domingo, 30 de janeiro de 2011

Amor é silêncio

Meu pai é fã de uma banda chamada Roupa Nova, da época dele, quando banda ainda era chamada de conjunto. Hoje, “pra variar” ele cantarolou o dia todo um sucesso da já citada. “Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir...” e ainda imitava o amigo dele que nessa hora da música, na época em que iam a show juntos, berrava: “então grita!”.
Pode ser que um dia eu pague minha língua, mas hoje, quando eu disse ao meu pai que o amava e ele cantarolou o seu hit do dia pra mim, eu disse: amor é em silêncio, não preciso que ninguém saiba além de nós dois. E eu carrego esse discurso pra vida, seja do meu pai, do meu amigo ou dos meus ex e futuros namorados: eu não vou gritar ao mundo que te amo. Sem hipocrisia, eu acharia lindo se um dia, um helicóptero sobrevoasse meu quarteirão com uma faixa pendurada nele escrita: “eu amo você, Amanda! Casa comigo?”, mas eu trocaria facilmente a faixa no helicóptero por uma declaração ao pé do ouvido com nós dois dentro dele.
Sinceramente, quem precisa escrever muito, falar muito, repetir muito que ama, está tentando se convencer desse amor. Amor não é palavra, é gesto, não é grito, é olhar trocado a sós no silêncio de um quarto. Amor é quando se troca qualquer grande oportunidade da vida pela presença da pessoa, é se desdobrar em mil só pra vê-la sorrindo, é beijar cada parte do corpo do ser amado, decorando cada pinta, cada traço. Amor é admiração, é passar o dia ao lado ouvindo casos e histórias com um sorriso besta no rosto de quem é alegre só por estar ouvindo aquilo, é compreensão, é colo, é ser sincero por ser, é falar a verdade nua e crua sem medo, é amparo, amor é proteção. Quem escreve um bilhetinho e cola na sua cabeceira pra você ver quando acordar ama muito mais do que quem pendura uma faixa na frente da sua casa, quem te escreve um email, ama muito mais do que quem te escreve um depoimento no orkut. Porque amor é isso: sentimento. E como o próprio nome já diz, é pra ser sentido e não falado. E exatamente por ser tão difícil sentir, que hoje em dia, todo mundo prefere falar.
Eu não quero um romance de palavras, palavra por palavra eu já tive demais, vindo de ex companheiros e de mim mesma, há um turbilhão de palavras presas na minha garganta e na ponta dos meus dedos. Eu prefiro gesto, sexo, cuidado e amparo. Eu prefiro amor. Mas pode ser que um dia eu pague minha língua.

Um comentário:

  1. Demorei bastante para entender isto. Eu era o tipo de pessoa que gostava de proclamar o amor, e principalmente, gostava (e não somente gostava, eu necessitava) de ouvir dizerem o amor para mim.
    E cobrava. Ah, tanta bobagem. Imagine só que eu me chateava quando não recebia nenhuma palavra de amor que eu pudesse expor ao resto do mundo...
    Achava que assim, em público, eram que se davam os amores mais lindos. Mas eu era nova. E boba. E ingênua. E de quase nada sabia.
    Hoje em dia eu digo o mesmo que você. Prefiro o gesto, o sexo, cuidado e amparo. Prefiro o sentimento. E prefiro não dar nome a ele também. Porque amor é muito mais do que uma só palavra.

    Um beijo.

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