sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mar.

Subi na minha bicicleta e pedalei o mais rápido que pude. Coração apertado, nariz gelado do vento frio de outono, olhos embaçados por lágrimas que teimavam em escorrer até a boca. Era sempre assim quando o medo invadia minha alma, era sempre assim quando eu olhava pro lado e não te via.
Lembro de uma noite dessas ter te chamado pra tomar banho de mar à noite comigo. Você fez charme e não quis ir, reclamando do frio que arrepiava seus pêlos até do pescoço, eu disse que tudo bem e por eu não ficar chateada, me prometeu que um dia passaríamos a noite inteira no mar. Não sei ao certo como lembrei disso num momento de desespero, sei que quando corri em direção à praia, só pensei que aquela seria a maneira mais rápida de entrar em contato com você.
Faz muito tempo que você se foi, eu sei. Sei também que já devia ter me acostumado, pelo contrário, sinto mais a sua falta a cada dia. Falta você em tudo que eu olho, em tudo que eu toco, em tudo que eu conheço.
A areia da praia estava úmida da chuva da tarde que já cessara, meus pés afundavam nas pegadas já traçadas com enorme facilidade, finalmente cheguei perto do mar. A bicicleta jogada na praia, meu casaco dentro da sua cestinha, e os meus pés desejando apenas o sal do mar entranhado na minha pele. Quando encostei o primeiro dedo na água, meu primeiro pedido foi pra que você sumisse de dentro de mim. A cada parte da perna que eu deixava a água invadir, pensava numa lembrança diferente, retornava ao um dos nossos tantos dias bons e pedia apenas, pra que se o mar tem mesmo algum poder, que levasse cada pensamento daquele embora, apagasse cada sentimento.
Quando dei por mim, estava totalmente coberta pela água, tentava me manter o maior tempo possível imersa nas profundezas escuras como se dissesse àquela força misteriosa que poderia levar qualquer coisa de mim, desde que a dor da sua falta sumisse. Quanto mais eu tentava te esquecer, mais eu te lembrava, como se o simples fato de pensar no seu nome, fizesse você se tornar dono dos meus dias.
Não sei quanto tempo fiquei ali, não contei quantas ondas tentaram me arrastar até a beira, apenas senti. O frio já dominava meu queixo que tremia sem parar. Meu casaco não foi o suficiente pra tripudiá-lo. Dois anos inteiros não foram suficientes pra esquecê-lo.
Subi na bicicleta e fiz todo o caminho de volta a minha cama, onde dormi encharcada e salgada do mar. Eu posso até não conseguir esquecer seu abraço nunca, mas sentir-se viva, ainda tem o dom de me fazer sentir mais leve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário