"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos".
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Toda vez que dói eu grito. (Não sei com funciona esse maldito condicionamento de associar o grito à resolução da dor). Hoje lateja e eu silencio. Olho pra dentro, pro fogo destruindo tudo em mim calada. A fumaça do incêndio prejudica minha respiração, meu corpo já começa a virar carvão de dentro pra fora como numa miragem: eu não me movo. Estou assistindo a destruição em silêncio.
No fim o silêncio foi tudo que restou.
sábado, 26 de dezembro de 2015
É a primeira vez que escrevo
2015 foi o ano que descobri ter sido violada sexualmente por pessoas que deveriam me proteger, antes de completar 3 ano de idade.
Isso é tudo que eu consigo pronunciar, por enquanto.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Repetições 2
Repetições
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Primeiro dia 21.
Eu chego na cidade e sinto o cheiro do pneu da sua moto no asfalto misturado com o perfume que saía do seu perfume. Vejo a gente na fila do sorvete do mac Donalds, em frente ao apt da sua amiga, na loja de morango com chocolate, na casa da minha tia. Eu vejo você em mim, no meu corpo, na falta, na saudade, no espaço em branco dentro do meu peito. Eu vejo você em tudo que falta e na exaustão de nós q tanto procurávamos. Eu vejo você e cadê.
domingo, 20 de dezembro de 2015
Mateus
(Você me ensinou a viver).
Quando você morreu.
Você me ensinou que eu posso (sobre)viver no escuro, no limbo, sozinha, sem ninguém. Você me ensinou que eu posso viver com a solidão, com o abandono, com o desamparo. Que eu posso continuar vivendo mesmo sem certeza alguma, sem lugar pra voltar. Mesmo que eu não suporte estar em nenhum lugar ao muito tempo por medo de amar o lugar e as pessoas como eu te amei (amo) e tudo simplesmente acabar enquanto eu to distraída numa lanchonete ajudando alguém a comprar uma passagem de ônibus pelo celular.
Eu aprendi a viver sem você e agora me sinto apta a viver sem qualquer coisa. Eu vou sobreviver, eu vou continuar vivendo.
Obrigada por mais um ensinamento, meu melhor amigo.
Sinto sua falta. Todos os dias.
sábado, 19 de dezembro de 2015
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
domingo, 13 de dezembro de 2015
Mateus
Você bem sabe que nunca me permiti não gostar de ninguém, tampouco sentir ódio. Lembro de você me dizendo que as pessoas tinham sido babacas comigo e eu te dizendo "ódio só faz mal pra quem sente". Você ficava inconformado porque achava que eu queria sempre ser a bozinha, eu ria, eu sempre ria de tudo quando eu tava com você.
Eu não sei o que aconteceu nessa última semana, não sei explicar. Eu simplesmente comecei a sentir muito ódio, de tudo, de todo mundo. Inclusive de quem não tem nada a ver com isso. E aí eu comecei a odiar você também, chorar de tanto ódio, me desculpa.
Foda-se o quanto isso é infantil: você não tinha o direito de ter me deixado, não tinha!
Lembro da gente combinar de nos casar aos 40 por sabermos que não aguentaríamos ninguém tanto tempo - ou ninguém nos aguentaria - e viajar o mundo com uma barraca nas costas porque a gente decidiu que essa era a melhor idade pra isso. Lembro daquela sala do grêmio da escola depois da festa junina, você bêbado dizendo que eu era seu ar, seu alimento, seu chão e que a gente só precisava um do outro pra existir. Lembro de você me dizer que nunca me deixaria sozinha, que eu nunca sentiria solidão. Que você sempre me amaria do jeito que eu sou, por mais chata que eu fosse e que isso era eterno. E olha em volta agora! Olha em volta!
Tem um buraco em mim desde que você morreu naquele maldito acidente. E eu te odeio por não ter se atrasado cinco minutos pra olhar a paisagem e evitado ele. Eu te odeio por não ter me dito que tava aqui pra eu te ver uma última vez. Eu te odeio por nunca poder me despedir de você.
Eu te odeio porque é dezembro. De novo é dezembro e me fala que porra eu faço da minha vida se você não tá aqui. Me diz como posso planejar um ano novo, mais uma vez, que não tenha você. Como eu posso imaginar aniversário ano que vem. Me diz por que você não tá aqui, quem te deu esse direito?
Por que você me fez acreditar que eu poderia ser quem eu quisesse, que você aguentaria o tranco, se você vai embora e me deixa aqui sendo mimada insuportável sem ninguém pra fazer todas as vontades que só você fazia. Só-vo-cê-fa-zi-a.
É domingo, eu saí do trabalho e sentei na praia pra ver o pôr do sol e tomar um cerveja. EU vim pedalando pra casa com um buraco enorme no peito. Quando me olhei no espelho, já pronta pra tomar banho, eu só consegui ver um buraco enorme dentro dos meus olhos, uma saudade tão grande, um aglomerado de coisas que só seu abraço entenderia, uma vontade incontrolável de te ligar e te contar tudo, como eu fazia quando me mudei pra cá e você ainda não tinha vindo e eu ficava horas gastando todo meu crédito sentada no anfiteatro da faculdade te contando tudo sobre todo mundo e de como ninguém chegava nem perto de você.
Eu não acredito que você foi embora. Faz mais de um ano e eu não acredito.
Eu sonhei a noite inteira com você e parecia que você tava do meu lado, eu tinha certeza que eu ia acordar, te contar meu sonho, rir da sua cara e te abraçar de conchinha pra dormir só mais cinco minutinhos.
Eu não consigo não odiar você, eu não consigo.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
O que aprendi com Jessica Jones
Jessica Jones é uma investigadora, que, após um acidente que matou sua família, tem dificuldade de confiar nas pessoas. Além disso, após o acidente, ela adquiriu os super poderes (que só no final da série é mostrado que graças à um laboratório de testes em humanos): de saltar tão alto e com tanta distância que parece poder voar e uma força descomunal. Jessica Jones, foi adotada por uma moça que abusava física e psicologicamente da filha e ela se sente na obrigação de protegê-la da mãe, talvez Trish, sua irmã adotiva, seja a única pessoa que Jessica de fato ame durante a vida.
Já na idade adulta, Jessica é dominada por um homem que tem o super poder (também modificado a partir de uma testagem em humanos, mas dessa vez por seus pais) de controlar as pessoas. Simples assim, ele fala e a pessoa faz o que ele quiser, qualquer coisa, inclusive cometer homicídio ou suicídio. A trama se dá na tentativa de deter este homem, Kilvagre, visto que Jessica é a única que consegue se livrar da sua dominação de vontade, após matar uma mulher por ordem do mesmo.
Ok, Marvel é boa em produção de série de super heróis (é o que dizem, não sou ligada à isso) e já era de se esperar que a série seria boa. Entretanto, há algo além.
Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é perder a autonomia à ponto de parecer ter sido dominado Kilvagre: você faz e fala coisas que não tem vontade de falar e fazer, você simplesmente faz, à despeito de ter uma voz no fundo da sua cabeça dizendo que você não deve ou não precisa fazer aquilo. Você tem medo, você tem medo 24 horas por dia: do outro, do mundo, de você. E o medo, acredite, faz você não pensar, faz com que você tenha atitudes que você precisa se desculpar pelo resto da vida. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é ser violentada, sabe o que é não ter mais vontade de fazer sexo e achar que há um problema com você. Sabe o que é não poder se vestir como deseja, se portar como deseja, ir onde deseja e, pra mim uma das piores partes, não falar o que deseja. Quando alguém controla o que você fala, te faz ter medo da fala, quando alguém controla a sua voz, ele te controla completamente. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é as outras pessoas em volta terem pena do abusador, o acharem uma pessoa bacana, não entenderem o porquê de você tê-lo deixado, ouvir a história absurda e chantagista dele e achar que a culpa dela é sua. Só quem já viveu um relacionamento abusivo sabe o que é, mesmo quando ele acaba, sentir medo de se expressar, de se portar, de se impôr. De frequentar alguns lugares, de vestir determinadas roupas, de existir. Sabe o que é ser apagada, sabe o que é ser silenciada.
O super poder daquele homem no seriado, pra mim, é o poder de se aproveitar do amor e da confiança de uma relação. É a justificativa de “eu te amo, me perdoe” “estou agindo assim porque eu te amo e você não pode me deixar”. O super poder dele é o de destruir, de mutilar, de explodir tudo que Jessica acha que poder ser.
Mas aí, sabe o que, de mais importante, eu aprendi com Jessica Jones? Quando você perde o medo, o seu abusador some. Quando ela perde o medo dele, ele começa a fugir dela e tentar chantageá-la de mil formas, sem sucesso algum. Ela não cede, ela não ouve. Quando ela entende que não é ele que manda, ela começa a voltar a conseguir mandar em si mesma. E destruí-lo.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
#meuamigosecreto
Faz quase dois anos que meu amigo secreto se mudou pra mesma casa que eu. E quase 6 meses que vivo só com ele, dentro da mesma casa. A minha casa é suja à ponto de dar ratos, porque é isso ou limpar a sujeira que ele faz por todos os cantos como se fosse a empregada que ele diz que eu sou. Meu amigo secreto inventa histórias sobre mim, ouve som o mais alto que pode mesmo eu implorando o contrário, traz homens desconhecidos pra cá com quem tem conversar - que faz questão que eu ouça - do quando eu sou desprezível e ele vai acabar com a minha vida. Meu amigo secreto me faz ter medo a ponto de, mais uma vez, deixar minha casa pra ir pra qualquer lugar fazer qualquer coisa, desde que seja longe dele. Eu durmo mal porque minha porta não tranca e eu sei que ele é capaz de pular no meu quarto - como já pulou inúmeras vezes pra furtar minhas coisas. Eu tenho medo de entrar aqui, de estar aqui. De estar no mesmo cômodo que ele, de olhar pra ele. Toda vez que eu o ouço andando pela casa penso que é meu último momento de vida, eu fecho os olhos e espero o tiro, a facada, o golpe que vai matar meu corpo finalmente. Meu amigo secreto me faz viver num ambiente inóspito. Mas ele é gente boa com o resto das pessoas e por isso todos acham que a errada sou eu. E por isso a única pessoa que eu tenho com quem contar no mundo sente culpa ao pensar em tirá-lo daqui e acabar com a tormenta desses longos anos, mas não tem em me fazer, mais uma vez, ir pra outra cidade apenas pra fugir, sem fazer ideia de como farei pra sobreviver nela. Quando eu começo a falar do meu amigo secreto, os conselhos que ouço são algo entre "você tá exagerando, você é dramática" e "já tá mais que na hora de você sair de casa e ir viver sua vida, se bancar, casa é só tijolo". E aí, hoje, 25 anos depois eu finalmente me dou conta de que é tão comum que os amigos secretos invisibilizem suas vítimas, que as façam passar por loucas. É tão comum que as pessoas que você queria que te acolhessem te digam que você tá sendo precipitada e infantil e dramática. É tão comum.
Hoje, mais uma vez desde que me entendo por gente, eu só consigo ficar deitada em posição fetal desejando com toda força que há em mim que eu possa não existir, que por um passe de mágica eu possa sumir sem deixar rastros. Eu me peguei com a unha na minha pele, comum canivete na mão tamanha vontade de rasgar meu corpo pra ver se a dor psicológica passa e se transforma em uma dor física que eu consiga lidar.
Hoje, mais uma vez, eu só queria que alguém me ouvisse sem me julgar. Que viesse pra cá e ficasse abraçada comigo em silêncio sem questionar meus sentimentos. Eu só queria que alguém me visse.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
sábado, 5 de dezembro de 2015
A casa que fede
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
Rivotril
Outro dia você reclamou de dor no corpo e eu te fiz uma massagem. Você não sabe, mas enquanto eu te massageava, eu rezava. É engraçado porque eu não sou mais o tipo de pessoa que reza, mas toda vez que te vejo sentindo dor, me pego fazendo isso.
Parece que as preces tem funcionado. Elas ou alguma força estranha que nos faz ainda estar aqui. Elas ou esse algo inexplicável que existe no Universo e me faz amar passar a semana te vendo em processo de criação enquanto eu cuido do resto da casa e do que resta da sua paz nesses momentos.
Teve uma vez que você reclamou que eu só escrevo quando as coisas vão mal, explico: estou deitada na sua cama pensando no que fazer pro almoço, te olhando se descabelar na frente do computador e me olhar dando um sorrisinho vez ou outra. Não existe angústia entre a gente e eu prefiro respirar esse momento e guardá-lo na memória ao invés de nas palavras.
Tem um ano e seis meses que você é minha paisagem favorita.
domingo, 22 de novembro de 2015
Diálogo?
- Oi.
- Oin.
- Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Também.
(...)
- Por que você ta quietinha assim?
- Você ta estranha tem dias, to te dando seu tempo.
- Todo dia você fala que to estranha. Que saco!
- Também acho! Queria não precisar falar isso.
- Eu também queria.
- Você vai me falar o que ta havendo?
- Ta tudo estranho. Não ta sendo o que eu esperei.
- Hum.
(...)
- Você já entendeu que eu não sou a mesma? Eu finalmente entendi que você não é a pessoa que vai me buscar aqui em casa na sexta e só me devolver na segunda, à contragosto. Que não é quem vai me convidar pra andar pela rua aos domingos depois de um processo difícil de sair da cama. Que não é quem vai rodar pra lá e pra cá atrás de café numa quarta 11 da noite porque não quer se despedir de mim. Eu entendi que você não vai vir correndo no meu primeiro chamado. Que não vai recorrer à mim quando doer, quanto tiver difícil, quando houver dúvidas. Eu entendi que não sou mais a sua melhor companhia ou a pessoa com quem você quer passar a maior quantidade de tempo fazendo tudo ou nada, por querer me viver até a última gota. E você? Você já entendeu que eu também sou outra?
- Você pega pesado.
- Você também.
- Acho que a gente precisa se reapaixonar.
- Acho que já tem paixão demais nessa relação.
- Sim, mas a gente é apaixonada pelo que? Pela nossa história? Por quem a gente era? Pelo que somos agora? Pelas possibilidades que temos?
- Por você?
- Por qual eu?
- A gente não ta sabendo se ler. Se ouvir. A gente só sabe falar. Olha que improvável.
- Eu sinto muita falta de ser ouvida. E de ouvir também.
- Eu também.
- Eu to exausta desse esforço que eu to fazendo. Eu só quero relaxar.
- E o que te impede?
- Medo de como você vai agir.
- Eu preciso dizer de novo que você não precisa ter medo? Que eu não vou embora agora. Que eu to aqui por escolha?
- Se não for te cansar muito, pode dizer.
- Já disse! Eu te amo, cara. Vamos tirar esse muro que ta entre a gente de novo.
- Como?
- Você pode começar me contando seu dia, não o que você fez, não quero que você fique batendo cartão me contando seus passos como se eu fosse sua chefe. Me conta as coisas que você viu, me conta o que você tem sentido, do que te deixou triste, o que te fez feliz! Deixa eu conhecer você, deixa eu me apaixonar mais e de novo.
- Eu não sei se eu consigo. Parece simples na teoria. Mas meus psicológico ta muito abalado.
- Então ta bem. Seja feita a vossa vontade.
- Sem drama, por favor! E sem me responsabilizar por tudo!
- Lembra que eu tava te dando um tempo pra respirar? Vou aproveitar pra respirar também. Quando parar de sufocar, me procura.
- Não era pra ser assim. Mas me procura também.
- Okay.
Proust
“O hábito enfraquece todas as coisas; mas as coisas que melhor nos lembram uma pessoa são aquelas que, por serem insignificantes, nós as esquecemos e que, por estarem esquecidas, não perderam nada de sua força. Por isso, a melhor parte de nossa memória existe fora de nós mesmos, numa brisa de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, coisas através das quais podemos recuperar qualquer parte de nós mesmos que a razão, não tendo nenhum uso para elas, desdenhou; o último vestígio do passado, o melhor dele, a parte na qual, depois de todas as nossas lágrimas terem secado, pode nos fazer chorar outra vez.”
sábado, 21 de novembro de 2015
Elaborar
Essa semana aconteceu algo muito marcante na minha vida e, como sempre faço, eu poderia recusar me expor, recusar escrever sobre isso porque é sempre mais fácil ignorar do que ter que lidar.
Saí de órbita e me diverti de uma das maneiras que mais gosto. Era pra ter sido incrível, não fosse a bad que bateu durante. Durante um processo que era pra ter sido incrível, eu só conseguia pensar em empatia. Eu só conseguia visualizar meu pior pesadelo, aquele escondido até de mim, passando diante dos meus olhos. Eu sentia culpa por ser quem eu estava sendo.
A onda passou, eu dormi bastante, acordei algumas vezes com o coração disparado. Eu me dei conta de que deixei muita coisa pra trás. E não digo isso como lamento. Eu mudei muito e preciso aceitar isso, aquela que eu era, aquele tipo de diversão, não faz mais parte de quem eu sou. Talvez eu esteja ficando velha e chata, talvez seja só o auto-amor invadindo mais uma parte de mim. Sei que quando acordei eu me libertei. Sinto como se eu tivesse levantado de uma forma de gesso que me envolvia. Como se eu tivesse me livrado da necessidade de me encaixar, de me enquadrar. Agora, eu só preciso ser eu, acreditar em mim, encontrar comigo.
Agora eu só preciso ser fiel à mim e ao que eu realmente quero. Eu estou em silêncio faz dias e todos vem me perguntar sobre a minha ausência de comunicação: eu só estou me comunicando comigo tão profundamente que estou sem capacidade de proferir palavras sobre outra vida.
Estou me sentindo muito dentro de mim. Estou me sentindo eu. Eu estou livre.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
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Você não costuma fazer o que é mais fácil, você não se rende. E você não faz ideia do quanto eu te admiro por não se render. Do quanto eu te admiro por comprar todas as brigas e colocar teu peito na reta das nossas diferenças.
Eu me vi vestindo o dilema da psicanálise, ao seu lado. Quando estamos em um relacionamento, achamos que somos dois que vão se fazer um, e isso é extremamente frustrante porque são sempre duas pessoas vivendo as próprias vidas e se desencontrando. Agora, vendo de tão perto e de tão longe tudo que a gente é, deixo que sejamos quem somos. Sem me ater ao que eu gostaria que você fosse, sem me ater aos nossos defeitos, deixo que a gente flua, que o nosso encontro seja fluido e se dê de sua melhor forma. Não sou mais assombrada pelo medo de nos perdermos, mas ainda há tanto que me assombra, ainda há a auto-cobrança e o drama da insuficiência. Ainda há aqui, dentro da minha vida, tudo que havia de errado e que antes eu achava que estar ao seu lado resolveria. Fico feliz por ter me enganado, por nosso relacionamento não resolver, de fato, nada além do que está entre nós, por mais difícil que isso seja.
Eu espero que você continue não se rendendo e me ensinando, deste jeito tão torto e tão nosso, que amor não tem nada a ver com ser o que a outra pessoa espera.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Não sei se é o tempo que eu demoro. Os meus trejeitos. Os fantasmas da infância. Meu medo. Sei que em algum momento seu olhar se perde, o corpo esquiva, a pressa se torna repulsa. Em algum momento eu fico sem saber como agir e perturbada com todos os atos. Não há nada que eu possa fazer. Eu sei da paz de quando você faz, mas ela some, some bem de baixo dos meus olhos e eu não vejo como aconteceu, pra onde foi. Hoje, como outrora, meu coração amanheceu batendo ao contrário.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
"Aprendi a aceitar essa estranha noção de que não estamos respirando, mas sim sendo respirados, e de que essa respiração que o universo nos impõe tem seu próprio ritmo, e que tentar mudar esse ritmo é como tentar mudar a órbita dos planetas, ou interromper o pôr do sol com as mãos, o que talvez só um deus consiga fazer, mas certamente não eu, a mais ordinária de todas as pessoas ordinárias.
Perder o contato diário com você me fez entrar num quarto escuro e entender que de dentro dele a gente só sai quando aprende a ficar com os olhos abertos porque é apenas com os olhos bem abertos que a escuridão perde a cara feia. É apenas com os olhos bem abertos que é possível começar a ver mesmo dentro do mais escuro dos quartos e, assim, começar a perceber o que existe ao redor. Dá medo ficar de olhos abertos na escuridão, mas dá mais medo ficar sem você, então, na escala dos medos, esse deixou de ser grande.
Perder contato diário com você, ser capaz de aceitar sua morte, embora escrever isso ainda não faça muito sentido, me fez acreditar que viver talvez seja mais difícil do que morrer. Viver requer atenção constante, exige que aprendamos a pensar, e a agir muitas vezes contra nossos instintos, e desejos".
(Milly Lacombe)
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
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Se a pessoa vai embora quando as coisas ficam difíceis, essa pessoa não merecia ter ficado quando estava fácil.
Desistir no caos não é amor.
25 anos pra conseguir aprender.
sábado, 24 de outubro de 2015
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Ninguém nunca me amou como ela. Nunca me quis como ela. Nunca me fez sentir tão potente.
E longe dela, parece que a minha força ficou pesada de carregar.
Eu nunca tinha me sentido amada na vida. Acho normal ficar assombrada de medo de perder o q eu sempre sonhei ter e nunca tinha tido.
Eu não soube lidar.
Com o amor.
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
O caminho do fim
Não tenho dúvidas de que você é o melhor amor que já senti, a melhor relação que já tive. Não tenho dúvidas de que juntas fomos o mundo e ganhamos dele, que juntas conseguimos ir além do conceito de cumplicidade, de lealdade, de doação mútua. As minhas dúvidas, agora, se resumem, ao que fazer com tudo isso que ainda sinto.
Ontem, enquanto eu tomava banho, me olhando no espelho e te vendo no reflexo, eu entendi que preciso te deixar ir. Que não posso mais te prender em mim e fazer tudo que eu posso pra tentar nos reconstruir. Ontem, eu aceitei a imagem de alguma outra pessoa que consiga te fazer feliz - como eu fracassei - ao seu lado, que alguém te faça rir como eu fiz, te amar como eu amei, olhar como eu olhei. Ontem eu finalmente consegui abrir mão do meu lugar na sua vida, mas ainda dói tanto, meu amor, dói tanto não ser mais o que éramos, dói tanto que tenhamos desistido, que a gente tenha errado a mão.
Eu sei que essa dor vai passar, que a gente vai seguir, o que me dói, na maior parte do tempo, é isso: saber que você vai passar.
Lembra uma vez em que a gente tava na sua casa antiga, você tava fazendo charme por algum motivo que eu não lembro, me apressando. Eu te pedi pra me dar uma braço. Eu estava deitada na sua cama, você deitou em cima de mim, cheirando meu pescoço e eu te pedi pra casar comigo. Você disse que ia pensar no meu caso, rindo da minha cara, como se eu estivesse te contando uma piada. Hoje, agora que acabou, quero que você saiba que todas aquelas vezes eu falei sério. E que eu queria encontrar uma forma das coisas se darem de forma diferente.
Eu não queria que você passasse.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Elaborar
domingo, 18 de outubro de 2015
Elaborar
Não sou de ter ciúme do passado. Gosto de te ouvir contando sobre todas as pessoas que passaram pela sua vida imaginando o caminho que te trouxe até aqui. Agora não, agora o meu não lugar me faz invejar o lugar de todo mundo que passou. Me faz querer alcançar um degrau do qual eu despenquei. Agora eu odeio as pessoas que eu amava.
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Castelo rá tim bum!
Quando eu era criança me perguntava quase todos os dias porque eu tinha nascido. Lembro de uma vez, quando eu tinha no máximo 8 anos, ter pedido desculpas à minha mãe por ter vindo ao mundo. Eu sentia uma culpa do tamanho do mundo.
E não era só culpa, era pavor. Hoje, quase 20 anos e muita análise e regressão depois, começo a entender o motivo de tanto desespero, mas naquela época tudo que eu queria era não ter que acordar, não ter que morar naquela casa, daquele jeito. Eu não dormia a noite, comia muito, vivia dentro da minha imaginação por julgar que lá era o único lugar do mundo que me cabia, que eu era bem vinda e o mundo era feliz.
Aí comecei a assistir castelo rá tim bum! E então descobri um mundo mágico, tão diferente do meu e por isso me parecia tão acessível. A minha vida era assistir e sonhar com o castelo, com as fadas no lustre, com uma tia bruxa que me contava histórias, um laboratório pra eu descobrir minhas coisas, uma biblioteca com um gato pra me falar sobre todos os livros do mundo - porque quando eu era criança eu achava que leria todos -, alguém que tivesse paciência pra me explicar o que todo mundo resumia à "porquê sim", amigos que visitavam a minha casa, um et que vinha me dizer de outros planetas, uma caipora que bagunçaria minha casa e eu culparia pela zona, uma entrevistadora toda rosa, um amigo entregador de pizza, um lavador de pratos que me parecia um aquário. Naquele castelo não existia problemas, eu não era um problema. Mas uma hora ou outra o programa acabava, eu desligava a tevê e voltava pro mundo onde eu não gostaria de estar, onde eu chorava dizendo que não gostava de mim diariamente.
Essa semana, no dia das crianças, fui à exposição do castelo no CCBB, do Rio de Janeiro. Numa época em que, novamente, eu esqueci o que é sonhar. E agora, choro lembrando de tudo que eu vi. De novo, eu era uma criança num castelo onde não existia problemas, dores, medos, onde eu gostava de quem eu sou. De novo eu tinha espaço pra sonhar, tinha memórias, tinha esperança. De novo eu era alguém. Ali só existia o Nino e eu desbravando o castelo, só existia um espaço no mundo pra mim.
Escrevo pra que eu nunca esqueça do dia em que eu descobri o lugar daquela criança amargurada no mundo, por 40 minutos ela tinha o mundo dela, como toda criança deveria ter, um lugar feliz. Por 40 minutos ela não era uma criança massacrada e rejeitada. Por 40 minutos aquele era o meu castelo rá tim bum!
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Elaborar
Eu era uma pessoa que não curtia declaração pública de afeto, mais preocupada em viver do que lembrar, mais preocupada em estar sozinha do que em ter companhia. Você chegou e mudou tudo.
E agora na minha mente vem tantas coisas que você mudou na minha vida sem ao menos pretender ou perceber e, ao invés de agradecer, hoje eu sinto um buraco atravessando minha garganta.
Eu deixei de ser a pessoa com quem você fazia qualquer coisa pra passar a maior quantidade de tempo possível, pra me tornar aquela que você, mesmo passando o dia com o celular na mão, acha inconveniente mandar uma mensagem perguntando como ta sendo meu dia. Me tornei a pessoa que se sente culpada toda vez que te liga, que não tem coragem de te ligar dizendo que tá com o fim de semana livre e gostaria de passar com você. Eu me tornei a pessoa que também não tem o que te dizer.
E eu ria de quem era isso na sua vida, não de sarcasmo, mas porque eu tinha a errada certeza de que nunca cairíamos neste lugar.
terça-feira, 13 de outubro de 2015
sábado, 3 de outubro de 2015
Todos os dias
Todos os dias eu pulo a cada toque de notificação do meu celular.
Todos os dias eu recuso o mundo e espero, com os olhos e ouvidos atentos, que seja você. Tem vezes que eu converso com você, mesmo sabendo que você não me ouve, mesmo sem obter respostas, te conto meu dia, te declaro amor e saudade, te peço que volte.
Todos os dias eu tenho a esperança de estar presa em um pesadelo, de que eu vou abrir os olhos e você vai estar deitada ao meu lado sorrindo e pedindo pra eu preparar teu café da manhã.
Todos os dias eu vou até a avenida principal da cidade e fico os olhando os ônibus que vão na sua direção me segurando pra não pegar o próximo, pra não bater na porta da sua casa e te perguntar o que a gente acha que ta fazendo, se o amor que a gente sente ainda ganha do mundo.
Todos os dias eu me sinto ridícula por sentir tudo isso sem conseguir te dizer, me sinto ridícula por achar ridículo pensar em te falar que toda vez que eu penso no que significa amor, eu defino com o que eu sinto por você.
Assim, se não for pedir demais, me dá um sinal de que eu ainda também sou o que você quer.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Um silêncio ensurdercedor
terça-feira, 29 de setembro de 2015
"Depois de tanto pranto, de tanta raiva, de tanta revolta, de tanta letargia, me parece que tudo o que eu tinha que aceitar não era bem a morte, mas a vida. Talvez este seja o segredo: aceitar a vida. Porque ela te bate, te nocauteia, te assola, mas saber aceitar seu ritmo, e toda a dor que vem com ele é também abrir uma portinha para conseguir sentir em cores mais fortes. Esperar menos, amar mais. Isto apenas: esperar menos e amar mais. Amar a ponto de conseguir lidar com a distância, com a falta de notícias, com o absurdo, com o desconhecido, com a morte – e com a vida." (Milly Lacombe)
sábado, 26 de setembro de 2015
Quando você não está
Você desfila por aí a sua alegria exacerbada, um dos meus quadros favoritos por estas ruas tão novas, tão cheias de cores e possibilidades. Por estes lugares que nunca fui, tão esvaziados de mim.
Eu, do lado de cá, tento refazer as lembranças, destes lugares, todos eles, embebedados do seu cheiro, da sua voz, das nossas histórias, de nós. Tão cheios da gente sorrindo, das tardes sem rumo, do abraço, o seu abraço, o melhor lugar do mundo, o meu lugar no mundo.
Sorrio por você, com medo do que sentir por nós no presente que hoje se faz ausente daquilo que fomos, daquilo que somos nós, dos nossos nós.
A angústia do nosso amor me persegue. A paz do nosso amor me move. A imensidão do que somos, ainda me deixa perplexa.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Os nossos problemas sumiram do meu peito no momento em que eu senti, e sentir nem sempre é compreender, que o em volta não é necessariamente a gente. No momento em que eu vi que temos tantos motivos pra brigar quanto pra nos potencializar e somos nós quem vamos escolher quais motivos usar como engrenagem dessa relação. Hoje conhecemos nosso melhor e nosso pior lado, e quando eu olho pra você eu só consigo pensar que você me faz sentir tanta coisa linda, que o único papel que o nosso lado ruim precisa ter é nos lembrar que somos humanas, que nosso caminho é torto como a gente, que é isso que nos faz ser quem somos de bom também.
Hoje eu acordei querendo tomar um porre com você, desses do nosso começo e vi que sim, tudo em mim finamente e novamente é só amor por você
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Elaborar
Primeiro passo para sair da depressão: troque a energia. Energia parada é feito água parada, atrai doença. Se você acordou triste, converse com um amigo, abrace, veja o mar de perto com o vento refrescando cada poro. Quanto mais você se move, mais rápido se move o que te paralisa.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Quando o fim se anuncia
Você já não se importa de perder a viagem de fim de ano que estão programando faz meses,
Não liga de nunca mais voltar a conviver com aquelas pessoas, naqueles lugares,
Não dói imaginar o mundo sem aquele abraço que cabia - há nem sei quanto tempo - o seu mundo,
Não problematiza as coisas erradas que você julga estar sofrendo, simplesmente porque não vale à pena discutir,
Não faz e nem quer fazer ideia se aquele ex amor ainda enche suas caixas de mensagens privadas em tantas redes sociais.
De repente você não sente mais o cheiro da pessoa perdido no seu corpo,
Não dá mais ouvidos pros berros do seu corpo que só querem aquele encaixe,
Não faz questão de sentir aquela textura na sua pele, de ouvir aquela voz, de gastar seu dinheiro buscando aquela presença.
Chega uma hora em que o adeus se torna iminente, que não resta sequer um motivo para ficar, que você ainda não entende porque não está no caminho do fim pra casa.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
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Está doendo. Cada articulação, cada pedacinho do que eu sou está latejando. É uma luta diária pra não me rasgar inteira. Insisto. Não por vontade, apenas pela mania de ganhar sempre. E travei essa batalha contra todo esse sofrimento sim.
Me enxergar está sendo meu pior castigo.
domingo, 20 de setembro de 2015
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Feliz saber que, afinal, tem o mesmo número de pessoas me buscando que os que me deixaram à margem.
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"Eu não sofro pq eu sempre me preparo pra perder. Vivo td intensamente pq tvz eu perca amanhã, tvz eu perca hj, mas vai acontecer".
sábado, 19 de setembro de 2015
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Eu ia cometer o mesmo erro.
Eu ia pra rua buscar.
Resolvi vir pra casa encontrar. Comigo, com a minha solidão, com a falta própria.
Eu vim lidar com o vazio, com a frustração, com a dor pulsante.
Eu vim pra casa lidar com a perda, com o medo, com o pavor, com a realidade de que a vida de todo mundo é medo, perda e pavor.
Eu vim pra engolir o meu egoísmo.
Pra deixar o desejo de morte escorrer pelo ralo enquanto me enxáguo no banho.
Eu vim buscar o que vem depois que eu acabo.
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Aí você para, olha pra si.
(Parei).
E percebe que todos estão se embebedando do mesmo veneno.
A monogamia é o caminho mais fácil, não ceda.
Prefiro a liberdade. De escolher, de ser escolhida. De ser abandonada, de abandonar.
Um sentimento ruim só acaba se você o deixa ir e se embebeda de algo melhor.
Uma pessoa que já não te faz bem só vai embora, se você aceita que a função dela na sua vida acabou.
Você só sai de um lugar ruim quando entende que o ciclo da sua vida nele se fechou,
Deixa o fim chegar, vai, deixa. Pra recomeçar melhor depois.
Porque até onde eu sei, o recomeço é sempre a melhor parte.
Elaborar
Estou aqui a me encontrar.
Estou aqui, nunca antes tão só, nunca tão solitária.
Lembro do quanto a solidão me agradava, do quanto a desejava e meu coração se enche de angústia. Aonde foi que eu me perdi? Por que minha própria companhia dói tanto, por que tão dilacerada?
Reli hoje um texto sobre dor, que dizia, nas conclusões, que o caminho pra evitar o sofrimento é o autoconhecimento, é o conhecimento da própria dor. Era um texto acadêmico,era um texto sobre mim.
Estou dentro do meu próprio corpo, como cachorro correndo atrás do rabo sem chegar a lugar algum.
A vontade e dar fim à minha vida são cada vez mais frequentes e cada vez menos dolorosas. Não o faço por teimosia. A morte já não me assusta, a minha, pelo menos. Tudo tem fim, que bom que eu também. Se há uma coisa que me assusta, ela se chama ideia de eternidade, ideia de ter que me aturar sem data pra acabar.
Fecho os olhos, olho pra dentro. Ignoro a taquicardia que é meu estado comum tem tantos meses. Vejo o caos, me familiarizo, ele já não me agrada. Começo a limpar o chão e um pote de óleo despende do teto sobre ele. É em vão começar pela consequência, preciso encontrar a causa. É em vão tentar dizer que tudo está bem.
O amor como cura é tudo que tenho.
Preciso aplicá-lo à mim.
Escrevi mais cedo que só o amor cura. Agora completo: só o auto-amor cura.
Aproveita que ainda não é totalmente tarde.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Rivotril
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Desengano
Nosso encontro foi a minha sensação de, finalmente, poder ser eu mesma e não estar sozinha no mundo.
Eterno equívoco.
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Quando o amor acaba
Estávamos num deserto, na Bolívia. Fazia três dias que atravessávamos paisagens numa 4x4, de modo que eu não faço ideia de onde foi, exatamente. Enquanto o guia do passeio parou pra tirar uma dúvida com a guarda do parque, eu lia meu novo livro preferido, que eu havia comprado na Virgen de loa Deseos, em La Paz, lugar que não havia como voltar naquele momento, nem tão cedo. Então, alguém me chama e resolvo descer do carro e deixo a porta aberta.
No segundo seguinte, ouço um barulho de rasgo. Olho pra trás e meu livro está despedaçando, voando naquele vento incontrolável, uma página pra cada lado. Grito. Saio correndo atrás das páginas, uma pra cada lado. Um rapaz me ajuda a correr pra pegar as folhas, em vão. Eu consigo recuperar umas poucas. Outras, daquela matéria linda que eu queria guardar e reler a vida inteira, foi pega por um estrangeiro, que fala uma língua diferente da minha e ri daqueles dizeres arrancando com o próprio carro, sem que eu conseguisse me comunicar a fim de impedir. Eu choro. O guia avisa que não dá mais pra procurar pelas páginas, precisamos ir embora. Eu tento negociar, ele diz que não adianta, tudo voou pra muito longe e não tem como buscar. Eu não acredito.
Volto pro carro e sigo chorando. As pessoas me dizem que é só um livro. Não há colo que me console. O que nos corta o coração quando perdemos, nunca parece tão significante segundo outros olhares. Só eu sabia o que aquele livro significava e só eu sabia o quanto estava doendo que, mesmo com sua carcaça e poucas páginas, ele nunca mais voltasse a ser o mesmo.
É mais ou menos o que acontece quando o relacionamento acaba.
domingo, 13 de setembro de 2015
Pra quando você me deixar
Gosto de te ver assim: contando histórias e cantando pela casa enquanto cozinha. Essa talvez seja a minha segunda cena preferida no mundo (a primeira, sabemos qual é). Te ofereço ajuda e você aceita, pra dois minutos depois estar me expulsando dizendo que prefere fazer, à me ensinar. E eu gargalho, te deixando aí da mais brava, pensando que realmente você é a rainha das coisas que se propõe à fazer e que, assim sendo, não há argumento que te convença a me deixar permanecer na sua cozinha.
Era pra você ser só uma vírgula, sempre penso nisso. Era pra gente ser a efemeridade encorporada, como combinamos. Não somos muito boas em cumprir combinados, aliás, nunca vi duas capricornianas tão passionais quanto nós duas.
No alto da sabedoria dos nossos vinte e poucos anos, aprendemos que tudo tem prazo de validade e que não adianta projetar, nada é pra sempre, tudo é mutável. E talvez eu só tenha ficado porque sabíamos disso.
Eu espero que quando você me deixar você esteja sorrindo, como no dia em que te conheci. Espero que nossa história dê uma volta inteira em volta dela mesma, pra que a gente não deixe nada por viver e não sejamos um empecilho no meio de outras relações. Eu espero que a dor que eu sentir, não importa a minha idade: por dois dias eu vou pensar que estou falecendo, vire aquela saudade gostosa, como a que eu sinto da nossa primeira viagem de moto pra serra. Eu espero que você esteja inteira, pra que seus futuros amores possam desfrutar do melhor que você é, assim como eu. Eu não faço a menor ideia de qual foi a força que nos uniu e nem do porquê dela, mas saiba, porque eu repito todos os dias: você é a melhor história que eu vivo.
sábado, 5 de setembro de 2015
Eu não entendo a lógica da morte
Não entendo porque as pessoas boas continuam morrendo enquanto eu continuo viva. Não sei como imaginar a próxima a ir embora. Ou quando eu vou. Ou do que ter medo. Ou como agir pra que eu não desenvolva um câncer tenebroso descoberto em fase terminal. Ou, pior, de tantos "boa noite", nunca saber qual, se o cheio de amor ou imerso na raiva, será o último.
O que você faria se soubesse que hoje é seu último dia de vida?
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
domingo, 30 de agosto de 2015
Porque eu te amo, tu não precisas de mim
Eu te amo e você não precisa de mim. Eu preciso, porque não há como amar realmente o impalpável, o intangível. Pra que eu te ame é preciso que você exista, é preciso que você viva, tenha sonhos, gostos, traumas, é preciso. Nada de novo sob o sol.
A grande sacada, só agora, depois de mais de um ano lendo essa frase percebo: VOCÊ NÃO PRECISA DE MIM PORQUE EU TE AMO. Eu não quero que você seja uma pessoa insegura, eu não quero que você co-dependa, que você se desacredite, que quero que você saiba do meu amor e que exista nele independente de que ele continue existindo. Porque eu te amo, te quero autônomo, independente, livre. Não dessa forma desumana que andamos vendo por aí, do viva sua vida, foda-se a empatia, o amor próprio, o amor ao outro, viva as ideologias e o meu ideal. Não. Que você seja livre pra dizer, sentir, pensar, gritar, dar vexame. Que seja livre pra e contradizer, pra erra, pra despertar meu pior lado e o melhor ao mesmo tempo. Que você não dependa de mim pra existir de tão livre que a sua existência é. Que você seja potência. E que fique, um pouco mais, talvez, porque quer e não porque precisa.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Tu não precisas de mim porque eu te amo, mas porque minha companhia te potencializa. Tu não precisas de mim porque eu te amo, porque, à despeito de ter entendido que ninguém se basta sozinho, que tudo é impermanência, você é livre como poucos são: respeita a sua liberdade e a minha.
Obrigada, Roberto Freire, por mais uma catarse no meio do nada. Por mais uma reformulação de teoria no meio da vida.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Bateju
Engraçado me dar conta disso hoje em dia, visto que sempre achei que eu fosse muito competitiva. Lembro da minha tia, depois de toda apresentação na escola, falar mal de todas as outras meninas dizendo que eu era a mais bonita. Eu não ficava feliz com aquele elogio nunca. Primeiro porque, venhamos e convenhamos, que criança/adolescente esquisita eu fui, Segundo que eu não queria ser mais bonita que alguém, eu queria ser tão bonita quanto.
Vi agora um comentário numa foto de uma amiga, ela posando com várias outras amigas e a mãe comentou "filha, você é a mais bonita" qual a relvância disso.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Rivotril
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Transformar ódio em oportunidade de crescimento.
Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento.
Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento. Transformar ódio em oportunidade de crescimento(...)
Auto-amor energético
Parando pra pensar o Universo como força e energética em tudo. Talvez seja viagem, talvez seja coerente: sei do aspirador se pó de energia que se instala na minha pineal toda vez que sinto medo ou lido com pessoas tóxicas, sei dos encontros por afinidades não ditas, sei da manutenção do pensamento que faz com que nada atravesse meu campo vibratório, sei do mal estar que paira no meu dia quando gasto 10 minutos dele desejando o mal de alguém.
Aconteceu quando eu lembrei que ta todo mundo morrendo, por fatalidades ou pelo tempo, a gente ta se despedindo e isso me deu uma enorme sede de vida. Não quero mais perder tempo me odiando ou odiando alguém porque não há tempo pra isso dentro do pouco tempo pra ser o que eu quero. Primeiro comecei a cantar uma música bonita quando começava a sentir ódio - porque o que é a vida senão um grande teste de paciência -, depois parei de visitar a página social ou a casa de quem me desequilibra, em seguida, e talvez tenha sido o passo principal, troquei o "eu odeio a vida e que isso esteja acontecendo, isso tudo não tem jeito quero morrer" para "o que isso tudo que ta acontecendo tem pra me ensinar? Aonde nisso tem espaço pra que eu possa crescer?". Então, quando eu estava pronta pra ver - já que certamente antes eu preferiria a cegueira permanente - eu pude me ver, me re-ver. Durante um show um filme se colocou dentro dos meus olhos. Os lugares que eu fui, os amigos que eu fiz, as pessoas por quem me apaixonei e o desenrolar de cada história, a sensação de ter passada no vestibular, as novas casas, a saudade da cidade natal que foi sumindo com o amor pela cidade nova, voltar pra cá depois de tanto tempo odiando aqui, as noites esparramadas na cama, dormindo no ônibus ou no avião chegando ao próximo destino, matar aula de matemática sentada no meio fio da calçada conversando com meus melhores amigos porque sabíamos que aquilo passaria rápido e não voltaria, uma torta dividida com uma amiga num dia que falamos sobre efemeridade, tomar banho de chuva andando de bicicleta com minha prima quando ela levou o primeiro fora, o primeiro beijo que ganhei da minha namorada, o abraço da minha mãe ao chegar de uma viagem em que fiquei passando mal com medo de morrer, a sensação de deitar na grama e sentir o sol da manhã entrando na minha pele, o fórum social, a primeira vez que vi minha banda favorita, o último encontro com a turma de colégio, a onda do último jazz e blues, contar moedas pra consertar o carro pra acampar escondido... Eu me vi tão linda, tão grande, tão forte, tão amada, tão Amanda.
E foi através dessa energia que eu comecei a entender o que é auto-amor.
sábado, 18 de julho de 2015
Bateju
Eu demorei a entender - e ainda não sei se entendi - que a morte não necessariamente mata alguém. O que mata é a necessidade de esquecimento, o que mata é ter que fazer alguém sumir de você.
Você não sumiu de mim nem por um minuto. Tem 14 anos que algo me lembra a sua existência todos os dias. Você ta vivo em todo lugar que eu vou, em tudo que eu vejo. Em cada pedaço da minha história.
Tenho tido uma percepção que me é estranha sobre meu corpo nos últimos tempos. A religião me ensinou que meu corpo é um empréstimo de deus e não quem eu sou. Eu entendi de outra forma agora: meu corpo sou eu porque me permite estar aqui, me permite existir, mesmo que exista algo além. E talvez por isso conceber que você ainda exista tenha me custado tanto o entendimento.
Eu me despedi do seu corpo, do seu abraço, do seu modo de sorrir, dos seus dedos gordinhos da sua voz. Mas eu nunca vou me despedir do seu atravessamento na minha vida, das nossas histórias, do nosso encontro.
O meu corpo, esse que permite que eu exista, faz com que você continue existindo enquanto eu viver, porque sim, uma grande parte de mim tem você enraizado.
segunda-feira, 13 de julho de 2015
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sábado, 11 de julho de 2015
Formular
Eu to morrendo de saudade de mim.
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Formular
Eu aceito o fato de sempre ter falhado em tudo na minha vida. Algo que não me cabe suportar: ser falha no seu coração.
terça-feira, 7 de julho de 2015
Formular
Uma seringa no braço, puxando meu sangue. E a certeza ali exposta de que todo terror foi real. Só consigo me perguntar por que mereço pagar pelos erros que eu não cometi.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Formular
A prisão do ego. O caminho conduzido por ele. O desespero das consequências que ele causa. A vaidade destrói tudo.
domingo, 31 de maio de 2015
quarta-feira, 27 de maio de 2015
A última vez que vi você
Amanhã faz um ano desde a última vez que eu vi o meu melhor amigo. E eu sei que deveria ter vergonha de dizer que fiquei os últimos 3 meses de vida dele sem trocar olhares com ele, por culpa inteiramente minha, visto que ele vinha se esforçando sempre pra me encontrar, pra se reaproximar (não vou nem comentar do peso de saber que a última vez que nos falamos foi por telefone e eu estava com pressa de desligar porque estava de saída). Naquela tarde fria de maio - na cidade em que a gente passou grande parte dos melhores momentos da nossa adolescência, a gente falou de como era estranho sentir frio aqui, visto que nascemos e nos criamos em uma cidade serrana onde 20º era tempo pra pegarmos uma cachoeira - ele chegou aqui em casa enquanto eu estava no banho e eu o fiz esperar alguns minutos no portão e depois no sofá conversando com minha mãe. Quando fiquei pronta, ela foi pro quarto dela e nos deixou na sala conversando - e brigando, como desde que nos conhecemos, sobre quem tá na vez de fazer carinho e quem tá na vez de receber, aonde eu sempre saía em desvantagem e passava horas coçando as costas dele, diga-se de passagem lado à lado, rindo do mundo.
Eu gostaria de ter te contado algumas coisas -escrevo isso e choro - mas não contei, porque a gente sempre acha que vai ter uma próxima vez pra contar, sempre espera uma oportunidade adequada pra dizer tudo o que gostaria.
O dia de te contar nunca chegou, o da sua morte sim, e foi breve.
Naquele dia, muito precocemente, eu descobri que estava apaixonada, assunto que eu evitava e não gostaria de contar à ninguém e fiquei prestes a te dizer muitas vezes o quanto era patético não saber o que fazer com as borboletas no estômago aos 24 anos. Eu queria ter te contado que tava em crise com meu estágio e tava morrendo de medo de não ter nascido pra única coisa que eu achava que eu sabia fazer, e que eu pensava todos os dias se ganhar dinheiro era mesmo necessário - assunto que você e eu poderíamos perder horas mais uma vez, agora com um pouco mais de maturidade e sabendo o que o dinheiro pode comprar. Eu queria te contar que eu planejava me formar, entregar o diploma à minha mãe - que merece ter uma filha formada - e sumir no mundo pra alguma aldeia hippie e te perguntar se você ainda acreditava que dava pra viver de mato e amor. Eu queria te dizer que não importa o quanto você estivesse careca e balofo, você ainda era o cara mais bonito que eu já vi na vida, que você me ensinou que não tem defeitos físicos quando a gente tinha 13 anos e eu não tinha argumentos pra te zuar e eu de fato acreditei nisso. Eu queria ter te dito que você me ensinou a amar, a ler os livros certos, a ouvir música boa, a acreditar na paz do rio e na certeza das montanhas. E combinar de você me levar pra subir a pedra rabiscada - que você jura desde os 15 anos que vai me levar quando souber que eu vou subir sem despencar lá de cima ou querer desistir e dormir no meio do caminho. Eu queria ter te dito o quanto eu tava magoada com minha atual situação de moradia e ouvir você me contar como foi quando você passou por esse processo e qual a melhor maneira de passar por ele.
Eu queria ter te ouvido dizer que acredita em mim e que a gente vai sempre estar juntos de alguma forma.
Eu não disse.
Nessa tarde, faz um ano, meu rosto tinha paralisado devido à quantidade de estresse que eu estava passando e eu tinha pressa de chegar ao pronto socorro. E eu tinha pressa também de ir pra faculdade assistir aula. E de ir pra um evento que mudou a história da UFF. E de fazer outras mil coisas muito menos importantes do que estar com você, sem contar a hora, sentado no sofá da sala como sempre foi. Poderia ter sido em frente ao mar, molhando só os pés sentados numa pedra numa cachoeira, deitados no pátio da escola, naquele banco de cimento - que nem é banco - da faculdade.
Eu gostaria de não ter tido pressa, de ter me embebedado da sua presença e do seu abraço, de ter sentido aquele cafuné como se fosse o que ele era: o último.
Não consigo terminar esse texto porque as lágrimas não deixam, mas também porque não existem palavras que caibam tudo que a gente poderia ter conversado, tudo pelo que eu gostaria de te agradecer.
Dentro de todos os nosso erros, além de todos os nosso acertos, você foi o melhor amigo que qualquer mulher poderia ter. E atualmente eu só espero que você tenha ido pro "primeiro mundo" sabendo disso.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Rivotril
É quarta feira e pelos caminhos do destino, você tá bem longe do meu cobertor de berinjela e do potinho de brigadeiro que eu comprei pra passar essa noite fria. Um ano se passou. Eu gosto de refazer o trajeto, eu não ligo pras datas, mas eu amo as histórias. Eu sou apaixonada pelo fato de que 365 dias atrás eu estava sentada em um bar com amigos em comum, tentando não fazer cara de boba na sua frente: eu estava totalmente encantada pela mulher que me disseram 345680 vezes pra não me apaixonar e não fazia nem 2 horas desde o momento em que eu estava assistindo à capoeira de um amigo, que também está sentado à mesa agora,esperando-a chegar. Você me olha sorrindo a cada piada que contam e eu não sei bem se tenho que olhar pra você ou desviar o olhar ou o que eu faço com as mãos, meu rosto torto, meu corpo no mundo. Eu vou chegar em casa jajá - meu amigo vai dormir em casa e amanhã acorda cedo, de modo que nossa despedida essa noite será em breve, e vou te mandar uma mensagem no celular dizendo que queria ter ficado mais tempo com você. Talvez se esse amigo não tivesse me dito que você me olhava do mesmo jeito que eu te olhava, se não tivesse soltado um "confia no meu feeling que nunca funciona comigo" eu não tivesse dito nada e não tivesse acordado com um "bom dia" seu no meu celular e não tivesse te chamado pra sair.
O amanhã chegou e hoje eu vou andar na garupa da sua moto pela primeira vez, segurando você com uma mão e a barra lateral traseira da moto com a outra, pra que se a gente cair, eu conseguir me segurar no que parecer menos mortífero. Você vai tá com a mesma roupa de ontem e a primeira coisa que eu vou pensar vai ser "a noite foi boa, hein gata" seguida da segunda "putz, como ela é linda, to muito ferrada!" e então, entre um semáforo e outro vou perguntar como foi seu dia, porque a verdade é que eu gostaria de ter feito parte dele.
Chagaremos ao bar, sentaremos numa mesa num cantinho do meu bar preferido da cidade na época.E eu vou beber uma cerveja atrás da outra, quase sem respirar, pra aguentar a taquicardia que tomou conta de mim, os intervalos entre os copos são só pra disfarçar a tosse que tinha se alojado na minha garganta e não saía mais. Naquela mesa eu te contei a trajetória de quase todos os meus relacionamentos e você me contou a história de quase todos os seus amores. A gente riu das pessoas que escolhiam namorar e se dar satisfação - que gente patética. A gente falou de psicologia, de arte, de filosofia. Bêbada, eu falava com você como se tivesse falando comigo, cheia de "não sei se devia tá te falando isso". Aquela noite, entre um carinho e outro, um assunto e outro, você me beijou ali,no meio do bar - eu que nunca beijo ninguém pela primeira vez (nem pela segunda, terceira ou quarta) em público, retribuí e não quis mais largar seu abraço.
Mas a hora avança sem piedade - um ano depois e ainda é assim sempre que estamos juntas -, são quase 4h da manhã e amanhã é dia e trabalho pras duas - pra você mais cedo do que pra mim e temos que deixar o bar. Você me traz na porta de casa e fica difícil parar com o beijo que começou a nem sei quantas horas atrás. "Se você não for embora agora, eu não vou te deixar ir mais". Você não foi e, como eu te avisei, você continua aqui. E eu, que nunca consigo escolher nada, encontrei o único melhor lugar do mundo dentro daquele abraço de nuvem.
Meu celular tá apitando com mensagem sua, estamos longe fisicamente,ao contrário do que eu gostaria no dia de hoje. Mas não importa,nada importa: Amanhã à noite eu vou te beijar pela primeira vez.
quinta-feira, 30 de abril de 2015
É sempre um alívio abrir os olhos.
Fico deitada na cama mais uns minutos pensando em todo o dia de trabalho que vem pela frente, na irritação com o calor, na alegria por estar chovendo, o que eu vou comer hoje? Vejo filmes, leio um livro, não faço nada, choro. Uma vez por semana aquele dia em que você sorriu pra mim pela primeira vez e eu me senti numa novela das 8 quando os mocinhos se encontram, nunca existiu.
Fico pensando nesta quase uma dezena de bilhões de pessoas no mundo nesse momento, na quantidade de combinações de vidas possíveis, nos bilhões de encontros a que eu iria, nos bilhões de corpos que eu mergulharia, nos trejeitos que eu gastaria horas admirando desapercebida, caso eu não tivesse dado algum sinal corporal misteriosos pra que você beijasse minha boca e deslocasse minha'alma pelo espaço, caso eu não tivesse dito sim pro próximo encontro e não te deixasse abrir a caixa de cafonisse romântica que eu não sabia existir em mim. Fico pensando nos meses sem o seu abraço em volta do meu durante o nosso sono, sem suas ligações no meio da tarde me chamando pra um café, sem o crescimento que o tanto de lágrimas que o seu colo liberou - por me permitir encontrar comigo mesma, sem ter experimentado o sexo que mais combinou com o meu corpo e, por isso, elegi o melhor da minha vida. Fico pensando aonde eu poderia estar agora: numa casa perdida na África, fazendo prova de pós graduação em Porto Alegre, num vôo pra Europa, trabalhando na serra do Rio de Janeiro todos os dias. Os lugares que eu teria deixado de pisar de mãos dadas com você, mas também todos os lugares que eu teria conhecido caso meu caminho tivesse cruzado com o de outra pessoa, caso eu não tivesse te pedido pra ficar mesmo quando todas as coisas que eu fiz te pareceram erradas. No que eu estaria estudando, no que eu estaria me transformando, pelo que eu estaria arrancando os cabelos de ciúme. Uma vez por semana eu fecho os olhos e me imagino mais uma vez na vida com outra pessoa, experimentando a companhia de outro destino.
É sempre um alívio abrir os olhos.
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Rivotril
Eu não sabia que ao meu lado era um bom lugar pra se estar até você chegar e me dizer que, além de sê-lo, eu era o melhor lugar do mundo de todos que você tinha pra querer.
Faz uma semana que tudo mudou.
Agora eu, que acordava sorrindo pela sua existência, acordo culpada e me sentindo burra por ter deixado esvair entre os meus dedos o melhor elogio que já recebi.
Eu não sei muito bem quando a sua importancia tomou minha vida. É claro que te deixei entrar em mim, estava pulando de olhos bem abertos, mas não sei como a sua rápida passagem se tornou um pedido de namoro em meio a um deserto na Bolívia. O que eu sei é da leveza e da potencialização em mim que a sua existência causa.
Eu achei que você fosse embora.
E sua despedida está anunciada desde a sua chegada. É que geralmente , quando alguém me diz adeus eu automaticamente penso em todas as coisas boas que aquela ausência me traria. Aquele dia eu só conseguia me sentir sem um braço, e eu não via nada de positivo nisso.
Eu ainda não sei como consertar as coisas ou se elas tem conserto - à despeito de saber que nada está tão sujo que não possa ser limpo. Sei da dor de ser dor pra você. Sei da espera de voltar a ser - mesmo que não o melhor lugar do mundo - um bom lugar pra se estar e habitar.
terça-feira, 28 de abril de 2015
sábado, 18 de abril de 2015
Bateju
Ontem à noite eu estava em uma social bem calma, muito diferente daquelas que a gente ia/produzia lá em casa (de tantas formas diferentes). Acontece que a amiga de uma amiga desapareceu por algumas horas e todos se apavoraram, e essa amiga que ficou procurando pela desaparecida dizia sobre o pavor que é quando alguém que a gente ama desaparece.
Eu sempre lembro de você em situações boas: uma música que eu ouço, a cor do pôr do sol, uma foto antiga, uma coisa que você falaria, um lugar aonde eu gostaria que você fosse comigo. Mas foi inevitável não lembrar de você nessa conversa, em como é apavorante que você tenha sumido de debaixo dos meus olhos, de como você partiu do meu mundo poucos dias antes de eu reencontrar o seu abraço. E me apavora como as coisas sempre são assim, imprevisíveis. Me apavora a forma como eu passei a desejar a morte justamente por temer que ela chegue pra mim, como chegou pra você, em uma tarde aonde eu esteja feliz e indo encontrar amigos pra jogar futebol, pra que eu possa ter controle sob ela, pra que eu não desapareça sem que alguém espere. Me apavora saber que nunca mais voltarei a te pedir pra deixar os cachinhos dourados crescerem e parar de rapá-los, me incomoda saber que eu nunca mais vou te abraçar,te contar uma história, ouvir a sua voz.
Ainda não me acostume à sua ausência, ainda não caiu a ficha do nunca mais, quando você era meu único pra sempre. Ainda tenho a sensação de um dia você vai bater aqui em casa e me chamar pra dar uma volta olhando o mar e eu vou te dizer, na praia, como em todas as vezes, daquela vez quando a gente tinha 13 anos e foi andar na praia e a onda molhou o único tênis que você tinha pro feriado, da outra vez quando mais velhos a gente saiu da aula e foi tomar caixote do mar, da prancha que a gente dividiu por 6 pessoas.
Eu quero que você saiba, mesmo que não haja como você saber, que a sua ausência faz silêncio em todo lugar e que "enquanto eu respirar vou me lembrar de você, só enquanto eu respirar"
terça-feira, 24 de março de 2015
sonhei
Então eu sentei no chão do meu quarto e cortei cada membro de mim de uma extremidade à outra.
Eu sonhei que pintava as paredes do meu quarto com sangue e quando acabava, deitava no chão e sorria enquanto me esvaia em sangue.
Eu sonhei que todo o chão do meu quarto ficou vermelho vivo, não havia mais nada além do meu líquido de vida manchando todos as coisas materiais que chamo de minhas.
Eu sonhei que meu corpo deixava o mundo e eu deixava o meu corpo e não havia nada mai correto ou sensato que não existir.
Eu estava acordada.
quarta-feira, 11 de março de 2015
Rivotril
Aqui faz um dia nublado e me alegro com a chegada de março e sua tentativa de temperaturas mais amenas, que me aponta a chegada do outono.
Fico tentando lembrar exatamente aonde eu estava nesta mesma data no ano passado, quando eu nem imaginava que você viria, sentindo alívio por saber que você chegou.
O que a gente tem hoje, é um alívio.
sexta-feira, 6 de março de 2015
Rivotril
Até hoje (nesses momentos em que a sorte me toma e você resolve me contar como se apaixonou por mim) você me diz que parece que aquela noite eu estava ignorando a sua existência (fato que eu não compreendo, visto que eu estava sentada ao seu lado a noite inteira num sofá apertado deixando você beber toda a cerveja do meu copo) e toda vez que você me diz isso eu me questiono como você não percebeu o meu olhar vidrado em você e o meu sorriso idiota ao te ouvir cantando junto com a Juçara "fica comigo, se você for embora eu vou virar mendigo" dizendo "nossa, quanto drama, isso é tão eu" me perguntando aonde a garotinha insegura, que você deixou escapar ali que existia, se escondia dentro da mulher que me fazia perder a hora, o bom senso e a pose na segunda noite beijando a minha boca.
Até hoje eu não entendo (um pouco porque eu nunca quis entender, um pouco por saber que não há explicação) esse amor que foi invadindo meus dias e tomou conta da minha vida dessa forma, mas ainda sorrio enquanto escrevo isso ouvindo "trovoa" (a música que passei todo o dia seguinte procurando de quem era, visto que eu só me lembrava da parte da música que te ouvi cantando) e sinto minhas mãos geladas tanto quanto o vento que batia no meu rosto naquela noite na garupa da sua moto em direção à sua casa, "tá vendo todas essas portas iguais? Você consegue imaginar quantas vezes eu já errei a porta de casa bêbada e acordei os vizinhos, neah?", não, eu não imaginava o tamanho da sua capacidade de distração, todavia o que realmente não me passava pela cabeça era a felicidade que eu sinto agora (acabo de sair do banho, estou com uma toalha enorme enrolada nos cabelos pesando minha cabeça enquanto minha mãe me espera pra ir com ela ao mercado comprar coisas pra te preparar um jantar) por saber que você está agora dentro de um ônibus em direção ao meu quarto.
Eu amo as coisas que não se podem prever.
quarta-feira, 4 de março de 2015
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Amor maior
No meu aniversário deste ano, junto com o habitual "parabéns", recebi um "sei que nossa amizade não é a mesma, mas amo você ". Confesso que isso deixou meu dia bem menos feliz, mas me fez pensar e repensar por longos outros dias. Aniversário é essa data esquisita que a gente ta ficando um dia mais velho achando que é mais um ano, que a gente se permite - ainda mais a gente que se cobra controle, mesmo sem tê-lo a maior parte do tempo - colocar a expectativa de felicidade na lembrança do outro do nosso dia e da importância que ele dá pra isso, tirando-a de nós mesmas. Pois bem, te escrevo porque não quero te decepcionar nessa expectativa, mas também porque te amo demais, mesmo que às vezes te deixe duvidar, de uma forma tão única e absurda que nenhuma mudança na nossa amizade interfere, que nenhuma mudança no que a gente é ou no que a gente esteja se tornando, altera. Meu orgulho de vc é exatamente o mesmo e continuo te vendo com os mesmos olhos de sempre, continuo enxergando dentro de você, por detrás das camadas e te achando uma das pessoas mais lindas - em todos os aspectos - do mundo. Espero que daí de dentro você não tenha deixado de acreditar em você também, que você ainda não duvide do seu tamanho, do seu potencial, da sua força e saiba que o que você representa na minha vida é indestrutível. Torço por você como torço pra mim mesma.
(Enquanto te escrevia isso do ônibus, voltando do trabalho, encontrei uma menina parecida com você com o uniforme da empresa que você trabalhava e to com o coração ainda mais apertado de saudade da nossa convivência, queria chegar na sua república agora, sentar na varanda enquanto você fuma um cigarro e ouvir suas histórias da adolescência enquanto você me xinga por eu não lembrar do que você me contou semana passada. Queria te abraçar contra sua vontade depois de correr atrás de você pela casa. Espero que esse abraço seja em breve, mas que você o sinta todos os dias presente como sinto a sua presença em tudo que eu sou).
Feliz desaniversário, neném mais lindo que eu tenho.