sexta-feira, 6 de novembro de 2015

"Aprendi a aceitar essa estranha noção de que não estamos respirando, mas sim sendo respirados, e de que essa respiração que o universo nos impõe tem seu próprio ritmo, e que tentar mudar esse ritmo é como tentar mudar a órbita dos planetas, ou interromper o pôr do sol com as mãos, o que talvez só um deus consiga fazer, mas certamente não eu, a mais ordinária de todas as pessoas ordinárias.

Perder o contato diário com você me fez entrar num quarto escuro e entender que de dentro dele a gente só sai quando aprende a ficar com os olhos abertos porque é apenas com os olhos bem abertos que a escuridão perde a cara feia. É apenas com os olhos bem abertos que é possível começar a ver mesmo dentro do mais escuro dos quartos e, assim, começar a perceber o que existe ao redor. Dá medo ficar de olhos abertos na escuridão, mas dá mais medo ficar sem você, então, na escala dos medos, esse deixou de ser grande.

Perder contato diário com você, ser capaz de aceitar sua morte, embora escrever isso ainda não faça muito sentido, me fez acreditar que viver talvez seja mais difícil do que morrer. Viver requer atenção constante, exige que aprendamos a pensar, e a agir muitas vezes contra nossos instintos, e desejos".

(Milly Lacombe)

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