domingo, 22 de novembro de 2015

Diálogo?

- Oi.
- Oin.
- Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Também.
(...)
- Por que você ta quietinha assim?
- Você ta estranha tem dias, to te dando seu tempo.
- Todo dia você fala que to estranha. Que saco!
- Também acho! Queria não precisar falar isso.
- Eu também queria.
- Você vai me falar o que ta havendo?
- Ta tudo estranho. Não ta sendo o que eu esperei.
- Hum.
(...)
- Você já entendeu que eu não sou a mesma? Eu finalmente entendi que você não é a pessoa que vai me buscar aqui em casa na sexta e só me devolver na segunda, à contragosto. Que não é quem vai me convidar pra andar pela rua aos domingos depois de um processo difícil de sair da cama. Que não é quem vai rodar pra lá e pra cá atrás de café numa quarta 11 da noite porque não quer se despedir de mim. Eu entendi que você não vai vir correndo no meu primeiro chamado. Que não vai recorrer à mim quando doer, quanto tiver difícil, quando houver dúvidas. Eu entendi que não sou mais a sua melhor companhia ou a pessoa com quem você quer passar a maior quantidade de tempo fazendo tudo ou nada, por querer me viver até a última gota. E você? Você já entendeu que eu também sou outra?
- Você pega pesado.
- Você também.
- Acho que a gente precisa se reapaixonar.
- Acho que já tem paixão demais nessa relação.
- Sim, mas a gente é apaixonada pelo que? Pela nossa história? Por quem a gente era? Pelo que somos agora? Pelas possibilidades que temos?
- Por você?
- Por qual eu?
- A gente não ta sabendo se ler. Se ouvir. A gente só sabe falar. Olha que improvável.
- Eu sinto muita falta de ser ouvida. E de ouvir também.
- Eu também.
- Eu to exausta desse esforço que eu to fazendo. Eu só quero relaxar.
- E o que te impede?
- Medo de como você vai agir.
- Eu preciso dizer de novo que você não precisa ter medo? Que eu não vou embora agora. Que eu to aqui por escolha?
- Se não for te cansar muito, pode dizer.
- Já disse! Eu te amo, cara. Vamos tirar esse muro que ta entre a gente de novo.
- Como?
- Você pode começar me contando seu dia, não o que você fez, não quero que você fique batendo cartão me contando seus passos como se eu fosse sua chefe. Me conta as coisas que você viu, me conta o que você tem sentido, do que te deixou triste, o que te fez feliz! Deixa eu conhecer você, deixa eu me apaixonar mais e de novo.
- Eu não sei se eu consigo. Parece simples na teoria. Mas meus psicológico ta muito abalado.
- Então ta bem. Seja feita a vossa vontade.
- Sem drama, por favor! E sem me responsabilizar por tudo!
- Lembra que eu tava te dando um tempo pra respirar? Vou aproveitar pra respirar também. Quando parar de sufocar, me procura.
- Não era pra ser assim. Mas me procura também.
- Okay.

Proust

“O hábito enfraquece todas as coisas; mas as coisas que melhor nos lembram uma pessoa são aquelas que, por serem insignificantes, nós as esquecemos e que, por estarem esquecidas, não perderam nada de sua força. Por isso, a melhor parte de nossa memória existe fora de nós mesmos, numa brisa de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, coisas através das quais podemos recuperar qualquer parte de nós mesmos que a razão, não tendo nenhum uso para elas, desdenhou; o último vestígio do passado, o melhor dele, a parte na qual, depois de todas as nossas lágrimas terem secado, pode nos fazer chorar outra vez.”

sábado, 21 de novembro de 2015

Elaborar

Descobri recentemente que ouvir é ainda mais difícil que falar. E que nem sempre eu falo do que realmente importa.
Essa semana aconteceu algo muito marcante na minha vida e, como sempre faço, eu poderia recusar me expor, recusar escrever sobre isso porque é sempre mais fácil ignorar do que ter que lidar.
Saí de órbita e me diverti de uma das maneiras que mais gosto. Era pra ter sido incrível, não fosse a bad que bateu durante. Durante um processo que era pra ter sido incrível, eu só conseguia pensar em empatia. Eu só conseguia visualizar meu pior pesadelo, aquele escondido até de mim, passando diante dos meus olhos. Eu sentia culpa por ser quem eu estava sendo.
A onda passou, eu dormi bastante, acordei algumas vezes com o coração disparado. Eu me dei conta de que deixei muita coisa pra trás. E não digo isso como lamento. Eu mudei muito e preciso aceitar isso, aquela que eu era, aquele tipo de diversão, não faz mais parte de quem eu sou. Talvez eu esteja ficando velha e chata, talvez seja só o auto-amor invadindo mais uma parte de mim. Sei que quando acordei eu me libertei. Sinto como se eu tivesse levantado de uma forma de gesso que me envolvia. Como se eu tivesse me livrado da necessidade de me encaixar, de me enquadrar. Agora, eu só preciso ser eu, acreditar em mim, encontrar comigo.
Agora eu só preciso ser fiel à mim e ao que eu realmente quero. Eu estou em silêncio faz dias e todos vem me perguntar sobre a minha ausência de comunicação: eu só estou me comunicando comigo tão profundamente que estou sem capacidade de proferir palavras sobre outra vida.
Estou me sentindo muito dentro de mim. Estou me sentindo eu. Eu estou livre.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Eu encaretei, preciso admitir. Dizem que é coisa da idade, eu não sei. Tudo que eu mais gostava de fazer parou de fazer sentido.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

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Você não costuma fazer o que é mais fácil, você não se rende. E você não faz ideia do quanto eu te admiro por não se render. Do quanto eu te admiro por comprar todas as brigas e colocar teu peito na reta das nossas diferenças.
Eu me vi vestindo o dilema da psicanálise, ao seu lado. Quando estamos em um relacionamento, achamos que somos dois que vão se fazer um, e isso é extremamente frustrante porque são sempre duas pessoas vivendo as próprias vidas e se desencontrando. Agora, vendo de tão perto e de tão longe tudo que a gente é, deixo que sejamos quem somos. Sem me ater ao que eu gostaria que você fosse, sem me ater aos nossos defeitos, deixo que a gente flua, que o nosso encontro seja fluido e se dê de sua melhor forma. Não sou mais assombrada pelo medo de nos perdermos, mas ainda há tanto que me assombra, ainda há a auto-cobrança e o drama da insuficiência. Ainda há aqui, dentro da minha vida, tudo que havia de errado e que antes eu achava que estar ao seu lado resolveria. Fico feliz por ter me enganado, por nosso relacionamento não resolver, de fato, nada além do que está entre nós, por mais difícil que isso seja.
Eu espero que você continue não se rendendo e me ensinando, deste jeito tão torto e tão nosso, que amor não tem nada a ver com ser o que a outra pessoa espera.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Não sei se é o tempo que eu demoro. Os meus trejeitos. Os fantasmas da infância. Meu medo. Sei que em algum momento seu olhar se perde, o corpo esquiva, a pressa se torna repulsa. Em algum momento eu fico sem saber como agir e perturbada com todos os atos. Não há nada que eu possa fazer. Eu sei da paz de quando você faz, mas ela some, some bem de baixo dos meus olhos e eu não vejo como aconteceu, pra onde foi. Hoje, como outrora, meu coração amanheceu batendo ao contrário.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

"Aprendi a aceitar essa estranha noção de que não estamos respirando, mas sim sendo respirados, e de que essa respiração que o universo nos impõe tem seu próprio ritmo, e que tentar mudar esse ritmo é como tentar mudar a órbita dos planetas, ou interromper o pôr do sol com as mãos, o que talvez só um deus consiga fazer, mas certamente não eu, a mais ordinária de todas as pessoas ordinárias.

Perder o contato diário com você me fez entrar num quarto escuro e entender que de dentro dele a gente só sai quando aprende a ficar com os olhos abertos porque é apenas com os olhos bem abertos que a escuridão perde a cara feia. É apenas com os olhos bem abertos que é possível começar a ver mesmo dentro do mais escuro dos quartos e, assim, começar a perceber o que existe ao redor. Dá medo ficar de olhos abertos na escuridão, mas dá mais medo ficar sem você, então, na escala dos medos, esse deixou de ser grande.

Perder contato diário com você, ser capaz de aceitar sua morte, embora escrever isso ainda não faça muito sentido, me fez acreditar que viver talvez seja mais difícil do que morrer. Viver requer atenção constante, exige que aprendamos a pensar, e a agir muitas vezes contra nossos instintos, e desejos".

(Milly Lacombe)