domingo, 13 de dezembro de 2015

Mateus

Quero que você saiba que eu te odeio.


Você bem sabe que nunca me permiti não gostar de ninguém, tampouco sentir ódio. Lembro de você me dizendo que as pessoas tinham sido babacas comigo e eu te dizendo "ódio só faz mal pra quem sente". Você ficava inconformado porque achava que eu queria sempre ser a bozinha, eu ria, eu sempre ria de tudo quando eu tava com você.
Eu não sei o que aconteceu nessa última semana, não sei explicar. Eu simplesmente comecei a sentir muito ódio, de tudo, de todo mundo. Inclusive de quem não tem nada a ver com isso. E aí eu comecei a odiar você também, chorar de tanto ódio, me desculpa.
Foda-se o quanto isso é infantil: você não tinha o direito de ter me deixado, não tinha!
Lembro da gente combinar de nos casar aos 40 por sabermos que não aguentaríamos ninguém tanto tempo - ou ninguém nos aguentaria - e viajar o mundo com uma barraca nas costas porque a gente decidiu que essa era a melhor idade pra isso. Lembro daquela sala do grêmio da escola depois da festa junina, você bêbado dizendo que eu era seu ar, seu alimento, seu chão e que a gente só precisava um do outro pra existir. Lembro de você me dizer que nunca me deixaria sozinha, que eu nunca sentiria solidão. Que você sempre me amaria do jeito que eu sou, por mais chata que eu fosse e que isso era eterno. E olha em volta agora! Olha em volta!
Tem um buraco em mim desde que você morreu naquele maldito acidente. E eu te odeio por não ter se atrasado cinco minutos pra olhar a paisagem e evitado ele. Eu te odeio por não ter me dito que tava aqui pra eu te ver uma última vez. Eu te odeio por nunca poder me despedir de você.
Eu te odeio porque é dezembro. De novo é dezembro e me fala que porra eu faço da minha vida se você não tá aqui. Me diz como posso planejar um ano novo, mais uma vez, que não tenha você. Como eu posso imaginar aniversário ano que vem. Me diz por que você não tá aqui, quem te deu esse direito?
Por que você me fez acreditar que eu poderia ser quem eu quisesse, que você aguentaria o tranco, se você vai embora e me deixa aqui sendo mimada insuportável sem ninguém pra fazer todas as vontades que só você fazia. Só-vo-cê-fa-zi-a.
É domingo, eu saí do trabalho e sentei na praia pra ver o pôr do sol e tomar um cerveja. EU vim pedalando pra casa com um buraco enorme no peito. Quando me olhei no espelho, já pronta pra tomar banho, eu só consegui ver um buraco enorme dentro dos meus olhos, uma saudade tão grande, um aglomerado de coisas que só seu abraço entenderia, uma vontade incontrolável de te ligar e te contar tudo, como eu fazia quando me mudei pra cá e você ainda não tinha vindo e eu ficava horas gastando todo meu crédito sentada no anfiteatro da faculdade te contando tudo sobre todo mundo e de como ninguém chegava nem perto de você.
Eu não acredito que você foi embora. Faz mais de um ano e eu não acredito.
Eu sonhei a noite inteira com você e parecia que você tava do meu lado, eu tinha certeza que eu ia acordar, te contar meu sonho, rir da sua cara e te abraçar de conchinha pra dormir só mais cinco minutinhos.
Eu não consigo não odiar você, eu não consigo.

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