Primeiro eu sofri pelo que eu perderia de feliz em você: as manhãs de domingo acordando atrasada pra ir comer tapioca na feira, os banhos compartilhados, as conversas intermináveis sobre todos os assuntos do mundo, o abraço, o cheiro, o seu sorriso-gargalhada que me iluminava, as suas receitas deliciosas e saudáveis, o seu trajeto profissional que eu gostaria tanto de continuar a acompanhar (essa parte me deixou sem ar por dias), os cem animais diários, o espaço pra ser plenamente quem somos (fica aqui uma grande reticências). Mas passou.
Depois eu sofri porque morria de preocupação com você. Perdi algumas noites de sono me sentindo culpada por não ser quem acolheria todos os seus tormentos, por não saber como andava sua sanidade, se você tava se alimentando direito, voltando pra casa em segurança, bebendo no limite do seu fígado, por onde começar a procurar caso algo te acontecesse. Eu chorava me sentindo a menor pessoa do mundo porque eu não podia mais cuidar de você e não poder cuidar de você, talvez, seja o pior castigo a que você poderia me submeter. Mas eu estava em pedaços e precisava cuidar de mim, então passou.
Em seguida eu sofri pela sua indiferença, pela frieza. Eu sofri com os pesadelos que eu vivi alguns dias do seu lado. Eu sofri de raiva, de medo, de mágoa. Eu sofri por ter me submetido à tanta coisa que eu discordava pra permanecer onde eu estava e mesmo assim ter falhado, e ainda assim não ter reconhecimento, tampouco receber apenas metade da culpa e não ela inteira. Eu sofri de esquizofrenia. Eu sofri de ódio, algo que eu nunca tinha me permitido sentir até então.
Agora eu sofro pelas coisas que escorrem de você em mim. Das partes ruins, do não acreditar que você me direcionaria o que direciona ou que seria capaz de fazer com que eu me sinta traída mesmo sem estarmos juntas. Agora eu sofro por enxergar o seu lado obscuro, aquele que eu já conhecia pelo tempo e intensidade de convivência, sem saber da potência que é quando direcionado à mim. Porque tudo que se trata de nós ainda é tratado com uma potência muito maior do que eu posso controlar. Porque você ainda - e todos os dias acordo tendo como primeiro pensamento se "hoje já passou" - me atravessa. Eu estou contando os dias pra que você passe de vez.
Hoje, pela primeira vez em mais de um mês, acordei sentindo sua falta.
16/06/16
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