Desde criança eu queria morar em Rio das Ostras, de modo que quando esta passou a ser minha cidade, não me soou como surpresa, mas como caminho. Eu vim pra cá disposta a m deixar modificar pela cidade, pela universidade, pelas pessoas. E acredito que eu tenha feito um bom trabalho.
Olhando agora, em retrospecto, vejo a menina de 19 anos que chegou aqui com medo de andar duas quadras sozinhas, com medo de não fazer novos amigos tão bons, com medo de descobrir quem era. Ainda encontro hoje algumas semelhanças àquela menina, mas foi nessa cidade que me permiti transformar mulher e onde descobrir que transformar em mulher é todos os dias da vida e não algo acabado.
Cada rua que andei tinha uma memória, agora misturando infância-adolescência-universitária sinto orgulho e aquela saudade, aquela saudade boa de sentir de quando vivemos tudo, de quando fechamos um ciclo sem deixar nada pendente e não queremos voltar, por maior que seja o sorriso causado pelas lembranças.
Estou num ônibus indo pra um encontro feminista, o último comp graduanda e a vida não poderia ser mais gentil comigo me deixando fechar esse curso com chave de ouro.
Eu não saio daqui só psicóloga. Eu saio daqui feminista, sapatão, maconheira. Eu saio daqui com a mesma vontade de mudar o mundo que eu cheguei. Eu saio leve porque me encher de mim mesma causa leveza. Eu saio deixando a porta aberta, sem data pra voltar.
Eu vim pra cá com medo de me encontrar. Dizem que medo é desejo. Deve ser por isso que eu desenvolvi pânico. E deve ser por isso que me curei dele. Obrigada, Rio das Ostras, por ter me proporcionado os melhores e piores dias da minha vida, quando a gente encontra a gente é assim mesmo.
Estou pronta pra encontrar a nova Amanda que já existe em mim. Pra ser mais uma vez transformada por uma cidade, por uma universidade, por outras pessoas. Sinto que eu só expando por caber tanto em mim e por eu ser tantas. Talvez viver, seja se expandir até explodir (e enfim deixar de existir).
Na primeira semana de aula meu professor me disse que se não entrássemos um e saíssemos outro daqui, senão destruíssemos tudo que acreditávamos ser pra construir de novo, poderíamos voltar e fazer tudo de novo. Deve ser por querer dar a voltar completa na des/reconstrução que demorei tanto aqui. Eu cumpri, enfim, minha primeira e única tarefa que levei à sério: sou outra, o rio e eu nunca mais seremos os mesmos.
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