sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O caminho do fim

Acordo com o coração esmagado todos os dias. E a taquicardia o esmaga ainda mais conforme o dia vai passando, uma bomba relógio presa na minha garganta. Eu ainda não acredito que você se foi. Eu sabia que esse dia chegaria, desde o nosso primeiro dia, me preparo para este que agora chegou, sem acreditar que ele chegaria, sem nunca querer que ele chegasse. Daqui de onde escrevo, consigo ver você em tudo: na parte de cima do meu armário vazio, no balcão comendo tapioca de café da manhã, na minha cama, na parede do meu quarto, almoçando no sofá da sala, dançando e se olhando no reflexo do espelho do banheiro durante o banho. Daqui de onde te escrevo, tudo ainda é você, porque, embora minha mente finalmente tenha entendido, meu coração ainda não te libertou.
Não tenho dúvidas de que você é o melhor amor que já senti, a melhor relação que já tive. Não tenho dúvidas de que juntas fomos o mundo e ganhamos dele, que juntas conseguimos ir além do conceito de cumplicidade, de lealdade, de doação mútua. As minhas dúvidas, agora, se resumem, ao que fazer com tudo isso que ainda sinto.
Ontem, enquanto eu tomava banho, me olhando no espelho e te vendo no reflexo, eu entendi que preciso te deixar ir. Que não posso mais te prender em mim e fazer tudo que eu posso pra tentar nos reconstruir. Ontem, eu aceitei a imagem de alguma outra pessoa que consiga te fazer feliz - como eu fracassei - ao seu lado, que alguém te faça rir como eu fiz, te amar como eu amei, olhar como eu olhei. Ontem eu finalmente consegui abrir mão do meu lugar na sua vida, mas ainda dói tanto, meu amor, dói tanto não ser mais o que éramos, dói tanto que tenhamos desistido, que a gente tenha errado a mão.
Eu sei que essa dor vai passar, que a gente vai seguir, o que me dói, na maior parte do tempo, é isso: saber que você vai passar.
Lembra uma vez em que a gente tava na sua casa antiga, você tava fazendo charme por algum motivo que eu não lembro, me apressando. Eu te pedi pra me dar uma braço. Eu estava deitada na sua cama, você deitou em cima de mim, cheirando meu pescoço e eu te pedi pra casar comigo. Você disse que ia pensar no meu caso, rindo da minha cara, como se eu estivesse te contando uma piada. Hoje, agora que acabou, quero que você saiba que todas aquelas vezes eu falei sério. E que eu queria encontrar uma forma das coisas se darem de forma diferente.
Eu não queria que você passasse.

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