Estávamos num deserto, na Bolívia. Fazia três dias que atravessávamos paisagens numa 4x4, de modo que eu não faço ideia de onde foi, exatamente. Enquanto o guia do passeio parou pra tirar uma dúvida com a guarda do parque, eu lia meu novo livro preferido, que eu havia comprado na Virgen de loa Deseos, em La Paz, lugar que não havia como voltar naquele momento, nem tão cedo. Então, alguém me chama e resolvo descer do carro e deixo a porta aberta.
No segundo seguinte, ouço um barulho de rasgo. Olho pra trás e meu livro está despedaçando, voando naquele vento incontrolável, uma página pra cada lado. Grito. Saio correndo atrás das páginas, uma pra cada lado. Um rapaz me ajuda a correr pra pegar as folhas, em vão. Eu consigo recuperar umas poucas. Outras, daquela matéria linda que eu queria guardar e reler a vida inteira, foi pega por um estrangeiro, que fala uma língua diferente da minha e ri daqueles dizeres arrancando com o próprio carro, sem que eu conseguisse me comunicar a fim de impedir. Eu choro. O guia avisa que não dá mais pra procurar pelas páginas, precisamos ir embora. Eu tento negociar, ele diz que não adianta, tudo voou pra muito longe e não tem como buscar. Eu não acredito.
Volto pro carro e sigo chorando. As pessoas me dizem que é só um livro. Não há colo que me console. O que nos corta o coração quando perdemos, nunca parece tão significante segundo outros olhares. Só eu sabia o que aquele livro significava e só eu sabia o quanto estava doendo que, mesmo com sua carcaça e poucas páginas, ele nunca mais voltasse a ser o mesmo.
É mais ou menos o que acontece quando o relacionamento acaba.
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Quando o amor acaba
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