quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Antes que termine a poesia.

Tenho tentado ser sã, ser sóbria. Tenho tentado distinguir sonhos de realidades induzidamente extasiadas. Tenho tentado. E tentando te encontrei. É fácil vir aqui combinar palavras pra descrever olhares e sorrisos, qualquer pessoa detalhista ou idiota apaixonado percebe isso. Mas a verdadeira descoberta extraordinária, é o que transparecer quando conseguimos enxergar por detrás disso, quando conseguimos nos mostrar.
Outra noite achei ter sonhado com o vazio que me invade, achei. Na verdade, tudo aquilo era real, ou pelo menos saiu da minha boca em forma de som ouvível. Dei-me então conta de que posso lembrar da minha inconsciência assim como posso lembrar dos meus sonhos distorcidos, perdi uma tarde nisso. Fechei os olhos e perdi-me num labirinto escuro e torto, batia a cabeça na parede a cada vez que achava uma curva, uma saída e quando achei que nunca mais sairia dele, te avistei de longe, sentada, com um sorriso de batom vermelho me esperando chegar perto. Ouvi-me te dizer das minhas dores, ouvi-me confessar meus pecados, minhas lástimas e ouvi-te dizer que a gente não devia ta contando tanto da vida íntima assim. Aos poucos, senti-me despida por você, mesmo que sem me tocar, assim como eu te despia. Nossas vestes iam caindo com nossa armadura criada pro mundo "você tem alguma dúvida que isso aqui que a gente ta vivendo é realidade?". Já sem roupas, nos abraçamos, forte, peito com peito, alma com alma e de mãos dadas, caminhamos pra um lago negro que prometia nos lavar a alma. Nadamos de mãos dadas sem medo de toda aquela escuridão, estávamos tristemente acostumada a ela, estávamos, tristemente, acostumada a sê-la. Enquanto eu sentia toda a sujeira adquirida por vias escuras e cruzamentos perigosos, saindo do meu corpo, de mim, via a água, em contrapartida, clareando. Quanto mais sujeira era jogada fora, mais clara a água ia ficando, me assustei e te puxei pra perto de mim. Nos abraçamos e conseguimos, enfim, chorar, enquanto todo o negro do lago se transformava em luz e era difícil definir o que era aquilo, era difícil andar no meio de tanto brilho, a gente não conseguia ver o caminho que estávamos seguindo e não nos importávamos com isso, minha mania de controlar tudo ficou na água, assim como seu orgulho ferido. Andava mais leve e a água que antes me cobria até o ombro, já estava quase na canela, já avistávamos o fim do labirinto e dessa vez ele era real. "só preciso de mais uma coisa antes de sair daqui: te dizer que se desse, que se eu pudesse, se fosse minimamente possível eu te amaria e ponto. Eu enfrentaria qualquer coisa, até a mim mesma. Mas sei que esse lago levou tudo de ruim da gente, mas não foi por isso que nos trouxe a capacidade de amar, de acreditar. E só por isso eu to te deixando ir embora, só por isso eu to dividindo tijolos e cimento com você pra construção de uma amizade sólida ao invés de um amor verdadeiro. Eu lutaria por você até o fim, se nós duas acreditássemos estar numa batalha." Continuamos andando e a água ia baixando, já molhava somente nossos pés quando você me abraçou forte e deixou suas lágrimas molharem meus cabelos e meu ombro, as palavras tentaram sair da sua boca quando calei-a com os dedos "não fala nada, só seja muito feliz". O final do labirinto nos foi apresentado e nossas mãos foram rispidamente separadas. Eu olhei pra trás e te vi seguir sem olhar pra trás. Meu celular apitou "não se acostume com a minha presença na sua vida, seja feliz por você". Sorri e continuei andando em direção ao nada com a certeza de que aquilo era um começo e não uma despedida.
Acordei, estava deitada na praia, de frente pro mar, na minha kanga de coração colorido. Entretanto, quando acordei já estava de olhos abertos sem conseguir descobrir se era sonho ou realidade. Tentando ser sã, ser sóbria, tentando te desencontrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário