quinta-feira, 26 de julho de 2012

Quase Morte

Você já se sentiu como se estivesse morrendo? Já sentiu sua alma parecer mais frágil que uma casquinha de sorvete de padaria? Eu já e vou te dizer, é quase todos os dias. Meus braços e pernas parecem ter 200kg cada, meu ombro parece carregar 1 tonelada em forma de mochila, meu estômago se contorce todo enquanto minha barriga contrai e preciso dizer que sou tomada pela certeza de que o ar não alcança o meu pulmão (por alguns dias, horas ou minutos - não sei bem - eu não respiro - ou penso não respirar), minhas pálpebras pesam 80kg e eu tenho certeza que as rugas que meu rosto vai ter quando eu envelhecer ficam nítidas e fundas, quase em carne viva. Meus dedos parecem não estar no meu corpo, bem como minha cabeça (resolvem habitar, sem que eu permita, uma outra dimensão onde eu não tenho controle), meu pescoço parece ser esmagado por entre as mãos grossas e ásperas de alguém que eu não vejo e nem existe, cada lugar onde nasce cabelo dói (meu couro cabeludo parece uma colméia sendo invadida), meus joelhos e cotovelos ardem na parte externa e ficam doloridos na parte interna, minha língua adormece e não formula palavras, minha boca ficar dormente, totalmente, de modo que eu a mordo o mais forte que consigo (que não é muito, convenhamos, perco as forças) e não sinto nada, eu poderia suportar toda a dor do mundo nos meus lábios sem sentí-la, meus braços não estão aqui, tenho certeza que não os tenho, meus seios são espremidos contra mim e quase os sinto saindo pelas minhas costas, meus pensamentos eu não controlo, nem o que sinto, sei que agora tem um grito enorme que eu gostaria de dar e minha boca não abre, sei que não to pensando nada do que estou pensando agora e não sei o que é, existem mais de 3 dimensões dentro de mim agora e não estou em nenhuma delas embora esteja presa nessa carne morta. Uma força me vem, me empurra, sinto uma onda forte vindo na minha direção e me derrubando e não saio do lugar, fiquei cravada aqui e não falo, fiquei cravada aqui e não ando, não peço ajuda, por mais que eu queira, preciso sair disso sozinha, queria um abraço e afasto o mundo, não posso, não me permito, preciso sobreviver sozinha.
Sabe o que é mais incrível quando se sente morrendo? É que o medo maior é que a vida cesse, é que sinto que posso morrer por todos os lados e pessoas e cores e imagens e tento impedir isso com alguma das esferas do meu pensamento, já que meu corpo não me obedece. Entretanto, agora, não há nada que eu deseje mais do que a morte, do que sair do corpo e não sentir essa dor, peso, ardência, dormência, recobrar os sentidos que talvez nem existam. Essa é a maior contradição de quase se morrer e, então digo que também, quase viver: temer a morte mais que vida e desejá-la mais que a eternidade.

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