domingo, 29 de agosto de 2010

De novo.

Quanta reforma, quanto desgosto feito com gosto pra chegar aonde não se quis. Vivi, menti, refiz, sobrevivi, estou aqui. Aqui onde? Dentro do único lugar que eu queria mudar, aonde eu sonhei, mas o sonho era outro agora, com outra forma, numa outra bola, inflável, meu infinito inflável, que saudades. Uma boca desenhada, covinhas, pêlos loiros a bordar seu corpo que sempre esteve nos meus sonhos, na sala, olhos azuis e cabelos loiros encaracolados nos esperam pro jantar, pra papear. Foi-se, as duas maiores saudades instauradas no mesmo lugar. Tornei-me fria, quase fútil, egoísta, quero que o mundo seja feliz, mas quando vejo em outros olhos a felicidade que antes reinava nos meus, dói, queria pra mim a plenitude, a certeza, deitar no travesseiro sem culpa, sem dor e poder sonhar sem medo dos pesadelos. Derrubei paredes, descolori muros, doei móveis e a estátua que me seria herdada, joguei pela janela a paisagem dos domingos e foi-me tirada a vontade de que qualquer dia viesse. Não dá certo, nada mais, e toda vez que algo se esvai fica a certeza da culpa, não mais a certeza do amor. “Se eu não tivesse estragado tudo, agora...” O meu agora e o meu se nunca entram num consenso. Grito que sugam minha energia, grito que não me deixam em paz, mas eu chamo, atraio, tenho a mesma vibração, a mesma sintonia, o mesmo desejo do “leve-me embora”. Ninguém me ouve, ouvem, mas não escutam, o mundo ta ocupado demais. Sinto-me só, meus conterrâneos vazio e frio não me deixam, gela aqui dentro, sobra vazio. Cobram-me fé, cobram-me atitude, desprendimento, mas não tenho motivo. No lugar daquelas paredes coloridas de sonhos, pintadas com futuros filhos, cães, viagens e noites eternas não há nada, não tem parede, to sem teto no mundo, sem rumo. Não adianta, não me ofereça abrigo, quero viver na chuva, morrer ao léu, é a minha escolha quando não o tenho, quando não habito mais o seu sorriso. Drama? Demais pra minha cabeça, até pra mim. A vida que eu queria não era essa. Ele e ela não estão mais aqui, foram-se pra bem longe, nem sei pra onde. Mas a distancia dele é maior que a dela, entre ela e eu, só tem um oceano, entre ele e eu, um mundo, uma vida, um desencontro. Quanta reforma, quando desgosto feito com gosto, por gosto, pensando que seria o que não vai ser. Joguei fora por esperar que teria a felicidade, o mundo, os sabores em troca, não tive. Hoje só o que tenho é a vontade de que tudo fosse como a um ano atrás.

Um comentário:

  1. Pensa assim: há um ano eu não conhecia a Thaís.
    Pronto. Abre um sorriso pra mim e fala "idiota!" :)

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