sexta-feira, 6 de março de 2015

Rivotril

Era uma noite perdida num mês perdido, uma social numa casa pequena e escura, em frente a um bar de onde nós e nosso grupo de amigos fomos expulsos devido ao horário avançado. A verdade é que eu não lembro ao certo quais amigos, eu estava ali pra estar perto de você, embora minha taquicardia gritasse pra eu voltasse pra casa por uma longa parte do tempo. Um notebook tocava a trilha sonora da noite, escolhida por alguma amiga nossa, que contava de um show que vocês estiveram juntas e tocou "trovoa", de uma banda que eu nunca tinha ouvido por minha ignorância e eu acharmos que era de algum bloco de carnaval (e como sabemos, eu odeio carnaval).
Até hoje (nesses momentos em que a sorte me toma e você resolve me contar como se apaixonou por mim) você me diz que parece que aquela noite eu estava ignorando a sua existência (fato que eu não compreendo, visto que eu estava sentada ao seu lado a noite inteira num sofá apertado deixando você beber toda a cerveja do meu copo) e toda vez que você me diz isso eu me questiono como você não percebeu o meu olhar vidrado em você e o meu sorriso idiota ao te ouvir cantando junto com a Juçara "fica comigo, se você for embora eu vou virar mendigo" dizendo "nossa, quanto drama, isso é tão eu" me perguntando aonde a garotinha insegura, que você deixou escapar ali que existia, se escondia dentro da mulher que me fazia perder a hora, o bom senso e a pose na segunda noite beijando a minha boca.
Até hoje eu não entendo (um pouco porque eu nunca quis entender, um pouco por saber que não há explicação) esse amor que foi invadindo meus dias e tomou conta da minha vida dessa forma, mas ainda sorrio enquanto escrevo isso ouvindo "trovoa" (a música que passei todo o dia seguinte procurando de quem era, visto que eu só me lembrava da parte da música que te ouvi cantando) e sinto minhas mãos geladas tanto quanto o vento que batia no meu rosto naquela noite na garupa da sua moto em direção à sua casa, "tá vendo todas essas portas iguais? Você consegue imaginar quantas vezes eu já errei a porta de casa bêbada e acordei os vizinhos, neah?", não, eu não imaginava o tamanho da sua capacidade de distração, todavia o que realmente não me passava pela cabeça era a felicidade que eu sinto agora (acabo de sair do banho, estou com uma toalha enorme enrolada nos cabelos pesando minha cabeça enquanto minha mãe me espera pra ir com ela ao mercado comprar coisas pra te preparar um jantar) por saber que você está agora dentro de um ônibus em direção ao meu quarto.
Eu amo as coisas que não se podem prever.

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