sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Meu coração inteiro dói, tenho a sensação de sentir cada parte dele e das quatro câmaras que o ligam ao resto do meu corpo, bombeando meu sangue, bombeando minha dor. Esta dor se estende, sinto-a em cada célula, em cada poro. Esta dor me sufoca e eu já não sei como é respirar. Não me incomodo. Deixo que o ar pare de entrar o tempo máximo que consigo, na tentativa de que meu corpo entenda que não deve mais funcionar, que o Universo faça pra mim o trabalho sujo que não tenho coragem.
Minha vontade é fugir, sair correndo e nunca mais parar, encontrar um túnel em que o fim seja um abismo que me estraçalhe.Onde clica pra nunca ter existido?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014



"Não vim te propor uma bela amizade, um sorvete no fim da tarde e nem um fim de história marcado por vaidade.

Vim pra te desejar alguma sorte, vim porque já voltei a ser forte e porque sei que memória não respeita pena de morte.

Vim te deixar um abraço, porque te querer bem é o melhor que eu faço e porque, afinal, já chega desse cansaço.

Vim te dizer para ficar em paz, para respeitarmos o que deixamos para trás e para propor, enfim, que a gente não se queira mal, apenas não se queira mais."
Eu não quero a apropriação da morte.
Eu gostaria de ter tido o direito de nunca ter existido.
"- não dá pra ter tudo.
- mas eu só queria ter você"

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Cebola

Você sempre será os cachinhos sentado na janela fumando un cigarro me questionando o que eu achi que seria o mundo se o tempo não existisse. E eu sempre vou sentir sua falta.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Rivotril

Você roubou minha dor,
roubou meu medo,
roubou minhas certezas infundadas.
Você roubou minha angústia,
minha vontade de morte,
meu caminho delineado.
Você roubou minha solidão,
roubou a dureza do meu coração,
minha falta de confiança em mim.

Você me entregou meu caos
revirou minha bagunça, meu mundo, meu script
afundou meus traumas
me sorriu ao perceber a multidão que sou

Você me resignificou.
me apontou o caminho pra tudo que sou
ofereceu sua mão pra eu caminhar até lá
emprestou o teu abraço pra eu chorar por nem sempre ser quem eu gostaria.

Você me devolveu pra mim.

domingo, 26 de outubro de 2014

E meu coração aperta por que nessa serra do amor deveria caber nós três num carro gargalhando sem parar. Só cabe silêncio.

“aos poucos fui descobrindo que não-monogamia precisava significar fazer as pessoas se sentirem mais valiosas, e nunca menos. e que deveria estimular o auto-cuidado, e não cometer nenhum dos dois erros opostos a isso: agir de forma egoísta em relação às dependências emocionais que por ventura surgissem entre pessoas não-monogâmicas, ou agir como se essa dependência emocional não existisse, fosse desimportante, ou não fosse problema seu. se não-monogamia não podia significar ter uma obrigação com a outra pessoa, então automaticamente precisava significar que eu tenho uma responsabilidade de ajudá-la a cuidar-se, pra que jamais nossa relação se tornasse escravizante e dependente.

[...] se existe uma não-monogamia individualista, que pressupõe que minha liberdade afetiva, sexual ou romântica deve ser colocada à frente da nossa responsabilidade coletiva de construir novas formas de relação e de afeto, então no mesmo segundo eu me situarei numa então fundada ‘não-monogamia social’, oposta a esta primeira. não quero simplesmente poder me desvincular de mulheres (trans e cis) e pessoas trans que não se sentiram livres o suficiente para se relacionar comigo. quero que nossa relação seja parte de um esforço político para destruirmos conjuntamente nossas correntes.

[...] a questão é: queremos que relações livres sejam meramente relações que extrapolam para além das relações exclusivas entre pares, ou queremos que sejam relações onde questionamos os pilares da imposição, do sofrimento e da opressão relacionadas especificamente às formas como organizamos nossos relacionamentos?

[...] eu acho que eu tenho uma responsabilidade de ajudar a pessoa a construir essa relação, e que ela também pode me ajudar a construir a minha. que se existe algo de sororário e solidário a se explorar nas relações livres, é justamente este potencial de que as pessoas percebam que, não somente devemos nos relacionar, mas nos ajudar a desconstruir a monogamia. nos ajudar a construir autonomia sobre nós. nos ajudar a ter consciência de que somos, antes de mais nada, nós. e que antes de mais nada podemos ter uma afetividade, um amor e uma sexualidade que nos é própria. e tudo aquilo que o patriarcado roubou da gente, é nosso.

[...] eu acredito que estar numa relação livre não é só exigir, mas é fornecer autonomia. eu acredito que estar numa relação livre é ajudar a outra pessoa a não precisar de você.

[...] eu acredito que não-monogamia significa liberdade, mas uma liberdade real. material. plenamente física: ela acontece quando não sofremos quando estaríamos sofrendo, quando não nos deprimimos quando teríamos nos deprimido, quando sentimos compersão onde sentiríamos ciúme, quando sentimos saudade onde sentiríamos angústia.

Talvez a própria noção de “mulher ciumenta” seja problemática, talvez a noção de “ciúme” é que esteja despolitizada. Talvez se trate de parar de chamar insegurança de ciúmes, haja vista que tal uso protege a supremacia masculina, mas certamente se trata de tomar uma postura sororária em relação às mulheres que experienciam insegurança, e não de tratar o ciúmes como uma simples espinha a ser espremida pra fora de nossos corpos. É preciso abraçar estas pessoas e discutir com elas as raízes daquilo que nos está prendendo. Do contrário, estamos somente isolando quem está mais preso do que nós, e nos beneficiando dessa higienização".

A escolha mais difícil é não sumir, é enfrentar a própria verdade de pé, é não se perder de si. A escolha mais difícil é não falar, é regurgitar até elaborar a própria dor, é o entendimento de que toda dor foi escolhida e permitida. A escolha mais difícil é dar adeus.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

As palavras, elas estão presas nas pontas dos meus dedos e não conseguem mais sair.
Eu fico aqui cheia de nós ansiando por expulsá-las de mim.
"Amanda, maturidade não é sofrer desse jeito. Maturidade é ter coragem e parar de protelar pra decidir alguma coisa, especialmente alguma coisa tão óbvia. E, uma vez decidido, não ficar remoendo tudo que poderia ter sido"

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

"Levar uma mulher para a cama é levar para cama uma multidão, e é preciso estar preparado para lidar com tanta gente, e com tantos medos, e com tantos amores, e com tantas dores, e com tantas paixões. Porque depois de tirar nossa roupa é preciso que nos tirem as camadas psicológicas de detritos impostos pelo mundo machista, misógino e cruel que fica do lado de fora e que acaba penetrando. Ao contrário de nossos colegas do sexo masculino, não nos desatrelamos dele tão facilmente. A pessoa que consegue eliminar essas camadas tem em sua presença o ser humano mais rico e complexo e intrigante que já passou por aqui: uma mulher em sua totalidade. E a totalidade de uma mulher é coisa demais – e talvez por isso relacionamentos lésbicos sejam sempre tão intensos e dramáticos; porque envolvem essas características potencializadas e a menos que você esteja dentro de um deles jamais terá noção de como um casal de mulheres tem a colossal capacidade de complicar todas as coisas, mas também a colossal capacidade de se entregar e de cuidar e de se envolver." (Milly Lacombe)

Rivotril

Acordei na sua cama sem você do meu lado. Eu sabia que você não estaria, lembrava do cheiro do seu perfume sendo espirrado em você mesma pela manhã e lembrava também de você me abraçando e pedindo que eu me cuidasse, mas isso não fez com que, nas seis vezes que meu despertador gritou, eu não tateasse os lençóis do seu lado de dormir te procurando. Levantei e sua presença ainda estava em mim, como se me faltasse alguma coisa que eu não soubesse bem o que é: entenda, não falo de falta no que eu sou, mas no espaço que reservo pro tão presente nós.
Pedalei pelas ruas com um aperto no peito, intrigada. Como pode alguém ser tão parte do que eu sou sem ter a menor intenção disso? Como pode alguém me ter tanto exatamente por entender que eu não sei ser de ninguém?
Sim, ainda me surpreende a forma como você virou minha vida do avesso desde que eu te disse pela primeira vez "boa tarde", ainda me surpreende cada vez que olho pro lado e te vejo pensando e gesticulando sozinha organizando algum pensamento e eu rio de você sabendo que estou exatamente aonde quero, ainda me surpreende de tal forma que desaprendi até a escrever, "fiquei burra", não consigo organizar tudo isso que sinto num texto, por que é muito, por que é de verdade, embora a verdade não exista. "Se a verdade não existe, a mentira também não", lembro de você dizer jogada no sofá com um texto na mão enquanto deito sobre você. Mas nenhum desses conceitos realmente importa, agora tudo que eu quero é que você volte pra cama e me abrace enquanto o despertador toca.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Tomara.

Tomara que no céu tenha uma estrada cheia de árvores e placa engraçadas escrito errado pra você rir enquanto pedala. Tomara que tenha música boa. Tomara que tenha uma cachoeira com um pico bem alto pra você pular  (enquanto eu fico sem respirar por alguns segundos esperando você imergir daquela mundo de água e voltar sorrindo pro raso). Tomara que tenha salgadinho de presunto e queijo e pipoca, muita pipoca e chocolate. Tomara que no céu tenha uma rede ao lado de uma estante de livros bem grande pra você passar horas lendo. E que tenha uma bola pra você tropeçar enquanto finge que sabe jogar. Tomara que no céu o Vasco seja campeão. Tomara que exista céu. Tomara que você ainda exista. Tomara.
Eu fecho os olhos e lembro do cheiro. Da casa, da roupa, do sexo, do seu cabelo. Sem o teu cheiro seria muito mais fácil te esquecer.
"coragem pra ir embora" continua ecoando dentro da minha mente, onde você ainda diz "você precisa aprender a deixar as coisas passarem por você e irem embora, para de tentar segurar ou se segurar"
Nota sobre a narradora, ou: como sentir ciúme, além de me afastar completamente, me faz (re)lembrar que não se deve acreditar em ninguém. Amor é nunca relaxar.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

E é exatamente nessa hora que eu tenho vontade de introduzir todas as muitas cartelas de remédios em cada poro do meu corpo, de não precisar mais acordar. É nessa hora que a minha coragem de acabar aumenta mais um pouco, cada dia mais. Eu nunca sei quais dessas linhas é, de fato, o meu fim.

Mais uma noite (tentando dormir) com você

 A gente costuma se enganar que vai dormir cedo. Não sei dizer se por inocência ou terceiras intenções (claro que eu sei, mas finge), nossos corpos não conseguem ficar parados quando se encontram na mesma cama. Eis que em algum momento você me deseja bons sonhos, encaixa sua cabeça do lado do meu pescoço e muda a respiração, em 4 minutos você já tá mais que dormindo. Eu fico te fazendo cafuné mesmo sabendo que você não tá sentindo, até pegar no sono.
Nem meia hora depois que eu consigo dormir você levanta reclamando de calor e liga o ventilador. Volta pra cama e me abraça. Dormimos de novo. Quando sinto mais uma vez você se mexendo do meu lado procurando sua camisa, dizendo que vai ficar resfriada com esse vento todo em você, passo a mão debaixo do travesseiro e te dou a camisa procurada e você me olha surpresa me perguntando como eu sabia onde estava - sendo que é óbvio, já que eu que a tirei.
Te abraço de conchinha e sinto meu corpo arrepiando inteiro ao encostar em cada parte do seu , parece que agora vamos dormir. Até que começa a amanhecer, você começa a tossir e resmungar, reúno todas as minhas forças pra conseguir levantar meu corpo da cama e aviso que vou pegar seu própolis, você toma meio contrariada dizendo que eu não precisava levantar, eu finjo que não ouço, você resmunga mais um pouco e dorme.
Em pouco tempo te sinto se mexendo novamente ao meu lado tomando cuidado pra não me acordar "o que houve?" pergunto ao te ver levantar "tá abafado aqui, neah?" você justifica abrindo a janela e se perguntando o porquê de ter dormido com ela fechada, sendo que você sabe que a resposta é que teve medo que os pernilongos te atacassem durante à noite e você tivesse que levantar e correr pela casa matando um por um com as mãos (como fez antes de se deitar). Você volta pra cama, deita sobre o meu peito e eu sei que me restam poucas horas de sono.
Daqui a pouco seu celular vai tocar e você não vai ouvir o despertador, ainda desconfio que alguma vez você o tenha ouvido de fato, vou levantar pra desligá-lo e beijar seu rosto e pescoço te avisando que tá na hora de levantar. Você me abraça quase me esmagando pedindo pro mundo só mais cinco minutinhos, que sempre se estendem por quase 1 hora. Assim chegaremos desesperadamente atrasadas em todos os nossos compromissos, como é de praxe desde que você tropeçou no meu caminho e virou minha vida de cabeça pra baixo. Não me incomodo, tudo que eu penso enquanto fazemos cabaninha debaixo do seu lençol é que eu passei a vida inteira procurando paz e encontrei-a aqui, em meio ao caos que somos juntas.
De repente você decide que está morrendo de fome e levanta num pulo procurando qualquer comida que possa haver na geladeira pra beliscar enquanto prepara um café. Então, enquanto procura o filtro de papel que sempre se perde na gaveta que cabe tudo, você me pergunta se dormi bem: eu não poderia ter dormido melhor.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

(Pablo Neruda)

"Quando não te doeu acostumar-te a mim,
à minha alma solitária e selvagem, a meu nome que todo
afugentam.
Tantas vezes vimos arder o luzeiro nos beijando os olhos
e sobre nossas cabeças destorcer-se os crepúsculos
em girantes abanos.
Sobre ti minhas palavras choveram carícias.
Desde faz tempo amei teu corpo de nácar ensolarado.
Chego a te crer a dona do universo.
Te trarei das montanhas flores alegres, copihues,
avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.

Quero fazer contigo
o que a primavera faz com as cerejas."




(Pablo Neruda)
As duas maiores armas que conquistei na vida foram: silêncio e dissimulação. De modo que eu ainda não entendo com joguei as duas no chão diante da maior batalha.