"Eu sobrevivo, eu sobrevivo" repito baixinho agarrada às minhas pernas no chão do banheiro. Você não está aqui pra me ver nessa cena tão comum e tão patética. Nem você nem ninguém. Desde que você se foi, os olhares do mundo retiraram-se de mim junto com a sua vida neste planeta.
De lá pra cá me pergunto o que de fato é viver, existir, morrer. Pergunto-me o que é estar vivo, aprendi sobre a importância do corpo, confirmei o Universo em cada ser. Mas você não está aqui pra me ouvir. Você não está pra saber que faz quase um ano que acordo com o coração doendo e não sei o motivo. Você não tá pra ler minha monografia e me dizer que não importa se ninguém liga: nós dois vamos beber e ir na cachoeira e beber na cachoeira fazendo retrospectiva dos últimos seis anos até que eu não aguentasse mais ouvir falar o nome UFF. Você não tá aqui pra me dizer que eu não preciso ter medo, as coisas vão rolar, o acaso é enorme como o mundo e nele há mil possibilidades. Você não tá aqui pra ver essa chuva caindo lá fora comigo e ver a chuva caindo lá fora nunca mais fez sentido. Você não tá aqui repetindo que eu sou a melhor companhia do mundo e se alguém no mundo não enxerga isso, não tem problemas.
"Nada está tão sujo que não possa ser limpo" ouço sua voz dentro da minha cabeça. "Amor são laços de alma e por isso é tão difícil esquecer alguém" ouço sua voz dentro do meu coração. Então largo o computador e me abraço, na esperança de sentir de novo o que o seu abraço provocava em mim. Sorrio, lembrando da minha mãe sempre comentando que a gente se abraçava por tempo demais, que era constrangedor, você se lembra? A gente podia ter se visto a vinte minutos atrás, quando a gente se encontrava eram minutos incontáveis se abraçando, onde fosse, na frente de quem fosse, o seu abraço era o melhor lugar que existia. Mas ele não existe mais.
Será que em algum lugar, você ainda existe?
Outro dia eu percebi que não tenho mais medo de amar viver. Desde que você se foi eu criei esse medo, você era a pessoa que mais amava viver que eu já vi e a morte te pegou tão distraído. Comecei a pensar que, talvez se eu estivesse atenta, a morte não me surpreendesse, mas eu a surpreendesse, tipo a Liesel Meminger "Um olho aberto e outro no sonho, seria melhor um sonho inteiro, mas definitivamente não tenho controle sobre isto". Mas então eu percebi que, se você não se distrai, a vida deixa um pouco de valer a pena, o que a gente vive tão travado, sem relaxar? O que a gente vive se só pensa sobre a possibilidade de morrer 24 horas por dia? Então eu me entreguei. Entreguei-me novamente pra vida na esperança de que a morte me poupe até eu ter certeza que, quando eu chegar do outro lado, quando for a minha vez de atravessar esse portal do invisível, eu seja recebida pelo seu abraço, o mais demorado deles, e que quem sabe, até lá, eu tenha encontrado a felicidade por aqui (aquela almejada e não aquela idealizada) e parado de chorar sozinha no banheiro abraçando as próprias pernas.