sábado, 29 de março de 2014

Vazio - folha em branco

Tem uma folha em branco dentro de mim. Ela me acompanha desde que nasci. Poderia ser uma dessas folhas normais, que a gente escreve histórias novas todos os dias. Não. Nesta não se escreve. Já tentei caneta, tinta, lágrima e sangue, nada entra nela, ela nunca absorve. Um dia eu subi numa pedra muito alta, tirei a folha de dentro do peito e joguei pro alto, pro vento levar pra bem longe. Foram alguns segundos de paz por me livrar daquele vazio todo, quando dei por mim, ela tinha se acoplado à mim de novo, como se em mim houvesse um encaixe perfeito pra dor da incapacidade. Cada época a chamo de uma coisa: vazio, dor da incapacidade, defesa impulsiva, taquicardia constante. Hoje de manhã eu acordei e ela olhou pra mim, achei estranho um pedaço de papel sair de dentro de mim e me olhar. De repente, ela começou a se auto-escrever, usando a minha letra de alfabetização "um único aviso: quanto mais você se conhece, menor eu fico. Quanto mais você procura fora de você o que cada parte do que você é, o que já possui, mais eu me fortaleço. Eu também quero voar com o o vento daquele dia das montanhas, liberte-me, liberte-se. Para isso, ouça-se. Caso consiga, vai perceber que, no final, eu nunca existi". Pulei da cama. Pode ter sido um sonho. Um pesadelo. Irreal, surreal. Sei que respiro mais aliviada, pensando na história que vou escrever quando eu conseguir libertar nós duas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário