terça-feira, 29 de maio de 2012

Desde Sempre.

Eu sei que agora você pensa em mim, sei que nesse exato momento seu coração dói absurdamente feito o meu. Sei que está sentado na sua cama cobrindo o corpo, deixando o tronco à mostra, de braços cruzados, olhando pro teto, pensando numa maneira de não pensar em mim. Sei disso não só por te conhecer como a palma da minha mão, por te observar a tantos anos ou pela breguice do sentimento que agora me invade, mas porque é exatamente como estou agora.
Não importa o quanto você negue, renegue e me odeie, a gente não pode lutar contra o que tá escrito, contra o que planejamos: "o que tem que ser, tem muita força". Quero que saiba que espero, mais meia hora, mais meio ano, mais meia vida. Eu espero toda a raiva ser transformada em amor, em luz, em esperança. Eu posso não acreditar em mim, na estabilidade do meu sentimento, mas não tenha dúvida, eu acredito piamente em você e, como eu prometi, não vou desistir de você tão fácil só porque você tá acostumado a repelir o mundo. Boa insônia pra nós dois!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Adeus.

Olhos marejados, estação de metrô lotada, fone no ouvido, rumo indefinido, mesmo com a música alta e tanta gente se apertando, o único som que ouço são os ecos de 10 minutos atrás, a única imagem que vejo é embaçada por lágrimas, dos seus olhos me seguindo até o corredor, apenas olhares, sem se mover nem um milímetro pra tentar me impedir.

- Por que você tá fazendo isso? Pra que tudo isso agora?
- Eu amo você, porra!

(silêncio)

- Ta vendo, você não sabe conviver com isso, você só quer saber da sua vida, do seus trabalho, dos seus projetos, do seu carro e casa e tudo que você quer conquistar.
- Eu quero ter uma boa vida, eu quero dar uma boa vida pros meus filhos.
- Ta vendo? Isso que você chama de boa vida? Dinheiro, casa na praia, carro importado? É por isso também que eu to indo embora!
- Você tá maluca? Isso agora não é importante? Estudar numa boa escola, viajar, praticar esportes, nada disso?
- É claro que é! Mas sabe o que é ainda mais importante? Amor! Amor que você perdeu em um desses seus cursos, amor que você não sabe ouvir e nem sentir!

(silêncio)

- Essa não é a melhor maneira de resolver as coisas, você tá nervosa.
- Eu não to nervosa, eu to triste, uma tristeza tão grande que me faz gritar que nem uma doida varrida agora! Se eu não grito eu explodo e eu to cansada de guardar isso tudo em mim
- Vem aqui!
- Não me encosta!
- Não faz assim!
- Eu não quero ser convencida de nada, eu já tenho a minha decisão!

(silêncio) (lágrimas)

- Não entendo por que você tá chorando?
- Nem eu, deve ser a terceira vez que choro na vida.
- Você tem quase 30 anos.
- Eu sei.
- Você não vai mudar de ideia, vai? Você não vai desistir dessa maluquice que você chama de plano de vida e tentar pela primeira vez ter alguma coisa decente comigo, vai?
- Não.
- Então não tem mais nada que eu possa fazer. Eu to indo.
- Espera, vamos conversar.
- Olha, eu te amo, muito! Provavelmente eu vou te amar pra sempre, eu posso dizer sem medo que você é o amor da minha vida, eu não tenho dúvidas disso. Mas eu não posso mais ficar aqui estagnada, vendo a vida passar enquanto você continua com essa loucura, eu também tenho os meus sonhos, a gente quer coisas muito diferentes.

(silêncio)

- Daqui a 10 anos, quando você ver fotos minhas sorrindo com minha família e você não estiver nelas, pode ter certeza que eu vou tá feliz de verdade, eu acho mesmo que a gente tem mais de um amor da vida nessa vida, eu acredito mesmo que a nossa felicidade depende da gente, de modo que meus sorrisos nunca vão ser forçados. Mas tenha certeza, nem uma centelha, nem um milímetro do que eu sinto agora vai ser modificado, nada, meu coração vai continuar latejando, meu estômago vai continuar se contraindo e meu rosto formigando todas as vezes que eu ouvir seu nome, mesmo que com o tempo eu aprenda melhor a disfarçar.

(silêncio)

- Se cuida, seja feliz.
- Não é justo que você vá embora, você não iria embora se sentisse mesmo isso tudo aí que você diz.
- Sabe quando a gente termina nosso primeiro namoro de adolescência porque descobre que só amor não é o suficiente? Tipo isso!

(silêncio)

- Eu quero dar uma vida boa pros meus filhos também, quero que eles tenham amor, que confiem em mim, que contem comigo, quero que eles queiram estar por perto, que eles se sintam amados. Quero ter tempo pra eles.
- As nossas visões deveriam se completar e não se excluir.
- Pra isso a gente precisaria de tempo juntos, todos nós, tempo que você não tem e nem vai ter.
- Você tá terminando comigo por filhos que nem sabe se vão existir?
- Eu to terminando com você porque esse anel que eu tenho na mão direita deveria significar alguma coisa além de me segurar enquanto você vive os teus sonhos e eu me anulo.
- Você sabe que eu não vou voltar atrás né?
- Nem eu, eu penso sobre isso a 6 meses, eu sumo um pouco dos seus dias tem 6 meses e você não percebeu, você não fez nada.
- Mulher é tudo maluca mesmo!
- Você pode achar que mulher é tudo igual, mas eu ainda sonho em encontrar um homem diferente de você.
- Por que você passou tanto tempo comigo então? Pra que ficou tantos anos me esperando?
- Eu te amo, eu sempre te amei, desde o primeiro dia e sempre vou amar, até que os meus dias cessem. Eu só não quero mais dividir a minha vida com você.
Abraço, beijo na testa, beijo na boca, lágrimas, abraço, mais lágrimas, mais abraço, bolsa, mala de roupas que deveriam ser usadas no feriado ao seu lado, corredor, olhar pra trás, porta, olhar de novo pra trás, elevador, atravessa uma avenida gigante, olhos marejados, estação de metrô lotada, fone no ouvido, rumo indefinido, mesmo com a música alta e tanta gente se apertando, o único som que ouço são os ecos de 10 minutos atrás, a única imagem que vejo é embaçada por lágrimas, dos seus olhos me seguindo até o corredor, apenas olhares, sem se mover nem um milímetro pra tentar me impedir. Adeus.


Desde Sempre.


Ninguém acredita mais quando eu digo sentir esse amor, deve ser porque perceberam que meu sentimento muda toda hora devido a confusão instaurada na minha mente desde o primeiro choro numa maternidade pública e gelada (não que eu me lembre da temperatura). Isso não deveria ser motivo pra julgamentos, pensamentos e sentimentos são coisas totalmente distintas, veja só: eu pensei, repensei, disse em voz alta e repeti que não queria nada com você e continuo aqui, tremendo dos pés à cabeça a cada vez que ouço seu nome, feito na primeira vez que nos beijamos, que ambos os corações batiam tão rápido que era difícil respirar. E agora? Agora nada que eu faça vai mudar o que é, nada que eu diga vai te trazer de volta e eu queria poder conversar com alguém sobre isso, tipo, sinceramente, sem todas essas travas que me fazem agora. Queria que alguém fosse capaz de entender como eu posso ter me enganado por tanto tempo, como eu posso acreditar tanto nas minhas invenções, eu minto tão bem que até eu acredito. E eu gostaria que você pelo menos me ouvisse, só isso, 15 minutos de toda a sua existência só pra me ouvir te dizer que eu falei sem pensar, que eu agir por medo, que foi mais uma das minhas maneiras de fugir, que meu coração dói o tempo inteiro e só alivia quando eu paro tudo que estou fazendo e penso em você, e sonho que um dia a gente se encontre numa melhor do que essa. Eu fiz coisas que eu não me orgulho, não é de hoje que venho cometendo os mesmo erros e desvios, queria que dessa vez fosse diferente, queria que com você eu pudesse mudar o final.
É a primeira vez que sinto medo de falar com alguém, de encontrar você e não saber como agir, fico paralisada  só de imaginar a cena, penso em me encolher todas as vezes que cogito a possibilidade dos seus olhos raivosos, eu não suportaria conviver com a sua indiferença. Por isso prefiro conviver com os meus ímpetos, prefiro me travar, me segurar, pra te assistir de longe, pra te ver sendo feliz em outros braços, pra te ver sorrir com a alma feito antes desse caos. Na verdade, eu resmungo que ninguém acredita mais quando eu digo sentir esse amor, mas a verdade é que eu não acredito na minha possibilidade de continuar sentindo a mesma coisa por um longo tempo. Estou fazendo o teste, enquanto crio coragem e me desfaço do orgulho pra correr pra você, já se passou 1 mês, vamos ver quanto tempo eu aguento.

Amor maior.

Já faz um tempo que estou com esse texto pronto na mente, não escrevi antes porque sempre acho pouco pro tamanho do sentimento. Sempre acho que não vou conseguir explicar pra alguém, talvez por minha falta de capacidade de entender, que desperta meu amor por ser exatamente da maneira que é, que tem toda a minha admiração justamente por não se esforçar pra conseguí-la, você não imagina o quanto gosto disso.
Gosto de te ouvir cantar música brega pela casa enquanto eu tomo banho, de saber que você tá no andar de baixo mexendo nos meus livros tentando achar algo que se identifique. Gosto de dormir de conchinha, de como você se joga em mim, de como esquece do orgulho pra pedir carinho. Das piadas idiotas, das implicâncias irritantes, das críticas exageradas. Gosto de passar tardes discutindo psicanálise e religião mesmo quando uma das duas não entende do assunto, de como você faz questão de me ter por perto, dos lanches que você inventa e prepara pra mim, por você apoiar e dar corda pras minhas maluquices e estranhezas. Gosto das suas músicas tristes, dos seus seriados ridículos, das suas frases feitas que sempre fazem sentido. Gosto porque sei que posso contar com você mesmo quando eu erro, mesmo quando está chateada. De quando você repete a mesma coisa mil vezes, dá uma de mãe, reclama de tudo que eu faço e falo, ri dos meus dramas. Da sua inteligência, da sua esperteza, do seu dom pra falar merda até conseguir me fazer rir. Gosto da sua liberdade de preconceitos nesse mundo onde todo mundo aponta o dedo sempre e no final finge que não, por seu saber que com você posso ser qualquer coisa, posso falar e pensar absolutamente tudo sem ser julgada, sem medo. De te ouvir dizer "você é a primeira pessoa pra quem conto isso", por poder dizer "nunca ninguém além de você vai saber isso", por termos a mesma vibe, por sermos tão diferentes e tão iguais. Gosto de te encher de demonstrações de afeto mesmo que você se irrite, de poder dividir meu mundo com você, do bico que você faz pra falar oi. De te ver sorrindo entortando o pescoço e esfregando a barriga do jeito mais sincero que já vi, do respeito e carinho incondicional que trata a sua família. Gosto, mesmo me irritando, de você sempre deixar a pasta de dente destampada, de sempre jogar sua roupa pelo meu quarto, de sempre perder tudo na minha casa, por ter mais calcinhas na minha casa do que na sua. Eu gosto dessa implicância por ciúme que evoluiu tanto se transformou nesse amor tão bonito que a gente sente. Gosto do seu jeito autoritário e pseudo-arrogante, da sua sinceridade tão marcante, das suas ligações bêbada de madrugada, do seu jeito "não to nem aí" "ninguém tem nada com isso" "eu faço o que quero" "eu me banco" "eu sou assim". Você é um dos meus maiores motivos de orgulho nessa vida e é muito bom saber que eu posso me dividir com você por completo, sem máscaras, sem poréns, sem medo. "Você é o neném mais lindo que eu tenho", a pessoa pra quem eu mais dou amor, amor de verdade, sem esperar nada em troca, mesmo que só tenha me dado conta disso de umas semanas pra cá. Eu sei que a gente ainda vai brigar muito, se odiar, se chamar de burra ignorante, mas pode ter certeza que por você eu sempre vou voltar atrás, sempre vou tentar de novo, pra te fazer sorrir.

Saudade.

Faz mais ou menos um ano que começou o nosso fim e eu ainda sinto sua falta como sinto de uma parte minha que não dá mais pra ser. Entretanto, não gosto de te escrever como algo que deixei no passado, até porque tendemos a enfeitar demais o que não temos mais acesso.
É claro que ainda sinto raiva às vezes, aliás, a palavra certa seria mágoa, que é o nome que a gente dá pra saudade da imagem que temos das pessoas. Entretanto, eu sempre te julguei muito melhor do que a minha paixão cega por quem eu me envolvo, por quem se faz presente na minha vida de forma irreversível.
Eu me esforcei muito pra ser parte de você, me esforcei muito pra que o amor que eu sentia por você fosse retribuído da mesma maneira, me esforcei tanto que quando dei por mim estava sendo tão eu, tão o melhor que existe em mim que não precisei criar mais nenhuma das máscaras que a gente cria pra agradar alguém, pude baixar guarda, retirar as armaduras e viver o nosso mundo.
Você sabe tudo sobre mim, sempre soube, em primeira mão. E eu ainda lembro das coisas que você só confidenciava a mim e que nunca passei pra frente, mesmo nos dias de maiores tormentos. Eu venho observando muito os seus defeitos, acho que é normal quando uma relação acaba, é como um conforto. Hoje, sei exatamente do que você é capaz pro bem e pro mal e sabe o pior? Eu continuo amando você da mesma maneira.
Eu lembro que quando eu tive medo você me deu seu terço pra me proteger, lembro que quando eu tive desespero você atravessou a cidade tarde da noite pra me abraçar, que quando eu não soube falar você teve paciência pra me esperar escrever pelo celular o que eu sentia por mais idiota que pudesse parecer, que você sabia como não me deixar passar mal, que segurava meu tombo fosse por erros ou por desmaios pelos banheiros e corredores e só eu e Deus sabemos o quanto doeu tudo isso sumir diante dos meus olhos com a nossa convivência, o quando eu te procurava quando chegava em casa e não te achava mesmo que você estivesse ao meu lado, mesmo que você estivesse falando comigo. Eu sempre achei que estivesse fazendo alguma coisa errada e precisei sim de alguém que me defendesse e dissesse que não importava de quem era o erro, mas o meu bem-estar. Eu gostaria que a gente pudesse culpar alguém agora, porque assim seria mais fácil continuarmos de mãos dadas.
Eu quero que você saiba que ainda paro na sua foto de perfil, que eu sempre escolhia como a mais bonita entre todas, e sinta saudade, daquelas tão grandes e tão fortes capazes de colocar um ponto final em qualquer desentendimento. Infelizmente "o tempo não é algo que possa voltar para trás" e de todos os momentos que poderíamos viver, de tudo que poderíamos ser, de todos os sentimentos que poderíamos sentir, o único que me é permitido, é essa inundante saudade.

domingo, 27 de maio de 2012

Los Hermanos - Fundição Progresso - 26/05/12

A trilha sonora da minha vida diante do meu ouvido, toda ums história cantada nas vozes mais sinceras e inteligentes do Brasil. 
Vi primos pequenos correndo pela casa e cantando Ana Julia no videokê; vi tardes e mais tardes berrando "o velho e o moço" e "quem sabe" pela janela do carro rumo a cachoeiras, a primeira música que o meu melhor amigo cantou no violão pra minha melhor amiga quando eles namoravam, vi a música que cantava nas tardes em sps quando meu amigo se acidentou no ensino médio; vi a despedida de todos os grandes amores da minha vida e a chegada de cada um deles; vi o hit que embalou minha saída de casa e o que me fez ter coragem de voltar pra ela, vi todos os sentimentos que não consigo colocar em palavras, vi o eu em sua forma complexa saindo pelo dedilhar do baixo. Foi mais q uma banda, mais que um show, mais que uma noite, foi uma vida inteira combinada nas melhores poesias e melhores vozes.








(primeiro grande evento desde do caos de agosto de 2010, continuo elegendo a  música como minha melhor terapia)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Você deveria saber.

Você não sabe, mas provavelmente é o amor da minha vida. Sei disso porque comecei a assoviar teatro mágico pela casa desde a primeira vez que nos encontramos, e olha que eu nem sabia assoviar, tampouco sabia que gostava dessa banda. Tem gente que fala que, quando encontramos a pessoa certa, ouvimos sininhos na nossa cabeça e isso seria um ponto que me faria duvidar da gente, se a dúvida estivesse em questão: a única coisa que ouvi quando te beijei foi o eco de "você me bagunça" que você tinha acabado de tocar no violão pra mim, aliás é a única coisa que ouço até agora, o que não é lá algo pra comemorar, já que eu deveria prestar atenção no que o meu chefe manda, no que minha colega de quarto conta, no que o filme encena e no meu corpo dançando nas festas. Ao invés disso, só lembro dos seus enormes cílios contornando olhos cálidos abrindo e fechando ao mesmo tempo que os meus durante o primeiro beijo. Sei lá o que a gente estava conferindo, se é que estávamos averiguando algo, talvez fosse só o estranhamento da primeira vez ou o medo de atos mal interpretados.
É claro que eu não vou te dizer da minha nova teoria, apesar de ela vir se mostrando real: tem mais roupa minha na sua casa do que no meu guarda-roupas, tem mais música sua no meu ipod do que minha, a gente já falou sobre tudo, estabeleceu todas as regras e nossa última briga foi por discordar de nome dos filhos (e também por um pouco de tpm da minha parte). Eu já não sei dormir quando não estamos de mãos dadas, tomar sorvete, ler deitada na rede, ir à praia e tomar café-da-manhã não fazem mais sentido sem suas piadas. Eu gastei meus últimos vinténs com uma camisa que achei que você gostaria e o resto do meu dinheiro do ano está comprometido com nossas pequenas excursões de fim de semana. Meus amigos te acham o máximo, meus pais te adoram, meu cachorro obedece mais à você do que à mim. Eu não consigo lembrar quando foi a última vez que fui ao supermercado sem você. Meu livro favorito está na sua cabeceira e minha cama não me vê dormindo sob ela a mais de um mês. Outro dia, numa dessas conversas viajantes com minhas melhores amigas, me perguntaram como eu me vejo em 20 anos e, apesar de tentar, não consegui me ver sem você em nenhum dos caminhos que posso seguir. Isso é coisa de gente apaixonada, podem dizer, não contesto, estou mesmo apaixonada por cada centímetro da sua alma e por cada detalhe do seu corpo, isso "até quem me vê lendo jornal na fila do pão" percebe, de modo que não acho que minhas palavras se façam necessárias.
Por quê você? Quando eu era mais nova e ainda mais patética do que sou hoje, eu costumava dizer que odiava co-dependência, que as pessoas precisam ter a vida independentes uma das outras, que ninguém é de ninguém, que por isso eu nunca me permitira envolver com alguém pra valer. Sabe o que esses meses ao seu lado me fizeram descobrir? Que eu estava certa, num relacionamento cada um precisa ter a sua vida e é por isso que você existe tão fortemente em mim. Eu não consigo ter medo do que temos porque eu não me sinto abrindo mão de nada, porque eu não me sinto perdendo nada, nenhum momento importante da minha vida, nenhuma grande descoberta, nenhuma parte de mim pela estrada. Eu dou minha mão pra você e continuo inteira, continuo seguindo meu caminho. Eu te dedico todos os meus dias e continuo tendo tempo pra assistir meus documentários e seriados infantis, ver minhas amigas e sair pra pedalar com os meninos da época de faculdade.  Quanto mais eu me divido com você, mais eu me transbordo pra mim, mais eu descubro sobre mim. Todo fardo que carregamos sobre ambos os ombros parece não pesar, depois de você, meus problemas parecem ser tão menores, embora continue sendo os mesmos e mais de sempre. Eu tento ficar triste, emburrada, de mau humor e não consigo lembrar como era. Pela primeira vez eu estou totalmente inteira ao lado de alguém e eu deveria estar surtando, arrancando os cabelos, comendo que nem louca, fazendo análise 5 vezes por semana, ao invés disso eu sinto paz, venho em casa tomar banho e pegar documentos pra reunião de amanhã enquanto te espero passar aqui com a moto que ganhou dos seus pais aos 18 anos apenas pra dormirmos juntos com a serenidade de quem sabe que o mundo poderia acabar agora e tudo continuaria em seu lugar. E eu não me dou nem ao trabalho de averiguar se você sente o mesmo, se a paz que sinto é contagiante, se você acha que depois de amanhã ainda estaremos juntos, tudo que eu preciso saber, ter e ser está compreendido nos seus dois braços envolvendo meu corpo debaixo do cobertor enquanto canta pra eu dormir. Você já deve saber, provavelmente é o amor da minha vida.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Reencontro (continuação)


(continuando...)


Você continua beijando cada parte do meu corpo e eu continuo sem saber se devo ir adiante com aquilo.      
Sinto-me uma menina de 16 anos com as mesmas dúvidas, sem toda a segurança que aprendi em todos esses anos de graduação, mestrado, artigos e mais de dez outros amores. Você escorrega minha calcinha pra de baixo do seu travesseiro, como antes, pra eu não reclamar que calcinha no chão pode dar doença e eu, como sempre, não faço ideia de onde joguei sua cueca box branca.  T e olho, agora era a hora de dizer “eu te amo” antigamente - pra evitar romantismo durante o que tende a se tornar carnal demais - silenciamos. Você entra em mim sem falar nada e eu me dou conta de que por mais que eu tente mostrar o quão diferentes estamos, somos os mesmos. Os mesmos adolescentes a fim de experimentar o corpo do outro ao extremo, os mesmos adolescentes apaixonados com vontade de chorar durante o coito, os mesmos adolescentes brincando de kama-sutra, os mesmos adolescentes que se abraçam forte quase tirando o ar enquanto um sussurra no ouvido do outro “vamos gozar juntos! (...)Agora?”, os mesmos adolescentes que deitam lado a lado em silêncio e enquanto você faz carinho nas minhas costas eu te faço cafuné até adormecermos pelados no frio de maio. A diferença é que agora nosso maior medo não é que sua mãe chegue e nos pegue no flagra, mas de abrir os olhos e admitir que nunca deveríamos ter saído dali, daquela cama, daqueles dias, daquela vida.
                Por isso, mantenho as pálpebras cerradas o máximo de tempo que posso, quando abro os olhos te vejo de relance levantando pra ir ao banheiro, sorrio sem conseguir me localizar direito no tempo admirando sua covinha no quadril, ao lado da bunda, que você diz ter conseguido como efeito colateral da musculação, embora eu sempre tenha dito que isso é genético, enquanto você volta pro quarto.
                - preciso ir.
                - precisa nada.
                - sério.
                - para com esses pensamentos neuróticos.
                - você não sabe o que eu to pensando.
                - claro que eu sei. Ta pensando que não sabe se o que fizemos foi certo, que foi diferente do que você imaginou, que não sabe como agir agora e por medo de estragar tudo, prefere inventar uma desculpa e ir embora.
                - te odeio.
                - te conheço. Bem até demais!
                - continuo te odiando.
                - você tá muito melhor do que quando namorávamos.
                - quando a gente namorava era ruim então?
                - claro que não, era ótimo, mas a gente não tinha com o que comparar, fomos o primeiro um do outro, lembra?
                - verdade.
                - você melhorou muito.
                - to ressentida por ter dito isso, mas concordo com você.
                - eu melhorei também?
                - não, eu melhorei muito.
                - engraçadinha!
                - é sério ué! Não tenho mais vergonhas ou inseguranças.
                - desde quando você tem isso?
                - você pode deixar de ser idiota uma vez na vida?
                - ué, você não lembra que a gente lia revistas sobre sexo e você quase chorava porque era liberal demais e não tinha as mesmas neuras das mulheres até mais velhas que você?
                - eu era patética.
                - a gente era.
                - to com frio.
                - vou pegar o resto do brigadeiro e já volto.
                - vou virar uma bola, assim.
                - você ta mesmo precisando dar uma engordadinha.
                - você critica a vida inteira meu corpo me mandando ser magra e agora mete essa?
                - eu nunca critiquei seu corpo, você que sempre foi neurótica com isso.
                - mentira!
                - verdade! Você tinha uma gordurinha aqui e outra ali, mas eu me amarrava, você que queria perder.
                - não vou te relembrar o que você dizia pra não estragar o momento.
                - acho bom, não quero que nada estrague esse agora.
                - e depois, como vai ser?
Você senta do meu lado na cama, sorri com covinhas e prevê com a mesma tranquilidade de moleque de 19 anos:
                - deixa o depois pra gente pensar depois.
Embora eu saiba que daqui a 4 horas eu vou tomar banho com você, vestir a mesma roupa jogada pelo chão do quarto, entrar no carro e ficar mais 8 anos sem pôr os olhos em você.

Você me liga no dia seguinte me chamando pra um cinema e eu reluto dizendo que o reencontro foi ótimo, mas é melhor continuar nos deixando na lembrança pra não estragar tudo. De modo que eu não faço ideia de como vou parar no seu apartamento cheirando a novo, a 3 horas da nossa cidade natal e a 15 minutos do shopping com cinema que acabei de conhecer, com sua camisa velha que fui obrigada a vestir depois de chegar em casa encharcada do temporal que só pode ter caído por eu ter aceitado ver filme de guerra sem reclamar.



(continua, talvez...)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Desde sempre.

Sempre escrevo pra ninguém, quase sempre inventando histórias e suavizando palavras que parecem ter sido feitas pra se encontrar, de modo que fica menos fácil traduzir quando o sentimento que move é real e tudo que mais se queria é que ele não tivesse resolvido se alojar entre meu ventrículo direito e minha valva tricúspide.
Eu ainda não entendi o motivo de não ter ficado, ainda não entendi porque resolvi fugir de novo e mais uma vez e, embora naqueles dias tudo fizesse sentido e eu tivesse uma lista de desculpas, hoje, lendo-a mentalmente e analisando caso por caso, percebi que foi só a minha mania de fugir de tudo e sempre.
Ainda não caiu a ficha de que tudo esteja acontecendo dessa forma, ainda não acredito que tais palavras sejam capazes de sair da sua boca, do seu pensamento. Mas hoje, ao contrário das últimas duas semanas, não acordei com a dor habitual no coração, hoje o que doía era a minha mente, que revivia constantemente a mesma frase "sentir saudade ou arrependimento não é motivo pra procurar alguém ou pra querer alguém de volta".
Nada do que sinto agora: nenhuma das minhas certezas de felicidade caso nossas mão estivesse juntas nesse escuro,  nenhuma justificativa pros meus atos, nenhum medo que eu senti, nenhum querer loucamente mais que a própria vida, nenhuma vontade extravasando por cada extremidade é o suficiente, é motivo, se tornará um porquê. Eu daria a minha cara a tapa, gostaria que soubesse, iria até você pra te ouvir dizer mais uma vez que é tarde, correria o risco de ser ainda e um pouco mais odiada. Mais uma vez, não o faço por você, mais uma vez eu deixo de viver, eu desisto de tentar, por não querer te ferir de novo e ainda mais. Mais uma vez eu sofro calada, choro mostrando sorrisos, caio me reerguendo todos os dias: pra não te fazer sofrer mais uma vez.
Não sou santa, não pretendo ser, te repreendi todas as vezes que você quis me ver assim ou de alguma forma que se aproximasse à perfeição e saber que agora você não me vê mais assim, de alguma forma, me deixa feliz. Saber que agora o esforço sobre-humano que você faz é o pra me esquecer e não mais pra me fazer feliz, me deixa em paz - eu nunca mereci nada do que você sentia e por isso nunca tive o direito de viver você.
Eu queria poder agora gritar, chorar, espernear e odiar o mundo inteiro, calo-me e continuo seguindo, calo-me e continuo fingindo, quem sabe um dia, de tanto acordar e ir dormir dizendo que assim foi melhor, eu não comece a acreditar nisso. É melhor do que alimentar esperanças em vão, melhor do que te fazer querer uma vida que eu nunca vou ser capaz de te dar. É muito melhor ser um homem de pedra.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Reencontro

Não sei dizer exatamente como uma sucessão de emails despretensiosos me trouxeram a porta da sua casa de férias de verão em plena terça feira. Aliás, não sei nem como você pode estar em outra cidade em dia de semana. Vai me dizer que perdeu o emprego de novo? Solto um "oi" seco, agarrado na garganta quando te vejo vindo na minha direção sorrindo, fico tonta quando a sua imagem de agora (barba por fazer, cabelo curto, camisa polo) se confunde com a de oito anos antes (cabelo desgrenhado, bermuda de surfista, sem camisa, havaianas brancas, ausência de barba), nada grave e que eu não tenha sabido disfarçar.
 -vou prender os cachorros, peraí!
- não precisa!
- você não tem medo?
- tinha! - sorrio entrando pro jardim alisando os cachorros, em parte pra demonstrar que superei meu trauma de infância (quando o cachorro que me mordeu morreu atropelado e eu tive que tomar não sei quantas vacinas), em parte porque não sei como te cumprimentar.
 - como você ta? - você pergunta me abraçando sem demonstrar o menor constrangimento por isso.
 - bem - respondo distraidamente enquanto queria dizer "melhor agora". "Nem 5 minutos de conversa e já dou a primeira balançada. Droga!"
Andamos pelo corredor que dá na varanda em silêncio, você anda na minha frente alertando que ta com a panela no fogo e precisa ir ver rápido antes que queime.
- você ta sozinho aqui?
- to.
- cade todo mundo?
- não veio ninguém.
- hum.
- é lasanha da minha mãe, ela mandou pra você.
- e o qual panela ta queimando?
- to fazendo brigadeiro!
- não como massa e muito menos doce durante a semana, mas vou abrir uma exceção.
- nem brigadeiro?
- não.
- nem sua lasanha preferida no mundo?
- nada.
- eu trouxe um chocolate com castanha pra você, nem vou te dar então!
- chocolate com castanha? nem lembrava mais que isso existia! acho que não gosto mais de castanha.
- como isso aconteceu? era o seu preferido.
- era.
- pega os pratos lá dentro, por favor.
- aonde?
- no mesmo lugar de sempre.
Inevitável não me assustar com a realidade que a casa reflete em mim, impossível não sentir saudade antecipada do cheiro da sua sala, gargalhar em pensamento ao lembrar que a gente já transou em todos os móveis, que aquele porta retrato com a foto dos seus pais sorrindo na estante foi um presente de dia dos namorados meu pra eles - o casal mais bonito e apaixonado do mundo depois da gente. Como assim você ainda tem essa camisa?
A lasanha tem o mesmo gosto que eu me lembrava e o brigadeiro é melhor do que eu tinha registrado. Eu tive medo de acabarmos em silêncio, mas não paramos de falar, feito a primeira vez que fomos à praia e eu tive receio de que você desistisse de mim por me achar sem assunto, sempre fico sem graça quando preciso ser interessante sob pressão, o que não aconteceu por sermos dois tarelas disputando quem fala primeiro.
 - você tem alguma coisa pra fazer hoje?
- uma participação numa palestra, à noite. e você?
- te esperar chegar da palestra pra continuar o dia, menina importante.
- e eu posso saber o que você quer fazer que vai precisar desse tempo todo?
Você me beija, sem que eu espere. Eu sempre uso piadinhas pra descontrair, estragar o clima, você sempre usa minhas piadinhas pra se aproveitar de mim, tinha me esquecido.
Sua boca tem um gosto conhecido, embora eu não saiba descrever de que, como se eu tivesse lido alguma coisa em algum lugar e não soubesse onde, como se fosse uma cidade que eu estive a muito tempo atrás e não lembrasse mais de onde fica a praça central, como um filme velho que passa na tevê e eu não lembro da cena que o mocinho tira a mocinha dos braços do vilão no dia do casamento deles. Seu beijo tem gosto de casa, de lar, de sossego. Suas mãos na minha nuca me dão a sensação de algo que eu nem lembrava mais que estava procurando pois já tinha desistido de encontrar, me mostram que existe um lugar no mundo onde eu queira estar. Me desvencilho de você quando o beijo acaba, sem graça.
- linda!
- que foi?
- você continua fazendo a mesma carinha de quando termina de me beijar.
- de onde você tirou isso?
- você sabe que tá vermelha né?
- você e sua habilidade me deixar constrangida.
 - vem aqui, quero te mostrar uma coisa.
- que desculpa esfarrapada pra me levar pro seu quarto!
- como se eu precisasse de desculpa!
- idiota! - gargalho enquanto te sigo pelo corredor segurando sua mão. E só eu e Deus sabemos o quanto estar segurando a sua mão nos dias de hoje significa.
 - olha isso!
- men-ti-ra-! Meus olhos marejam quando você me mostra uma foto minha no álbum da sua família que sua mãe faz desde que você nasceu.
- quero te mostrar isso tem uns 5 anos.
- cadê as fotos das suas outras tantas namoradas?
- só tem sua.
A foto do nosso primeiro mês de namoro, sentados no alto de uma pedra escondida numa praia semi-deserta com cangas cobrindo o corpo e só mostrando o nosso beijo.
- essa foto é indecente.
- é a preferida da minha mãe.
- por que?
- sei lá, acho que foi porque esse dia que te apresentei pra ela.
- nossa! é verdade! o que é esse monte de papel dentro da caixa?
- não sei!
- como não sabe? você não leu?
 - não?!
- você e sua maldita falta de curiosidade irritante! não mudou nada!
- eu não leio coisas que não são minhas, sou educado.
- cala a boca e deixa eu ver!
- você, a moralista, vai ler coisas que não são suas?
- me dá logo! - pego a caixa da sua mão e abro papel por papel.
Choro, agora sem conseguir evitar lágrimas me sentindo a pessoa mais importante do mundo.
- o que é?
- como se você não soubesse.
- juro que não sei.
- por Deus?
- pela minha mãe! juro de dedinho!
- lindo!
 - o que é?
- todos os emails que eu troquei com sua mãe nos dois anos depois que você e eu terminamos, ela imprimiu e guardou...junto com as cartas do seu pai de quando eles namoravam e...olha, uma cartinha sua de aniversário!
- deixa eu ver! nossa, você que me obrigou a escrever isso!
- era dia das mães, ela merecia um presente e não só isso.
- mas eu comprei presente também, você me obrigou a isso também, não lembra?
- lembro! um hidratante e um perfume! como eu era pentelha!
- era?
- era! eu mudei, ta?
- to vendo!
- mudei mesmo.
- mudou quanto? - você me beija de novo.
- o que você ta tentando medir?
- jura que você não faz ideia?
Você me beija novamente e me levanta pela cintura, quase me carregando até o seu quarto. Tinha esquecido o quanto você é alto e forte e me carrega pra lá e pra cá como se eu fosse um peso pena. Tenho vontade de rir no meio do beijo ao lembrar que eu sempre me neguei a fazer qualquer coisa na cama dos seus pais e por isso você tenta me tirar dali.
Você encosta a porta, pela mesma precaução de 9 anos atrás, senta na cama e me faz sentar de frente pra você, me olhando na alma. Tira a blusa polo azul clara que parece uniforme de empresa, desabotoa a calça e se mexe desengonçadamente tentando jogá-la longe dali, me olha esperando eu me despir. Gelo. Só uso um vestido tomara que caia, sem ele fico nua e não sei se devo, ainda. Como sempre, lê meu pensamento e faz o trabalho por mim, beija minhas costas na parte sem roupa enquanto vai levantando o tecido pouco a pouco.
Todas as vezes que nos imaginei aqui novamente, era muito diferente, nunca tinha sentimento, sempre tinha pressa.
 Você continua beijando cada parte do meu corpo e eu continuo sem saber se devo ir adiante com aquilo.



 (continua...)

Perceber.

Acho que a gente percebe que encontrou realmente "o alguém" quando nos damos conta de que apenas ouvir um "alô" do outro lado da linha telefônica te acalma pro resto da vida. O mundo lá fora ta desmoronando, meu coração tá batendo ao contrário e eu acho mesmo que não vou dar conta da minha vida, todo mundo procura a minha cura e você só precisa de um "você tá bem?" ou um "te liguei pra falar que to pensando em você". Depois de você não foram só as dores que cessaram, como as perguntas. Eu parei de questionar o mundo depois que percebi que ele é como é para que você habite nele. Não tenho mais nada com o modo como as coisas são, com os erros dos meus pais, os escândalos da vizinha, tá tudo peixe, porque eu precisei de tudo isso pra te encontrar. Só penso no tamanho da sorte que eu tenho: são 7 bilhões de almas morando em corpos andando pra lá e pra cá em filas de banco, metrôs aglomerados, praias lotadas e eu te encontrei. E não me canso de me achar a pessoa mais feliz do mundo por isso. Não canso de fechar os olhos e te imaginar chegando em casa falando entre sorriso "opa! cheguei hein!" por todos os dias da minha vida. Eu não consigo enjoar de você. Acho que é assim que a gente percebe quando encontrou "o alguém" de todos os nossos dias.

domingo, 6 de maio de 2012

Ainda assim, no fim.

Eu posso ter cem anos, viver cem vidas, amar cem amores, ainda assim, no fim será você. Eu posso morar em diferentes países, em diferentes casas, em diferentes colos, ainda assim, no fim será você. Eu posso conhecer quem eu quiser, fazer qualquer maluquice, interpretar a vida de qualquer forma, será você. Continuará sendo você. Antigamente eu achava que viver você seria não viver mais nada, hoje percebo que viver você é continuar vivendo tudo e ainda assim nos viver. Estarmos juntos ou não, não muda nada, a gente sabe esperar, a gente sabe sonhar. A gente sabe da enorme chance que a vida tem de nos fazer andar por caminhos totalmente opostos e ainda assim acreditamos que no final, os nossos caminhos se encontrarão. Outro dia me perguntaram porque, se nos gostamos tanto como dizemos, não estamos juntos. Eu tentei explicar o porquê e percebi que não consigo. Não por não ter motivos, mas porque estamos juntos, sempre estivemos, desde a primeira vez. Estar junto não é estar de mãos dadas todo fim de semana, dar satisfação, ter um status de relacionamento. Estar juntos é saber que nos temos acima de qualquer coisa, ainda com todos os desvios que temos, ainda que precisemos viver muita coisa até que nossos sorrisos se encontrem diariamente antes de fechar os olhos e dormir abraçados. Ainda assim, no fim, será você.

sábado, 5 de maio de 2012

O que eu quero

Eu quero uma casa pequena com um jardim grande onde a gente vai plantar uma árvore de porte alto que consiga aguentar uma rede pendurada na primeira semana de matrimônio. Uma sala com sofás cinzas confortáveis pra receber nossos pais semanalmente e assistir ao jornal seguido da novela abraçadinho em baixo do edredon diariamente. Quero uma cozinha com mesa grande pra receber os amigos nos almoços de domingo, aliás, são esses amigos que nos farão ter um estoque de colchonete pra espalhar pela sala em noites de feriados prolongados quando vierem nos visitar numa cidade diferente a cada 3 ou 4 anos. Quero um quarto com cheiro de sono e de amor, um recanto onde eu possa me sentir segura, onde eu possa me sentir mais eu, onde eu deite procurando seus ombros largos pra recostar tendo a convicção de que assim tudo estaria em seu lugar. Eu quero mais que planos, mais que sonhos. Quero estender uma canga no jardim numa madrugada de sexta feira e deitar com você ao lado e um filho no ventre enquanto decidimos com que idade nosso herdeiro vai largar a chupeta, aprender a andar de bicicleta sem rodinha, o que faremos com a primeira nota vermelha, a primeira namorada, a primeira decepção, o primeiro porre. É por essa vida que eu sou capaz de largar tudo, é almejando esses dias que percebo que o fato de mudar de casa, de cidade, de Universo não é nada se pudermos estar juntos. Ontem à noite, antes de dormir, fiquei pensando que talvez esse mundo possa ser o inferno de outro planeta e a gente nunca se dê conta. Hoje pela manhã eu vi que não, não dá pra considerar inferno um lugar onde tem você sorrindo.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

...

Te encontrei no mercado outro dia, empurrou meu carrinho enquanto eu olhava os iogurtes distraidamente e só me dei conta de que minhas compras estavam quase do outro lado do mercado. Impossível não me remeter a um passado não muito remoto, onde acordávamos domingo 3 horas da tarde pra ir ao mesmo mercado comprar ingredientes pro preparo do nosso almiço e pão pra sua mãe tomar o café da tarde. Impossível não lembrar das noites viradas jogando conversas no teto do quarto deitados agarrados, feito filme de romance americano. Você mudou o meu ar, a minha vida, o meu rumo. Você me transformou em alguém totalmente diferente, mais madura, mais mulher. Você foi o meu melhor, e muitas vezes único, amigo. E mesmo que ultimamente a gente só se veja esporadicamente em mercados, filas de banco e ônibus lotados, eu sempre vou lembrar de você como quem me ensinou a viver de uma maneira muito mais leve.

eu acredito.

"Não é possível mergulhar nas águas do mesmo rio duas vezes": essa é a frase do nosso relacionamento (se é que podemos chamar o que temos assim). Aguardamos por cada reencontro esperando ser tomados por tudo que sempre sentimos, impossível, não enxergamos que somos um acúmulo de tudo que vivemos por mais óbvio que isso possa parecer. E a cada vez que tu me deixas esperando e não vens, soma-se tanto quanto ao sorriso que me arrancas colocando-me à frente dos seus traumas e dores; e poderíamos assim nos dizer pesados demais para nos carregarmos, mas eu nos sinto tão leves quando trocamos vozes e palpitações que decido concordar com o destino, que nunca nos permite permanência, mesmo não acreditando em destino. Decido acreditar na coincidência que nos leva ao encontro ainda que este esteja longe de ser iminente mesmo duvidando da coincidência. Em que eu acredito? Na força da vida, na lei de atração do Universo, em deixar rolar sempre, em nunca poder viver a mesma experiência de maneira igual, eu acredito na gente.