quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Escrevo
Escrevo porque preciso. Pra desintalar a alma e não engasgar com as próprias tormentas.
Escrevo pra não morrer.
Como se cada ser merecesse ser crucificado pelo que é, a própria desgraça de estar imerso em si mesmo não basta.
Escrevo porque, por mais que encontremos alguém disposto a dividir a vida, ninguém é capaz de compreender sempre a outra alma, de entender poréns sem precisar questioná-los, de relevar absurdos e fazer silêncio para que a dor se canse e vá embora.
Porque ninguém é capaz de ouvir impropérios e entender que o momento deles é um extravaso breve. Escrevo porque sou louca. E ninguém entenderia a loucura que é ser louca de si sem querer se tratar. Se fosse antes, estaria encarcerada num manicômio qualquer.
Hoje não, é 2013, hoje, eu só escrevo.
Escrevo pra não morrer.
Como se cada ser merecesse ser crucificado pelo que é, a própria desgraça de estar imerso em si mesmo não basta.
Escrevo porque, por mais que encontremos alguém disposto a dividir a vida, ninguém é capaz de compreender sempre a outra alma, de entender poréns sem precisar questioná-los, de relevar absurdos e fazer silêncio para que a dor se canse e vá embora.
Porque ninguém é capaz de ouvir impropérios e entender que o momento deles é um extravaso breve. Escrevo porque sou louca. E ninguém entenderia a loucura que é ser louca de si sem querer se tratar. Se fosse antes, estaria encarcerada num manicômio qualquer.
Hoje não, é 2013, hoje, eu só escrevo.
domingo, 26 de maio de 2013
Quem me estuprou
"Hoje fui estuprada. Subiram em cima de mim, invadiram meu corpo e eu não pude fazer nada. Você não vai querer saber dos detalhes. Eu não quero lembrar dos detalhes. Ele parecia estar gostando e foi até o fim. Não precisou apontar uma arma para a minha cabeça. Eu já estava apavorada. Não precisou me esfolar ou esmurrar. A violência me atingiu por dentro.A calcinha, em frangalhos no chão, só não ficou mais arrasada do que eu. Depois que ele terminou e foi embora, fiquei alguns minutos com a cara no chão, tentando me lembrar do rosto do agressor. Eu não sei o seu nome, não sei o que faz da vida. Mas eu sei quem me estuprou.Quem me estuprou foi a pessoa que disse que quando uma mulher diz “não”, na verdade, está querendo dizer “sim”. Não porque esse sujeito, só por dizer isso, seja um estuprador em potencial. Não. Mas porque é esse tipo de pessoa que valida e reforça a ação do cara que abusou do meu corpo.Então, quem me estuprou também foi o cara que assoviou para mim na rua. Aquele, que mesmo não me conhecendo, achava que tinha o direito de invadir o meu espaço. Quem me estuprou foi quem achou que, se eu estava sozinha na rua, na balada ou em qualquer outro lugar do planeta, é porque eu estava à disposição.Quem me estuprou foram aqueles que passaram a acreditar que toda mulher, no fundo no fundo, alimenta a fantasia de ser estuprada. Foram aqueles que aprenderam com os filmes pornô que o sexo dá mais tesão quando é degradante pra mulher. Quando ela está claramente sofrendo e sendo humilhada. Quando é feito à força.Quem me estuprou foi o cara que disse que alguns estupradores merecem um abraço. Foi o comediante que fez graça com mulheres sendo assediadas no transporte público. Foi todo mundo que riu dessa piada. Foi todo mundo que defendeu o direito de fazer piadas sobre esse momento de puro horror.Quem me estuprou foram as propagandas que disseram que é ok uma mulher ser agarrada e ter a roupa arrancada sem o consentimento dela. Quem me estuprou foram as propagandas que repetidas vezes insinuaram que mulher é mercadoria. Que pode ser consumida e abusada. Que existe somente para satisfazer o apetite sexual do público-alvo.Quem me estuprou foi o padre que disse que, se isso aconteceu, foi porque eu consenti. Foi também o padre que disse que um estuprador até pode ser perdoado, mas uma mulher que aborta não. Quem me estuprou foi a igreja, que durante séculos se empenhou a me reduzir, a me submeter, a me calar.Quem me estuprou foram aquelas pessoas que, mesmo depois do ocorrido, insistem que a culpada sou eu. Que eu pedi para isso acontecer. Que eu estava querendo. Que minha roupa era curta demais. Que eu bebi demais. Que eu sou uma vadia.Ainda sou capaz de sentir o cheiro nauseante do meu agressor. Está por toda parte. E então eu percebo que, mesmo se esse cara não existisse, mesmo se ele nunca tivesse cruzado o meu caminho, eu não estaria a salvo de ter sido destroçada e de ter tido a vagina arrebentada. Porque não foi só aquele cara que me estuprou. Foi uma cultura inteira.Esse texto é fictício. Eu não fui estuprada hoje. Mas certamente outras mulheres foram". Aline Valek
domingo, 5 de maio de 2013
"O mundo está errado. Sempre esteve. Estava errado quando decidiram invadir terras estrangeiras impondo seus costumes. Estava errado quando mataram pessoas por suas posses, seus ideais. O mundo estava errado quando negros morriam nos navios ou nas senzalas, cegos de tanta dor, doença e miséria. Estava errado quando mulheres eram brutalmente assassinadas por um martelo imaginário conduzido por um amigo, também imaginário. Estava errado quando um austríaco dizia que para viver era necessário ser loiro de olhos azuis, enquanto este era moreno e matava outros loiros de olhos azuis. O mundo estava claramente errado quando nações brigavam por uma utopia do medo, pela frieza da suspeita, pelo gelo da morte de crianças carbonizadas vivas. O mundo está errado quando não existe liberdade de ser, de vestir ou falar. O mundo permanece errado porque há uma ilusão de "estar tudo bem", de que não há preconceitos, não há medo, nem suspeita. O mundo continua errado por achar que a barbaridade permaneceu no passado enquanto hoje somos uma civilização mais avançada e menos ignorante. E o mundo nunca vai deixar de ser errado enquanto nossos direitos civis, nossos direitos de minoria, os direitos que nos tornam humanos forem regulados por um tolo guiado por um livro de 2000 anos atrás."
sábado, 4 de maio de 2013
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Alguém exatamente como você
Eu sempre quis alguém exatamente como você. Alguém pra quem eu pudesse contar todos os meus segredos, pra quem eu pudesse ligar pra contar fofocas, alguém que tivesse paciência pra me ouvir resmungar. Sempre quis alguém que viajasse nas mesmas coisas que eu, que passasse pelos mesmos dilemas que os meus, que me entendesse quando eu quisesse ficar em casa de pijama fazendo nada enquanto todos os nossos amigos se arrumam pra uma festa irada. Sempre quis alguém que preferisse curtir todas as ondas da vida à dois, que topasse viajar pro meio do mato, que ansiasse por pegar o carro e sair sem destino ou hora pra voltar. Sempre esperei alguém que pudesse odiar e, por isso me compreender, água salgada do mar, mas que mesmo assim se amarrasse em passar horas tocando violão olhando pra ele, que entendesse meu nojinho por areia grudada no pé molhado. Aliás, sempre quis alguém, assim como você, que me entendesse sem eu precisar explicar, que me lesse como um livro fácil. Alguém que sorrisse assim, com os lábios, dentes, olhos, ombros e pernas, por completo. Alguém que eu olhasse admirando/babando toda manhã incansavelmente. Que quisesse me cuidar tanto que exagerasse. Alguém que me desse motivo pra querer levantar da cama, mas não me desse a menor vontade devido ao conforto da companhia. Alguém que me deixasse livre pra errar e me desculpar, pra construir um caminho novo ao invés de seguir por onde todos já passaram. Alguém que conseguisse compreender do que falo, que argumentasse com tudo que eu pensasse me deixando enfezada com opiniões tão diferentes e me empurrando pra frente (pro crescimento). Alguém que quisesse conhecer o mundo, e, mais que isso, me conhecer por inteiro e se deixar à mostra, à disposição e à vista para ser também conhecido, desvendado. Sempre quis alguém, resumindo, com quem eu pudesse dividir o mundo inteiro e, ainda assim, me satisfizesse apenas dividindo uma cama. Eu sempre quis alguém assim, sem tirar nem pôr, exatamente como você.
(Para Renan Queiroz, amor, companheiro e motivo do meu sorriso insistente).
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