Não ligo se você não sabe o que eu realmente quero, visto que eu também deixei de saber o que realmente quero quando te vi cruzando o olhar com o meu no meio da multidão barulhenta de fim de festa no começo da faculdade. Trocamos esbarrões no braço e a “desculpa” mais cínica que já disse e só isso foi mais que o suficiente pra que eu passasse a noite pensando em como seria o primeiro almoço em família quando nossos pais se conhecessem pra aprovar nosso noivado. E nem venha me dizer que mulheres são todas assim, eu nunca fui, pelo contrário, eu fui aquela que nunca fiquei pra ver no que ia dar.
Quando meu celular apitou pela primeira vez e seu nome apareceu no visor, tive vontade de engolir o aparelho e jogá-lo longe ao mesmo tempo. Deus, não vai me dizer que você está fazendo finalmente as coisas darem certo? Mal acreditei em palavras escritas em madrugadas bêbadas, manhãs sonolentas ou tardes embriagadas por café e livros, mal acreditei em jantares românticos, beijos encaixando, a suavidade do seus dedos frios pelo meu corpo quente. Era o final feliz que eu sempre julguei merecer.
Aí você estragou tudo. Como todo bom canalha, fez cada qualidade sua sumir com um ato impensado e eu quis morrer e sei que só não o fiz com minhas próprias mãos porque eu queria te fazer sofrer antes. Sim, mulheres são assim: amam e odeiam no mesmo dia, na mesma intensidade e com os mesmos planos, cuidado com elas, cuidado com um coração partido depois de finalmente voltar a acreditar na sinceridade de um “você é linda”.
Essa noite perdi o sono e fiquei pensando no quanto eu odeio você. E cheguei a brilhante conclusão de que eu odeio você porque você faz comigo exatamente o que eu sempre fiz com os outros, porque por mais que eu tenta te prender você escapa por entre os meus dedos feito água quando fechamos a mão. E eu te odiei tanto, mas tanto, que deixei de odiar você, eu te perdoei por cada lágrima que derramei sem que você nunca ficasse sabendo e conclui que se eu não quero mais que você triture meu coração e coma no seu próximo churrasco de turma, eu devo te falar de mim. Devo te contar dos tantos caras que gostariam de ser você e no quanto eu imagino o que você faz pra me prender tanto sem me tocar, o que você faz pra sorrir desse jeito, pra arrepiar da pontinha do meu pé até cada fio de cabelo só com o roçar da barba no meu pescoço, o que você faz? O que eu faço com tudo isso que você despertou em mim e agora eu não sei onde jogar? Eu não ligo de você não saber o que eu quero desde que mesmo sem declarar, você queira o mesmo que eu. Desde que no momento em que eu cometer a loucura de te dizer dessa coisa tão antiquada hoje em dia: sentir, você me beije e diga que sentiu minha falta a vida inteira, a mesma que eu senti de você.
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