sábado, 8 de fevereiro de 2014
A falta que faz
Eu lembro da vez, bem no comecinho, que você chegou de viagem e veio direto pra cá com pão, queijo, presunto, suco e bolo pra gente tomar café da manhã e a gente estendeu uma toalha de mesa no chão e ficou brincando de piquenique. E aquele outro dia, também que você tinha chegado de viagem, com uma foto sua de quando era criança, dizendo que queria que eu soubesse e fizesse parte de todos os momentos da sua vida. E de quando a gente teve nossa primeira briga séria - que você esqueceu durante o dia enquanto eu me sentia culpada - e quando chegou aqui tinha um jantar à luz de velas te esperando. E daquela vez que você chegou aqui debaixo de um temporal e eu te dei bronca por não ter trazido chocolate pra mim - nossa primeira tpm juntos- e você teve toda calma me abraçando. E daquela outra vez que eu passei mal, tive apagão e você me viu tremer de medo, me trouxe pra casa, me fez massagem e disse que tudo bem se eu nunca visse filme de terror com você na vida: você faria qualquer coisa pra nunca mais me ver daquele jeito. E teve aquele dia, que a gente já namorava, e você, depois de terminar de compôr uma das centenas de músicas que fez pra mim nesse tempo, deitou em cima de mim e me perguntou se eu tinha noção da importância que eu tinha pra você. E do dia que você me disse que eu era a melhor amiga que você já teve na vida e eu disse que você além de melhor amigo, você era o meu melhor amor. Outro dia eu tava arrumando meus livros e achei umas cartas que te escrevi e você esqueceu aqui, sei lá se de propósito, só consegui ler as primeiras linhas, dobrei de volta e guardei bem longe, num livro que nem lembro até saber o que fazer com tudo aquilo escrito ali, com todos os sonhos expostos daquela maneira tão cheia de concretude e que eu não sei mais aonde enfiar. E por mais que eu tenha apagado todas as nossas fotos, você cantando a nossa música e tudo que me faz me lembrar de você do meu celular, vez ou outra eu acordo cantarolando "se você nunca vai prestar, eu também nunca vou prestar", e me vejo ainda me forçando a ir nos lugares que eu não gosto, não porque eu não goste, mas porque em nenhum lugar que eu vá tem nós dois. Nenhum lugar que eu vá tem o seu cheiro, os seus dedos, a sua mania irritante de querer tudo sempre no seu tempo e do seu jeito. E eu choro por saber que nosso tempo passou e que talvez ele nunca mais volte. E choro ainda mais por não querer me desvencilhar de você - você é minha única referência de norte - sabendo que as suas palavras e os meus atos, tudo que nos trouxe até aqui, nos separa sem nenhuma piedade.
Essa noite eu vou dormir de novo sentindo saudade de quando você me dava as costas pedindo pra eu deitar nelas e te abraçar- nossa conchinha inversa -, me dizendo que esse era o momento da sua vida em que você se sentia mais confortável e protegido. E vou chorar baixinho, até o sonho chegar, torcendo pra não sonhar com você, pra essa dor passar logo. E pra eu aprender a viver sem te procurar em todos os cantos quando sinto que o mundo vai desmoronar.
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