terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amor demais.

Saio de cara amarrada de casa e fecho a porta da cozinha nos seus gritos e insultos antes que eles se tornem irreversíveis. Acendo meu cigarro e chuto pedrinhas enquanto ando sem rumo pela cidade fria e ensolarada. Planejei cada detalhe do dia de hoje, depois de semanas viajando e procurando suas bochechas rosadas em porta-retratos de madeira em lojas de artesanato ou nas suas fotografias 3x4 na minha carteira, finalmente pude tocá-las. Chegar aonde você é nunca foi tão ruim. No começo eu achei que era saudade, que nossas bocas, por demorarem a se encontrar, tivessem que reencontrar o ritmo, que nossos corpos fossem se esquentando conforme a temperatura subisse e as nossas roupas caíssem pelo chão do seu apartamento. Não. Procurei pelo erro em sua face, em minha roupa, não encontrei. Às vezes eu queria que você fosse mais clara, que entendesse que apesar de eu ter me apaixonado pelo seu ar misterioso, eu preciso de um feed-back pra me manter de pé. Eu só quero chegar ao ponto, ao orgasmo sexual e sentimental, processual, e você insiste que eu adivinhe, faça das suas inseguranças, mingau de avó que a gente come pelas beiradas até chegar ao meio por medo de queimar a língua. Já começo a imaginar se você enjoou da minha mania de te acordar me prostrando em cima de você e te dando tanto carinho que te deixe em dúvida se acorda pra nos amarmos ou se volta a dormir embalada por meus dedos em suas costas, ou se o zelo por você que me faz enviar sms avisando que cheguei bem em casa depois do nosso encontro tenha começado a te sufocar. Não sei. Há frieza no modo como nossos corpos se encontram, como nossas almas se entrelaçam, há frieza nos "eu te amo" urrados ou sussurrados, gela meu sorriso.
Sigo chutando pedrinha deixando que este ato trilhe meu caminho. Minha vontade maior é voltar, entrar pela porta da sala e te abraçar enquanto você está desprevenida chorando encostada no balcão reclamando de mim pra uma amiga pelo telefone, te abraçar bem forte, de modo quer você não alcance mais o chão enquanto clama pelo ar que meu abraço te rouba. Não faço isso. Ouço sua voz reclamando dentro da minha mente "você nunca toma a iniciativa de nada, to cansada de ser o homem aqui" e não consigo não sorrir pela forma como o seu cenho franze e o seu pescoço roseia enquanto o diz. Meu erro talvez tenha sido esse: te amar demais. Assim vejo a beleza de cada momento, de cada erro, de cada deslize, vejo a beleza de olhar pra trás e te ver, também chorando, de braços abertos implorando que eu esqueça tudo volte pro seu abraço.

2 comentários:

  1. se é DEMAIS.. meus milhões de parabéns!!!!
    e uma pergunta, vc escreveu pra uma guria?

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  2. não, escrevi usando o eu lírico masculino! (:

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