sábado, 31 de dezembro de 2011

2011/2012.

Como todo último dia do ano, teve praia e sol por aqui e como em todas as últimas hora pra chegada de um novo ano, teve retrospectiva emocional aqui dentro. Fiquei me perguntando o porquê de ver tanta gente odiando um ano inteiro, desejando seu fim e não entendo, não entendo como em 12 meses alguém pode ter perdido a chance de ser feliz, essa que vem todos os dias com o nascer do sol e a gente escolhe se aproveita ou não e foi assim que eu descobri qual foi o meu maior aprendizado dos últimos 365 dias. Reaprender a sentir foi muito válido, percebi que ser racional e sentir com a mente sempre não faz bem pra alma. Aprender a esperar, a aceitar, a compreender não foi nenhuma desvantagem pra convivência, principalmente quando apreendi que compreensão é se colocar no lugar do outro e pensar nas atitudes advindas de nós tendo a mesma vida, a mesma história, a mesma família. Ouvir, pensar e só depois falar pode ser quase eleito a principal característica marcante na vida que eu decidia levar. E acreditar no poder do que não posso controlar, no emaranhado que a nossa vida faz com a de cada um que a atravessa e na atração que exercemos sobre as pessoas tal qual nossos iguais exercem em nós, foi a melhor crença que eu poderia desenvolver. Mas nada, nada disso seria possível caso não tivesse entendido que tudo tem seu tempo certo, caso não tivesse entendido que o tempo certo do que queremos é de acordo com as escolhas que fazemos. Eu aprendi assim que poderia ficar sentada reclamando ou correr sem prestar real atenção buscando algo que eu nem sei o quê, a escolha seria minha, mas o tempo não seria o mesmo. A felicidade que tanto buscamos a cada dia, é uma escolha, por maior clichê que possa parecer, só eu posso escolher manter a mente elevada e o corpo de pé diante das derrotas, só eu posso decidir fazer o dia melhor quando me proporcionam 24horas de fundo do poço, só eu posso escolher pensar na melhor reação diante dos tremores, só eu posso escolher dar uma valor absurdo a dias tranquilos e pensamentos positivos, só eu posso escolher ser uma pessoa melhor mesmo com tanta gente que ainda não despertou pro verdadeiro sentido de viver passando pelo meu caminho. E foi assim, por escolha, que eu elegi 2011 o melhor ano de toda uma vida. E pra 2012, eu escolho mudar de ideia, perceber que 2011 foi só ensaio, que os próximos 365 dias foram ainda melhores.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

30 de dezembro de 2028 - Redenção

Acordo com um chute na barriga como todos os dias nos últimos 7 meses. O terceiro filho que cresce no meu ventre faz questão de me acordar todos os dias na mesma hora, talvez por fome, talvez pra me lembrar que o direito de dormir o quanto quiser me foi revogado a quase 6 anos. É cedo, nem 7 da manhã e me contento por lembrar da folga de fim de ano que consegui pra poder viajar com as crianças, saio de fininho do meio dos edredons por não ser a única dormindo e quase levo a cama nas costas. Bagunço o cabelo encaracolado do primogênito e acaricio as costas da minha menininha, avisando a hora de acordar e, ao contrário do contrasenso de sempre, sorriem me perguntando se já coloquei as formas de estrela do mar pra brincarem na areia na mochila de camping que cada um tem, mesmo com tão pouca idade.
Vou pra cozinha preparar o café da manhã e me dou por feliz: mais um ano consegui tudo que quis. A gravidez pesa meu corpo e isso me deixa desconfortavelmente alegre. As crianças colocam verde no prato diariamente sem que eu precise me descabelar pra isso, temos um jardim com girassóis e um pé de amora no quintal. Um cachorro amarelo como os meus olhos, segundo a minha caçula. Uma casa simples e confortável pra onde meus herdeiros podem voltar de suas escolas com pedagogia Waldorf e eu, do meu emprego nas clínicas que tanto sonhei. Viajamos duas vezes por ano, acampamos mensalmente e vejo pôr do sol no mar duas vezes por semana enquanto espero e assisto às aulas de natação infantil na praia. Tenho uma estante de livros enorme na sala e me orgulho por ver meu exemplo seguido com livros de contos de fada, por maior questão que eu faça de explicar a eles que o final nem sempre é feliz. Recebo abraços ao acordar e juras de amor antes de dormir. Mensagens transbordando afeto durante o dia me são comuns assim como sorrisos que vejo nas fotografias espalhadas pela casa. A consciência religiosa da minha família é alta, sem sermos beata, na medida. Respiro fundo tomada pela certeza de felicidade que vem das pequenas coisas e volto pra cama pelo corredor conferindo se as crianças acordaram.
Procurando certidões de nascimento pra viagem, encontro uma foto sua 3x4 que roubei na sua carteira a quase 10 anos atrás. Tem quase 3 anos da última vez que te vi, na fila do banco em uma cidade de praia que eu jamais esperei te encontrar. Confesso que fiquei balançada. Confesso que me segurei nas mãozinhas gordinhas entrelaçadas na minha e tirei força delas. Mas foi mais tranqüilo do que imaginei, superei você com a vida dos meus sonhos. Não vou dizer que não penso mais em você, não vou dizer que quando te vi de mãos dadas com seu filhinho, a cara da criança que eu sonhei, não balancei, tampouco que não quis te abraçar e fazer o tempo parar, feito anos atrás quando nos despedíamos na rodoviária da cidades pra onde você se mudava esporadicamente. É bom sentir que a saudade não mais assola meu peito, é bom voltar pra casa sabendo que alguém me espera, que não vou precisar mudar minha vida inteira daqui a seis meses, que a angústia no meu peito não é grande ao ponto de fazer meu coração doer diariamente. Ontem antes de deitar vi suas atualizações em uma rede social, fotos da sua família com seus pais no Natal e sorri saudosamente lembrando de todo mundo que jurou que eu estaria ali nos dias de hoje, sorri lembrando das últimas noticias suas que me deram contando da sua merecida realização profissional que tanto me fazia temer o futuro que achei que teríamos. Mas é ano novo e prefiro não pensar nisso, em você, no que eu quis, no que não quisemos e lembrar apenas dos motivos que me fizeram ir embora de vez, é neles que me apego. É ano novo e meus filhos me esperam pra viajar. É ano novo e, pensando bem, a gente seria bom juntos, mas somos melhores separados, ouvi dizer que muito amor estraga qualquer casamento. É ano novo e as mochilas estão prontas, as barracas no carro e o camping reservado. É ano novo de uma vida inteira sem a gente pela frente.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Encontro.

Era pra ser só um encontro. Um desses muitos que você costuma ter. Sim, muitos e disso eu tenho plena convicção. Você é um homem de muitas mulheres, não sabe o que quer, eu sei. A gente não contava com a sorte do nosso azar. A gente não contava com as diversas maneiras que o sentimento pode surgir, a gente não vê quando o amor acontece e por isso não sabe como acontece. Mas sem isso de amor logo agora que está tudo dando certo. Logo agora que tivemos química, conversa e música boa pra embalar nossos amassos. Não olha agora que se você me pegar te olhando pode colocar tudo a perder, não olha agora pras nossas semelhanças, pros nossos segredos, pros nossos casos comuns. Me deixa aqui sendo só mais um dos seus muitos encontros enquanto você passa a noite pensando em mim. Me deixa aqui sendo só mais uma enquanto você passa o dia me procurando. Me deixa entrar na sua vida sem que a gente perceba, porque perceber é possibilidade de fuga. Unha feita, vestido comprado, cabelo preso, lingerie de renda, salto, delineador, batom, arranhões, nudez, cabe;o bagunçado, descalça, maquiagem borrada, batom manchado. Me deixa aqui no que era pra ser só mais um encontro.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Evito dormir justamente porque é no sonho que te encontro
Que me mostro, que te vejo
É no sonho que somos um
O avesso do que planejo
Se só fecho os olhos por falta de opção
É na vontade que meu coração não burle o meu cérebro
E volte a te querer, te dormir, te encontrar, te sonhar.

Redenção

Não vá dizer meu nome se acaso ela te ligar na hora que você costuma dormir só pra desejar que você tenha bons sonhos e se ela te olhar atentamente e pedir que você conte alguma coisa sobre você como se fosse o assunto mais importante do mundo como eu fazia, "cuidado também. Não vá pôr tudo a perder, bem agora que encontrou uma menina direita, capaz de oferecer o paraíso".
Não vá dizer meu nome se ela também fizer piada com tudo que você fala. Se ela insistir em te encher de cuidados enquanto você tenta dizer que não precisa deles ou decidir ficar acordada vigiando seu sono durante uma crise alérgica caso você piore feito eu fazia sem que você soubesse, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome se ela imitar meu despertar pra te mandar mensagem no celular de madrugada quando souber que você tem que, contrariadamente, acordar cedo demais. Se ela ouvir suas reclamações pacientemente ou imitar suas gírias e trejeitos pra te fazer rir esquecendo as preocupações, por favor, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome se ela procurar seu abraço durante a noite ou se te acordar beijando suas costas acreditando que a cabeça dela nasceu pra recostar ali feito a minha certeza. Caso ela perca horas analisando seus pêlos loiros, curvas, sabores e expressões e ainda, se você perceber que ela, como eu, perde toda a vergonhas, todos os receios, todos os medos quando seu corpo adentra o dela, não vá dizer meu nome. Mesmo que ela confesse que você é o cara por quem ela mais sentiu tesão na vida ou que certas coisas ela só faz com você, coisa que eu nunca tive coragem de dizer, não se confunda, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome caso ela, ao invés de dar chilique, te chame num canto e diga que, embora não goste de alguma atitude sua entende que é seu jeito, se ela tiver assunto e paciência pra virar a madrugada conversando e assistindo vídeos idiotas na internet sem roupa, olha lá! Se ela discutir o mesmo assunto contigo um milhão de vezes e sempre encontrar novos argumentos pra rebater seus novos conceitos, se deitar no seu peito sorrindo dizendo que não aguenta mais conversar sobre isso e cinco minutos depois recomeçar a falar, não vá dizer meu nome.
Não vá dizer meu nome se ela também acreditar em tudo que você diz, se ela te pedir que fique mais um pouco, que desenhe mais um tempinho o corpo dela com a sua língua. Se ela resolver esperar meses por um abraço teu ignorando qualquer marmanjo que insiste em ligar ou ir até a sua casa pedir uma chance enquanto você nem sonha com essa possibilidade, não vá dizer meu nome, presta atenção!
Não vá dizer meu nome se ela confessar saudade ainda quando estão juntos, se ela começar a escrever diariamente sobre você como maneira de te guardar pra sempre, se tentar te fazer entender que você pode ir e viver qualquer coisa assim como ela, justamente por ter certeza que os caminhos de vocês vão sempre se cruzar por mais surreal que você ache que isso é, "faça qualquer coisa". Tente recordar um funk que te façar gargalhar, "morda o lábio forte, planeje o dia de amanhã, futuque uma pereba, feche os olhos e tape os ouvidos e grite "lá,lá,lá" ou tente me esquecer. Só não vá dizer meu nome.


(Baseado no texto "Não vá dizer meu nome" do lindo do Gabito Nunes).

domingo, 25 de dezembro de 2011

Diz! ...

Diz mais uma vez que não sente minha falta, que não sente falta do meu beijo, do meu calor, das minhas idiotices. Diz que não lembra saudosamente das minhas encrencas, da minha cabeça fria, da minha falta de cobrança, dos problemas que eu criava pra mim e você adorava resolver. Diz então que não lembra mais do nosso sexo, que sempre soube que não ia dar certo, que não me quer mais, que na verdade, nunca me quis. Diz! Mas diz olhando nos meus olhos! Diz e dessa vez tenta ao menos se convencer disso, porque do jeito que sua respiração muda quando eu estou por perto não ta dando nem pra convencer você.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal.

Eu não quero confessar que desfiz de toda superioridade, de cada certeza essa noite. Todo dia 25 de dezembro me lembra você. Pensei no quanto eu sou feliz hoje: mais mulher, mais madura, mais espontânea, mais confiante e percebi que você não cabe mais na minha vida. Entretanto, se é assim, pergunto-me porque você ainda cabe no meu coração, nos meus dedos, nas minhas cores. Eu não queria te ter durante o amigo secreto da família, tampouco na minha casa enquanto o sono invade minhas pálpebras e bocejos, eu não queria querer estar em qualquer outro lugar desde que fosse com você, passar a noite em claro onde só nossas bocas pudessem habitar, eu queria poder dizer que essa noite sem você foi um alívio, que eu sorri, contei histórias, impliquei com a caçula da família e ouvi os sábios conselhos da matriarca sem que seu rosto passasse sequer pela minha mente. Eu queria acreditar que é mais válido gastar dinheiro com o meu bem-estar do que com o aparelho eletrônico que você estava querendo a um tempão, e que me esparramar na minha cama a noite inteira é muito melhor do que te aturar roubando meu travesseiro durante a madrugada. Eu não queria sentir os sentimentos embolados no peito a cada minuto que passa a partir da meia noite, eu não queria acreditar que o amor existe, acho que o Natal faz essas coisas com a gente, faz o sentimento ser superior à razão, acho que o Natal nos faz desarmar, nos entregar e mesmo assim eu não queria a companhia do seu olhar no meu hoje.

Redenção - Noite Feliz

Querido papai Noel, com certeza eu posso dizer que esse ano eu me comportei bem, tentei ser uma menina sensata e só cultivar sentimentos bons. Sei que a situação financeira mundial não tá fácil pra ninguém, mas o que eu quero também não vai precisar lá de grandes quantidades de dinheiro: tem um loirinho, um que tinha barbicha e surfava nas praias do Rio, mas que agora decidiu vestir roupa camuflada e se mudar pro caos de São Paulo, não sei se você ta lembrando...Ele é um chatinho, implicante que faz de tudo pra ser o mais racional possível embora você e eu saibamos que ele tem um coração enorme. Ainda não? Ele anda arrastando os pés quando fica com vergonha, dorme na posição de um bebê, sabe todos as músicas de sertanejo e consegue ter assunto intelectual, é independente, mas sabe pedir carinho e atenção, demora um século e meio pra comer o que qualquer um comeria em 20 minutos, reclama mais que o senhor com seus tantos anos de história (só que reclamação dele é apenas combustível pra encontrar soluções) mas quando sorri, é de verdade esquecendo qualquer problema e me fazendo esquecer dos seus defeitos, tem os olhos claros feito a própria alma, não consegue ficar quieto, mas compartilha silêncios sem constrangimentos. Agora sabe? Então, sabe o coração enorme que eu te falei, eu só queria um espacinho nele mesmo que pequeno (e notável), eu só queria ele de Natal! Umas três horinhas com ele, muitos beijos, uns abraços apertados, algumas discussões sem cabimento pra renovar minha alma, pra fazer valer meu dia. Eu sei que fui uma boa menina, eu sei que eu mereço sorrir plenamente mais uma vez esse ano.
– Com amor.


(folgo em dizer que depois da realização dessa carta, eu voltei a acreditar em Papai Noel)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Redenção

Eu não consegui parar de sorrir quando descobri que você vinha mesmo, gargalhei sozinha na sala enquanto via Jornal Nacional, como aquela vez que você me disse que já estava morrendo de saudade duas horas depois de ter saído do fim de semana aqui em casa. Se existe definição pra paixão, deve ser isso. Ou isso ou as vezes que eu fico acordada de madrugada te olhando dormir e vigiando sua respiração durante uma crise alérgica que te faz dormir feito pedra ao meu lado. Eu não procuro sentir, eu só sinto, sem pensar, porque se eu for pensar no tamanho da distância, no tamanho da minha raiva pelo que sinto, no tamanho da dor de cabeça que as nossas discussões me dão. Eu sinto. E esse sentir faz o meu coração disparar a cada vez que ouço sua voz, principalmente quando estou prestes a ouví-la no meiu ouvindo no meio do nosso abraço.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Redenção

Tenho um montante completo de coisas pra te dizer e me calo. Parece que qualquer coisa que eu diga vai soar idiota, ou como cobrança, ou entendiante. Irrito-me, não éramos assim. E no instante em que penso isso, calo meus pensamentos: mudamos. Mudamos e não há nada a ser feito. Pode ser dentro da minha cabeça que tudo deixou de ser como antes, ou quem sabe, só na minha cabeça existia alguma coisa antes. Não sei, prefiro viver de lembranças a acreditar que tudo se esvaiu por entre meus dedos. Ou não. Talvez quando eu acordar eu decida viver o futuro que vem pela frente e esquecer os pêlos loiros do seu braço em volta do meu pescoço, eu espero. Eu espero que no final tudo dê certo, embora eu ainda não saiba o que é dar certo: se é passar o resto dos meus fins de semana pensando no quanto eu queria a minha respiração ao lado da sua ou os nossos olhares tão distantes, tão opostos, que nunca mais se encontrem.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ilusão

Não vem com esse ar de que vai me convencer. Não vai. Eu não sou esse tipo de mulher que se entrega. Eu sei, eu to mesmo apaixonada e aí? Eu penso mesmo em você o tempo todo, vai fazer o que? Nada, você não vai fazer nada, porque estar apaixonada não quer dizer que eu vá me entregar, borboletas no estômago não é sinônimo de amor. Eu acho bonito, no fundo, tenho até inveja dessa gente q se ama e se tem e se cuida. Mas não funciona pra mim, não! Eu gosto do estrago, eu gosto do livre ir e vir, do pecado, do excesso. Eu não nasci pra isso de amor. De ligar toda noite, mandar mensagem, se preocupar, convidar pra estar no mesmo ambiente que os meus amigos. NÃAAO (eu grito mentalmente)! Isso não vai a lugar nenhum! Ele não é o amor da sua vida, ela não acredita em metade das coisas que ela fala. Ele não vai querer trocar a vida social dele por noites de filme com você pra sempre e daqui a um tempo você vai se questionar por que diacho está se fadando a fazer sexo com um único homem o resto da vida. Eu garanto. Pra sempre só existe nos filmes e nos livros, quando existem. Não se iludam! Ou até se iludam! No fim, eu tenho até um pouco de inveja.

Melhor

Fazia tempo que não nos víamos: o meu melhor amigo e eu. E dessa vez não foi pelo ciúme que as namoradas dele insistem em ter de mim ou por alguma discussão besta, foi mesmo pelos rumos que a vida nos dá. Outro dia, a gente combinou de fazer alguma coisa diferente numa cidade aqui do lado, eu, por saudade, ele, por insistência. Claro que eu não consegui acordar com o despertador e claro que ele teve que me ligar dando bronca por eu ainda estar dormindo mesmo ele vindo me buscar. Fiquei emburrada pela demora de praxe dele até ouvir a sua voz na sala conversando com a minha mãe e rindo de mim. Como todos os dias, “falamos algumas besteiras de quem se conhece demais”, mas decidimos conversar como a gente grande que agora dizemos ser. Não dá pra brigar por muito tempo mesmo, só o que dá pra fazer é sentar ao seu lado e contar sobre toda a verdade que sinto e começar a ver o mundo de tantas outras formas a cada nova palavra. Ao lado dele, eu sempre sinto o coração calmo e “um sono de sofá com manta” tamanha tranqüilidade. Eu não preciso fingir, ele é o único homem no mundo pra quem eu posso falar de tudo que eu penso, com quem eu posso ser eu mesma o tempo todo: ele sabe do que sou capaz, pro bem e pro mal.
A gente ri e sorri , se olha, se cuida e se sabe, nada além disso como costumam dizer. Já tivemos aquela fase de confundir amizade com paixão e de ter vontades inesperadas de “quem se ama prematuramente, mas evoluímos pra esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala "ah, enjoei, ela era meio sem assunto". Ele também ri quando eu digo "ah, ele não entendeu nada" e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai, mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia, são quase dezoito anos. Somos pra sempre”. Eu conto pra ele de tudo que eu ainda quero ser e ele me mostra tudo que eu já sou, ele acha que já sabe tudo sobre a vida e eu sempre insisto em mostrar quem ninguém sabe de nada. Sempre damos um jeito de nos surpreender, mesmo com o silêncio, que quando é compartilhado, nunca é constrangedor, sabemos respeitar a razão, a emoção e o sentir do outro.
São dezoito anos. Foi pra ele quem eu contei do meu primeiro amor, com ele que eu desci as escadas de uma instituição religiosa de bunda, com ele que assisti aula em baixo da mesa, foi ele que implicou com meu aparelho nos dentes enquanto eu reclamava do excesso de gel no cabelo dele. Foi ele que tocou uma música no violão pra mim pela primeira vez, foi pra ele que escrevi meu primeiro texto. Foi com ele que eu chorei meu primeiro grande tombo (o de verdade e o psicológico), foi ele que eu fiz questão que aprovasse meus namorados e que estivesse sempre comigo, foi ele que me disse tantos nãos e me contrariou tanto e me fez crescer tanto. São dezoito anos e ele continua tendo paciência quando eu chego falando “fiz besteira”, continua me ligando pra contar como foi o dia, continua do meu lado mesmo morando do outro lado do país. Ele já cantou pra eu dormir enquanto eu tinha medo e eu já perdi uma festa pra falar com ele no telefone quando ele tava mal. Ele me emprestou o coração dele quando o meu tava quebrado e eu emprestei o meu colo quando ele não tinha mais forças. E ele me diz que ainda acredita que o amor de verdade vai bater na porta dele enquanto eu reclamo que não consigo nem andar de mão dada com o cara que eu gosto na rua e por isso eu sofro. E de sofrer assim, me dou conta que meu melhor amigo é meu único amor. “O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo”. E ele vai comigo nas festas da minha turma de faculdade e “todos meus amigos novos morrem de rir porque ele é naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados” por sabermos que não importa o que aconteça, a gente sempre tem pra onde voltar, sempre sorrimos aliviados por saber que alguém no mundo acha graça da mesma idiotice, ou faz a mesma dancinha ridícula, ou o mesmo comentário idiota. E ele é o meu maior presente a cada nova fase, a cada novo ano, a cada nova vida, ele é o meu maior presente. São dezoito anos, somos pra sempre.


texto adaptado de "o amor" - Tati Bernardi (http://www.tatibernardi.com.br/blog/post.jsp?idPost=51)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Prêmio de consolação

Eu te disse que tudo bem isso de amar pela metade se eu pudesse te ter sempre. Você, ao invés de ser O cara, preferiu ser o meu prêmio de consolação por me apaixonar mais uma vez pela pessoa errada, é incrível como, mesmo querendo ganhar sempre, na minha vida, você sempre sai como perdedor. Você poderia ter o melhor de mim, todo o meu amor, toda a minha admiração, todo o encanto dos meus sorrisos ao observar sua mania de arrastar os pés enquanto anda da cama até o banheiro feito criança. Ao invés disso, prefere que o poço mágico onde o meu sentimento caiu, seja envolto de indiferença.
Dizem que mulher, quando foge, quer ser perseguida, verdade, exceto quando fujo dos seus dedos na minha perna, ali é quando fujo querendo tirar de mim cada parte que ainda passa o dia pensando em você o que acredita que no fim, tudo vai dar em nós. Não vai.
Eu decidi hoje como quem decide com que roupa vai a um almoço de família, rápido e indolor, eu não quero me afogar sozinha, eu não quero ficar imersa em um sentimento tão doce, mas que vai me matar. Eu não quero me afogar mesmo que seja com você. Prefiro ficar com as pernas em volta da sua cintura no ir e vir das ondas pensando em uma maneira de nadar até a areia (firme e sólida) sem me arrepender, mergulhar não, me afogar não.
Você pode escolher ser o meu prêmio de consolação, mas eu não quero ser o seu, mais ou menos não me convence, não me faz suspirar, não me deixa mais leve, não me traz tormento e tampouco paz. Mais ou menos não faz minha cabeça, só enrola o meu coração. Eu não quero me afogar por um amor pela metade, mesmo que seja com você.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Amores da vida

Confesso que tive alguns amores. É, não foram poucos. Acontece que eu sinto muito e escondo pouco, logo, o fim é sempre iminente. Não reclamo. Essa foi uma das piores semanas da minha consciência amorosa e confesso: eu agradeço. Fico pensando que poderia estar em mil lugares diferentes, vivendo mil vidas diferentes da minha caso o que tivesse dado certo desse errado ou vice-versa, não deu. Não deu e hoje eu percebo que a vida que eu tenho é a que eu sempre quis ter: liberdade de ir e vir, história pra contar e um amo quentinho guardado no peito que pode explodir ou, quem sabe, acabar, a qualquer momento. E me orgulho. Orgulho-me por saber que eu fui capaz de mudar cada vida que me atravessou e que carrego comigo cada detalhe que cada um mudou em mim. Sim, porque pra ser considerado "um amor da minha vida", tem que ter me acrescentado alguma coisa. E não importa se essa coisa é aprender a andar de bicicleta na direção dos carros e não contra eles ou a quantidade de pensamento que temos que ter antes de falar, só importa que acrescente. Porque eu sempre tentei acrescentar.
Outro dia me perguntaram porque eu não me prendo e respondi que ainda não achei uma pessoa que me faça querer ser só dela pra sempre, sem olhar pro lado. Não é uma crítica, é uma constatação, que ainda espero e aproveito enquanto não vem. Eu sei do tanto de amor que meu nome exala e do tanto de amor que eu preciso e me faço satisfeita pelo que já conquistei ou estou conquistando e, mais que isso, a cada novo passo que os amores da minha vida vem me ensinando.

Rastros

E eu vou abominar cada noite ao teu lado, cada beijo, cada toque. Vou me odiar por ter amado tanto, dedicado tanto, me importado tanto. Vou correr pro mar e tentar apagar toda promessa que eu te fiz, tudo que eu acreditei que fôssemos capazes de viver. Hoje eu vejo, e vejo claramente, o quão enganada eu estava, o quanto você nunca foi o que eu desejei e o quão idiota eu fui pela idealização que eu fiz. Amanhã, quando eu acordar, eu juro, não haverá rastros seus pelo meu corpo, pelo meu rosto, pela minha vida.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Entre.

Minha pele tem seu cheiro, minha língua tem seu gosto, meu corpo, o teu contorno. Clamo pelo nosso enlace dia e noite, é o único momento em que te capto, te rapto. É o único momento em que não preciso juntar palavras, deduzia significados, implorar gestos. É só quando eu te vejo de verdade. Não, não é só sexo, eu sei diferenciar. Não tem a frieza do cópula egoísta, é repleto de arrepios e desvios que só é comum ao amor. Cantei um dia desses, "deixa eu entrar eu entrar em você, seus medos posso curar", mas tu é homem difícil, impossível de traduzir, de se deixar sentir. Te viro pra que eu posso olhar dentro do teu olho, feito a gente viu no filme outro dia, deslizo minha mão chegando ao ponto exato do seu prazer feito você me ensinou quando éramos só amigos. É nesse auge que tudo se mistura, que saio de mim pra entrar em você enquanto você habita o meu ser, é nesse auge que eu desejo parar, pra nunca mais te ver me dizendo adeus, indo embora do meu cheiro, da minha língua, do meu corpo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amor demais.

Saio de cara amarrada de casa e fecho a porta da cozinha nos seus gritos e insultos antes que eles se tornem irreversíveis. Acendo meu cigarro e chuto pedrinhas enquanto ando sem rumo pela cidade fria e ensolarada. Planejei cada detalhe do dia de hoje, depois de semanas viajando e procurando suas bochechas rosadas em porta-retratos de madeira em lojas de artesanato ou nas suas fotografias 3x4 na minha carteira, finalmente pude tocá-las. Chegar aonde você é nunca foi tão ruim. No começo eu achei que era saudade, que nossas bocas, por demorarem a se encontrar, tivessem que reencontrar o ritmo, que nossos corpos fossem se esquentando conforme a temperatura subisse e as nossas roupas caíssem pelo chão do seu apartamento. Não. Procurei pelo erro em sua face, em minha roupa, não encontrei. Às vezes eu queria que você fosse mais clara, que entendesse que apesar de eu ter me apaixonado pelo seu ar misterioso, eu preciso de um feed-back pra me manter de pé. Eu só quero chegar ao ponto, ao orgasmo sexual e sentimental, processual, e você insiste que eu adivinhe, faça das suas inseguranças, mingau de avó que a gente come pelas beiradas até chegar ao meio por medo de queimar a língua. Já começo a imaginar se você enjoou da minha mania de te acordar me prostrando em cima de você e te dando tanto carinho que te deixe em dúvida se acorda pra nos amarmos ou se volta a dormir embalada por meus dedos em suas costas, ou se o zelo por você que me faz enviar sms avisando que cheguei bem em casa depois do nosso encontro tenha começado a te sufocar. Não sei. Há frieza no modo como nossos corpos se encontram, como nossas almas se entrelaçam, há frieza nos "eu te amo" urrados ou sussurrados, gela meu sorriso.
Sigo chutando pedrinha deixando que este ato trilhe meu caminho. Minha vontade maior é voltar, entrar pela porta da sala e te abraçar enquanto você está desprevenida chorando encostada no balcão reclamando de mim pra uma amiga pelo telefone, te abraçar bem forte, de modo quer você não alcance mais o chão enquanto clama pelo ar que meu abraço te rouba. Não faço isso. Ouço sua voz reclamando dentro da minha mente "você nunca toma a iniciativa de nada, to cansada de ser o homem aqui" e não consigo não sorrir pela forma como o seu cenho franze e o seu pescoço roseia enquanto o diz. Meu erro talvez tenha sido esse: te amar demais. Assim vejo a beleza de cada momento, de cada erro, de cada deslize, vejo a beleza de olhar pra trás e te ver, também chorando, de braços abertos implorando que eu esqueça tudo volte pro seu abraço.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Escrevo 2

Escrevo pra sobreviver, as palavras são a minha vida. Só que só escrevo bem quando to apaixonada, deve ser por isso que eu vivo me apaixonando e desapaixonando tão depressa. Sem paixão não há dilema, não há detalhes, não há perder a hora do trabalho pra dormir mais tempo abraçado debaixo do edredon onde faz um calor insuportável, não há história. E eu preciso sobreviver.

Redenção

Porque é sempre assim: você sempre me irrita e me tira do sério, me faz perder a pose e jurar nunca mais ousar pensar em você. No final, é sempre a mesma coisa: sou sempre eu com o celular na mão e um sorriso no rosto ouvindo sua voz cansada do outro lado da linha. Até o dia em que eu me cansar. E isso não é drama ou ameaça, mas uma constatação, a gente sempre cansa, certo? Sempre cansa de gostar demais quem nos gosta de menos, se entregar demais pra quem não entrega nem um dedinho, estar de alma aberta pra quem pouco me percebe.
Não sei como cansar de você, talvez, com essa distância, seja fácil. Não atender telefonemas ou responder mensagens caso elas ocorram, não te responder em redes sociais ou entrar no seu perfil todos os dias. Não lembrar do seu rosto, do seu gosto, não desejar seu abraço todo dia antes de dormir ou contar os dias de algum dia que talvez a gente possa se encontrar.
Não, não é fácil e deve ser por isso, pelo desafio, que não desisti ainda. Chego ao nível de não me afetar mais por você, de não me importar com a sua vida, mas nunca de não sentir. De tudo, é o que você realmente fez de diferente na minha vida: reaprender a sentir.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Redenção - parênteses

Volto então um ano antes, em toda a emoção de tiros de canhão, roupas de gala e quepe trocado. Volto a primeira vez que te vi, da vergonha que senti e das borboletas dormindo no meu estômago que você despertou e vem despertando desde então toda vez que nos olhamos. Volto na mesa compartilhada, na sua foto impressa ao lado da do meu elo ali, das poucas palavras trocadas, da primeira dança, da forma como eu tentava evitar você e os arrepios que a sua mão na minha cintura me conduzindo pelo salão me causavam. Fui pra casa aquele dia com um único pensamento na minha mente: fudeu!
Posso passar então 12 meses sob meus olhos e ter uma lembrança diferente a cada dia 30. Você era só o amigo chato do meu melhor amigo que queria me pegar, ou então o que me mandava mensagem todos os dias enquanto eu reclamava da chatice do celular apitando ou o cara que eu dizia "todo mundo me ganha pela dor, vamos ver, talvez ele me ganhe pelo amor". Você é o cara que me fez arrancar a armadura e sentir, o cara que me fez dar a cara a tapa, que me fez agir sem pensar, que nunca foi nada do que eu quis pra mim e de repente eu me vi desejando tanto sem nem ao menos saber porquê.
Foi o cara que me fez achar fofo mandar mensagem avisando que chegou bem em casa, que, sobretudo, me fez pegar um ônibus pra passar um dia ao seu lado. Você sempre vai ser o cara por quem eu chorei, por quem eu lutei, o único de quem eu fui atrás. O que não precisou de joguinho pra me conquistar, que não me fez ficar apenas por querer controlar a situação. Por você eu fico por tudo que eu sinto, por tudo que eu vivo. Por mais que eu pense, não consigo medir valores de certo ou errado, de quem gosta mais ou menos, do que vai ser daqui pra frente (se é que vai ser). Porque, toda vez que eu penso em desistir, eu lembro dessa mesma hora a um ano atrás, da forma como você me olhou, do gelo que eu senti da cabeça aos pés com isso e de como eu estava certa: fudeu!
Parabéns, por um ano de formatura, muito mais que isso, parabéns por um ano que eu tento te arrancar da minha vida e não consigo.

Estrelas.

Sim, eu sou 8 ou 80, acho que isso já tinha sido motivo de briga em alguma das nossas conversas. Sou o calor de janeiro, o frio de julho, o vento que eu carrego e por quem sou carregada em pleno setembro. Falo alto, choro baixo, sorrio o tempo todo e de tudo. Sou artista, arteira, à toa, atirada, atolada, amanda. Ajo com o coração, sou cobrada pela razão e tento, embora quase sempre sem sucesso, equilibrar os dois. Grito quando deveria ouvir, me silencio quando deveria me pronunciar, gosto do mundo todo e reclamo do mundo ao mesmo tempo. Tenho opinião formada sempre, embora seja sempre passível de mudança, mudança...mudo o tempo inteiro, de humor, de cidade, de história, de amor. Por não conseguir me adaptar a um grande amor da vida, criei muitas vidas pra caber tudo que há em mim. Eu sou barulho, silêncio, eu sou uma multidão. Acredito em tudo que faço e faço por amor, mesmo que duas horas depois eu não queira mais nada daquilo.
Intensidade é meu segundo nome, ou seria distração? Não sei, realmente. Sei que de tudo que mais me dói é a decepção, não a minha, a sua. Por um mundo onde eu vivo tentando superar expectativas, triste é saber que não consigo nem cumprir a sua. Chorei escondido ontem por isso, depois cansei, cansei porque eu sei que o que nos completa são as nossas diferenças, são as nossas verdades tão diferentes que nos fazem tão iguais. São os nossos quereres, que se encontrassem um dia a tão sonhada mais justa adequação, perderia o sentido.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Carta aberta para minha mãe


Foi outro dia, lendo um texto pra um seminário na faculdade, que me peguei pensando em você. Claro, o texto falava sobre a relação mãe e filha, dissertava que quando a menina brinca de boneca na infância, é uma forma de imitar as coisas boas que a mãe faz com ela e, em contrapartida, critica o comportamento da mãe tratando a boneca da maneira que gostaria que a mãe lhe tratasse. Bem, eu brinquei de boneca até os 10 anos (sou da época em que as crianças tinham infância de verdade) e, lendo isso, me dei conta de que foi justamente quando comecei a escrever cartas por vontade própria, foi que deixei a boneca de lado.
São alguns anos tentando demonstrar em palavras todo amor que sinto, tentando te mostrar o tamanho do meu orgulho por poder dizer: "essa é minha mãe!". Você, sem dúvida, foi a pessoa com quem mais aprendi na vida, a que mais amo (e o papai também, sem ciúme!). Foi com você que dividi meu medo de cair da escada caracol da casa da sua amiga e hoje, é com você que eu divido o mesmo medo, mas agora, o medo é de cair tropeçando nos meus próprios passos. Quero te agradecer por ter tido tanta paciência comigo, em todas as minhas fases: com a criança hiperativa, a pré-adolescente dramática, a adolescente escandalosa, a adulta intensa. Quero agradecer por ter permanecido ao meu lado mesmo quando, em uma briga, eu te mandava ir embora, por nunca ter desistido quando os problemas que eu apresentava eram maiores que as soluções possíveis, por termos a liberdade de falar qualquer coisa uma pra outra. Por ter girado o mundo de cabeça pra baixo pra me ver feliz, por dar o melhor de si, mesmo quando ele estava comprometido. Por nunca ter passado a mão na minha cabeça, sempre ter falado as verdades que eu não queria ouvir mesmo sabendo que eu podia te odiar por isso. Obrigada por sairmos de cada turbilhão que é essa nossa vida de mãos dadas, como eu sempre digo "ainda bem que a gente tem a gente".
Hoje, olho pra mim e pro quanto eu cresci, me assusta não ser mais a criancinha que chora e manda chamar a mãe, não poder ir deitar na sua cama quando fico gripada ou te chamar no meio da noite porque comi demais e to enjoada, me assusta não poder tomar café da tarde e almoçar com você, não ter você pra me chamar 5 vezes até eu acordar pra aula. Andar com as próprias pernas não é fácil, entretanto, se faço isso com a tranquilidade que apresento, é graças a você que sempre me apoiou, que sempre me incentivou a ser independente, que sempre me deu suporte, que sempre esteve ao meu lado, mesmo longe, que me ensinou o que eu hoje levo como mantra "quem ama, liberta".
Quero levar a nossa relação como exemplo sempre, somos mãe e filha quando devemos ser (lembrando que às vezes o papel é invertido, te coloco no colo e te dou bronca enquanto você faz pirraça), por ser minha melhor amiga quando devia ser melhor amiga, por ser o meu maior exemplo, o meu maior orgulho, o meu maior laço com que eu realmente sou.
São vidas atrás de vida atravessando nossos limites de amor, são vidas atrás de vida nos suportando e nos dando suporte. E hoje, se eu puder ser como alguém quando crescer, quero ser como você, a mulher que me ensinou que não importa o tamanho da imperfeição que nos acometa, sempre podemos melhorar, sempre devemos querer o melhor sem nunca nos importamos com opiniões alheias, estando bem apenas com a nossa consciência.
Espero que agora você entenda porque eu faço tanta questão que hoje você coloque seu melhor vestido, vista seu melhor sorriso, faça seu melhor bolo de chocolate (chocolate sim porque eu quero comer no final de semana!), ilumine o dia de todo mundo com a sua energia e continue sendo sempre a mulher mais especial do mundo.
Te amo pra sempre!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O tempo ta passando e cada minuto que eu vejo passar no relógio me angustia por não ter sido passado ao seu lado, a vida é tão frágil e meu amor é tão doce, não entendo porque não podemos simplesmente juntar essas dua misturas ao seu bom humor e passar o resto de dias que ainda temos sorrindo, eu não entendo.

Redenção - o re-final

Não é por você me mandar ouvir sertanejos bregas ou vídeos idiotas. Nem porque ouvir sua voz faz qualquer dor sumir; ou porque não importa o tamanho da minha raiva, você sempre vai me fazer sorrir. Não é pelo tamanho do buraco que a sua falta deixou no meu peito ou pela conversa no telefone a 5 minutos atrás quando eu sentia como se tivesse faltando uma parte de mim, tamanha a contradição de ouvir sua voz e te dizer adeus ao mesmo tempo. Tampouco por você ser a primeira pessoa de quem eu escrevo sem precisar exagerar nas palavras (pelo contrário, controlo-as, pra que elas não transpareçam ainda mais do que sinto), ou pelo pavor que a incerteza de um reencontro me causa. Não é pelo desejo de tele transporte pra qualquer lugar em que você esteja agora, ou pela minha auto-avaliação histórico-amorosa que me faz perceber a novidade do que sinto. É, muito provavelmente, pelo despertar interno, pela iminência do amor bombeando em minhas veias sem que eu queira admitir ou ao menos tenha me dado conta. É o medo de que tudo isso que eu sinto agora se perca em nossa memória e, com o passar dos anos, não nos recordemos mais da sua falta de mira com armas em barracas de urso de parques de diversões ou dos seus “muitos beijos” dados pessoalmente e não só por mensagem no celular todo noite antes de pegar no sono. Se agora me martirizo escrevendo sobre algo que tanto me dói, é na tentativa de que a gente não se perca, é na tentativa de te guarda em mim, na minha vida, nas minhas páginas, nos meus sonhos. É a tentativa de que um dia a gente abra mão do orgulho, da teimosia e dê espaço pra um possível reencontro, pra não ter necessidade, nunca mais, de dizer adeus.

domingo, 27 de novembro de 2011

Redenção - o descomeço

Eu gosto de você porque você nunca precisou de motivos pra gostar de mim, porque você foi o único homem que, ao invés de me propor banho junto de madrugada, brigou comigo me mandando não lavar o cabelo à noite e deitar. Porque você me faz calar a boca e te ouvir, não cede às minhas chantagens e não segue meus conselhos. Eu gosto de você porque você leva o notebook pro banho pra ouvir música, levanta na frente e paga minha conta mesmo quando eu digo pelo décima vez no dia que eu odeio que façam isso, porque você abre a porta do carro pra mim, não liga no dia seguinte, não me faz promessas. Eu gosto porque você ta sempre me surpreendendo e, em contrapartida, me conhece como a palma da sua mão, porque você ri comigo, de mim, faz piada idiota e ri alto de todas as besteiras que eu digo ao invés de levá-las em consideração. Por que você me irrita, me contratiz, some. Eu gosto porque eu nunca te domino, porque eu nunca me sinto dominada. Por eu não precisar me explicar e saber que você entendeu mesmo assim, por você não me cobrar absolutamente nada e por isso, ter tudo. Por você sentir sono no meio de uma conversa séria, por você sempre falar olhando no meu olho, por sempre querer fazer a coisa certa. Eu gosto porque eu ainda sinto frio na barriga quando leio seu nome na tela do meu celular, já se passaram meses e eu ainda durmo do lado do celular esperando você ligar (porque eu, claro, nunca vou dar o braço a torcer de ligar), porque isso me causa incerteza, mas nunca insegurança, porque você me tumultua sem me bagunçar, porque isso tudo tem inúmeras possibilidades de dar errado, mas a cada vez que eu ouço a sua voz, eu quero fazer dar certo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tatuagem

Eu tenho medo de coisas que são pra sempre. Descobri isso outro dia, eu estava no banco reclamando os meus direitos quando vi uma mulher com uma tatuagem escrito "Fábio Júnior - minha vida" no antebraço. A princípio eu achei engraçado, principalmente pelo efeito sombreado estilo "15 anos" nas letras, mas quando me dei conta de que aquilo nunca mais sairá da pele dela, entrei em estado de choque, quase de pânico.
Não perguntei, mas posso apostar que ela escreveu aquilo no corpo antes mesmo de completar a maioridade, escondida dos pais que achavam aquilo um absurdo e do namoradinho da época que se doía de ciúmes do então muso do momento. Naquele momento ela achava que tudo era pra sempre: o confronto amoroso com o pai, o namoradinho, o muso. Aposto que você está abrindo um sorriso, desses de canto de boca que você sempre abre quando se indigna com algo ao passo que acha graça do mesmo, pensando: "coitada! tão inocente". Pois saiba, meu amor, que é exatamente isso que acho de nós.
Hoje quando seu carro parou no portão do meu trabalho e eu te vi abaixar o vidro e sorrir enquanto me olhava andar em sua direção, senti meu estômago se contrair, como se eu te dissesse adeus, como se te dizendo adeus eu aceitasse que logo esse momento passa, que logo não seremos nada além de caretas em porta-retratos cheio de pó na sala, logo seremos pó. Agora a gente acha que é pra sempre, a gente sonha filhos, árvores, livros, a gente deseja uma vida, uma viagem, o mundo sob nossos pés. Amanhã acaba, a gente sempre encontra alfinetes e alfinetadas pro nosso amor até que ele se destrua, começo agora alfinetando, dizendo que somos perecíveis, que se rimos quando se é tatuagem é porque ela é eterna, tudo que quereríamos ser. E que é exatamente por sabermos que não somos pra sempre que o medo de me aproximar mais a cada dia de você some, feito hematoma de tombo no tempo e escola. Porque enquanto a moça segue manchando "Fábio Júnior - minha vida" eu vivo seguindo a minha vida que é só minha.

Reino da Alegria

Em um tempo não muito longe, existiam algumas princesas enclausuradas em seu próprio castelo. Já na flor da idade, passavam horas na frente do espelho do passado onde tentavam vestir o melhor vestido, fazer o melhor penteado, a melhor pose, tentando assim evitar os erros e as dores que olhar pra si mesmas traziam.
Preocupado com a atual situação mundial, o Rei de um Reino não muito distante dali, encantado com a beleza daquelas meninas e de tudo que elas poderiam oferecer ao mundo caso estivessem no lugar certo e em meio as pessoas certas, convidou-as pra morar em seu Reino. Lá, ele dizia, haveria paz, união, fertilidade (se é que vocês me entendem) e inúmeras festas nos arredores de seu castelo para que assim elas esbanjassem tudo que criaram e adquiriram até então e dentro do mesmo, mas aquelas seriam festas só delas e seriam as melhores, ele dizia. Foram.
Em menos de um mês, as moças estranhas uma à outra se tornaram irmãs. Claro que continuavam amando o Reino de onde vieram, seus pais e seus sotaques, entretanto, foi fácil deixar pra trás tudo aquilo tendo em vista tudo que estavam ganhando. As festas no castelo eram mesmo tudo aquilo que o Rei prometera, a paz e a união se faziam a todo instante, inclusive nos finais de estação quando havia escassez de alimento e todas elas decidiam dividir o mesmo quarto enquanto arrancavam os cabelos bem penteados tentando arrumar uma maneira de conseguir algum fruto em alguma árvore perdida de quem tomou cuidado pra tê-la, prometendo que na próxima estação prestariam mais atenção as suas mudas de frutas, legumes e flores. Sim, elas se alimentavam de flores, era isso talvez que dava à elas todo aquele brilho, alegria, toda a beleza que era tão invejada por todos os outros reinos. Não faziam por mal, não era forçado, era só que descobriram que quando mais dividam suas vidas, mais a vida melhorava, quanto mais se compartilhava, menos saudade sentiam da parte boa do que eram antes de se encontrarem, menos falta de si mesmo era lembrada.
Com o passar dos meses já era notável a mudança em seu reflexo, elas não viam mais os seus respectivos passados com tanta amargura, até porque, agora o espelho do passado também refletia os momentos em que confabulavam sobre a vida e admiravam os tornozelos dos príncipes da janela de seus quartos. Decidiram que não iriam mais embora dali, queriam criar raízes, crescer cada dia mais juntas. Até que...
Bem, dizem que nos contos de fada, no final a gente encontra um príncipe encantado e vai embora. E com elas não seria diferente. Cada uma encontrou o seu príncipe encantado, seja ele em forma de gente ou em forma de sonho de estudo e futuro, casou-se, mudou-se e, tristemente, tiveram de dizer adeus. Entre lágrimas de tristeza e de alteração causada pelo vinho oferecido no jantar de despedida de solteiras, prometeram nunca se abandonarem, sempre e sempre cuidarem uma da outra aonde quer que estejam. E sabe como é, promessa Real é promessa eterna.
Dizem que hoje as princesas vivem seus dias com a lembrança de sorrisos e desvios que aprenderam com suas irmãs, dizem que uma sente falta da outra todos os dias, dizem que tudo o que ainda tem é algo que não pode ser descrito ou perdido. Dizem muitas coisas por aí, como sabem, mas a princesa mais carente, uma das únicas que ainda permanecem no Reino esperando por seu príncipe, hoje escreveu na terra onde plantaram a maior árvore do país na semana em que chegaram, algo de que nunca vai esquecer de lembrar : "na vida, quem perde o telhado ganhas as estrelas". E é assim então que prefere imaginar cada irmã que brilha longe, ou ainda perto dela, uma estrela.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Irmã do meio

Hoje voltei pra casa pensando no tanto de coisa diferente que quero pra minha vida. E olha só que engraçado: o que eu quero é justamente tudo que eu fiquei um ano te dizendo pra não querer. Lembro que eu olhava pra você e pensava no quão chata você era e na chatice que você estava transformando sua vida. Ai como eu era tola! Hoje eu vejo que toda confusão precisa de paz, que se eu tivesse optado pela paz desde o começo, seria mais fácil, mas você sabe como eu sou neah! Você sabe como eu preciso quebrar a cara bastante vezes pra depois aprender.
Olha, eu sei que você não acredita nisso de outras vidas, mas mesmo assim eu quero dizer que eu tenho cada dia mais certeza da longevidade da nossa amizade, o amor que eu sinto por você é tão velhinho e tão capaz de superar coisas que acreditamos ser insuperáveis. E eu quero que você saiba mais ainda, que se eu puder escolher, vou querer nascer e renascer sempre na sua vida, mesmo que como uma amiga chata e velha que você só lembra às vezes das pirraças que atormentavam seus dias!
Toda vez que eu tenho que tomar alguma decisão na minha vida, qualquer uma, mas principalmente as drásticas, lembro do seu primeiro conselho a mim, "a resposta já ta dentro de você, você já sabe o que você quer, só tem que ter coragem de assumir". Então hoje em dia, eu levo a vida olhando pra dentro, tentando assumir o que eu quero, me bancando. E o que eu quero é te pedir desculpa pelas críticas, porque o que eu realmente quero é ter uma vida tranquila como a sua. Mas olha, eu nunca imaginei que fosse tão difícil!
Eu te amo muito, minha irmã de alma. Pra sempre.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Redenção - o final

Tentei começar esse texto, na verdade, começar um adeus de muitas formas pouco dramáticas. Mas a verdade é que eu gosto mesmo de você, sabe. Gosto do seu jeito, da sua voz, das suas implicâncias, da maneira como você sempre me surpreender e sempre me faz tão bem. E foi pensando nisso que eu percebi que seria o maior erro te deixar ir, quanto mais, te pedir que vá.
Acho estranho esse sentimento surgir tão rápido mesmo longe, mesmo sem convivência, mesmo sendo contra tudo que eu sempre disse e acreditei. Eu não forcei nada, sabe, um belo dia acordei sem querer imaginar minha vida sem você e foi então que os planos inusitados e as vontades repentinamente incontroláveis começaram a surgir. Era bom compartilhar meu dia, minha vida, meu melhor sentimento com você. Entretanto, não é sempre que te sinto querendo fazê-lo. Pensei muitas vezes em sumir da sua vida, aí você me ligava com a voz mais mansa que consegue fazer me dizendo da saudade que sente, da vontade que tem da minha presença. É tão confuso ter ao lado alguém que não sei se está ao meu lado.
Sei que não fizemos promessas, nunca poderemos cobrar momentos ou sentimentos, mas justamente por você nunca me cobrar nada, eu te dei tudo: toda confiança, toda lealdade, todo afeto que cabia em mim. Eu fui sua namorada mesmo sem nunca termos namorado, eu fui sua melhor amiga mesmo não dividindo com você todos os meus segredos.
A verdade é que não sei viver de dúvidas, de insegurança, preciso de estabilidade em algum lugar nessa instabilidade que sou e sei ainda mais que você não pode me dar isso agora e nem eu a você. Portanto, eu quero pedir um novo reencontro num futuro, uma nova dança de formatura, um novo filme, uma nova viagem, eu quero pedir que a gente nunca diga adeus um pro outro, mas que a gente não se sinta tão e sempre na obrigação de ser o que não podemos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Não solte a minha mão


"Eu adoro o gosto da sua boca": sim, foi esse o pensamento que levei comigo do momento em que nossas línguas se encontraram até você me deixar no ponto de ônibus no dia seguinte. Fechava os olhos e conseguia lembrar exatamente o gosto do cheiro ou o cheiro do gosto, não sei. Sei que fica cada vez mais difícil ir contra a maré de sorte que me leva até nós.
A minha decisão era não escrever sobre você, não gastar o amor que eu sinto com palavras e assim te guardar só pra mim, como se só eu tivesse o direito de saber da alegria que meus pêlos sentem quando encontram seu nariz ou dos sorriso bobos que tenho no meio dia lembrando do quão idiota você é e de como eu não me imagino mais sem suas pirraças e mau-humores durante o dia. Quanto mais eu te amo, mais eu quero te guardar; guardar teus beijos, teus cheiros, tuas palavras, suas manhas e nossas manhãs, sua manias de sempre cuidar de mim e de achar que me manda; quanto mais eu te amo, mais eu quero que você saiba que serão raras as vezes em que você me ouvirá pronunciar amor, mas que eu sinto e se olhar com atenção pra dentro do meu olho, vai enxergar toda a vontade que me move de te ter por perto. Quanto mais eu te amo mais eu tenho medo de que você desista, que vá embora, que ache que não vai aguentar e se eu decidi descrever uma pequena parte do nosso reencontro, é pra te pedir que não me desista, que não acredite em mim quando eu te mando ir embora ou digo que já não quero mais, que se existe um momento pra gente ele é o agora, que, por favor, não solte a minha mão. Não solte a minha mão para quê, quem sabe assim, um dia a surpresa nos encontre juntos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Carta pra minha filha

Querida filha, provavelmente hoje, você completa entre 11 e 14 anos e deve estar se perguntando qual o problema da doida da sua mãe que resolveu vir com essa de cartinha logo agora que você está querendo ser totalmente diferente de tudo que eu sou, logo hoje que a sua melhor amiga vai dormir aqui em casa e vocês vão ficar até 3h da manhã falando sobre o carinha gatinho (ainda se usa essa gíria?) da série acima da de vocês.
Não olhe agora, mas enquanto você lê tudo isso, eu choro sem que você note, por lembrar de quando eu tinha 20 e poucos anos e te escrevi isso. Da força que eu tinha nos atos, dos sonhos que eu tinha nos olhos, da pressa que eu tinha pela sua chegada e dos seus irmãos. E ta bem, vou direto ao ponto, antes que você decida parar de ler ou comece a gritar querendo saber o que eu pretendo com isso.
Eu sei que essa semana eu te deixei sem computador dois dias porque você matou aula pra ficar com aquele estranho de calça larga que usa boné pro lado e brinco nas duas orelhas feito menina, mas tudo que eu quero na vida é que você viva um grande amor. Um não, vários. E é claro que agora eu não vou te dizer isso neah, eu sou sua mãe e se falando sério com você, não sou atendida, imagina sendo descontraída.
Filha, por favor, não tenha medo! Não ouça o que as suas amigas mais velhas dizem: vale a pena sim arriscar tudo por um grande amor, tampouco o que suas tias e eu dizemos enquanto lavamos a louça de almoço de domingo: homem não é tudo igual e a gente só fala isso pra irritar o seu pai e ver se assim ele decide ajudar a lavar a louça ao invés de ficar 2 horas com os olhos grudados na tv vendo 22 homens correndo atrás de uma mesma bola, sofrer não é ruim, vai fazer você crescer, vai te fazer criar anticorpos e te preparar pra que quando o grande amor da sua vida chegar, você tenha maturidade, compreensão e amor-próprio o suficiente pra fazê-lo não querer ir embora (e, acredite, um cara que te faz matar aula não é o grande amor da sua vida, se fosse, te levaria pra escola e te mandaria estudar, mas isso você só vai entender com o tempo).
Eu vou arrumar defeitos pra todos os seus namorados, vou te fazer chegar cedo em casa no dia da festa que você finalmente ficar com o cara mais bonito da escola, vou te buscar na festa de pijama e te cheirar pra conferir se você não bebeu nada na frente de todo mundo. Eu vou querer matar todo mundo que te magoar, querer escolher por quem você vai se interessar e acredite, nunca, eu disse nunca, vou achar que aquela é a pessoa ideal pra você. Você ainda vai me odiar muito, eu sou sua mãe e você é uma pré-adolescente, oras, sua função é essa. Mas não ouça nada do que eu digo, vai lá beijar o garoto que suas amigas dizem que não presta - com você pode sim ser diferente, vai lá namorar e perder dois anos da sua vida em que você deveria estar saindo de casa e conhecendo gente nova - amar não é perder tempo, é ganhar, vai lá chorar cada noite por um cara diferente e aprender uma coisa diferente com cada um deles. Vai lá dizer que ama mais que tudo sem ao menos saber o que é amor e querer morrer por um pé-na-bunda pra depois descobrir que foi o melhor que te aconteceu.
Vai e vive! VIVA! Cada segundo, cada momento, cada amor. E não leve em consideração o que eu disse sobre isso (muito menos o que o seu pai disse! Aliás, acho melhor você nem fazer ele dizer algo). Quando você tiver uns 17 anos, a gente senta e conversa de novo sobre métodos contraceptivos e AI DE VOCÊ, se já tiver aprendido sobre isso na prática até lá! Ai meu Deus, estou tendo um infarto, diz que você não vai saber ainda, promete!
Da que te ama mais que tudo no mundo mesmo antes de você sonhar em nascer.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Espelhos.


Fico aqui submersa na insônia pensando no que vocês pensam antes de fechar os olhos. Dá uma dorzinha quando páro e me vejo em vocês. Mas não é uma dor comum, dessas que a gente tem de arrependimento por ter feito algo que deixamos de fazer, não, essa dor é a de querer cuidar e polpar vocês de qualquer mal que possa acontecer, de qualquer besteira que eu tenha feito e vocês possam vir a repetir.
Eu não tenho como impedir isso, crescer é dolorosamente lindo e no final, a gente só aprende com os próprios atos. Mas se eu posso pedir uma coisa, é: não se percam. Não se percam uma das outras e muito menos de vocês mesmas. Não deixem essa essência linda de lado por medo de não serem aceitas, por achar que sendo outras pessoas os problemas seriam menores, por achar que o caminho que seguiram até agora foi pura imposição paternal e que lá fora da própria vida, a vida se apresenta muito melhor. Por favor, por favor, por favor, eu imploro, se o medo, a dúvida, a raiva, a inconstância, os desejos ocultos assolarem vocês, me procurem. Não que eu possa resolver alguma coisa, não se enganem, mas certamente posso contar-lhes experiências e dizer-lhes as consequências de alguém que já errou tanto. Não se deixem pelo caminho, não deixem no caminho a vontade de viver, o drama revertido em piadas, a sabedoria no olhar, o excesso de sentimento extravasando pelos olhos, sorriso e abraços, a espontaneidade, a sinceridade peculiar.
No mais, fica aqui registrado um imenso agradecimento por estarem na minha vida, por se fazerem minhas amigas e por me ensinarem tanta coisa a cada novo reencontro.

Arco-Íris


A teoria religiosa, segundo a Gêneses, prega que o arco-íris é um simbolismo do pacto entre Deus e Noé de que o mundo não acabará num dilúvio.
Já a mitologia grega diz que ele, o arco-íris, é o caminho que a mensageira (Íris) fez entre o a Terra e o céu.
A ciência diz ainda que na verdade, ele é um fenômeno óptico e metereológico que separa a luz do sol em seu espectro contínuo quando o mesmo brilha em gotas de chuva. Ainda a ciência, dessa vez a oriental, faz alusão as acores do arco-íris
e os chacras do corpo humano.
Particularmente, acredito que o arco-íris é uma licença poética, significa proteção divina e espiritual e mais que isso: esperança (o mundo melhora a cada dia apesar de dizerem o contrário) e persistência (não podemos perder a chance de pôr a
mão na massa da nossa vida). Obrigada, lindas cores que insistem em vir visitar meu lar todos os dias, por colorir e encher de luz nossas escadas, paredes, pratos, pias e pés.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A irmã mais velha.

Eu poderia ficar aqui durante horas discorrendo sobre todas as coisas boas que passamos. Contar momentos engraçados, momentos de estresse, momentos deliciosamente rotineiros. Mas ao invés disso, eu venho falar do que de mais precioso você me ensinou. Você pode pensar que seja o origami, trocar resistência do chuveiro, manter o quarto organizado, acordar cedo pra aula, ou que prato de vidro pode sim ir ao forno, mas está enganada. O que você me ensinou de mais precioso é que o orgulho não leva a nada.
Lembro direitinho das nossas mensagens antes mesmo de nos conhecermos, de eu ir te buscar na rodoviária com a cara amassada e de como eu gostei de você de cara só pelos seus cabelos presos do lado da cabeça e não atrás. Entretanto, eu gostaria que você soubesse que eu nunca nessa vida vou esquecer os bilhetinhos que você ia no quarto me entregar quando eu cismava em me trancar nele e nos meus problemas, os cafunés que você fazia enquanto afagava meu choro e da maneira que você tinha de sempre me pedir desculpa mesmo quando a errada era eu. Ou de como você reconhecia que tinha aumentado o tom de voz e se arrependia disso mesmo quando era eu quem te tirava do sério. Se hoje em dia eu vivo por aí querendo estar bem com todo mundo, acreditando na força do amor e do perdão eu devo a você. Eu devo a você cada amizade que eu deixei de perder ou que resgatei por colocar o amor na frente de qualquer coisa.
Obrigada por ser minha mãe, minha irmã mais velha. Obrigada por ter tanta paciência e por ter me perdoado mesmo sem eu nunca ter tido coragem de te pedir desculpa (não por orgulho, mas porque sinto meu erro tão grande que às vezes repenso se mereço perdão). Eu te amo muito e não tenho dúvidas que vou amar pra sempre.
Acredito que saudade seja feita pra doer. E dói saber que a distância que nos separa é de algumas cidades e não mais da cama ao lado da minha. Só que, acredite, eu te sinto cada dia mais perto mesmo que a vida nos leve pra lugares cada vez mais diferentes. Você é tão parte de mim, tão bonita e bem cuidada do que sou e não me resta outra alternativa que não te levar pra sempre em mim.
Feliz aniversário, minha irmã. Feliz mais um ano de vida, feliz sorrisos, aprendizados, casamento, amizades, trabalhos. Feliz vida! Eu amo muito você.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

futuro

Comecei a re-enxergar as coisas como são, ou pelo menos como deveriam ser. Dei de vez o braço a torcer, admiti a que vim e como vim. E de sonhos tão grandes, os mais simples se fizeram os mais inesperadamente feliz e pleno.
Mãos gordinhas sujas de guache de papel pintado e pendurado num varal de barbante no quarto de brincar, comida com cheiro de casa, cama com gosto de colo, bolo de chocolate saindo quentinho do forno numa tarde nublada, três crianças correndo pela casa discutindo quem ganhou o jogo, poças de água no jardim, guerra de lama da poça de água do jardim, pipa no alto, imaginar onde iríamos e o que veríamos caso fôssemos a pipa no alto, cabaninha no meio da sala, confissões com lanterna no rosto, segredos contados a um cachorro, abraço de refúgio, deitar e levantar ao lado da mesma alma, ter moldado o próprio corpo no corpo do outro, sentir uma vida crescendo dentro de si, amamentar, escolher a cor da tinta do quarto, discutir por besteira dita na televisão, fazer as pazes quase imediatamente trocando sexo e sorrisos, amar alguém mais que a si mesmo, tomar sorvete de chiclete procurando chiclete e de pedacinho do céu acreditando que ali contém um resquício de nuvem, contar estrelas, desenhar em nuvens, desenhar caretas nas pontas dos dedos da mão e fazer teatro com eles, trocar de quarto, imitar um ídolo, sonhar em ter 3 profissões no futuro, se perder num livro, descobrir palavras, esperar um irmão, ajudar a escolher o nome do irmão que está por vir, odiar arrumar a cama, jogar a bagunça do quarto de baixo da cama já arrumada, tranças no cabelo, cabelo bagunçado e cara amassada de dormir,boca suja de chupar manga, catar fruta no pé, rasgar roupa levando tombo, levantar sem sofrer, caçar borboletas no quintal, colocar flores atrás da orelha, sentar na beira da praia e fazer castelos de areia, sentir a onda indo e vindo com a ponta dos pés, secar o olho da ardência do sal do mar com a luz do sol, criar métodos pra tentar olhar diretamente pro sol e acreditar conseguir, fazer foguete com caixa de papelão, mãos gordinhas suas, minhas, dos nossos herdeiros, saindo do meu ventre...

sábado, 22 de outubro de 2011

Irmão

Impossível não começar esse texto lembrando do começo das nossas vidas. Das férias de verão na praia, dos jogos de videogame, das pipas avoadas no clube. Das brigas pelo banho, controle remoto e da raiva que eu sentia de ser a irmã do meio, a única menina, que não era nem tão boa quanto o irmão mais velho: o menino exemplar, companheiro do papai, prestativo e comportado nem tão necessitada de atenção quanto o irmão mais novo engraçado, agitado, atirado. Eu nunca te disse, mas na verdade eu sempre quis ser como você, o neto homem que o vovô tanto queria, o filho que carregaria o nome da família como o papai sempre sonhou, o queridinho de todo mundo que te conhecia. Mas não ter te dito, não é novidade, nossa relação nunca precisou de muitas palavras, quando crianças era movida a chutes e caretas, hoje, a sorrisos e abraços. Foi bom crescer do seu lado, mais que isso, crescer com você, que sempre foi meu exemplo, mesmo nos erros.
Lembro dos esporros do papai, das palavras que até hoje doem e da maneira como você sempre ouvia com atenção, chorava desfazendo-se do orgulho e perdoava cada palavra impensada guardando só o que podia aprender de bom com aquilo e tentei imitar isso na vida. Tentei levar de cada pessoa só a parte boa, tentei não ser tão orgulhosa, tão teimosa, tentei ser sempre um pouco de você, já que você sempre foi o melhor que eu tive.
Hoje, já adultos, vejo-te casar, criar seu próprio caminho, seguir seus próprios passos. Não é mais o moleque pra quem eu implorava que me deixasse descer uma vez a rua no carrinho de rolimã, mas ainda é pra quem eu imploro, não pra andar no seu carrinho, mas pra ser feliz.
Não gosto muito da ideia de nos ver crescendo tão depressa, no fundo, dá uma sensação de que eu poderia ter feito mais, ter aproveitado mais sua companhia, entretanto, me deixa feliz saber que você agora dá as mãos e a alma a uma pessoa tão linda por dentro e por fora e que te faz tão feliz. Se é pra você crescer, casar e mudar, que seja com ela.
Isso tudo não é uma despedida, uma carta, um drama, é só um pedido de que você continue sendo tão meu irmão, tão exemplo, tão reflexo e que em breve faça a sua própria garotinha tão feliz como sempre me fez. O que eu espero pra sua filha, é que ela tenha a sorte de ter um irmão como você por perto, o que eu espero pra você e pra sua esposa é que esse amor que vocês transmitem possa continuar se ampliando e se exalando por toda parte.
Felicidades!
Amor, Amanda.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Bordada de flor

Bordados e bordéis, flores estampadas no semblante com sorrisos derretidos feito açúcar em chuva de verão. Tira-me de órbita, perco o senso, basta um toque pra que tudo desabe e meu tormento acabe: é quando encontro seu abraço dentro do meu e sinto o contorno de seus seios na minha barriga e a paz que a canção toca no rádio. Cabelos loiros se misturando no rebolar de almas e no entranhar de vidas revividas com tantas idas, vindas e além, idas sem vindas. Penso que posso passar o dia pensando no mesmo tom de olhares e textura de pele e me dou conta que já o faço há dias, e melhor, percorro com a língua cada parte do seu ventre molhado enquanto estática me aperta contra si com gemidos macios e gritos silenciados, beijo-te cada parte do corpo e perco um grande tempo nas costas que é onde encontro leito pro meu sono tardio, quando acabo, exalo cheiro de sonho e te lembro fazendo cafuné até que eu finalmente durma e não te tenha mais perturbando meus pensamentos. Acordo no meio da madrugada num pulo sentindo já a falta sua, me deparo com pés, braços e pernas perdidos um dentro do outro e nesse instante minha coxa coça e eu não sei onde ela está e muito menos onde tenho unhas para coçá-la. Jurei a vida inteira não poder conviver com coceiras, mas hoje vejo que não consigo de fato conviver com a culpa de estragar seu sonho por uma sensação boba, olhos cerrados, boca entreaberta, distinguindo quem é quem, sua mão esquerda no meu coração enquanto a direita agarra minha nuca, deve ser assolada pelo medo que eu vá embora assim como eu temo isso de ti, pernas entre as minhas e quando se mexe, causa arrepios da nuca ao dedão, vontade de começar tudo de novo, mas esqueço e te aperto ainda mais contra mim sem coragem de te acordar, estranho como mesmo de olhos fechados ainda vejo flores brotando em você e a alma inflando por tanta energia absorvida em simplicidade. Juro nunca mais te deixar ir, nunca mais te soltar, nunca mais tentar fugir e de olhos fechados tenho-me calados os sentimentos com um beijo teu que cheira a mau-hálito matinal e coração perfumado pelo tanto de vida que você tem, derreto o gelo e deixo mostras apenas o meu coração que você já possui, entrelaço meus dedos nos seus pra que a paz volte pro meu pulmão, pra que eu respire em paz, pra que nós continuemos sendo a paz que sempre persegui.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

E...

E eu imaginei romances tortos, sorrisos cálidos, poesias tortas, verdades mortas. E eu quis te ter por perto por mais que a razão me dissesse o contrário. Eu vi em você tanta verdade que acabei esquecendo das mentiras que precisei contar no caminho e das palavras que ouvi e nunca senti. E chorei baixinho por medo antecipado de que eu não pudesse estar contigo tanto quanto eu gostaria. Eu vivi você e te beijei e te tirei pra dançar mesmo não sabendo os passos da sua música e cantarolei embaixo do banho enquanto rezava em pensamento avisando a Deus que se ele não te tirasse de mim dessa vez, me teria como sua aliada eternamente.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bordada de flor

Outro dia veio me perguntar da minha frieza, distanciamento e suposta indiferença. Eu desconversei, como sempre e achei estranho alguém esperar que eu respondesse assim, de supetão, sinceramente, de uma coisa tão íntima e abstrata. “Impressão sua”, menti. Acho que acreditou.

Mas ela não sabe que passei o resto da noite pensando no seu jeito leve de falar e na flor que sempre imagino presa no seu cabelo a cada vez que penso nela. É guria, você mexeu comigo. Não admito, claro que não, sempre tive medo de estragar o óbvio, o inexistente, prefiro manter amizades superficiais a ser levada pela intensidade. “Ela é mulher demais pra mim”, penso quando ela entra na sala de aula de salto alto e batom vermelho enquanto eu visto camisa de malha e chinelo de dedo. Mulher demais pra mim quando faz algum comentário tão pertinente ao que ouve que me assusta com sua astúcia, quando sorri inclinando a cabeça pra trás ou quando me chama pra perto de si com tanta certeza, me assustando ainda mais porque as minhas certezas são tão falhas que eu posso me arrepender amanhã de cada palavra escrita hoje.

Ela não sabe, mas me pego madrugadas adentro com o celular na mão e o número dela escolhido na agenda, só tenho que apertar a tecla verde “chamar” e pedir que ela venha ao me encontro. Não o faço, sempre deixo pra lá, sempre levanto da cama e coloco o celular na beira da janela longe da minha cama e volto a dormir pensando em seu novo corte de cabelo. Ela não sabe, mas eu sonho com ela algumas noites e tenho vontade de fazer um bilhete percorrendo todas as mãos da sala de aula elogiando a lingerie vermelha que ela vestida no meu sonho ou o abraço que ela me deu enquanto eu chorava de dor. Ela não sabe, mas é a primeira na minha lista de experiências e possíveis tentativas que eu fiz ou faria.

Outro dia ela veio me perguntar da minha frieza, distanciamento e suposta indiferença e eu tive vontade de beijá-la e assim explicar isso tudo sem pronunciar palavra, “impressão sua” , impressão sua.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

engolir

Outrora a saudade me engolia, agora, a engulo. Dizem que saudade é como fome e eu tenho fome de você, da sua casa, do seu corpo. Chego no seu portão, deixo as malas no chão e me penduro no seu pescoço a te beijar, é como um sinal, um sinal pra se poder tudo. Não sei bem onde deixei meu mochilão, minha necessaire maior que o seu cachorro, o pedaço de lasanha que minha mãe te mandou e eu trouxe numa lancheira térmica. Sei da sua camisa jogada no chão ao lado do sofá e das suas meias furadas no vazo de planta ao lado da porta, sei do seu jeito rápido de arrancar meu sutiã e da forma delicada como tira minha calcinha tocando o máximo do meu corpo que consegue com as pontas dos dedos. Da bagunça que você faz na minha vida e no meu cabelo enquanto me revira do avesso como que tentando fazer eu me encontrar. Dizem que o amor não tem pressa. Não sei dos outros, mas o nosso tem a pressa do tamanho do tempo que demoramos pra subir a escada caracol de madeira que dá no seu quarto, o tempo de sentir você beijando cada parte do meu corpo e de me ver sorrir por dentro e com os olhos enquanto você engole meus seios.
Observo-te andando até a mesinha e decoro seus passos de volta até mim, na cama, esperando pela proteção plastificada de que nossos herdeiros cheguem agora. Observo seu riso, suas covinhas, o desenho das suas pernas e os pequenos pneus que estão surgindo. O jeito que seu cabelo se move quando você sopra a franja e o seu olho que me decifra quando volta a me beijar. Fecho os olhos e apenas sinto. Sua língua na minha, nosso lábios brigando por um espaço comum, seu braço em volta da minha cintura, sua mão apertando meu pescoço, minhas unhas entrando na pele das suas costas e quadril, nossos pés se esbarrando e nossas unhas desfeitas fazendo companhia uma a outra. Suspiro forte, retendo um grito oco quando te sinto dentro de mim, quando sinto seus lábios na minha testa e sua voz no meu ouvido dizendo "eu te amo". Eu achava isso a coisa mais brega do mundo: falar de amor durante o sexo, até morrer de saudade do som de cada palavra que você diz, sim, eu refaço o seu bico quando fala, o som que sua voz chega até mim e enquanto penso nisso tudo te sentindo plenamente e torcendo pra que aquele momento nunca mais acabe, sinto seu suor no meu peito, sua cabeça na minha barriga, seu sono na minha paz. Engulo você, a saudade, a dor da distância, a vontade de você. Engulo tudo e me controlo pra que eu demore ao máximo pra digerir cada parte de você que se encontra dentro de mim.

sobre sorrisos e desvios

Não ligo se você não sabe o que eu realmente quero, visto que eu também deixei de saber o que realmente quero quando te vi cruzando o olhar com o meu no meio da multidão barulhenta de fim de festa no começo da faculdade. Trocamos esbarrões no braço e a “desculpa” mais cínica que já disse e só isso foi mais que o suficiente pra que eu passasse a noite pensando em como seria o primeiro almoço em família quando nossos pais se conhecessem pra aprovar nosso noivado. E nem venha me dizer que mulheres são todas assim, eu nunca fui, pelo contrário, eu fui aquela que nunca fiquei pra ver no que ia dar.

Quando meu celular apitou pela primeira vez e seu nome apareceu no visor, tive vontade de engolir o aparelho e jogá-lo longe ao mesmo tempo. Deus, não vai me dizer que você está fazendo finalmente as coisas darem certo? Mal acreditei em palavras escritas em madrugadas bêbadas, manhãs sonolentas ou tardes embriagadas por café e livros, mal acreditei em jantares românticos, beijos encaixando, a suavidade do seus dedos frios pelo meu corpo quente. Era o final feliz que eu sempre julguei merecer.

Aí você estragou tudo. Como todo bom canalha, fez cada qualidade sua sumir com um ato impensado e eu quis morrer e sei que só não o fiz com minhas próprias mãos porque eu queria te fazer sofrer antes. Sim, mulheres são assim: amam e odeiam no mesmo dia, na mesma intensidade e com os mesmos planos, cuidado com elas, cuidado com um coração partido depois de finalmente voltar a acreditar na sinceridade de um “você é linda”.

Essa noite perdi o sono e fiquei pensando no quanto eu odeio você. E cheguei a brilhante conclusão de que eu odeio você porque você faz comigo exatamente o que eu sempre fiz com os outros, porque por mais que eu tenta te prender você escapa por entre os meus dedos feito água quando fechamos a mão. E eu te odiei tanto, mas tanto, que deixei de odiar você, eu te perdoei por cada lágrima que derramei sem que você nunca ficasse sabendo e conclui que se eu não quero mais que você triture meu coração e coma no seu próximo churrasco de turma, eu devo te falar de mim. Devo te contar dos tantos caras que gostariam de ser você e no quanto eu imagino o que você faz pra me prender tanto sem me tocar, o que você faz pra sorrir desse jeito, pra arrepiar da pontinha do meu pé até cada fio de cabelo só com o roçar da barba no meu pescoço, o que você faz? O que eu faço com tudo isso que você despertou em mim e agora eu não sei onde jogar? Eu não ligo de você não saber o que eu quero desde que mesmo sem declarar, você queira o mesmo que eu. Desde que no momento em que eu cometer a loucura de te dizer dessa coisa tão antiquada hoje em dia: sentir, você me beije e diga que sentiu minha falta a vida inteira, a mesma que eu senti de você.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Estrelas


As coisas estão andando. Eu só queria que andassem algumas mais rapidas e outras mais lentas. Queria que pudéssemos andar um pouco e conversar, só jogar conversa fora mesmo sabe? Sem flertes, bebidas e tantas piadas. Só eu e você dividindo mais segredos, rindo um pouco e depois cada um para seu canto como se tivesse sido horas de férias. Férias dessa nossa vida longe, férias do tempo que passa e não nos leva pra lugar nenhum, não nos acrescenta nada que faça palpitar nosso coração. Eu queria que pudéssemos engolir nossa presença, nossa vergonha, nossa felicidade compartilhada, hoje, eu queria qualquer coisa que não fosse o sono que me fecha os olhos e a saudade que me aperta o peito.
(texto de Smurf, com pequenas adaptações)

domingo, 9 de outubro de 2011

Redenção

"Toda vez que eu to muito feliz eu penso em ter um filho". Toda vez que eu to muito feliz, eu penso em cachinhos dourados com pernas gordinhas correndo pela casa tropeçando nas almofadas. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em viagens com mochila nas costas e barraca no mato, em aprender uma nova língua em um país que a gente nem sabia que existia. Toda vez que eu to muito feliz eu faço a lista dos convidados do nosso casamento, do primeiro aniversário do nosso primogênito, do supermercado no final do mês. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em historinhas antes de dormir, em cachorro latindo no quintal, em amor feito no chuveiro exalando pelo banheiro. Eu penso em livros numa estante gigante na sala ao lado dos seus cds de jogos e filmes e séries de guerra, armas e notícias que mudaram o rumo do país nos últimos dez anos. Toda vez que eu to muito feliz eu invento diálogos na minha cabeça, sua paranóia com o primeiro namorado da nossa única filha, com um fim de semana na cidade fria dos meus pais na semana que o nosso filho caçula ficou resfriado. Em castigos por notas abaixo da média, paredes pintadas e eu teimando em escrever nelas enquanto você delimita aonde fica a minha decoração e a sua na nossa sala de estar. Toda vez que eu to muito feliz eu procuro filmes pra você assistir enquanto eu durmo cansada de um dia de trabalho, posições no kama sutra pra quando você enjoar do meu corpo no seu, passagens aéreas promocionais pra nossa lua de mel na Grécia. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em você, eu penso nas covinhas do seu sorriso ou na sua fascinação pelo meu cabelo bagunçado durante uma tarde sonolenta. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em ter um filho, em plantar uma árvore, em escrever um livro.

Redenção

Tinha decidido não escrever sobre você, como se assim eu pudesse guardar em mim e só pra mim cada detalhe teu, como se assim você se tornasse mais especial, mais importante que qualquer história sem importância que eu vivo vivendo. Não sei bem quando esse sentimento começou a inchar meus dedos e nem como não consegui controlá-los.
Rendi-me, sim, eu me rendo a tudo que sou, por você. Eu me rendo a todos os meus orgulhos, frustrações e chatices femininas, me rendo aos conceitos mal-formados e aos traumas que eu jurei nunca superar. Eu me rendo a você e a cada batida desconcertante que meu coração dá ao ouvir sua voz, a cada sorriso bobo que brota em meu rosto quando lembro de você.
Eu sei que a vida não é tão intensa quando os meus pensamentos e por isso tento me controlar, mas aí eu lembro, lembro da sua boca gordinha dizendo "vem cá" com bafo matinal, das histórias que você só conseguia contar quando não olhava nos meus olhos, do modo como suas mãos acariciam meu corpo enquanto tira a minha roupa. Eu lembro e volto no tempo, fecho os olhos e agradeço a Deus por eu poder te ter nos meus pensamentos, nos meus pêlos, nas minhas fotos. Lembro e refaço o formato do seu corpo no meu, o formato da minha alma na sua e a entrega, a entrega de subjetividade não declarada.
Eu ainda tenho medo do seu adeus, ainda te procuro na cama toda vez que abro os olhos de um sonho e vigio o visor do meu celular 24 horas esperando um sinal seu. Eu ainda vivo a minha vida da melhor forma que posso pra poder te contar e ocupo meu tempo com todas as atividades sem importância pra fazer o tempo passar mais rápido. Eu ainda procuro palavras, mas elas me fogem. É assim sempre que tento escrever sobre você: dedos inchados de sentimento, linhas rimadas e um excesso de mim que transborda nas páginas sem que eu consiga transformar em palavras. Tinha decidido não escrever sobre você, como se assim eu pudesse guardar em mim e só pra mim cada detalhe teu.

sábado, 8 de outubro de 2011

Redenção

Eu acho, acho mesmo que a gente pode ser feliz. Mais que isso, eu acredito. E acreditando, vou contra todas as teorias que formulei pra vida. Eu tento, tento mesmo disfarçar os ciúmes, os medos, as inseguranças. Mais que isso, por querer ser boa o suficiente pra você, eu amadureço a cada dia. E a cada dia a vontade de te dizer que eu espero que esse investimento não seja só meu, aumenta.
Eu tento de todas as formas não ser tão eu pra não assustar tanto você, não ser tão intensidade nessa cidade tão longe do seu sorriso. Eu tento te fazer não ter medo pra que assim você me convença a não tê-lo também. Eu tento.
Reconto os dias, a história, conto os meses e os minutos. Quando descobrem, acham loucura, meses sem abraço, dias sem contato, eu, a rainha do afeto e do toque, aceitando estar sem convivência. Mas é que é tão lindo o jeito que você me mostra a vida e se mostra pra mim, é tão lindo que o sentimento que você plantou no meu peito seja regado e esteja crescendo tanto a cada dia.
Tenho medo do escuro, de faca, de aranha, tenho medo de falar de mais ou de menos, de fazer doer alguém, de quebrarem meu coração. Tenho medo de te perder. E espero estar sabendo dosar medo e coragem afim de continuar por perto da nossa sintonia.

domingo, 2 de outubro de 2011

Redenção

Eu transferiria a faculdade, os planos, moraria numa kitinete numa avenida movimentada e barulhenta, acordaria todo dia beijando aquela cara amassa e ia aprender a dormir cedo só pra fazer amor com ele toda noite antes de pegar no sono. Ia aprender a gostar de nomes tradicionais pra pôr em filho e até topava que eles tivessem sotaque estranho devido a cidade que forem criados, eu moro no calor insuportável na Bahia, perto da frieza de espírito do Sul, eu esqueço meu doutorado na Alemanha, eu troco chopadas por chás, livros e fraldas trocadas noite adentro. É só você falar: vem! E eu vou. Na verdade, a cada dia que passa eu to indo mais sem que você nem precise se expressar.

Redenção

Para e olha pra mim, para e me diz se tudo está mesmo se dissipando ou se é coisa da minha cabeça idiota que cisma sempre em estragar tudo pensando coisas idiotas. Para e me diz que é isso mesmo, se você ta indo embora, se não atende minhas ligações propositalmente, se prefere dar corda ao ferir alguém. Para e me diz que não valeu cada segundo de espera, cada beijo de encontro, cada palavra trocada. Para e me diz que você também ta com medo, que você também sente frio à noite longe de mim e que seu coração palpita a cada vez que vê meu nome na tela dele.
E eu tento fingir, fugir, ir embora, fazer o jogo certo e sempre acabo no mesmo lugar: querendo você. É tão simples de entender e tão difícil de explicar.
"Para e olha pra mim, para e deixa pra lá. Deixa eu entrar em você por algum lugar"

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre a falta de água.

Faltou água na minha casa por 24 horas. Isso é motivo de escrever?
Tenho agora, água saindo pela torneira, pelo chuveiro, pra descarga e pra meu cachorro e nós (minha rommate) bebermos. Tenho casa limpa, corpo lavado, cama arrumada. Braços, pés, dedos e coração, tenho pulmão e agora inspiro e expiro o ar levinho, tenho pele e agora transpiro cansaço de um dia longo e olhos que enxergam ou se fecham, dependendo da preferência. Estômago grande o suficiente pra caber meus prazeres gustativos e unhas pra colorir com as cores da moda. Tenho o vento que entra pela fresta aberta da porta de vidro e as estrelas penduradas nas nuvens que enfeitam o céu tal qual as pintinhas fazem com um leopardo. Tenho vida, mais algumas horas ou quem sabe, anos, concedidos a mim, pra fazer o que eu quiser e bem entender.
Ser feliz é uma escolha, assim como comer ou não jiló, levar ou não sombrinha quando anuncia chuva. Ultimamente tinha optado pelo sono, pela ausência, pela inércia, mas hoje, ao me dar conta que eu poderia viver sem água, escolhi ser feliz com o que tenho e foi assim que eu descobri: eu tenho tudo.

Escrevo.

Escrevo pra não morrer de tédio, de angústia, de dor. Escrevo pra não morrer e, em contrapartida, pra que ao me ler sintam alguma vida após a minha morte. Escrevo pra contrariar a sorte, pra não engasgar com meus próprios sentimento, como se o que sinto fosse um fio de cabelo preso na garganta: não sobe nem desce, portanto vomito.
Vomito palavras com canetas coloridas, no teclado sujo de poeira, no choro convulsivo noite adentro. Vomito palavras escritas pra não te perder, pra não correr o risco de você me ouvir e sair da minha vida. Escrevo pra curar excessos de amor, calor, rancor, pra não ser tão e sempre o que sobra, pra alguma vez ser a procura porque falta. Escrevo. Engano a saudade com palavras combinadas inventando motivos pras mesmas estarem dispostas em linhas organizadas sem que mais uma vez, seja sobre você.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Redenção

Como se eu ainda tivesse alguma coisa pra dizer ou fazer em meio a tudo isso. Como se pudesse evitar que toda essa emoção, essa água que exala de mim desaguasse no seu mar. Eu andei por aí, passei por novos portos, naveguei pelo mar em tardes calmas e noites revoltas, tive frio, medo, alegria, desamparo e solidão, eu estive apenas comigo e com o balançar das ondas que me ninavam vida afora. Precisava de uma âncora, eu já sabia disso, descobri poucos meses depois de estirar as velas e decretar que começaria a viagem.
Pensei muitas vezes em voltar, e até tentei, mas já não sabia o caminho, já não sabia seguir e voltar pra um mesmo pensamento. Perdi-me da minha vida e por isso resolvi experimentar outras. Agucei meu paladar, exauri cheiros, sensações, lugares e sentimentos. Reinventei-me e destruí-me pra reconstruir tantas vezes.
Te encontrei. E como em todos os encontros, tive medo, te olhei nos olhos e previ o fim, te abracei e quis sumir. Até te beijar, foi seu beijo, meu amor, que me fez imortal. Foi seu beijo que, pela primeira vez em toda uma Eternidade, me fez querer dar adeus a tudo que eu ainda iria descobrir, a todas as pessoas que eu iria conhecer, e os mundos que eu iria adentrar, foi seu beijo. Quero ancorar, quero criar raízes e destino ao seu lado, ver nossos cabelos acinzentarem com o passar dos anos, dar aos nossos filhos chocalhos, videogames, permissão pra primeira viagem com os amigos, condição de morar em república em outra cidade enquanto faz faculdade, quero beijar seu rosto toda manhã e abraçar seu abraço toda noite, andar de mãos dadas e te contar cada crise existencial, viajar pelo país, ter discussões redundantes, projetos de pesquisa, novos empregos. Quero ancorar no mesmo lugar que você, com você, em você.
Entretanto, ao lançar minha âncora, percebi que o tamanho da corda que tenho ainda não alcança o fundo do mar, ainda não consigo me estabelecer em meio ao oceano, por isso estou aqui, tentando te convencer que não há tempo que se perca quando se trata de esperar por você, que eu fico aqui vivendo a minha vida de forma que ela possa melhor se encaixar a sua quando nossas cordas tiverem a mesma proporção, as nossas vontades e horários combinarem e o nosso porto estiver apto pra receber alguém que nunca mais vai se deixar ir embora.