terça-feira, 24 de junho de 2014

Cebola

Todos os dias passo em frente à sua janela. Não apenas por ser meu caminho, afinal passo pela casa de muita gente conhecida todos os dias sem me dar conta. Passo e olho pra dentro do seu quarto, na esperança de encontrar seus olhos milimetricamente redondos me procurando na rua à sua frente, como outrora. Passo esperando que você esteja sentado nela fumando um cigarro lembrando das tantas noites que vimos virar dia e dos dias que vimos virar noite, perdendo completamente a noção de tempo, enfurnados no meu quarto ou deitados na rede da minha varanda, o melhor lugar da cidade,como você dizia. Passo esperando que na volta ao menos a rede ainda esteja lá, não está. Nem ela e nem nenhuma lembrança do nosso cenário: nenhum colchonete no chão, nenhuma camisinha ou caixa de fósforo ou tampa com pó de café a ponto de ser pisoteado quando entrávamos afoitos sem enxergar motivo pra tanta roupa. Às vezes, tenho a sensação de que tudo só aconteceu dentro da minha cabeça, que não passou de um sonho dormido por 4 meses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário