sábado, 5 de dezembro de 2015

A casa que fede

Todos os cômodos da casa exalam um cheiro ruim. Há poeira mesmo quando os móveis estão lustrados. Em cada parede há uma camada de lembrança insuportável. Tijolo e telha que mudam minha energia e meu aspecto. "Mas você tem uma casa só pra você, pra que vai sair daí pra tentar a vida incerta?". Quando me perguntam isso, quando me dizem que preciso esperar, quando me questionam sobre maturidade, ao invés da raiva que me tomava, eu me questiono se há no mundo lugares habitáveis. Se há no mundo um lugar onde as pessoas morem e vivam felizes. Procuro um lugar assim na memória. Encontro vários: um quarto numa casa que não era minha e sem acesso à internet decente, uma república com quartos divididos e pouco dinheiro, outra república com cama de casal dividida com uma conhecida, outra com um quarto pra mim e a casa separada por gostos totalmente diferentes, e assim sucessivamente até perceber que o espaço físico - desde que haja um - não é o primordial. O que importa são as histórias, são as pessoas, são as sensações. O que importa é deitar, mesmo que num colchão no chão, e se sentir amparada, se sentir num lugar seu. Eu não entendo o carnaval que as pessoas fazem - e nunca entendi - em volta de uma casa. Especialmente de uma casa onde tem mofo até na sanduicheira: quando não o físico, o mental.

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