudo que eu vejo. Em cada pedaço da minha história.
Tenho tido uma percepção que me é estranha sobre meu corpo nos últimos tempos. A religião me ensinou que meu corpo é um empréstimo de deus e não quem eu sou. Eu entendi de outra forma agora: meu corpo sou eu porque me permite estar aqui, me permite existir, mesmo que exista algo além. E talvez por isso conceber que você ainda exista tenha me custado tanto o entendimento.
Eu me despedi do seu corpo, do seu abraço, do seu modo de sorrir, dos seus dedos gordinhos da sua voz. Mas eu nunca vou me despedir do seu atravessamento na minha vida, das nossas histórias, do nosso encontro.
O meu corpo, esse que permite que eu exista, faz com que você continue existindo enquanto eu viver, porque sim, uma grande parte de mim tem você enraizado.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

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Dezembro de 2009, se eu me concentrar, consigo lembrar o cheiro do anfiteatro da faculdade, consigo reler o bilhete que havia escrito pra você pra simbolizar o nosso fim, consigo sentir de novo a inocência que eu tinha de mundo e de você. Após um semestre nos descobrindo, um mês de beijos que tentávamos impedir, uma tarde inteira na sua casa tentando controlar os nossos desejos e instintos. Eu consigo te ouvir ainda dizendo que queria ficar comigo, que um dia poderia me explicar porque estava fazendo aquilo, porque estava me expulsando da sua vida daquela forma, por hora eu só precisava saber que você achava que o mundo que eu tinha era bom demais pra mim e que nunca seria capaz de me dar nada parecido com aquilo. Eu te disse que estava cansada daquele mundo de fantasia que eu tinha construído à minha volta, eu te disse que eu queria o mundo real que você me apresentava, que eu queria mais das noites que a gente virava contando as estrelas discutindo filosofia e modos diferentes de sociedade. Você não me ouviu e eu fui embora dali com o coração sangrando, sempre pensando no dia em que te encontraria novamente. Então veio aquela viagem de 10 dias pro sul do país. Só você, eu e o mundo inteiro, como eu almejei tanto. Só você, eu e "um outro mundo acontecendo". Só você, eu e todo tempo e cuidado que você dedicou à mim, toda a paciência com as minhas crises, com as minhas dúvidas, com as minhas indecisões, com quem eu era. Você me ajudou a ver, lembra? Você me disse que que era muito maior do que estava me permitindo enxergar de mim mesma e então eu sinto que desabrochei. De lá pra cá você sempre esteve comigo, talvez de um modo abusivo, como vejo agora, talvez me ensinando a caminhar, como eu via na época. Era pra você que eu ligava no meio da madrugada quando meus pensamentos não me deixavam dormir e aparecia no meio da noite na minha casa pra me acalmar deitados na grama do jardim, era você que topava gastar $200 de táxi pra casa porque eu tinha medo de andar de ônibus em outro estado, foi você que chorou deitado em cima de mim quando achou que eu estava grávida de um cara que eu não gostava e não gostava de mim dizendo que eu tava estragando a sua vida também porque você me amava e amava muito e me odiava muito também por ta passando por aquilo, foi você que me ouviu chorar por meses seguidos quando fui rejeitada, você que comemorou comigo quando eu me libertei do medo, você que me abraçou e fez toda dor passar, toda dor sumir, que me levou pra minha casa e me deitou na minha cama quando eu tava bêbada demais pra ter domínio do meu corpo dizendo que qualquer coisa que eu precisasse estaria na varanda, era só eu gritar. Foi você que me disse pra parar de chorar pelas pessoas que estavam undo embora da minha vida, porque as pessoas vão embora mesmo e a gente deveria aproveitá-las enquanto elas estão aqui e não chorar porque acabou e, mais que isso, que a gente deveria ficar feliz quando quem vai embora está nos fazendo mal. Você cuidou de todas as minhas dores, você transformou todas as minhas feridas em cicatrizes e tava lá quando decretamos um dia pra nossa amizade e tava lá quando plantamos uma árvore pra simbolizar isso e estava lá pra rir da minha cara e pedir de uma vez por todas pra eu parar de inventar histórias dentro da minha cabeça e acreditar nelas porque um dia isso ia acabar afastando irremediavelmente de mim alguém que eu amasse muito. Você me emprestou o primeiro livro de filosofia que eu li, montou comigo o primeiro movimento estudantil da faculdade, me ensinou que socialismo é não se deixar levar pelo partido socialista. Você não saiu do meu lado nunca, você estava lá todas as vezes que eu não aguentava mais estar no meu corpo, Você, ah, você era diferente, você estaria comigo do começo ao fim, desses fins que não tem hora pra acabar.
Outubro de 2014, aproximadamente 3h da manhã, bêbados, caindo pela rua, conseguimos uma carona pra sua casa. Nos drogamos ainda mais quando chegamos nela, você arrumou um colchão pra gente na sala, a gente resolveu transar pelos velhos tempos, assim, sem saber muito bem o que a gente tava fazendo. Outubro de 2014 aproximadamente 3:40h da manhã, você me invadiu sem meu consentimento, uma, duas, três, quatros vezes. Eu não estava acordada, eu não estava dominando meu corpo, eu não estava em mim. Eu queria ter pedido pra sair dali, eu queria ter conseguido levantar e sair correndo dali. Meus sentidos não respondiam, meu corpo não reunia forças pra levantar, minha voz não gritava, por um momento eu senti o que era morrer, por um momento eu quis morrer e eu fingi estar morta naquela noite e tantos meses depois, pra não ter que lidar com a culpa de não ter levantado e saído correndo, com a culpa de ter bebido demais e meu corpo não ter respondido. Eu desejei ter morrido (e ainda desejo) pra não ter que lidar com a culpa de ter confiado em você. Como a pessoa que sempre me protegeu até de mim estava agora, em cima de mim, me fazendo vivenciar o meu pior pesadelo, aquele que eu sempre te disse que preferia morrer à presenciar. Como a pessoa que sempre me protegeu até de mim foi capaz de me violentar dessa forma. Como a pessoa que estuda junto comigo as consequências que um abuso pode ter numa pessoa, pode simplesmente não se importar com todos os surtos que acarretaria uma noite de prazer chulo. Como você pode ter me destruído sem ao menos pensar no que estava fazendo? Eu surtei, sabe. Eu não sou mais eu a nem sei quanto tempo. Desde que percebi o que você fez eu não durmo, eu não como, eu só abro a boca pra ferir todas as pessoas a minha volta que ainda me amam, porque o ensinamento final que você deixou em mim é que se eu amar e confiar em alguém cegamente, como fiz com você, essa pessoa vai me machucar, me enganar, me virar as costas, não se importar, essa pessoa vai desistir de mim, como você sempre disse "ninguém além de mim vai aguentar suas crises e chatices, desiste de procurar". Você me deixou mais sozinha do que eu sempre me senti. Sabe por que? Eu já estava acostumada a ninguém resistir ao meu lado, eu já estava acostumada a não ter ninguém, mas agora nem eu to aqui pra mim, nem eu to do meu lado, nem eu me defendo. Você conseguiu virar até eu contra mim mesma. E eu te odeio tanto, eu te odeio tanto, que a única coisa que eu posso fazer com esse ódio, com essa dor que você me causou, é reencontrar comigo mesma, é transformar em amor. 


A minha vingança é ser feliz.

sábado, 11 de julho de 2015

Formular

Agir ao invés de reagir. Parece tão simples, mas me corrói tanto. É sempre ego, é sempre egoísmo. É sempre uma disputa velada contra nada nem ninguém. É sempre uma performance, uma tentativa de esconder o que se sente, quem se é, as próprias fraquezas. É sempre a dúvida, é viver na insegurança por não aceitar quem se é, por não querer ser quem se é. É sempre uma comparação com o que seria, com o que poderia ser. É só dor, é só sofrer. O sofrimento corrói minha paz agora. Entrou pelos meus olhos e atravessou meu corpo, habita meu coração, faz casa em meu estômago pra que nada além dele entre. A vida apagou e acabou e eu preciso aprender a ressuscitar em mim e pra mim. Só vejo falhas, buracos, labirintos em mim sem saída, sem saída, sem saída. Eu quero explodir e não encontro o botão. Eu quero mergulhar no meu corpo e não encontro o molde. Eu quero gritar e não encontro voz, não encontro tom, afinação, entendimento.

Eu to morrendo de saudade de mim.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Formular

Eu aceito o fato de sempre ter falhado em tudo na minha vida. Algo que não me cabe suportar: ser falha no seu coração.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Formular

Uma seringa no braço, puxando meu sangue. E a certeza ali exposta de que todo terror foi real. Só consigo me perguntar por que mereço pagar pelos erros que eu não cometi.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Formular

A prisão do ego. O caminho conduzido por ele. O desespero das consequências que ele causa. A vaidade destrói tudo.

domingo, 31 de maio de 2015

Pareço uma criança quando o assunto é esse. Me contorço, minha pressão cai, choro correndo pela casa: deprimente. Não há explicação pro que se sente, às vezes. Não há uma linha de raciocínio, tampouco uma definição. É só uma vontade de não existir, uma sensação de cansaço exacerbado, uma desistência. E sempre acontece assim: quando estou indo feliz e segura, com a cabeça erguida e a certeza de não desmoronar, de não surtar, de não cobrar ou sugar. Sempre o mesmo script deveras cansativo. Sempre a mesma vontade de desistir deveras real. E é o espaço do tempo em que eu me amarro meu corpo todo e me entupo de remédio pra dormir só pra não ligar o foda-se.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A última vez que vi você

Amanhã faz um ano desde a última vez que eu vi o meu melhor amigo. E eu sei que deveria ter vergonha de dizer que fiquei os últimos 3 meses de vida dele sem trocar olhares com ele, por culpa inteiramente minha, visto que ele vinha se esforçando sempre pra me encontrar, pra se reaproximar (não vou nem comentar do peso de saber que a última vez que nos falamos foi por telefone e eu estava com pressa de desligar porque estava de saída). Naquela tarde fria de maio - na cidade em que a gente passou grande parte dos melhores momentos da nossa adolescência, a gente falou de como era estranho sentir frio aqui, visto que nascemos e nos criamos em uma cidade serrana onde 20º era tempo pra pegarmos uma cachoeira - ele chegou aqui em casa enquanto eu estava no banho e eu o fiz esperar alguns minutos no portão e depois no sofá conversando com minha mãe. Quando fiquei pronta, ela foi pro quarto dela e nos deixou na sala conversando - e brigando, como desde que nos conhecemos, sobre quem tá na vez de fazer carinho e quem tá na vez de receber, aonde eu sempre saía em desvantagem e passava horas coçando as costas dele, diga-se de passagem lado à lado, rindo do mundo.
Eu gostaria de ter te contado algumas coisas -escrevo isso e choro - mas não contei, porque a gente sempre acha que vai ter uma próxima vez pra contar, sempre espera uma oportunidade adequada pra dizer tudo o que gostaria.
O dia de te contar nunca chegou, o da sua morte sim, e foi breve.
Naquele dia, muito precocemente, eu descobri que estava apaixonada, assunto que eu evitava e não gostaria de contar à ninguém e fiquei prestes a te dizer muitas vezes o quanto era patético não saber o que fazer com as borboletas no estômago aos 24 anos. Eu queria ter te contado que tava em crise com meu estágio e tava morrendo de medo de não ter nascido pra única coisa que eu achava que eu sabia fazer, e que eu pensava todos os dias se ganhar dinheiro era mesmo necessário - assunto que você e eu poderíamos perder horas mais uma vez, agora com um pouco mais de maturidade e sabendo o que o dinheiro pode comprar. Eu queria te contar que eu planejava me formar, entregar o diploma à minha mãe - que merece ter uma filha formada - e sumir no mundo pra alguma aldeia hippie e te perguntar se você ainda acreditava que dava pra viver de mato e amor. Eu queria te dizer que não importa o quanto você estivesse careca e balofo, você ainda era o cara mais bonito que eu já vi na vida, que você me ensinou que não tem defeitos físicos quando a gente tinha 13 anos e eu não tinha argumentos pra te zuar e eu de fato acreditei nisso. Eu queria ter te dito que você me ensinou a amar, a ler os livros certos, a ouvir música boa, a acreditar na paz do rio e na certeza das montanhas. E combinar de você me levar pra subir a pedra rabiscada - que você jura desde os 15 anos que vai me levar quando souber que eu vou subir sem despencar lá de cima ou querer desistir e dormir no meio do caminho. Eu queria ter te dito o quanto eu tava magoada com minha atual situação de moradia e ouvir você me contar como foi quando você passou por esse processo e qual a melhor maneira de passar por ele.
Eu queria ter te ouvido dizer que acredita em mim e que a gente vai sempre estar juntos de alguma forma.
Eu não disse.
Nessa tarde, faz um ano, meu rosto tinha paralisado devido à quantidade de estresse que eu estava passando e eu tinha pressa de chegar ao pronto socorro. E eu tinha pressa também de ir pra faculdade assistir aula. E de ir pra um evento que mudou a história da UFF. E de fazer outras mil coisas muito menos importantes do que estar com você, sem contar a hora, sentado no sofá da sala como sempre foi. Poderia ter sido em frente ao mar, molhando só os pés sentados numa pedra numa cachoeira, deitados no pátio da escola, naquele banco de cimento - que nem é banco - da faculdade.
Eu gostaria de não ter tido pressa, de ter me embebedado da sua presença e do seu abraço, de ter sentido aquele cafuné como se fosse o que ele era: o último.
Não consigo terminar esse texto porque as lágrimas não deixam, mas também porque não existem palavras que caibam tudo que a gente poderia ter conversado, tudo pelo que eu gostaria de te agradecer.
Dentro de todos os nosso erros, além de todos os nosso acertos, você foi o melhor amigo que qualquer mulher poderia ter. E atualmente eu só espero que você tenha ido pro "primeiro mundo" sabendo disso.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Rivotril

Amanhã à noite eu vou te beijar pela primeira vez.
É quarta feira e pelos caminhos do destino, você tá bem longe do meu cobertor de berinjela e do potinho de brigadeiro que eu comprei pra passar essa noite fria. Um ano se passou. Eu gosto de refazer o trajeto, eu não ligo pras datas, mas eu amo as histórias. Eu sou apaixonada pelo fato de que 365 dias atrás eu estava sentada em um bar com amigos em comum, tentando não fazer cara de boba na sua frente: eu estava totalmente encantada pela mulher que me disseram 345680 vezes pra não me apaixonar e não fazia nem 2 horas desde o momento em que eu estava assistindo à capoeira de um amigo, que também está sentado à mesa agora,esperando-a chegar. Você me olha sorrindo a cada piada que contam e eu não sei bem se tenho que olhar pra você ou desviar o olhar ou o que eu faço com as mãos, meu rosto torto, meu corpo no mundo. Eu vou chegar em casa jajá - meu amigo vai dormir em casa e amanhã acorda cedo, de modo que nossa despedida essa noite será em breve, e vou te mandar uma mensagem no celular dizendo que queria ter ficado mais tempo com você. Talvez se esse amigo não tivesse me dito que você me olhava do mesmo jeito que eu te olhava, se não tivesse soltado um "confia no meu feeling que nunca funciona comigo" eu não tivesse dito nada e não tivesse acordado com um "bom dia" seu no meu celular e não tivesse te chamado pra sair.
O amanhã chegou e hoje eu vou andar na garupa da sua moto pela primeira vez, segurando você com uma mão e a barra lateral traseira da moto com a outra, pra que se a gente cair, eu conseguir me segurar no que parecer menos mortífero. Você vai tá com a mesma roupa de ontem e a primeira coisa que eu vou pensar vai ser "a noite foi boa, hein gata" seguida da segunda "putz, como ela é linda, to muito ferrada!" e então, entre um semáforo e outro vou perguntar como foi seu dia, porque a verdade é que eu gostaria de ter feito parte dele.
Chagaremos ao bar, sentaremos numa mesa num cantinho do meu bar preferido da cidade na época.E eu vou beber uma cerveja atrás da outra, quase sem respirar, pra aguentar a taquicardia que tomou conta de mim, os intervalos entre os copos são só pra disfarçar a tosse que tinha se alojado na minha garganta e não saía mais. Naquela mesa eu te contei a trajetória de quase todos os meus relacionamentos e você me contou a história de quase todos os seus amores. A gente riu das pessoas que escolhiam namorar e se dar satisfação - que gente patética. A gente falou de psicologia, de arte, de filosofia. Bêbada, eu falava com você como se tivesse falando comigo, cheia de "não sei se devia tá te falando isso". Aquela noite, entre um carinho e outro, um assunto e outro, você me beijou ali,no meio do bar - eu que nunca beijo ninguém pela primeira vez (nem pela segunda, terceira ou quarta) em público, retribuí e não quis mais largar seu abraço.
Mas a hora avança sem piedade - um ano depois e ainda é assim sempre que estamos juntas -, são quase 4h da manhã e amanhã é dia e trabalho pras duas - pra você mais cedo do que pra mim e temos que deixar o bar. Você me traz na porta de casa e fica difícil parar com o beijo que começou a nem sei quantas horas atrás. "Se você não for embora agora, eu não vou te deixar ir mais". Você não foi e, como eu te avisei, você continua aqui. E eu, que nunca consigo escolher nada, encontrei o único melhor lugar do mundo dentro daquele abraço de nuvem.
Meu celular tá apitando com mensagem sua, estamos longe fisicamente,ao contrário do que eu gostaria no dia de hoje. Mas não importa,nada importa: Amanhã à noite eu vou te beijar pela primeira vez.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

É sempre um alívio abrir os olhos.

Uma vez por semana eu gosto de pensar que nunca você não existe.
Fico deitada na cama mais uns minutos pensando em todo o dia de trabalho que vem pela frente, na irritação com o calor, na alegria por estar chovendo, o que eu vou comer hoje? Vejo filmes, leio um livro, não faço nada, choro. Uma vez por semana aquele dia em que você sorriu pra mim pela primeira vez e eu me senti numa novela das 8 quando os mocinhos se encontram, nunca existiu.
Fico pensando nesta quase uma dezena de bilhões de pessoas no mundo nesse momento, na quantidade de combinações de vidas possíveis, nos bilhões de encontros a que eu iria, nos bilhões de corpos que eu mergulharia, nos trejeitos que eu gastaria horas admirando desapercebida, caso eu não tivesse dado algum sinal corporal misteriosos pra que você beijasse minha boca e deslocasse minha'alma pelo espaço, caso eu não tivesse dito sim pro próximo encontro e não te deixasse abrir a caixa de cafonisse romântica que eu não sabia existir em mim. Fico pensando nos meses sem o seu abraço em volta do meu durante o nosso sono, sem suas ligações no meio da tarde me chamando pra um café, sem o crescimento que o tanto de lágrimas que o seu colo liberou - por me permitir encontrar comigo mesma, sem ter experimentado o sexo que mais combinou com o meu corpo e, por isso, elegi o melhor da minha vida. Fico pensando aonde eu poderia estar agora: numa casa perdida na África, fazendo prova de pós graduação em Porto Alegre, num vôo pra Europa, trabalhando na serra do Rio de Janeiro todos os dias. Os lugares que eu teria deixado de pisar de mãos dadas com você, mas também todos os lugares que eu teria conhecido caso meu caminho tivesse cruzado com o de outra pessoa, caso eu não tivesse te pedido pra ficar mesmo quando todas as coisas que eu fiz te pareceram erradas. No que eu estaria estudando, no que eu estaria me transformando, pelo que eu estaria arrancando os cabelos de ciúme. Uma vez por semana eu fecho os olhos e me imagino mais uma vez na vida com outra pessoa, experimentando a companhia de outro destino.
É sempre um alívio abrir os olhos.

Eu fico aqui revirando a memória e as redes sociais pra lembrar que o lugar que eu te coloquei é diferente de onde você deveria estar

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Rivotril

Eu não sabia que ao meu lado era um bom lugar pra se estar até você chegar e me dizer que, além de sê-lo, eu era o melhor lugar do mundo de todos que você tinha pra querer.
Faz uma semana que tudo mudou.
Agora eu, que acordava sorrindo pela sua existência, acordo culpada e me sentindo burra por ter deixado esvair entre os meus dedos o melhor elogio que já recebi.
Eu não sei muito bem quando a sua importancia tomou minha vida. É claro que te deixei entrar em mim, estava pulando de olhos bem abertos, mas não sei como a sua rápida passagem se tornou um pedido de namoro em meio a um deserto na Bolívia. O que eu sei é da leveza e da potencialização em mim que a sua existência causa.
Eu achei que você fosse embora.
E sua despedida está anunciada desde a sua chegada. É que geralmente , quando alguém me diz adeus eu automaticamente penso em todas as coisas boas que aquela ausência me traria. Aquele dia eu só conseguia me sentir sem um braço, e eu não via nada de positivo nisso.
Eu ainda não sei como consertar as coisas ou se elas tem conserto - à despeito de saber que nada está tão sujo que não possa ser limpo. Sei da dor de ser dor pra você. Sei da espera de voltar a ser - mesmo que não o melhor lugar do mundo - um bom lugar pra se estar e habitar.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Por que mesmo a gente insiste no que não sai do lugar?
O fato de se querer esgar em outro lugar, afinal, não te leva alugar algum.
As coisas são e estão de passagem,bobagem é esquecer.
Bobagem é insistir, é esperar e perseverar.
Bobagem é confiar e acreditar na diferença dos acontecimentos.
A única coisa permanente é estar no próprio corpo (talvez nem isso).

domingo, 19 de abril de 2015

Acontece que em algum dia - e esse dia sempre chega - o amor vira dor.

sábado, 18 de abril de 2015

Bateju


Ontem à noite eu estava em uma social bem calma, muito diferente daquelas que a gente ia/produzia lá em casa (de tantas formas diferentes). Acontece que a amiga de uma amiga desapareceu por algumas horas e todos se apavoraram, e essa amiga que ficou procurando pela desaparecida dizia sobre o pavor que é quando alguém que a gente ama desaparece.
Eu sempre lembro de você em situações boas: uma música que eu ouço, a cor do pôr do sol, uma foto antiga, uma coisa que você falaria, um lugar aonde eu gostaria que você fosse comigo. Mas foi inevitável não lembrar de você nessa conversa, em como é apavorante que você tenha sumido de debaixo dos meus olhos, de como você partiu do meu mundo poucos dias antes de eu reencontrar o seu abraço. E me apavora como as coisas sempre são assim, imprevisíveis. Me apavora a forma como eu passei a desejar a morte justamente por temer que ela chegue pra mim, como chegou pra você, em uma tarde aonde eu esteja feliz e indo encontrar amigos pra jogar futebol, pra que eu possa ter controle sob ela, pra que eu não desapareça sem que alguém espere. Me apavora saber que nunca mais voltarei a te pedir pra deixar os cachinhos dourados crescerem e parar de rapá-los, me incomoda saber que eu nunca mais vou te abraçar,te contar uma história, ouvir a sua voz.
Ainda não me acostume à sua ausência, ainda não caiu a ficha do nunca mais, quando você era meu único pra sempre. Ainda tenho a sensação de um dia você vai bater aqui em casa e me chamar pra dar uma volta olhando o mar e eu vou te dizer, na praia, como em todas as vezes, daquela vez quando a gente tinha 13 anos e foi andar na praia e a onda molhou o único tênis que você tinha pro feriado, da outra vez quando mais velhos a gente saiu da aula e foi tomar caixote do mar, da prancha que a gente dividiu por 6 pessoas.
Eu quero que você saiba, mesmo que não haja como você saber, que a sua ausência faz silêncio em todo lugar e que "enquanto eu respirar vou me lembrar de você, só enquanto eu respirar"

terça-feira, 24 de março de 2015

sonhei

Eu sonhei que meu corpo inteiro sangrava.
Então eu sentei no chão do meu quarto e cortei cada membro de mim de uma extremidade à outra.
Eu sonhei que pintava as paredes do meu quarto com sangue e quando acabava, deitava no chão e sorria enquanto me esvaia em sangue.
Eu sonhei que todo o chão do meu quarto ficou vermelho vivo, não havia mais nada além do meu líquido de vida manchando todos as coisas materiais que chamo de minhas.
Eu sonhei que meu corpo deixava o mundo e eu deixava o meu corpo e não havia nada mai correto ou sensato que não existir.



Eu estava acordada.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Rivotril

Colocaram uma cortina na janela da sua casa, passei lá agora voltando do trabalho desejando que ainda fosse antes e você estivesse me esperando, deitada na cama, de cara amassada de tanto dormir.
Aqui faz um dia nublado e me alegro com a chegada de março e sua tentativa de temperaturas mais amenas, que me aponta a chegada do outono.
Fico tentando lembrar exatamente aonde eu estava nesta mesma data no ano passado, quando eu nem imaginava que você viria, sentindo alívio por saber que você chegou.
O que a gente tem hoje, é um alívio.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Rivotril

Era uma noite perdida num mês perdido, uma social numa casa pequena e escura, em frente a um bar de onde nós e nosso grupo de amigos fomos expulsos devido ao horário avançado. A verdade é que eu não lembro ao certo quais amigos, eu estava ali pra estar perto de você, embora minha taquicardia gritasse pra eu voltasse pra casa por uma longa parte do tempo. Um notebook tocava a trilha sonora da noite, escolhida por alguma amiga nossa, que contava de um show que vocês estiveram juntas e tocou "trovoa", de uma banda que eu nunca tinha ouvido por minha ignorância e eu acharmos que era de algum bloco de carnaval (e como sabemos, eu odeio carnaval).
Até hoje (nesses momentos em que a sorte me toma e você resolve me contar como se apaixonou por mim) você me diz que parece que aquela noite eu estava ignorando a sua existência (fato que eu não compreendo, visto que eu estava sentada ao seu lado a noite inteira num sofá apertado deixando você beber toda a cerveja do meu copo) e toda vez que você me diz isso eu me questiono como você não percebeu o meu olhar vidrado em você e o meu sorriso idiota ao te ouvir cantando junto com a Juçara "fica comigo, se você for embora eu vou virar mendigo" dizendo "nossa, quanto drama, isso é tão eu" me perguntando aonde a garotinha insegura, que você deixou escapar ali que existia, se escondia dentro da mulher que me fazia perder a hora, o bom senso e a pose na segunda noite beijando a minha boca.
Até hoje eu não entendo (um pouco porque eu nunca quis entender, um pouco por saber que não há explicação) esse amor que foi invadindo meus dias e tomou conta da minha vida dessa forma, mas ainda sorrio enquanto escrevo isso ouvindo "trovoa" (a música que passei todo o dia seguinte procurando de quem era, visto que eu só me lembrava da parte da música que te ouvi cantando) e sinto minhas mãos geladas tanto quanto o vento que batia no meu rosto naquela noite na garupa da sua moto em direção à sua casa, "tá vendo todas essas portas iguais? Você consegue imaginar quantas vezes eu já errei a porta de casa bêbada e acordei os vizinhos, neah?", não, eu não imaginava o tamanho da sua capacidade de distração, todavia o que realmente não me passava pela cabeça era a felicidade que eu sinto agora (acabo de sair do banho, estou com uma toalha enorme enrolada nos cabelos pesando minha cabeça enquanto minha mãe me espera pra ir com ela ao mercado comprar coisas pra te preparar um jantar) por saber que você está agora dentro de um ônibus em direção ao meu quarto.
Eu amo as coisas que não se podem prever.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Você nunca desapareceu, não sabe o que é sentir cada parte de si evaporando. Não sabe o que é despedaçar. Eu estou aqui, me transformando em nada, lentamente, como que por castigo, assistindo a minha própria morte, como espectadora, porém de dentro do meu corpo. Eu estou aqui tentando me agarrar a qualquer coisa, a qualquer pessoa, a qualquer sentido, mas quanto mais eu me esforço pra continuar viva, mais eu morro. Eu estou acabando, me destruindo, me torturando. Eu estou lutando pra que isso acabe logo, pra que a morte tome conta de mim, pra que eu deixe logo de existir.
Eu to aqui correndo de um lado pro outro dentro de mim, batendo em todas as portas, urrando por ajuda. Eu estou desaparecendo.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Amor maior

No meu aniversário deste ano, junto com o habitual "parabéns", recebi um "sei que nossa amizade não é a mesma, mas amo você ". Confesso que isso deixou meu dia bem menos feliz, mas me fez pensar e repensar por longos outros dias. Aniversário é essa data esquisita que a gente ta ficando um dia mais velho achando que é mais um ano, que a gente se permite - ainda mais a gente que se cobra controle, mesmo sem tê-lo a maior parte do tempo - colocar a expectativa de felicidade na lembrança do outro do nosso dia e da importância que ele dá pra isso, tirando-a de nós mesmas. Pois bem, te escrevo porque não quero te decepcionar nessa expectativa, mas também porque te amo demais, mesmo que às vezes te deixe duvidar, de uma forma tão única e absurda que nenhuma mudança na nossa amizade interfere, que nenhuma mudança no que a gente é ou no que a gente esteja se tornando, altera. Meu orgulho de vc é exatamente o mesmo e continuo te vendo com os mesmos olhos de sempre, continuo enxergando dentro de você, por detrás das camadas e te achando uma das pessoas mais lindas - em todos os aspectos - do mundo. Espero que daí de dentro você não tenha deixado de acreditar em você também, que você ainda não duvide do seu tamanho, do seu potencial, da sua força e saiba que o que você representa na minha vida é indestrutível. Torço por você como torço pra mim mesma.

(Enquanto te escrevia isso do ônibus, voltando do trabalho, encontrei uma menina parecida com você com o uniforme da empresa que você trabalhava e to com o coração ainda mais apertado de saudade da nossa convivência, queria chegar na sua república agora, sentar na varanda enquanto você fuma um cigarro e ouvir suas histórias da adolescência enquanto você me xinga por eu não lembrar do que você me contou semana passada. Queria te abraçar contra sua vontade depois de correr atrás de você pela casa. Espero que esse abraço seja em breve, mas que você o sinta todos os dias presente como sinto a sua presença em tudo que eu sou).

Feliz desaniversário, neném mais lindo que eu tenho.