sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

um galo do espelho quebrado

Outro dia eu tava limpando a varanda do meu quarto e deixei cair a armação de metal daquela porta de vidro do meu armário que quebrou em cima de mim num dia que a gente brigou e eu fui relaxar na sacada pra ver se a vontade de te estrangular passava. Eu achei que fosse morrer, mas saí sem nenhum corte, aquele dia eu prometi pra mim mesma que não brigaria mais por besteira e que a vida pode ser uma grande milagre todos os dias. Não segui nenhuma dessas promessas, nem as tantas outras que fizemos.
Nesse dia eu desci pra pegar gelo e enquanto segurava o gelo na minha testa, que criou um galo enorme instantaneamente, eu senti o gelo derreter pelo meu rosto e aos poucos minha fortaleza se derreteu junto com ele. Eu chorei tanto, tanto, gritei até. Chorei por que os amores não deveriam acabar assim. Eu chorei por ter que ser racional e por a gente ter se perdido irremediavelmente. E porque eu sinto tanto a sua falta que parece que tem uma cratera aberta no meu peito. Na maior parte do tempo eu consigo preenchê-la com sorrisos e lugares e pessoas que encontro, mas ela ainda está aqui. E eu choro mais ainda pelos filhos que a gente não vai ter, pelos lugares que a gente não vai conhecer, por tudo que eu gostaria que a gente tivesse sido ou que a gente fosse e nunca foi ou será. Eu chorei de medo de nunca mais te ver. E por saber que ninguém nunca vai cuidar de mim como você cuidou. E por você tá mal e transformar tudo isso numa grosseria, chantagem, desespero que só me afasta mais de tudo que eu sonhei pra mim ou pra gente. Eu chorei tanto que algo dentro de mim secou e quando eu parei de chorar eu decidi olhar pro lado e ver o tanto de mundo que tem me esperando. Não tive forças pra levantar do sofá naquela hora. Nem pra comer ou pedalar até a praia e ver o pôr do sol que eu insistia pra gente ver todos os dias e só consegui te levar 3 vezes. Mas no outro dia eu tive. E sei que sei lá de onde essa força vai vir. E sei que se hoje eu tenho força pra ficar de pé é graças às suas mãos que me puxaram, me carregaram, me empurraram pra frente. E isso me dói mais ainda por não nos termos mais, mas me dá ainda mais força pra continuar seguindo. Eu queria que o tempo voltasse pra um dia qualquer onde eu chegasse cansada do trabalho e te encontrasse deitado na nossa cama tocando "los hermanos" dizendo que o jantar - uma torta cngelada - estava no forno me esperando. E que eu te jogasse na cama e deitasse em cima de você naquele nosso abraço de todos os dias e sentisse ali que o mundo inteiro poderia acabar. Mas isso não é possível, é contra a minha própria lei olhar pra trás e desejar o que não se pode mais.
Hoje eu vou pedalar até o mar com um galo na testa, que é uma cicatriz visível de você em mim. Da falta que você faz. Eu gostava mais quando podia esconder.

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