domingo, 9 de outubro de 2011

Redenção

"Toda vez que eu to muito feliz eu penso em ter um filho". Toda vez que eu to muito feliz, eu penso em cachinhos dourados com pernas gordinhas correndo pela casa tropeçando nas almofadas. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em viagens com mochila nas costas e barraca no mato, em aprender uma nova língua em um país que a gente nem sabia que existia. Toda vez que eu to muito feliz eu faço a lista dos convidados do nosso casamento, do primeiro aniversário do nosso primogênito, do supermercado no final do mês. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em historinhas antes de dormir, em cachorro latindo no quintal, em amor feito no chuveiro exalando pelo banheiro. Eu penso em livros numa estante gigante na sala ao lado dos seus cds de jogos e filmes e séries de guerra, armas e notícias que mudaram o rumo do país nos últimos dez anos. Toda vez que eu to muito feliz eu invento diálogos na minha cabeça, sua paranóia com o primeiro namorado da nossa única filha, com um fim de semana na cidade fria dos meus pais na semana que o nosso filho caçula ficou resfriado. Em castigos por notas abaixo da média, paredes pintadas e eu teimando em escrever nelas enquanto você delimita aonde fica a minha decoração e a sua na nossa sala de estar. Toda vez que eu to muito feliz eu procuro filmes pra você assistir enquanto eu durmo cansada de um dia de trabalho, posições no kama sutra pra quando você enjoar do meu corpo no seu, passagens aéreas promocionais pra nossa lua de mel na Grécia. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em você, eu penso nas covinhas do seu sorriso ou na sua fascinação pelo meu cabelo bagunçado durante uma tarde sonolenta. Toda vez que eu to muito feliz eu penso em ter um filho, em plantar uma árvore, em escrever um livro.

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