quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Epifania

Desde quando comecei a fazer psicologia, raramente erro ao analisar alguém, você deve ter sido o segundo ou o terceiro, sendo que os equívocos anteriores foram cometidos por falta de interesse e não de capacidade. Portanto, não entendo como não percebi verdades nas suas palavras que me diziam que seu coração já era de outro alguém, assim como não imaginei que o feitiço viraria contra o feiticeiro enquanto você analisava minhas mãos que não saiam do meu cabelo ou meus pés, que mais tarde notamos juntos, apontavam em sua direção. Pequeno sorriso, grande reencontro. Sentados em baixo de uma árvore, de frente pro mar, fiz com você o que não consigo fazer nem com meus melhores amigos: mostrei-me por inteira, te contei histórias e medos, dúvidas e fraquezas. E me surpreendi quando te vi fazendo o mesmo. Sentia-me um livro empoeirado numa biblioteca distante que você encontrou enquanto procurava, na verdade, uma revista em quadrinhos, mas, movido pela curiosidade do momento, abriu-me e foi me lendo, conferindo as minhas páginas e com o meu consentimento. A cada nova palavra, um novo sorriso, uma nova teoria. Nossos sorrisos se completaram, assim como nossas ideias e ideais.
Vi que o nome dela estava escrito no seu punho. Vi que seus olhos mudaram quando eu o vi. Vi que nada importava, porque não foi só o seu olhar que mudou, mas todo o nosso destino.
Enquanto caminhávamos rumo ao píer criando ainda mais afinidades e intimidades, fiquei pensando em como alguém pode surgir e mudar tudo que você decidiu, como a gente pode reencontrar alguém mesmo que nunca o tenhamos visto antes.
Seus devaneios eram os mesmos que os meus, e digo devaneios vividos, pensados e sonhados. Portanto, fazer-te de espelho, não foi estranho quando tudo que eu sentia era refletido em você e vice-versa, como se de alguma maneira, minha alma extravasasse só pra te mostrar. Palavra com palavra, perna com perna, mão com mão, nariz com nariz, boca com boca. Enquanto te beijava, criei uma canção, não me lembro a letra agora, mas na hora fazia com que eu me encontrasse em você. Engraçado como passei tanto tempo me procurando, pra enfim me encontrar em alguém que eu jamais tornaria a ver. Engraçado como, ao olhar pro mar deitada em seu abraço, foi como se ele fosse cúmplice do melhor erro que já cometi, desfiz-me em ondas, feito ele e deixei que ele levasse qualquer dúvida ou desconforto que pudesse desentrelaçar nossas mãos que mais tarde caminhariam pelas ruelas daquela ilha mágica. Que ele levasse qualquer medo que pudesse sentir daquelas escadas e do quarto construído ao redor de uma árvore que não sai da minha cabeça, que colocasse em dúvida o encaixe perfeito do nosso beijo, por mais brega que isso possa ser.
Escrevendo-te, me transporto pr'aquele dia e sinto tanta saudade. E sei que essa saudade torna-se irremediável à medida que recapitulo a nossa distância geográfica e agora, emocional. Sei que com 6 bilhões de pessoas, milhares de ilhas e 365 dias a cada ano, alguma força invisível nos fez estar no mesmo bar, na mesma noite. Que em meio a uma festa estranha com gente esquisita, eu esbarrei no seu braço e que o seu olhar e o meu se cruzaram no primeiro minuto pra que a gente se reconhecesse.
Guardo apenas um ressentimento dessa epifania: termos deixado que a vida se encarregue de voltar a nos juntas. E é por isso, só por isso, que te tiro dos meus pensamentos, dos meus dias, e tranformo-te em palavras. Daqui a 11 meses nossas noite faz 1 ano. E aqui vai a minha proposta, pra transformar nossa epifania, num encontro anual: na mesma ilha, na mesma esquina, na mesma hora, todos os anos a partir desse. É muita utopia perguntar se você topa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário