sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Castelo rá tim bum!

Quando eu era criança me perguntava quase todos os dias porque eu tinha nascido. Lembro de uma vez, quando eu tinha no máximo 8 anos, ter pedido desculpas à minha mãe por ter vindo ao mundo. Eu sentia uma culpa do tamanho do mundo.
E não era só culpa, era pavor. Hoje, quase 20 anos e muita análise e regressão depois, começo a entender o motivo de tanto desespero, mas naquela época tudo que eu queria era não ter que acordar, não ter que morar naquela casa, daquele jeito. Eu não dormia a noite, comia muito, vivia dentro da minha imaginação por julgar que lá era o único lugar do mundo que me cabia, que eu era bem vinda e o mundo era feliz.
Aí comecei a assistir castelo rá tim bum! E então descobri um mundo mágico, tão diferente do meu e por isso me parecia tão acessível. A minha vida era assistir e sonhar com o castelo, com as fadas no lustre, com uma tia bruxa que me contava histórias, um laboratório pra eu descobrir minhas coisas, uma biblioteca com um gato pra me falar sobre todos os livros do mundo - porque quando eu era criança eu achava que leria todos -, alguém que tivesse paciência pra me explicar o que todo mundo resumia à "porquê sim", amigos que visitavam a minha casa, um et que vinha me dizer de outros planetas, uma caipora que bagunçaria minha casa e eu culparia pela zona, uma entrevistadora toda rosa, um amigo entregador de pizza, um lavador de pratos que me parecia um aquário. Naquele castelo não existia problemas, eu não era um problema. Mas uma hora ou outra o programa acabava, eu desligava a tevê e voltava pro mundo onde eu não gostaria de estar, onde eu chorava dizendo que não gostava de mim diariamente.
Essa semana, no dia das crianças, fui à exposição do castelo no CCBB, do Rio de Janeiro. Numa época em que, novamente, eu esqueci o que é sonhar. E agora, choro lembrando de tudo que eu vi. De novo, eu era uma criança num castelo onde não existia problemas, dores, medos, onde eu gostava de quem eu sou. De novo eu tinha espaço pra sonhar, tinha memórias, tinha esperança. De novo eu era alguém. Ali só existia o Nino e eu desbravando o castelo, só existia um espaço no mundo pra mim.
Escrevo pra que eu nunca esqueça do dia em que eu descobri o lugar daquela criança amargurada no mundo, por 40 minutos ela tinha o mundo dela, como toda criança deveria ter, um lugar feliz. Por 40 minutos ela não era uma criança massacrada e rejeitada. Por 40 minutos aquele era o meu castelo  rá tim bum!

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