sexta-feira, 19 de setembro de 2014

fim 2

Eu sempre acho que tá controlei, mas acabo percebendo que não: o vazio que você deixou é o sentimento que mais me ocupa. Olho pras nossas fotos pregadas na porta do meu quarto e pros nossos sorrisos, sempre foi tão fácil sorrir com você por perto. Hoje, tudo que eu mais queria era te abraçar, deitar no seu colo e receber cafuné enquanto você me conta uma história de um acampamento em que você quase morreu e te ameaçar dizendo que se você morrer eu te mato, como eu ficaria sem você?
A pergunta fica ecoando na minha mente: como eu ficaria sem você? Como eu fiquei, como eu fico, como eu existo? Ainda não encontrei vida desde a sua morte. Não encontrei uma forma de continuar esse caminho que parece, mais do que nunca, não valer à pena. Queria que você estivesse aqui pra me falar mais uma vez que a vida é uma folha de papel com um ponto rabiscado e que eu to, de novo, me focando no ponto e esquecendo de tudo que ainda pode ser. Queria que você tivesse aqui pra eu chorar a sua falta no seu ombro enquanto a gente olha o mar se perguntando quando as ondas vão desfazer nossas dores junto com elas.
Acordo todos os dias planejando o mundo, tentando superar. Todos os dias a imagem do seu fim acaba comigo. Não sei mais fazer as batidas do meu coração ficarem normais, desaprendi a respirar em paz, meu corpo não sabe mais bombear o sangue nele pra que essa sensação de desmaio contínuo passe. Eu sinto como se estivesse constantemente drogada, numa bad trip, no meio de um pesadelo.
Agora eu desejo que exista outro lado, que você esteja bem e que ainda queira cuidar de mim quando eu constatar que to mesmo sozinha no mundo, como todo mundo está. Espero que nesse outro lado tenha uma cama pra mim, uma panela bem grande pra você me preparar pipoca e brigadeiro, muitas linhas enceradas pra gente fazer pulseira e você encher meu cabelo de dread de linha, montanhas pra gente subir e cachoeiras pra gente se banhar. Eu só espero que, em algum lugar, você ainda exista.

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