sexta-feira, 23 de abril de 2010

Iluminado.

Luz, era a segunda luz na vida dela, agora não só como uma claridade no fim do túnel, mas como uma evolução um tanto quanto degenerativa ao seu lado. Ela se encantou, abriu mão de tudo, trocou o que jamais deveria ter sido cogitado fazer troca, se enfeitou, se iludiu, se envolveu. Justo ela, a maior bloqueadora de sentimento que alguém já notara, ela que possuía a capacidade quase impossível de escolher quando sentir (e geralmente, optava pelo nunca), estava perdidamente...ahn...perdida. Perdida de tesão, de paixão, de ilusão, o que sustentava seus passos era aquele olhar nerd que velava seu pranto. E ela se entregou, se entregou pro vazio, pro escuro, pro nada, por medo de cair levou o pior tombo que experimentara, o tombo da decepção. Culpa dela, só dela, lhe mandaram parar de beber da fonte de ilusão que ela projetara nele, avisaram que nada passava de idealização, como sempre, teimosa, que era, tapou os ouvidos e ouviu apenas a voz interior, que lhe empurrava rumo ao precipício cada dia mais, a casa dia que passava, era um passo que aquela voz lhe obrigava a dar. Ela foi e não olhou pra trás, pro lado, tampouco pra onde estava indo.

Não deu certo, óbvio (para todos, para ela não), quando deu por si, estava tudo escuro a sua volta, num caminho desconhecido com prováveis espinhos a sua espera. Estava sozinha de novo. Vez ou outra a luz resolvia piscar ao seu lado de novo e ela aprendeu a se contentar com pouco, já que não mais possuía seu brilho eterno, ao menos tinha um pisca-pisca com defeito em algumas partes do caminho. Pobre, tentava um auto-resgate, se desvencilhar, mas nada dava certo, quando aprendia andar no escuro, a luza voltava, quando via uma porta rumo outra claridade, o pisca-pisca se enfeitava de cores coloridas para chamar-lhe atenção. Nada valia mais, mesmo sendo iluminada apenas esporadicamente, mesmo usando da luz apenas e aceitando a recíproca, mesmo que apenas para lhe render algumas risadas, ela se submetia aquela luz. Talvez por superestimá-la, talvez por ser a única a enxergar o potencial daquele clarão. Não sei, nem ela sabe, só sabia que aquilo precisava de um fim, belo e certo, um fim.

O inconsciente às vezes nos prega peças que o nosso recalque nos impede de pregar e até ele sabe o quanto ela precisa apagar aquela luza de vez. Foi um lapso, de linguagem, memória, atenção, uma desestruturação da intenção, só isso bastou para que o fim se aproximasse. Ela precisava ir embora, se despedir, deixar aquela parte dela pra trás. Aquela parte que um dia fora tão bonita, admirável, que a ajudou tanto deveria ser deixada pra trás. Foi um ótimo paliativo, só que agora ela precisava buscar a luz infindável, tão forte que a obrigava a usar óculos escuros, tão contagiante que a fazia sorrir de um jeito estranhamente feliz, tão intensa que dava gosto vê-la iluminada e todos queriam acompanhá-la. Ela precisava se despedir, porque só assim se encontraria novamente, só assim deixaria as lágrimas pra trás, a preguiça de mostrar os dentes. Está indo, luz, ela está indo, continue no fim do túnel esperando-na, está quase aí, só lhe falta a coragem de soltar a mão dele que agora acaricia a dela e deixá-lo também partir.

Um comentário:

  1. minha linda,cada coisa que vc escreve que me leva a pensar... cada coisa triste e ao mesmo tempo belo,se sua luz num a apagar gostaria de seguir com vc ate o final do seu trajeto...bjs R

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