domingo, 6 de junho de 2010

mão

Nunca fomos amigos, pelo contrário, sempre fomos inimigos declarados, eternos, ferrenhos. Não tínhamos nada em comum e caso encontrássemos, tratávamos de tornar isso em incomum, motivo pra discórdia, porradaria mesmo, te bato e falo pra mamãe que quem bateu foi você. Era difícil aceitar sua existência, que só fazia alguma diferença nos momentos de dor, era aí que a gente se unia, e só aí. Lembro da gente tentando pegar as bandeirinhas da copa com o pé sentados na janela esperando o papai voltar, ele não voltou muitas vezes, pelo menos pra você, eu não dormia, ia virada pra primeira séria esperando ele chegar. Você me ouvia chorar baixinho e fingia que eu não estava ali, não tínhamos nada a fazer e quando fazíamos, era tudo errado. Eles não entendiam, precisaram um laudo psiquiátrico pra verem que éramos especiais e não anormais, não que isso tenha mudado alguma coisa pra gente, a revolta era a mesma, o sangue quente, a raiva recíproca, tudo. Eu chorava de raiva só de lembrar que você era o centro das atenções e não eu, que eu queria o carinho que só você recebia, que eu ansiava por perguntas como: "como foi na aula hoje?" que só eram feitas a você. O erro era deles, mas a culpa era sua, eu achava.
Entretanto, eu sempre te amei, na dor do meu pranto, no silêncio de uma bronca, na briga que eu enfrentava pra defender os seus erros, eu sempre te amei.
Hoje, olhando pra você, me culpo por não ter sido tão presente, talvez seus passos tivessem sido outros se eu tivesse te dito o quanto eu te amava, o quanto você era especial e o quanto eu não me importava de verdade de a atenção ser só sua. Você era tão pequeno, loiro e lindo, merecia mesmo, mais que eu. Eu achava que qualquer coisa te partiria ao meio e sempre te superprotegi sem que você soubesse, eu juro. Sem que você soubesse meus amigos te vigiavam, sem que você soubesse eu mandava pessoas se aproximarem de você, sem que você soubesse eu buscava o motivo e a cura pra sua dor. Eu quero que você saiba que eu amo você como minha própria vida e faria qualquer coisa pra mudar seu pensamento hoje, eu daria qualquer brinquedo, qualquer passeio, qualquer bomba de chocolate do baião daquela época pra que você hoje fosse diferente, pra que você se sentisse tão, tão amado que resolvesse não experimentar esse caminho.
Eu queria te dizer que você só tende a se machucar, que vai doer e não vai ter como voltar, mas você não vai ouvir, acreditar ou entender. Você, assim como eu, sempre quer pagar pra ver. Pague, veja, mas volte, vá ao fundo do poço, mas por favor, eu imploro, volta pra mim porque eu não sei viver sem você, eu não quero imaginar um mundo onde você não exista, por favor, eu faço o que você quiser, dou meu computador, câmera, livros, fica com meu quarto, minha cama e meu travesseiro, mas volta, promete que não se afunda tanto, promete que volta pro meu colo pra eu te fazer dormir numa viagem a belo horizonte no único momento em que eu deixava você ver que eu não existo longe de você.

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