quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Carpe Diem" (ou "passeata dos 50mil")

No corre corre de quem ainda tá meio acordada e meio dormindo sem saber se realmente deu tempo de pegar o ônibus pra qual acordou em cima da hora, ou se ainda está em casa babando no travesseiro, discorro com os índios baianos sobre os tipos de lança e as discussões com os policiais já no começo do evento, era a "cúpula dos povos" e nem a cara de pau dos governantes que tentaram se auto-promover se escondendo atrás de uma suposta base nas obras de Portinari, podia nos deixar abater. Entre barracos entre índios e repórteres da globo, meditação na multidão e convocação de indígenas para luta em todo o país, algum jornaleiro perdido nos aconselhou "carpe diem", mas a gente ainda não tinha ideia do quanto isto nos faria sentido.
Acostumados a atos públicos com 30 manifestantes, foi de arrepiar estar levantando um cartaz escrito "me chama de Maracanã e investe em mim" em meio a mais de 50 mil companheiros. De repentes, todos os ideais se unificaram, a briga de cada um foi comprada por uma multidão, que não conseguiu calar a boca mesmo quando o sol já havia se despedido. Era pra ser indignação e raiva em forma de grito, choro em forma de música e tambor, ao invés disso, me soou como uma oração, uma súplica, pra que Deus, o governo, o helicóptero, as emissoras da China ou da Austrália, os trabalhadores dos prédios da Avenida Rio Branco pudesse nos ouvir, nos atender. De tudo, fica a certeza de que, de alguma forma, marcamos e fomos marcados, pudemos juntos, como cidadãos mundiais, onde não enxergávamos raça, cor, idioma, cultura, opção sexual, mas seres humanos buscando o direito de fazer valer o nosso direito, de poder fazermos o que quisermos das nossas vidas e fazermos juntos.
Pra celebrar, nos perdemos em bares pela Candelária, regados desse privilégio de pólo de interior, onde se misturavam professores e alunos de variados cursos, piadas, brindes, sorrisos de alegria, de dever cumprido, de "carpe diem".


(texto dedicado a camarada Juliana Félix, que me cobrou um registro assim que pisamos no ônibus de volta a Rio das Ostras).

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