segunda-feira, 9 de junho de 2014

derrota

A gente tem medo da dor. Ele quis sentí-la uma última vez, como manifesto contra toda covardia que teve em sua vida. Acho que todo mundo precisa desde grito. Ver alguém gritando assim  é enlouquecedor. Atam-me os pés e as mãos e onde deveria morar toda minha capacidade e obrigação de saber dizer a coisa certa, mora o medo, o remorso. Eu era bem nova quando decidi viver cada dia como se o mundo fosse acabar amanhã: passei a falar do meu amor toda vez que o sinto, a fazer o que tenho vontade e não o que esperam, a ter mais paciência e dar 24h de atenção pros meus amigos e familiares. De modo que  culpa é muito maior quando listo as coisas que eu poderia ter feito, que eu poderia ter dito. Eu estava percebendo o que estava acontecendo, eu vi cada passo dado em direção ao fim. No fundo, eu invejei a coragem. Mesmo tendo sido dominada pelo vazio do vão das coisas que aquele grito queria suprir, resolver, estremecer, e não, nada. Hoje, tirei minha roupa de derrotada do armário, já estava com cheiro de guardada, tem tempo que a aposentei. Não sei se há data pra que ela deixe de ser meu uniforme.

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