quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tarde

Dizem as más línguas que a mulheres escondem a verdade sobre o gozar ou não, guarda o segredo da melhor amiga a 7 chaves e carrega sempre alguma culpa por alguma coisa dentro de si sem que ela jamais seja revelada mesmo que remoída todos os dias. Ela era diferente, ela escondia, guardava a 7 chaves e carregava como cruz o amor. Essa “centelha quase palpável, essa esperança eterna” era o que ela mais abominava desde sempre e contra o que lutava como a favor da própria vida. Não que ela nunca tivesse amado, amou loucamente como nos finais de conto de fadas, mas desistiu, desistiu de se entregar, de perder o controle justamente por ser assim, uma eterna controladora. Ela queria conquistar e dominar o mundo e descobriu não mandar nem no lugar que o irmão guardava os sapatos e por isso desistiu de sentir. Porque pensar causa muito menos dor, estrago, causa muito menos efeito do que sentir.

Até que descobriu que há certas coisas fora de seu alcance e foi tomada pela estranha sensação de incapacidade, de impotência, era assim que ela se sentia quanto a ele, impotente. Não pelas promessas anteriores não cumpridas, mas pelo presente que queria e não tinha, por tentar fazer com que aquele sorriso só sorrisse pra ela novamente ou pela primeira vez, mas que fosse apenas pra ela, mas não era, nunca seria, “o tempo não e algo que se possa fazer andar para trás”, já dizia Shakespeare, já dizia ela numa tarde de inverno ao consolar uma amiga e ela não soube aproveitar enquanto tinha a chance, enquanto a chance a possuía, enquanto batia a sua porta todas as noites numa voz suave em busca do seu colo confessionário, ela não quis, não por não exatamente por não querer, mas por não se dar conta do quanto queria, do quanto valia a pena. Impotente, era isso que era ela agora que tudo estava feito, agora que julgava a vida e a filosofia de Shakespeare injustas, por que não poder refazer, por que não poder consertar? Um amigo lhe dizia que nunca é tarde demais enquanto o outro reformulava dizendo que nada está tão sujo que não possa ser limpo, entretanto, pra ela, as atitudes são para alma e para a vida como escrever sobre um papel de carbono, você pode tentar da maneira que for, pode atá ignorar determinado rabisco, mas nunca vai poder apagar o que já fez, falou, pensou. E o leite já fora derramado, o tempo passara, o amor ainda estava ali, aquele do qual ela tanto fugiu, o que tanto negou e renegou, agora lhe acordava toda manhã com tapas no rosto, ou, nos dias mais calmos, com sopros na face, mas jamais deixara de lhe acordar e de ir dormir ao seu lado, lia o jornal com ela, corria com ela na praia e a perseguia até na hora do banho, ele resolveu ser parte da vida dela. E justo agora, quando ela decidiu assumir a presença dele, é tarde demais....

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