quarta-feira, 12 de outubro de 2011

engolir

Outrora a saudade me engolia, agora, a engulo. Dizem que saudade é como fome e eu tenho fome de você, da sua casa, do seu corpo. Chego no seu portão, deixo as malas no chão e me penduro no seu pescoço a te beijar, é como um sinal, um sinal pra se poder tudo. Não sei bem onde deixei meu mochilão, minha necessaire maior que o seu cachorro, o pedaço de lasanha que minha mãe te mandou e eu trouxe numa lancheira térmica. Sei da sua camisa jogada no chão ao lado do sofá e das suas meias furadas no vazo de planta ao lado da porta, sei do seu jeito rápido de arrancar meu sutiã e da forma delicada como tira minha calcinha tocando o máximo do meu corpo que consegue com as pontas dos dedos. Da bagunça que você faz na minha vida e no meu cabelo enquanto me revira do avesso como que tentando fazer eu me encontrar. Dizem que o amor não tem pressa. Não sei dos outros, mas o nosso tem a pressa do tamanho do tempo que demoramos pra subir a escada caracol de madeira que dá no seu quarto, o tempo de sentir você beijando cada parte do meu corpo e de me ver sorrir por dentro e com os olhos enquanto você engole meus seios.
Observo-te andando até a mesinha e decoro seus passos de volta até mim, na cama, esperando pela proteção plastificada de que nossos herdeiros cheguem agora. Observo seu riso, suas covinhas, o desenho das suas pernas e os pequenos pneus que estão surgindo. O jeito que seu cabelo se move quando você sopra a franja e o seu olho que me decifra quando volta a me beijar. Fecho os olhos e apenas sinto. Sua língua na minha, nosso lábios brigando por um espaço comum, seu braço em volta da minha cintura, sua mão apertando meu pescoço, minhas unhas entrando na pele das suas costas e quadril, nossos pés se esbarrando e nossas unhas desfeitas fazendo companhia uma a outra. Suspiro forte, retendo um grito oco quando te sinto dentro de mim, quando sinto seus lábios na minha testa e sua voz no meu ouvido dizendo "eu te amo". Eu achava isso a coisa mais brega do mundo: falar de amor durante o sexo, até morrer de saudade do som de cada palavra que você diz, sim, eu refaço o seu bico quando fala, o som que sua voz chega até mim e enquanto penso nisso tudo te sentindo plenamente e torcendo pra que aquele momento nunca mais acabe, sinto seu suor no meu peito, sua cabeça na minha barriga, seu sono na minha paz. Engulo você, a saudade, a dor da distância, a vontade de você. Engulo tudo e me controlo pra que eu demore ao máximo pra digerir cada parte de você que se encontra dentro de mim.

2 comentários:

  1. Quanta intensidade.
    Até agora eu só li 3 posts e vi o quanto intenso são, todas essas palavras expressando sentimentos, vontades, desejos e saudades.
    Gostei dos seus textos, não por estarem bem escritos e nem qualquer outra coisa mas por causar todo esse efeito quando eu os leio, um efeito de vividez que me da vontade de fazer parte daquele momento, de um dia querer, ter e ser um segundo de um instante feliz.

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  2. Que lindo o que você disse! Fico feliz que tenha gostado!

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