quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O que aprendi com Jessica Jones


Jessica Jones é uma investigadora, que, após um acidente que matou sua família, tem dificuldade de confiar nas pessoas. Além disso, após o acidente, ela adquiriu os super poderes (que só no final da série é mostrado que graças à um laboratório de testes em humanos): de saltar tão alto e com tanta distância que parece poder voar e uma força descomunal. Jessica Jones, foi adotada por uma moça que abusava física e psicologicamente da filha e ela se sente na obrigação de protegê-la da mãe, talvez Trish, sua irmã adotiva, seja a única pessoa que Jessica de fato ame durante a vida.

Já na idade adulta, Jessica é dominada por um homem que tem o super poder (também modificado a partir de uma testagem em humanos, mas dessa vez por seus pais) de controlar as pessoas. Simples assim, ele fala e a pessoa faz o que ele quiser, qualquer coisa, inclusive cometer homicídio ou suicídio. A trama se dá na tentativa de deter este homem, Kilvagre, visto que Jessica é a única que consegue se livrar da sua dominação de vontade, após matar uma mulher por ordem do mesmo.

Ok, Marvel é boa em produção de série de super heróis (é o que dizem, não sou ligada à isso) e já era de se esperar que a série seria boa. Entretanto, há algo além.

Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é perder a autonomia à ponto de parecer ter sido dominado Kilvagre: você faz e fala coisas que não tem vontade de falar e fazer, você simplesmente faz, à despeito de ter uma voz no fundo da sua cabeça dizendo que você não deve ou não precisa fazer aquilo. Você tem medo, você tem medo 24 horas por dia: do outro, do mundo, de você. E o medo, acredite, faz você não pensar, faz com que você tenha atitudes que você precisa se desculpar pelo resto da vida. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é ser violentada, sabe o que é não ter mais vontade de fazer sexo e achar que há um problema com você. Sabe o que é não poder se vestir como deseja, se portar como deseja, ir onde deseja e, pra mim uma das piores partes, não falar o que deseja. Quando alguém controla o que você fala, te faz ter medo da fala, quando alguém controla a sua voz, ele te controla completamente. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é as outras pessoas em volta terem pena do abusador, o acharem uma pessoa bacana, não entenderem o porquê de você tê-lo deixado, ouvir a história absurda e chantagista dele e achar que a culpa dela é sua. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é, mesmo quando ele acaba, sentir medo de se expressar, de se portar, de se impôr. De frequentar alguns lugares, de vestir determinadas roupas, de existir. Sabe o que é ser apagada, sabe o que é ser silenciada.

O super poder daquele homem no seriado, pra mim, é o poder de se aproveitar do amor e da confiança de uma relação. É a justificativa de “eu te amo, me perdoe” “estou agindo assim porque eu te amo e você não pode me deixar”. O super poder dele é o de destruir, de mutilar, de explodir tudo que Jessica acha que poder ser.



Mas aí, sabe o que, de mais importante, eu aprendi com Jessica Jones? Quando você perde o medo, o seu abusador some. Quando ela perde o medo dele, ele começa a fugir dela e tentar chantageá-la de mil formas, sem sucesso algum. Ela não cede, ela não ouve. Quando ela entende que não é ele que manda, ela começa a voltar a conseguir mandar em si mesma. E destruí-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário