sábado, 2 de junho de 2012

Reencontro.

(continuação)

Meu ex namorado depois de você deu pra me ligar desesperadamente de umas semanas pra cá e quando isso aconteceu perto de você, saquei pelo seu suspiro e tom de voz que a tua ex depois de mim também tem feito o mesmo, talvez por isso eu tenha decidido me afastar, não sei. Sei que silencio o celular quando vejo seu nome no visor, sei que não atendo o interfone quando te vejo encostado na porta pela câmera do portão do prédio, sei que bloqueei você em todos os chats de redes sociais e que parei de ler seus emails.
Eu ainda não deixei de amar você e isso me deixa louca! Me deixa louca saber que vivi vários anos, várias vidas, várias pessoas, várias outras eus e todas elas continuam sendo apaixonadas pelo seu sorriso. Me deixa louca porque tudo que eu penso me leva pra longe de você, entretanto a vida sempre trata de cruzar nossos passos, nossos corações, nossos corpos, nossas almas. Eu tenho vontade de sair correndo de dentro de mim e quanto mais eu corro na praia, na esteira, em pensamento, mais eu vejo que não dá pra fugir de quem a gente é e nem de quem a gente sente.
É tarde de terça feira e me ligaram da clínica falando que as terapias de grupo foram canceladas porque um grupo artístico vai fazer uma intervenção com os internos, ou seja, não preciso trabalhar. Minha cabeça tá me matando, eu precisava me concentrar em alguma coisa, mas nem o livro que tenho que ler pra um projeto ou o meu seriado favorito foram capazes de me focalizar. Pego meu cachorro hiperativo e vou caminhar na praia, chego lá em 10 minutos de caminhada, tempo o suficiente pra andar os 40 minutos pra pegar o pôr do sol do alto de uma pedra que só é acessível por trilha.
- Oi!
- Quê que você ta fazendo aqui?
- Tentando fazer o tempo passar mais rápido. E você? - você me pergunta finalmente parando de olhar o mar e se virando pra mim.
- Quase a mesma coisa.

(silêncio)
Como assim você resolve ir pro mesmo lugar que eu, na mesma hora que eu, pelo mesmo motivo que eu sem nem ao menos termos combinado?!

- Tenho sentido sua falta.
- Eu também. Mas você me entende, né?
- Na verdade não.
- Como não?
- Você disse que queria parar de me ver porque a minha ex e o seu começaram a procurar a gente. E quando eu disse que você tava viajando, você disse que é complicado e passou a me ignorar,
- É complicado,
- O que é complicado exatamente?
- Tudo, nós, o que eu sinto...Eu sinto medo.
- Quase 30 anos na cara, já passou da hora de parar de ter medo, não acha não?
- É fácil falar quando não ta passando.
- Eu não to passando? Você acha o quê? Que eu não to envolvido? Que eu não sinto sua falta? Que eu não fico que nem um idiota de 18 anos pensando em você?
- Tipo isso.
- Pelo amor de Deus. Parece que não me conhece...
- Não conheço mesmo. Conhecia o que você era antes. Quando a gente terminou você mudou muito.
- Você também mudou! E não falo só do modo de se vestir, a cor do cabelo, a vida social. Mas o modo de pensar, de falar, de enxergar as coisas. Você é uma mulher agora e quem olha de fora quase não enxerga quem você era, mas isso não me fez sair que nem uma criança te ignorando.
- Você ta me ofendendo.
- Você também me ofende quando se comporta como se eu não fosse o suficiente pra você.
- Eu nunca disse isso.
- Mas pensou.

(silêncio)

- Eu continuo tendo a mesma essência, os mesmos valores, sendo um homem com caráter e acho que essas são as únicas coisas que não devemos mudar. Você mesma me dizia isso quando entrou pra faculdade e começou a estudar aqueles caras com nome esquisito. Abrir a mente, experimentar o mundo, mas continuar o mesmo.

(silêncio)

- Você sabe que eu transei com outros caras nesse tempo, né?
- Óbvio.
- Sabe, eu namorei um tempo, me apaixonei algumas vezes, achei que estava fazendo amor, mas depois de você, eu nunca mais tive vontade de chorar enquanto transava, eu nunca mais disse "não estou te dando só meu corpo, como a minha alma".
- Acho lindo! Mas porque você ta falando isso?
- Porque desde aquele dia na sua casa, todas as vezes que a gente tira a roupa, eu penso a mesma coisa e sempre tenho vontade de chorar. Às vezes até cai uma lagriminha. - eu rio. - Por isso eu tenho tanto medo.
- Por que você não quer chorar transando?
- Deixa de ser idiota, garoto! Porque eu não sabia mais que tinha como sentir isso que eu to sentindo. É como se eu tivesse perdido uma parte importante do meu passado e passado a gente não recupera, mas agora eu sinto isso e é exatamente igual e...
Você me beija e me faz calar a boca, feito antigamente, no meio de uma briga sem nexo, quando você esperava ter alguma brecha pra me beijar e fazer amor comigo, pra no final de tudo dizer "continua o que você tava falando" e me ver sorrindo e te abraçando sabendo que nada mais daquilo importava.
- Esquece isso tudo, fica comigo. Esquece seu medo, pega só a parte boa do nosso passado, junta suas roupas e seus livros e se muda pra minha casa. A gente faz músicas, filhos e viagens por todo o Brasil como sempre pretendemos.
- As coisas não são simples assim.
- Nada é simples se você continuar com esse olhar de dificuldade. Eu amo você, você me ama, a gente se quer muito e não tem nenhum motivo nesse mundo que possa nos deter.
- Olha, que tal se a gente começasse vivendo essa tarde? A gente compra um pote de sorvete de prestígio e vai pro meu apartamento ver filme!
- É um bom começo, um recomeço de verdade pro nosso tão esperado reencontro.


(continua)

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