segunda-feira, 21 de maio de 2012

Reencontro (continuação)


(continuando...)


Você continua beijando cada parte do meu corpo e eu continuo sem saber se devo ir adiante com aquilo.      
Sinto-me uma menina de 16 anos com as mesmas dúvidas, sem toda a segurança que aprendi em todos esses anos de graduação, mestrado, artigos e mais de dez outros amores. Você escorrega minha calcinha pra de baixo do seu travesseiro, como antes, pra eu não reclamar que calcinha no chão pode dar doença e eu, como sempre, não faço ideia de onde joguei sua cueca box branca.  T e olho, agora era a hora de dizer “eu te amo” antigamente - pra evitar romantismo durante o que tende a se tornar carnal demais - silenciamos. Você entra em mim sem falar nada e eu me dou conta de que por mais que eu tente mostrar o quão diferentes estamos, somos os mesmos. Os mesmos adolescentes a fim de experimentar o corpo do outro ao extremo, os mesmos adolescentes apaixonados com vontade de chorar durante o coito, os mesmos adolescentes brincando de kama-sutra, os mesmos adolescentes que se abraçam forte quase tirando o ar enquanto um sussurra no ouvido do outro “vamos gozar juntos! (...)Agora?”, os mesmos adolescentes que deitam lado a lado em silêncio e enquanto você faz carinho nas minhas costas eu te faço cafuné até adormecermos pelados no frio de maio. A diferença é que agora nosso maior medo não é que sua mãe chegue e nos pegue no flagra, mas de abrir os olhos e admitir que nunca deveríamos ter saído dali, daquela cama, daqueles dias, daquela vida.
                Por isso, mantenho as pálpebras cerradas o máximo de tempo que posso, quando abro os olhos te vejo de relance levantando pra ir ao banheiro, sorrio sem conseguir me localizar direito no tempo admirando sua covinha no quadril, ao lado da bunda, que você diz ter conseguido como efeito colateral da musculação, embora eu sempre tenha dito que isso é genético, enquanto você volta pro quarto.
                - preciso ir.
                - precisa nada.
                - sério.
                - para com esses pensamentos neuróticos.
                - você não sabe o que eu to pensando.
                - claro que eu sei. Ta pensando que não sabe se o que fizemos foi certo, que foi diferente do que você imaginou, que não sabe como agir agora e por medo de estragar tudo, prefere inventar uma desculpa e ir embora.
                - te odeio.
                - te conheço. Bem até demais!
                - continuo te odiando.
                - você tá muito melhor do que quando namorávamos.
                - quando a gente namorava era ruim então?
                - claro que não, era ótimo, mas a gente não tinha com o que comparar, fomos o primeiro um do outro, lembra?
                - verdade.
                - você melhorou muito.
                - to ressentida por ter dito isso, mas concordo com você.
                - eu melhorei também?
                - não, eu melhorei muito.
                - engraçadinha!
                - é sério ué! Não tenho mais vergonhas ou inseguranças.
                - desde quando você tem isso?
                - você pode deixar de ser idiota uma vez na vida?
                - ué, você não lembra que a gente lia revistas sobre sexo e você quase chorava porque era liberal demais e não tinha as mesmas neuras das mulheres até mais velhas que você?
                - eu era patética.
                - a gente era.
                - to com frio.
                - vou pegar o resto do brigadeiro e já volto.
                - vou virar uma bola, assim.
                - você ta mesmo precisando dar uma engordadinha.
                - você critica a vida inteira meu corpo me mandando ser magra e agora mete essa?
                - eu nunca critiquei seu corpo, você que sempre foi neurótica com isso.
                - mentira!
                - verdade! Você tinha uma gordurinha aqui e outra ali, mas eu me amarrava, você que queria perder.
                - não vou te relembrar o que você dizia pra não estragar o momento.
                - acho bom, não quero que nada estrague esse agora.
                - e depois, como vai ser?
Você senta do meu lado na cama, sorri com covinhas e prevê com a mesma tranquilidade de moleque de 19 anos:
                - deixa o depois pra gente pensar depois.
Embora eu saiba que daqui a 4 horas eu vou tomar banho com você, vestir a mesma roupa jogada pelo chão do quarto, entrar no carro e ficar mais 8 anos sem pôr os olhos em você.

Você me liga no dia seguinte me chamando pra um cinema e eu reluto dizendo que o reencontro foi ótimo, mas é melhor continuar nos deixando na lembrança pra não estragar tudo. De modo que eu não faço ideia de como vou parar no seu apartamento cheirando a novo, a 3 horas da nossa cidade natal e a 15 minutos do shopping com cinema que acabei de conhecer, com sua camisa velha que fui obrigada a vestir depois de chegar em casa encharcada do temporal que só pode ter caído por eu ter aceitado ver filme de guerra sem reclamar.



(continua, talvez...)

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