quinta-feira, 3 de março de 2011

Despedida

Em direção oposta ao imenso pesar que retornei a terra gélida é com grande prazer que amanhã volto ao meu reino da alegria, a minha passárgada. Despeço-me do frio que me acolheu, da rede na varanda, das minhas amadas montanhas na janela e volto, com a esperança de ter aprendio a lição. Volto leve, com a consciência tranqüila de quem errou, reconheceu o erro e lutou pro seu conserto. Volto com marcar, cicatrizes profundas que ao contrário do que dizem, não dói, serve apenas pra mostrar até onde posso ir, retornar.
Medo? Ainda o tenho. Andamos conversando muito nesses meus cinco meses de estadia, ele insiste em seguir viagem comigo, eu cansei de mandá-lo embora, deixo-o aqui dentro pra que ele aja quando for sua hora, para que ele me proteja dos meus próprios e equivocados anseios. Vez ou outra ele surge em hora imprópria, vez ou outra ele vem me mostrar que ele que manda (ou acha mandar) me impedindo de ser e fazer o que antes para mim era fundamental. Brigamos um bocado, mas agora hasteamos a bandeira branca.
Feito como conversava com um grande amigo hoje, percebi que a vida é como uma vela acesa, ilumina o ambiente, basta um sopro forte para apagá-la. Somos tão frágeis e teimamos em nos achar super-heróis, semi-deuses e muitas vezes Ele próprio. Hoje vejo, que assim como pequenos ventos deformam o formato do fogo na vela, pequenos ventos também deformam a vida. Voltei pro lugar, tal qual o fogo, estou de pé, acesa. Entretanto agora que sei da possibilidade de ser levada pelo vento, tenho usado casaco, cachecol e permanecido em abrigos quando acho que só isso não me protegerá. Eu aprendi a lição.
Levo comigo, desta terra, não só as lágrimas de sofrimento, as dores e angústias de achar que aquilo tudo nunca mais fosse passar. Não levo apenas a certeza dos bons e muitos amigos que permaneceram ao meu lado, fisicamente ou não se fazendo presente a cada novo passo dessa minha reabilitação. Não apenas o vínculo de amor, companheirismo e lealdade fortalecido e apertado ainda mais com meus pais. Hoje, eu levo comigo, uma nova Amanda. Uma nova maneira de ver o mundo, só minha, que só cabe a mim, uma nova experiência que é o que faz a vida. E acima de tudo a plenitude que tanto busquei fora, dentro de mim, em mim. Hoje, eu levo comigo não só a Amanda universitária, tampouco a Amanda que tanto me cobraram por ter se perdido do começo de 2009. Segue comigo nessa estrada a Amanda bebê, a Amanda aprendendo a andar, a Amanda aprendendo a ler e escrever. Segue comigo a Amanda pré-adolescente com espinha na cara e sangue entre as pernas. Segue a Amanda do primeiro beijo, do primeiro amor, dos muitos namorados, da primeira vez. Segue todas as Amandas que eu fui e, não menos importante, todas as Amanda que ainda vou ser.
Amor, Amanda, Amada.
Agradeço a mim mesma por todos os meus erros, obrigada por me fazerem o que sou hoje.

2 comentários:

  1. Seus textos são sempre acolhedores, nos levam para dentro do seu universo, nos fazem conhece-la profundamente.
    Fico feliz que tenha aprendido com seus erros, afinal cair eh natural, só não podemos permanecer no chão, nem sempre vencemos nossos medos, mas eh importante aprender a lidar com seus caprichos, parabéns por ter aprendido essa lição.
    Bem vinda de volta Amanda.
    Beijo.

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