domingo, 16 de setembro de 2012

A culpa do eu te amo


                Eu digo eu te amo com um peso na consciência que talvez não devesse existir, me culpando anteriormente por qualquer erro que posso deixar de perdoar futuramente. Sim, pra mim amor é isto: perdoar irrestritamente, aceitar mais que exigir, anular a decepção mesmo quando há expectativa, achar bonito o jeitinho de coçar o nariz ou a caretinha que faz enquanto mastiga, emprestar sem querer de volta, se doar sem esperar ao menos reconhecimento. Visto isto, percebo que tenho dito amar muito mais pessoas do que amo. E que muito provavelmente eu tenha levado as palavras à sério demais.
Mesmo na imensidão de palavras que o nosso dicionário apresenta, não inventaram aquela que simbolize a paixão, ou o gostar desmedido, tampouco a empatia de um encontro que mais parece um re-encontro. Não ensinaram na escola que somos responsáveis por cada palavra que sai de nossa boca e que elas mudam todo um destino (mesmo que destino, dessa maneira pré-traçada que colocam, não exista). Não nos ensinaram a sentir, mas demonstrar sentimentos que deveriam existir (e muitas vezes não existem).
Eu gostaria de me sentir mais amada e ouvir menos “eu te amo”. Eu gostaria, sobretudo, de ver verdade cada vez que eu falo de amor, mas sei que a maioria das vezes que tais palavras saem da minha boca querem dizer apenas das convenções sociais, do gostar inesperado, da vontade da presença, de engolir a essência da pessoa e não de uma entrega infinita e irracional. Talvez, se eu tivesse aprendido a amar sem egoísmo ou sido capaz de inventar uma nova palavra pro sentimento constante que me transborda pelo convívio, eu fosse menos contradição, paradoxo, caos. Ou não. 

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