quarta-feira, 6 de junho de 2012

Estrelas.

- Queria ter uma experiência transcendental.
- Usa um LSD.
- Mais que isso, o algo que me tire de órbita, de mim e que ao mesmo tempo me faça mergulhar em mim mesma
- Você precisa de ficção científica
- Eu to falando sério, me leve a sério.
- Você precisa das Ondulações no Mar de Dirac. Estou te falando muito sério. Ou talvez você precise da Deep Web. Mas você já pensou na possibilidade de imergir em um universo pior que a realidade?
- hum...como faço isso?pior que a realidade? tem?
- Sim. Apaixonar-se pelo abstrato pode te fazer sentir falta do concreto
- Me dá um exemplo de como eu faria isso.
- Você devia ler mais ficção, muito feio seu preconceito.
- Não acho que vou encontrar minha cura lendo ficção. Eu preciso de uma experiência e não de mais uma teoria. Algo que nem uma droga poderia ser capaz de me dar, na verdade, costumo dizer que amor resolve tudo. acho que nesse caso, nem amor
- Muito prazer.
- NINGUÉM ME LEVA A SÉRIO!
- Eu estou levando. Juro que estou pensando no que você está falando. Esses dias eu estava pensando em ter uma ideia muito pertinente.
- Explique-se.
- Queria algo diferente do mundo. Algo...não é diferente de tudo. Poderia ser esse mundo, essa realidade, só deveria ser formado por quadros que eu ainda não tinha visto, céu vermelho, pessoas ruivas e índios. Inverno e orvalhos quebradiços. Não existindo dinheiro e nem contagem do tempo, poderia ser esse mundo. Poderia ser os campos do ON. Só queria que fosse diferente. Fiquei feliz por pelo menos na minha cabeça o mundo ser diferente. Sempre me contentei com o que tenho. Mas entendo um pouco seu lado.
- Eu nunca me contento com nada, sou uma eterna insatisfeita. Toda vez que eu quero muito alguma coisa, perde a graça e eu deixo de querer. É isso, eu acredito. Quero uma coisa diferente de tudo que eu já tenha experimentado, visto, pensado. Mais que céus coloridos, pessoas exóticas, tempo indiferente. Algo que seja capaz de me mostrar o que eu realmente sou. Por que a gente nunca sabe o que realmente é. A gente é fruto do meio, somos influenciados por pais, mundo, escola e amigos. Somos transformados pelo que comemos, pensamos, andamos. A gente não é o que somos, na verdade. Somos tanta coisa de tanta gente que muitas vezes acabamos por não ser nada. Quero algo que me dê uma visão de todos os mundos, esferas, planos, sentidos pra que no meio disso tudo eu consiga me achar, consiga saber o que sou, a que vim, do que sou feita. Só eu, sem mais ninguém.
- O que te aconteceu?
- Preciso descobri-me. Descobrir-me, des-cobrir, desco-abrir.Tomar alguma coisa que me leve de volta pra mim, pra minha essência. Se é que alguma vez eu já estive nela.
- Bom.
- Bom o que?
- Todos nós absorvemos um pouquinho de coisas diferentes. Apesar de influenciados, somos diferentes e somos diferentes por termos uma essência diferente. Justa esse núcleo regula da onde será mais influenciado. Espero que você se encontre e quando se encontrar que seja essa mesma pessoa. Caso você mude para outra pessoa, tudo bem, já conheci alguém que gostei e se ela teve que ir embora, ainda assim, a história dessa personagem será prazerosamente disseminada. Caso não mude, espero que você se olhe no espelho e orgulhe-se do que vê porque eu me orgulho muito de existir no mundo alguém que não sabe do que é feita. Não quero puxar seu saco. Sério. Não me prendo a ninguém e um dia caso você precise partir, não será a única que teve que fazer isso. Só que para de reclamar porque queria eu que a maioria fosse tão enlatada quanto você. Acho que você devia alegrar-se por existir em uma realidade tão boa. É só se olhar pela janela, existem vários mundos que convivem juntos. Não sem nenhuma crise, mas coexistem. O seu mundo pode não ser o melhor, mas está entre os melhores sem nenhuma dúvida.

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