Outro dia veio me perguntar da minha frieza, distanciamento e suposta indiferença. Eu desconversei, como sempre e achei estranho alguém esperar que eu respondesse assim, de supetão, sinceramente, de uma coisa tão íntima e abstrata. “Impressão sua”, menti. Acho que acreditou.
Mas ela não sabe que passei o resto da noite pensando no seu jeito leve de falar e na flor que sempre imagino presa no seu cabelo a cada vez que penso nela. É guria, você mexeu comigo. Não admito, claro que não, sempre tive medo de estragar o óbvio, o inexistente, prefiro manter amizades superficiais a ser levada pela intensidade. “Ela é mulher demais pra mim”, penso quando ela entra na sala de aula de salto alto e batom vermelho enquanto eu visto camisa de malha e chinelo de dedo. Mulher demais pra mim quando faz algum comentário tão pertinente ao que ouve que me assusta com sua astúcia, quando sorri inclinando a cabeça pra trás ou quando me chama pra perto de si com tanta certeza, me assustando ainda mais porque as minhas certezas são tão falhas que eu posso me arrepender amanhã de cada palavra escrita hoje.
Ela não sabe, mas me pego madrugadas adentro com o celular na mão e o número dela escolhido na agenda, só tenho que apertar a tecla verde “chamar” e pedir que ela venha ao me encontro. Não o faço, sempre deixo pra lá, sempre levanto da cama e coloco o celular na beira da janela longe da minha cama e volto a dormir pensando em seu novo corte de cabelo. Ela não sabe, mas eu sonho com ela algumas noites e tenho vontade de fazer um bilhete percorrendo todas as mãos da sala de aula elogiando a lingerie vermelha que ela vestida no meu sonho ou o abraço que ela me deu enquanto eu chorava de dor. Ela não sabe, mas é a primeira na minha lista de experiências e possíveis tentativas que eu fiz ou faria.
Outro dia ela veio me perguntar da minha frieza, distanciamento e suposta indiferença e eu tive vontade de beijá-la e assim explicar isso tudo sem pronunciar palavra, “impressão sua” , impressão sua.
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